Volume 2
Capítulo 73: Voleibol no Ragnarok
A confraternização no Refúgio dos Ursos de Ferro progredia melhor do que Ragnar havia esperado. Apesar do começo lento e tímido, os cinco ex-membros da Pata Negra foram se entrosando até ficarem à vontade.
Tudo isso culminou no momento em que Ragnar fracassou em tentar convidá-los a jogar futebol, mas graças a Niki, seu plano foi reciclado e agora todos os dez integrantes da guilda iriam jogar voleibol.
Antes do jogo começar, porém, foi estipulada uma regra. Como cada time contava com cinco jogadores em vez de seis, a solução foi deixar duas pessoas na linha de trás, em vez de três, e liberar a movimentação dos jogadores, desde que começassem a rodada em sua posição.
A primeira formação de times foi óbvia: Novatos versus Velha-Guarda. O início foi equilibrado, cada jogador desempenhou sua função e ninguém mostrou ser o elo fraco do time.
Mas quando descobriram quem eram os elos fortes em cada time, a coisa ficou séria.
— Acaba com eles, Artic Mão de Martelo — disse Ragnar no momento em que rotacionou para a rede.
Artic pisou na linha de saque e ignorou o comentário. Seu olhar se voltava ao outro lado da rede, para o time adversário. Bateu a bola três vezes no chão e apontou para Allen, o guerreiro na parte de trás da quadra, mas do lado oposto ao seu, e disse:
— Te prepara.
— Pode vir — foi a resposta que obteve.
Artic andou para trás, avançou, ganhou velocidade, jogou a bola para o alto, saltou e jogou toda a sua força naquele saque, produzindo um estouro. A bola cruzou a quadra em um instante, riscando o ar e levantando voo ao ser recebida pelo guerreiro adversário.
— Minha. — Xian, o ladrão, avançou do outro lado da quadra e levantou a bola para Malorn cortar.
Um par de braços ergueu-se sobre a rede e interceptou o corte.
— Nem pensar — disse Ragnar.
A bola voltou para o atacante, atingindo-lhe a barriga e quicando no chão.
— Não valeu — disse Lumina, a sacerdotisa atrás de Xian. — Vocês trapacearam. O cavaleiro usou alguma habilidade de fortalecimento no saque. E você — Apontou para Ragnar. — usou alguma habilidade de druida para pular alto assim.
— Para de chorar e aceita que é ponto nosso — Niki interveio.
— Deixa, Lú, a gente ganha na próxima — disse o ladrão.
A bola voltou para as mãos de Artic, porém, antes que pudesse sacar, Skiff veio com uma ideia.
— Por que estamos lutando de armadura, não é estranho demais? Isso parece mais uma feira renascentista do que uma partida de vôlei.
Ragnar iria dizer que isso não faria diferença e não se importava em lutar com sua nova armadura, mas os outros tinham algo diferente em mente.
— Sim, por favor — Havoc foi a primeira a se manifestar. Ela prosseguiu, olhando para Ragnar: — Por mais que eu ame essa minha nova armadura, é estranho jogar com ela.
Ela foi seguida por Niki e Artic.
— Concordo. Eu só não disse algo porque ainda sou nova aqui — disse Lumina, a sacerdotisa.
Logo os outros novatos se manifestaram, fazendo Ragnar se dar por vencido.
— Tá bom. Qual é o plano, ficarmos seminus?
— É só tirar as peças de armadura. Esse jogo não é uma praia de nudismo. Nós ficaremos com as roupas básicas de cada classe. A não ser que você também queira tirá-las — disse Artic, com um sorriso debochado no final.
Ragnar sabia disso, só estava tentando ganhar tempo.
Sem aviso algum e sem ninguém combinar, Skiff removeu seu traje de caçador, ficando apenas com uma regata branca de algodão e uma bermuda marrom de linho.
Niki assoviu de maneira sugestiva e segurou um riso, mas Skiff rebateu a provocação fazendo uma dancinha. Niki caiu na risada e se deu por vencida, removendo sua indumentária de assassina e ficando apenas com um top cinza e uma calça escura.
Por ela ainda estar perto da rede, acabou se deparando com um feiticeiro espiando seu decote no momento em que se virou.
— Tira o olho daí, moleque — Niki ameaçou, exibindo os punhos.
A face do conjurador enrubesceu em vergonha, ele riu de nervoso e se desculpou:
— Desculpa, foi sem querer, juro.
O que Ragnar mais admirou, além da beleza, era a confiança que Niki tinha sobre si mesma. Em momento algum ela tentou tapar os peitos com a mão ou se virar para fugir do olhar do curioso; em vez disso, ela foi direto para o confronto.
Tomando com muita cautela, o druida não pôde deixar de admirar a beleza da garota. Apesar de um pouco baixinha, ela tinha um corpo de dar inveja: em especial sua barriguinha lisa; decote avantajado, mas não exagerado; e as curvas das pernas e glúteos à mostra graças à calça longa e justa característica dos assassinos.
Em questão de minutos, todos removeram seus trajes e permaneceram com suas roupas básicas. Ragnar foi o último a remover, e quando tirou, arrependeu-se de ser um druida.
— Ui, que gato! — Niki o provocou.
O comentário foi seguido por outros parecidos e acompanhado por múltiplos assobios sugestivos. Por ser um druida, a classe não vinha com uma peça para cobrir a parte de cima. Por sorte, ao menos tinha uma bermuda e não uma tanguinha.
— Você é… fortinho assim na vida real? — Skiff quis saber.
Ragnar parou para checar seu condicionamento físico. Com toda aquela armadura por cima durante tanto tempo, mal conseguia lembrar que era definido assim até sua vida virar de cabeça para baixo.
— Até criar esse avatar, sim. Agora, nem tanto. — Lamentou, sabendo que precisava voltar a treinar assim que encerrasse os trinta dias na empresa.
Mal sabia ele que, pouco depois de admirar Niki, ela faria o mesmo. Durante segundos, Niki admirou os delineados dos músculos nos braços do druida; o peitoral avantajado, abdome à mostra e, para surpresa dela, suas pernas tonificadas, panturrilhas grandes e até mesmo seus glúteos, talvez a região mais negligenciada pelos homens.
— Tá bom pessoal — Niki chamou a atenção com uma batida de palmas. — Vamos jogar ou vamos ficar admirando o corpão do chefe?
Ragnar arremessou a bola para o cavaleiro e, antes de voltar para a rede, invejou as classes guerreiras por usarem regata. O saque foi poderoso como o anterior, furando a defesa dos novatos com facilidade.
Os oponentes ficaram frustrados, isso era visível pelas expressões nas faces deles quando a bola voltou para as mãos de Artic.
Ragnar ouviu os passos, o salto e o estouro do saque seguido pela bola quicando do outro lado da rede, mas fora da linha lateral direita.
— Fora, yes! — comemorou Allen, indo atrás da bola.
Com a bola em mãos, o guerreiro caminhou devagar até a linha de saque, mantendo o olhar no cavaleiro. Respirou fundo, andou para trás, quicou a bola duas vezes, lançou-a para frente e correu até ela. Na fração de segundos seguintes, Ragnar captou uma aura fraquinha permeando o corpo do guerreiro.
Fúria Berserker, é mesmo?
Como o disparo de um canhão, a bola cortou a quadra de vôlei e acertou o braço do cavaleiro, rebatendo para longe.
— Yeah! — berrou Allen. Os colegas vieram ao seu encontro para comemorar com um abraço coletivo.
Percebendo que isso iria acontecer, Ragnar aproveitou a gritaria para virar-se aos colegas e dizer:
— Eles trapacearam, podem roubar à vontade.
Quando os novatos se separaram, Allen caminhou para trás, apontou para o cavaleiro e o provocou dizendo:
— Aprendeu como é um saque de verdade?
Artic apenas olhou feio enquanto Allen voltou à linha de saque, e executou outro tão forte e ilegal quanto o anterior, mas dessa vez mirando o centro da linha de trás, onde Havoc estava.
A espadachim conseguiu neutralizar o saque, mas a bola foi para trás. Niki correu para recuperá-la, jogou-se para frente e conseguiu lançá-la para a rede em um golpe de sorte.
Hora de revidar… Ragnar pensou, ativando a Ira da Tempestade e a Linhagem do Urso de Ferro ao mesmo tempo. A bola se aproximou em uma trajetória perfeita, Ragnar saltou, sendo acompanhado pelas faíscas elétricas. No segundo em que desceu o braço contra a bola, viu o desespero na face de Xian.
Palmada Atordoante, ativou a habilidade quando a mão encostou na bola. Ela foi reto na face do ladrão azarado, derrubando-o na hora e o atordoando por alguns segundos.
— Ladrão! — acusou Lumina.
— Como se o saque do guerreiro de vocês não fosse aditivado com uma tal… Fúria Berserker.
— Mentira — rebateu ela.
— Não é mentira não — interveio o próprio guerreiro, acrescentando: — Impressionante você ter percebido.
— Por que a gente não joga valendo tudo? — A sugestão veio de Skiff. — Claro, proibindo usar habilidades contra o outro. Só vale usar em si mesmo, nos aliados e na bola.
— Classes mágicas não podem usar feitiços que segurem ou manipulem a bola diretamente — Ragnar adicionou, caso contrário, o feiticeiro e ele mesmo poderiam parar a bola conjurando correntes mágicas ou raízes.
Todo mundo concordou e voltou a sua posição. Como houve pontuação da equipe perdedora, o rodízio foi realizado e Ragnar foi para a lateral direita da rede.
Era a vez de Havoc sacar. Para o azar do grupo, espadachins do nível dela ainda não possuíam habilidades úteis para usar em um saque. Mesmo assim, ela se preparou e efetuou o saque.
Não foi uma cortada poderosa como o de Artic ou Allen, mas foi forte o bastante para atravessar a quadra e fazer Lumina defender às pressas. A bola voou para o outro lado em alta velocidade.
Vendo que não conseguiria interceptar, Malorn, que estava do outro lado, correu, jogou-se para frente e usou o feitiço Levitar para alcançar a bola e passá-la para o ladrão.
O corpo de Xian irradiou o brilho dourado da habilidade fortalecedora conjurada pela sacerdotisa. Ele saltou com a ajuda da sua habilidade Passo Leves para reduzir seu peso. Recuando o braço lá atrás, fingiu que iria desferir uma cortada seca, porém, com a ponta dos dedos, conduziu a bola com carinho para perto da rede, fazendo-a cair do outro lado e pegando toda linha de frente dos veteranos de surpresa.
— Boa! — comemorou Yuska, o conjurador.
A bola voltou para Havoc. Ela recuou e efetuou um saque com efeito, atingindo a bola mais no canto direito, colocando-a para fazer uma curva acentuada à esquerda.
Malorn conseguiu interceptar o saque, a bola foi para trás, para Allen, que aproveitou e cortou na hora com a ajuda da Fúria Berserker. A bola foi reta para frente, destinada à Artic.
O cavaleiro ficou onde estava e apenas ergueu os braços como se estivesse empunhando um escudo, e por um segundo, ele esteve. A habilidade Parede de Escudos criou uma barreira transparente que fez a bola quicar de volta.
Yuska, o conjurador, se adiantou, invocou seu livro mágico, arrancou uma página e a queimou com o fogo invocado pela mão. A página foi consumida pela chama, deixando no ar uma energia residual que o usuário utilizou para invocar um escudo arredondado.
Ele levantou o escudo e neutralizou a bola, levantando-a para Lumina passar para Allen. O guerreiro brilhou dourado, agora empoderado com sua Fúria Berserker e a magia da sacerdotisa.
Ragnar sabia que um saque devastador estava por vir.
A cortada produziu um baque altíssimo, mais poderoso que os saques anteriores dele e de Artic combinados.
Ragnar saltou, empoderado pela Ira da Tempestade, e transformou-se em urso. A bola chocou-se contra sua barriga macia e quicou no chão da quadra adversária.
— Boa! — Artic comemorou, veio ao seu encontro e ergueu o braço direito.
Surpreso, Ragnar retribuiu o gesto batendo na mão dele com sua pata de urso, sentindo a amizade florescer como nunca.
A essa altura da partida, todo mundo suava, mas apenas Ragnar exibia gotas de suor em seu peitoral exposto graças à falta de uma camiseta básica por parte da sua classe. Havoc levou a mão à testa e a sacudiu, regando a grama em frente com o seu suor.
A espadachim poderia não ter a beleza natural e o corpo de Niki, mas tinha um rosto bonito e um corpo em forma, era linda à sua maneira. Após pensar nas duas garotas ao seu redor, a imagem de uma Júlia enfurecida com seus devaneios veio-lhe à mente.
Ragnar sacudiu a cabeça e voltou para o jogo.
Era a vez dos adversários sacarem. Malorn estava com a bola. Ele permaneceu na linha do saque, jogou a bola para cima e realizou um corte fraco. Querendo fazer graça, Ragnar pulou na forma de urso e bloqueou com seu focinho.
Entretanto, a bola acabou se chocando contra seus dentes afiados, e o que se ouviu a seguir foi o som de uma bola murchando.
Ragnar se sentiu a pior pessoa do mundo. Não havia nada mais desanimador do que fazer besteira quando se está tentando ser engraçado e fofo.
— Essa não — Niki se desesperou, correu até a bola e tentou tapar o buraco com a mão.
— A gente ganhou, né? — Lumina perguntou.
— Nós todos perdemos — Ragnar falou, murcho da cabeça aos pés.
— Calma, pessoa, eu acho que eu consigo costurar — Yuska falou, para a alegria de toda a guilda Ragnarok.
Mas algo não planejado acabou interrompendo a partida de vôlei.
— Meu Deus, que coisa fofa é essa? — Ouviu Lumina dizer com uma vozinha.
Levantando o olhar e virando-se em direção ao interior do santuário, descobriu que o pequeno urso Mikken havia se infiltrado. O pequeno brincalhão estava em pé, apoiado na churrasqueira com um pedaço de contrafilé já frio na boca.
Lumina correu até ele e o abraçou por trás, esfregando o rosto nos pelos macios do filhote.
— Ragnar, me ajude — disse o pequeno urso.
— Ele é seu pet, mascote? — perguntou Malorn.
Antes que pudesse responder, ouviram o reverberar de passos, ganhando força, vindos de dentro do santuário.
— Pessoal — Ragnar levantou a voz — Não se desesperem, está bem.
— Por que? — Allen perguntou, antes de descobrir o porquê.
Mais de sessenta ursos de ferro se revelaram, saindo por trás das construções e da grama alta em torno da área de festa.
Lumina largou o filhote e correu até o grupo, desesperando-se.
— O que é isso, eles vieram nos matar?
— São parecidos com os ursos que estiveram no vilarejo — Allen reconheceu.
— Exato, eles são os habitantes nativos do Santuário.
Ragnar foi até eles, mas Hardgart foi quem iniciou a conversa.
— Sentimos cheiro de carne e ouvimos barulho vindo daqui.
— Perdão, estamos dando uma festinha aos nossos novos recrutas.
— Recrutas, é?
Ragnar repensou a questão desse evento, perguntando-se: deveria ele ter consultado os ursos antes de planejar a festa? Em todas as milhares de horas que passou nesse mundo, Ragnar nunca se deparou com algo semelhante.
— Eu deveria ter consultado vocês. — Optou pela via diplomática.
— Nós não nos importamos com isso. Queremos carne.
Os ursos foram se infiltrando na área de festa, sentando, deitando e rolando pelo gramado recém-encurtado pela magia de Ragnar.
— Eles são amigáveis — disse Yuska, fazendo carinho na cabeça de um urso pardo que, por sua vez, sorria como um bobo com a língua para fora.
Ragnar estendeu o braço e falou:
— E aí, querem brincar com nossos ursos gigantes?
O VOLUME 2 DA OBRA JÁ ESTÁ DISPONÍVEL NA AMAZON POR R$12,90
(E no Kindle Unlimited para quem é assinante)
O volume 2 vai do capítulo 54 ao 90 da webnovel!
Discord | Apoia-se | Instagram | Facebook
PIX: [email protected]
Apoie a Novel Mania
Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.
Novas traduções
Novels originais
Experiência sem anúncios