O Druida Lendário Brasileira

Autor(a): Raphael Fiamoncini


Volume 1

Capítulo 60: Juramento de Cavaleiro

O portão sul do vilarejo foi destruído em centenas de pedaços, porém, morreram tantos gigantes zumbis e post-mortem durante a batalha que seus corpos sem vida agora atrapalhavam a passagem do seu próprio exército.

Aproveitando-se dessa oportunidade, Ragnar contatou Julie e a informou da queda do portão. Ela respondeu sem demora:

— Droga! A evacuação ainda está em andamento, não podemos deixar que cheguem ao portão norte até o último morador partir em segurança. Eu tô chegando, segure eles como puder, sei que você consegue. — E encerrou a chamada.

Ele chamou sua Guarda Trovejante, seus amigos e sua cobra companheira para o acompanharem. Tentou chamar também dois jogadores defendendo a mesma porção da muralha, mas a sacerdotisa respondeu:

— A gente não vai abandonar a muralha.

— Eu acho que vocês ainda não entenderam…, eles destruíram o portão, a muralha não é mais segura.

— Problema seu — retrucou o guerreiro ao lado dela.

Ragnar os deixou à própria sorte uma vez que estava lutando contra o tempo. Ele e sua tropa correram até a torre mais próxima, derrotaram os inimigos pelo caminho e desceram a escadaria da torre.

Sabendo que seus colegas peludos não poderiam usar a escada, Ragnar ordenou que pulassem da muralha e caíssem golpeando algum inimigo próximo. A execução foi perfeita, cada urso caiu desferindo uma patada certeira em um morto-vivo, matando-o na hora e reduzindo em muito o dano sofrido pela queda.

Enquanto chovia ursos, Ragnar entrou em contato com Skiff e Niki e ordenou que retornassem das missões de observação às quais foram enviados. Eles confirmaram e relataram uma última vez da situação onde estavam.

Skiff informou que conseguiram derrotar os gigantes, mas a muralha continuava sendo inundada por esqueletos alpinistas. O relato de Niki foi parecido, portanto, a situação nos portões laterais poderia não ser boa, mas não estavam prestes a cair.

Quando Ragnar desceu a escadaria e pôs os pés em solo firme, agradeceu por Julie ter organizado um protocolo defensivo no caso da queda do portão, pois em vez das tropas aliadas fugir ou lutar cada um por si, eles se reagruparam para defender a entrada principal do vilarejo a cinquenta metros do portão destruído.

Com um olhar rápido, analisou também as três entradas adjacentes em seu campo de visão  e suspirou aliviado ao ver que todas foram fechadas com barricadas. 

— O que faremos agora? — Artic perguntou entre golpes de espada contra os zumbis tentando-os cercar ao pé da torre.

— Vamos nos reunir com aqueles nobres soldados — disse apontando para eles. Na sequência, ordenou: — Hardgart, nos leve até lá.

O urso transmitiu a ordem aos seus irmãos. Juntos, a Guarda Trovejante se lançou contra os inimigos pelo caminho. Eles abocanharam, desferiram patadas, empurraram com o corpo e queimaram os inimigos no caminho com suas patas em chamas.

— Estou muito grato por ter vocês aqui — disse o capitão da guarda, o ruivo que recebeu Ragnar com flechadas quando ele chegou ao vilarejo horas atrás.

— E eu fico feliz em ver que vocês não fugiram da batalha quando o portão caiu.

Os dois grupos lutaram lado a lado até eliminarem a última onda de inimigos a cruzar o portão.

— Você se importaria em me emprestar suas tropas? — Ragnar perguntou.

— Fique à vontade.

Ragnar contemplou a força defensiva composta por seu grupo, meia dúzia de jogadores e sessenta soldados. 

— Guarda Trovejante, dividam-se em dois grupos e protejam nossas laterais. Soldados do vilarejo, também vou querer uma fileira de vocês ajudando a cobrir cada lateral, protejam nossos ursos com suas vidas.

— Vocês ouviram o homem — rugiu Hardgart, surpreendendo Ragnar.

Os ursos eram sua carta mais forte, portanto iriam cobrir a área mais sensível da formação, assim não precisaria se preocupar se os inimigos iriam cercá-lo porque suas tropas desertaram.

— Nós temos três curandeiros no grupo, cada um de vocês deverá cobrir uma das três áreas: o centro e as duas laterais, vou deixar que vocês se decidam como se dividir.

Os dois sacerdotes correram para uma lateral cada, deixando a pobre garota druida cobrindo o centro da formação onde Ragnar e sua guilda ficaria.

Ragnar sabia que era um druida curandeira pelos seus equipamentos, um vestido marrom claro que ia até os joelhos, o escudo de madeira redondo e a varinha de teixo em suas mãos As três peças faziam parte de um conjunto ideal para curandeiros.

— Não deixe nossa vida cair para menos de um terço — disse a ela. — Não precisa nos curar se a nossa vida não cair para menos da metade. Use suas habilidades de controle de grupo para impedir que eles penetrem nossa formação. E o mais importante: gaste sua mana com sabedoria, tudo bem?

Ela chacoalhou a cabeça que sim, fazendo seu cabelo verde, longo e cacheado chacoalhar para cima e para baixo.

— Por que você tem galhos na cabeça? — Demorou a perguntar porque ficou procurando em sua mente se havia alguma coisa que justificasse aquele  par de chifres.

— É a marca do patrono do Santuário do Cervo Prateado.

Ragnar estava morrendo para saber mais sobre os galhos, o cervo prateado e esse círculo druídico, porém precisava se preparar para a ameaça se formando no portão.

Os invasores pararam com os ataques desenfreados, talvez por perceberem os sucessivos fracassos em tentar penetrar a formação defensiva. Em vez disso, pararam em frente ao portão e esperaram seus números engrossarem com os reforços atravessando o cemitério de gigantes que se formou no portão.

— Não fiquem aí parados, atirem suas flechas, usem suas habilidades, lancem suas magias — Ragnar ordenou.

Uma saraivada de flechas alçou aos céus, iluminada pela miríade de cores dos feitiços que as acompanhavam. Uma sequência de estouros, gemidos e gritos se seguiu ao ataque.

As tropas inimigas revidaram. Zumbis ergueram seus arcos, os esqueletos, suas bestas. Metade dos disparos caíram em frente à formação, voaram para além dela, ou atingiram as construções e barricadas nas laterais da rua. Quanto àquelas que acertaram, ou foram bloqueadas pelos escudos dos soldados ou foram aparadas pelas patadas da Guarda Trovejante.

— Disparar à vontade — Ragnar ordenou.

Uma segunda sequência de disparos foi lançada contra os inimigos, reduzindo um pouco os seus números e ferindo uma dezena.

Os disparos prosseguiram, mas as forças inimigas continuavam recebendo reforços. Eles tentaram rechaçar outra vez, o resultado foi parecido, mas dessa vez conseguiram acertar um arqueiro com duas setas no peito.

Ragnar discerniu um pequeno grupo peculiar atravessando o portão.

— Jogadores inimigos. Eles estão usando uma capa escura para se proteger, quando avistarem um deles, não hesitem em acabar com eles.

— Ragnar, lá, no canto esquerdo — Havoc anunciou, sua voz tremia de empolgação. Os arqueiros e caçadores  aliados ergueram seus arcos, encaixaram suas flechas e efetuaram um disparo sincronizado de Tiros de Precisão.

***

As flechas voaram em altíssima velocidade contra seu alvo. A figura encapuzada percebeu tarde demais e apenas observou aquelas flechas vindo em sua direção. Uma barreira translúcida formou-se em sua frente, cobrindo tanto ele quanto aqueles em seu redor.

Os  Tiros Certeiros se chocaram contra a barreira, racharam-na com a força do impacto e caíram no chão. O sujeito-alvo das flechas caiu no chão com o susto tomado, ele se levantou, limpou o traseiro sujo de terra e riu de nervoso.

— Vocês vão ficar aí parados sem fazer nada? — gritou uma voz vinda do portão.

O sujeito removeu o capuz revelando sua face confiante, nariz empinado, olhos azuis e cabelo branco, curto e penteado para trás. Ele se dirigiu aos jogadores ali reunidos.

— Vamos, revidem! E vocês, seus mortos-vivos imprestáveis, avancem.

— Mas, Rextar, mandaram a gente esperar aqui por enquanto. — o feiticeiro que conjurou a barreira defensiva se manifestou, sua face continuava coberta pelo capuz.

— Esperar é uma coisa, ficar parado tomando flechada e bola de fogo na cara é outra. Além do mais, já reunimos gente que chega aqui dentro, preparem-se para atacar. — Finalizou puxando o capuz e empunhando o par de adagas presas ao cinto.

***

A horda dos mortos-vivos e jogadores do Caminho da Aurora reunidos em frente ao portão começou a avançar na direção de Ragnar. Flechas e magias voaram na direção deles, causando meia dúzia de baixas, imobilizando dois jogadores e enfraquecendo outros três.

Mas a horda não se abateu com as baixas. Rextar berrou em empolgação, contagiando seus amigos jogadores que seguiram seu exemplo, e logo até os mortos-vivos berraram grunhiram e como podiam.

***

O avanço inimigo colidiu contra a linha de frente sob o comando de Ragnar. Os primeiros zumbis e esqueletos foram trucidados pelos ursos de ferro em poucos segundos. 

No centro, Artic ergueu o escudo, bloqueou as machadadas de um guerreiro e rechaçou perfurando-lhe a costela direita com uma estocada de espada. 

Havoc, que acabara de eliminar um esqueleto à direita do amigo, finalizou o guerreiro importunando Artic combinando a habilidade Corte em Lua Crescente com o Corte Duplo. 

Na fileira de trás, Ragnar abusava da evolução do Raio para castigar o máximo possível os jogadores adversários aparecendo em seu campo de visão. 

Era quase difícil discernir alguma coisa em meio aos berros dos amigos inimigos. Havia tanta gente ao seu redor que era inevitável tomar uma flechada ou uma seta arcana lançada à esmo por um feiticeiro inimigo.

Mas não havia muito o que fazer quanto a isso, tentar espalhar mais a formação facilitaria a penetração das forças inimigas. Tudo que podia fazer agora era instruir e confiar em seus aliados, em especial seus amados tankers e curandeiros.

Artic, aos poucos, se destacava na formação aliada com seus bloqueios perfeitos e contra-ataques precisos. 

Então chegaram os temidos Gigantes Zumbis e Cavaleiros Post-Mortem. 

Ragnar jurou que a formação se romperia, então Artic recuou dois passos e arremessou o escudo na face do gigante, que gemeu com o susto. O golpe o atordoou por um segundo, tempo suficiente para flexionar os joelhos, se impulsionar e usar o Salto Esmagador, lançando-o em direção ao peitoral do inimigo, local em que desferiu uma Pancada e, ao atingir a altitude máxima do Salto Esmagador, desferiu um Golpe Quebra-Queixo contra o queixo cadavérico do Post-Mortem, causando um acerto crítico que o derrubou no chão.

Havoc correu até o gigante e subiu em cima dele usando a Investida, habilidade que a fez avançar cinco metros em um piscar de olhos, em seguida, afastou os inimigos ao seu redor com um Corte Redemoinho e executou com perfeição o combo: Corte em Lua Crescente, Fatiar, Corte Duplo, Picar, Investida para frente e Retalhar para trás a fim de retornar em segurança aos seus aliados.

O combo de ataques enfraqueceu tanto o Post-Mortem que o quarto Raio lançado por  Ragnar o executou. 

Toda essa sequência de acontecimentos repercutiu pela Caminho da Aurora. Dezenas de  zumbis, esqueletos, gigantes e até alguns jogadores cessaram a ofensiva para testemunhar o cavaleiro e a espadachim em ação. 

— Vão querer mais?  — A voz de Artic exalava confiança. — Então venham, seus lixos!

— Acabaremos com cada um de vocês — Havoc disse com uma classe e confiança inédita, apontando a espada contra os inimigos em sua frente.

Uma sensação calorosa confortou Ragnar, seus amigos eram promissores, muito promissores. Mas foi nesse momento ponderador que uma fumaça negra partindo da horda inimiga avançou contra eles.

Em pleno ar, a fumaça se desfez, revelando um sujeito encapuzado, com um par de adagas nas mãos, e prestes a golpear a nuca de Artic, porém, recuou do ataque quando avistou Havoc vindo em sua direção. 

Ele rodopiou para a direita girando as adagas junto ao corpo e fazendo suas lâminas golpearem duas vezes o braço da espadachim. Por ter sido golpeada, o brilho azul irradiando na lâmina da espada diminuiu.

— Vocês falam demais para um casal de newbies — falou ao remover o capuz e revelar sua face e seu codinome: Rextar.

Em seguida, saltou para trás, puxou duas facas embainhadas no cinto e as arremessou contra Havoc, que desviou se abaixando e se preparando para contra-atacar, mas Rextar havia recuado para dentro da horda de mortos-vivos.

— Covarde! — esbravejou Havoc.

A trégua momentânea foi quebrada e os zumbis, esqueletos e soldados da guarnição voltaram a se agredir junto aos jogadores em ambos os lados.

— Não caia na provocação dele — Ragnar falou.

— Eu sei — ela retrucou e voltou ao combate.

Com esse breve duelo encerrado, a batalha foi retomada com força total. A Guarda Trovejante voltou a dizimar as tropas regulares inimigas, enquanto Artic, os soldados e outras classes guerreiras ajudavam a segurar o avanço da horda inimiga.

A ferocidade do confronto direto fez a vida dos ursos cair apesar da resistência massiva que possuíam. Para piorar, alguns soldados lutando na vanguarda começaram a recuar por conta dos ferimentos sofridos, apenas os mais motivados lutavam até a morte. 

Não tardou para os primeiros jogadores aliados serem vitimados nessa fase do conflito. Primeiro foi um caçador na retaguarda ao ser alvejado por feitiços, seguido por um paladino esfaqueado até a morte por um assassino adversário.

Isso abriu uma brecha na formação defensiva, mas graças a atenção de Ragnar, ele mesmo preencheu esse espaço utilizando sua forma de urso.

Nesse momento, a habilidade Juramento invocada por Artic mostrou seu valor. Ragnar desferiu patadas, mordeu, bloqueou golpes, saltou sobre os inimigos e fez de tudo para afastá-los, e graças ao Juramento, pôde continuar lutando porque 20% do dano sofrido era redirecionado ao amigo cavaleiro.

O Juramento também ajudava os curandeiros permitindo que eles concentrassem seus feitiços curativos em Artic.

Foi em meio a uma dessas curas que a fumaça escura surgiu pela segunda vez. Quando ninguém prestou atenção, ele se infiltrou nas fileiras defensivas e matou a druida curandeira com um sequência de golpes mortais em suas costas.

Ao terminar o serviço, por conseguir executar seu alvo, Rextar pode reativar a furtividade, tornando-se uma fumaça inatingível outra vez e retornando ao seu exército em segurança.

— Agora ferrou — Ragnar falou baixinho, em forma de urso.

Cogitou voltar a forma humana para substituir a curandeira, mas seu feitiço de cura era fraco e ele não possuía equipamentos ou itens que a fortalecesse, portanto, suas curas seriam ineficazes para situações desgastantes como essa.

Ragnar decidiu ficar e lutar, e para reduzir o estrago recente, emitiu novas ordens aos dois curandeiros ainda vivos para que também curassem aqueles lutando no centro da formação.

Voltando ao combate, manteve-se atento a qualquer sinal do assassino problemático, a última coisa que precisava era que ele aparecesse outra vez usando o Passos das Sombras para se infiltrar e assinar outro curandeiro seu.

Um guerreiro erguendo sua espada montante aos céus brotou das fileiras inimigas e correu em direção a Ragnar. O druida percebeu tarde demais que se tratava de um avatar nível 34. 

A espada desceu reto contra sua pata de ferro erguida. O bloqueio foi um sucesso, mas o dano foi tamanho que sua energia quase zerou e sua vida caiu da metade para 14%. Qualquer outra pancada significa sua morte. 

Olhou rápido para os lados e encontrou todos os seus aliados engajados em combate. Artic, de alguma maneira, operava milagres lutando contra um paladino e um espadachim.

O guerreiro preparou o próximo ataque, Ragnar retornou a forma humana, curou-se com uma Brisa Curativa, empoderou-se com a Ira da Tempestade e ativou a Linhagem do Urso. Munido de todos os seus feitiços de aprimoramento, desviou do giro de espada do inimigo, se abaixou e aproveitou o impulso residual do golpe adversário para meter a lança entre as pernas dele.

As pernas do guerreiro travaram na lança durante o giro final. A perna esquerda entortou, a direita travou, o tronco torceu e ele foi ao chão como um boneco de pano. 

Ragnar agradeceu todas as longas noites que passou treinando as táticas e movimentos mais sujos disponíveis no jogo.

As batidas de tambor e o ressoar da trombeta voltaram a afligir os ouvidos das forças de defesa, anunciando a chegada de um Gigante Zumbi e um Cavaleiro Post-Mortem. 

Ragnar não precisou olhar para o portão para saber que estavam ferrados. Mais soldados caíram ao seu lado enquanto um jogador, tomado pelo desespero, escolheu desconectar do jogo.

— Recuem um passo de cada vez. 

Sabia que era uma decisão desesperada, mas precisava ganhar tempo. Não tardou para ouvir um rugido longo, sofrido e esganiçado. O corpo inteiro gelou, arriscou olhar para a direção do som e avistou algo que fez seus batimentos acelerarem.

Um urso pardo protegendo o flanco direito foi morto com golpes de lança de um guerreiro e com inúmeras facadas desferidas pelos esqueletos que o cercavam.

Era apenas um jogo, sabia muito bem disso, ainda assim era uma visão dolorosa porque amava cada uma daquelas bolas de pelo. Raiva foi se acumulando, turvando seus pensamentos e aumentando sua sede por vingança.

Queria matar cada um daqueles jogadores, esmagar cada osso daqueles esqueletos.  Seus desejos violentos, entretanto, ficaram para trás quando uma rajada de flechas caiu sobre os invasores, perfurando-lhes e dizimando uma dúzia deles.

De canto de olho, Ragnar avistou a fumaça negra outra vez, agora se esgueirando entre os mortos-vivos, mas parando atrás do guerreiro empunhando a lança que vitimou o urso da Guarda Trovejante.

A fumaça se dissipou, revelando uma silhueta familiar, uma assassina com um olhar sério e um sorriso sádico . Ela cravou suas adagas nas costas do guerreiro, puxou-o pelo cabelo e o encarou nos olhos para dizer:

— Cadê o machão agora? Cadê aquela coragem quando maltratava esses pobres animais, hein? 

— Você é doida? — Foram as últimas palavras dele, pois Niki o finalizou cravando uma adaga em seu peito.

— Uau, ela é meio pirada, né? — Skiff parou ao lado de Ragnar, empunhando o arco e flecha em mãos. — Digo isso no bom sentido, é claro.

A amiga assassina usou o Passos das Sombras para transformar-se em fumaça e retornar em segurança às fileiras aliadas. Finalizado a duração da habilidade, retornou a forma normal e correu até Ragnar, que havia recuado duas fileiras para se recuperar dos ferimentos.

— Que bom que vocês voltaram, precisamos de todo apoio disponível.

— A gente precisa sair daqui — Niki falou. — Esses desgraçados estão se infiltrando no vilarejo e derrubando as barricadas pelo caminho. Não vai demorar para eles nos cercar por completo.

Skiff assentiu, dando a entender que a situação testemunhada durante seu retorno era parecida.

— Entendi, mas ainda precisamos segurar eles até a evacuação terminar, senão toda essa luta terá sido em vão.

— Mas… — Começou Niki, porém foi interrompida por Ragnar.

— Nós vamos continuar lutando! Se quiserem fugir, fiquem à vontade. — Foi difícil endurecer o tom de voz para seus amigos, mas era necessário em situações calamitosas como essa.

Niki baixou a cabeça um instante e Skiff arregalou os olhos um pouco, então abriu a boca para falar:

—  Entendo. 

— Eu também — Niki ergueu a cabeça e falou com o espírito renovado.

— Ótimo. Niki, eu preciso que você fique atenta à presença de um assassino, esse filho da mãe matou uma curandeira nossa e fez de palhaça nossa amiga espadachim. Então preciso que você persiga ele a todo custo. Enquanto ele não der as caras, ajude como puder: matando e atrapalhando os jogadores deles.

Ela assentiu e partiu para a frente de batalha.

— Skiff, você sabe o que fazer.

— Na real, não.

Para cada prodígio havia alguém normal para contrabalancear.

— Priorize os jogadores, depois os gigantes, por fim os zumbis e esqueletos.

Ele fez um sinal de joinha com a mão, depois se afastou alguns passos para a direita e começou a disparar flechas contra os inimigos.

Ao mesmo tempo, na linha de frente, Artic era cercado por uma dúzia de zumbis e esqueletos. Havoc tentou o ajudar, ela avançou, cortou, estocou e desferiu combinações de habilidades, mas cada para cada inimigo derrotado surgia outro para tomar seu lugar.

Foi dessa maneira que começaram a surgir brechas na formação. Aos poucos, os mortos-vivos e os cultistas do Caminho da Aurora conseguiam penetrar as fileiras defensivas.

Ragnar conjurou suas magias de fortalecimento, assumiu a forma de urso e avançou em fúria contra uma meia dúzia de mortos-vivos importunando o amigo cavaleiro. 

O choque derrubou os zumbis e esqueletos no chão, em seguida, Ragnar dizimou todos eles, voltou a forma humana e conjurou sua combinação de magias. 

Primeiro conjurou um Jato D’água contra os três jogadores atacando Artic. O feitiço os encharcou e os empurrou para trás. Em seguida, foram atingidos em cheio pelo Vento Gélido, que os congelou nas áreas molhadas. Por fim, o jogador mais próximo de Artic tomou o último feitiço da rotação, o Raio, que o estilhaçou em pedacinhos ao zerar seus pontos de vida. Os outros dois, ao verem o próximo raio se formar na lança de Ragnar, correram por suas vidas. 

Artic não teve tempo para agradecer. Cada vez mais mortos-vivos apareciam para atormentá-lo. Ragnar ativou a linhagem animal do urso e, energizado com a Ira da Tempestade, distribuiu golpes, chutes e estocadas naqueles que ousavam se aproximar.

Esbaforido e com a energia baixa após tanto lutar, Ragnar recuou para recuperar sua  mana e energia e deixou dois soldados cobrindo seu lugar. Quase metade das suas tropas havia morrido, por sorte restavam alguns jogadores, incluindo o grupo da Pata Negra.

Tirando os olhos dos membros da guilda que tanto odiava, Ragnar estarreceu com a visão de um possível problema catastrófico. Artic estava parado, imóvel na linha de frente, e só não havia morrido porque Havoc, Niki e meia dúzia de soldados afastavam os inimigos que o cercavam.

— Artur, responda! — Niki berrava para ele.

— Cara, acorda. A gente precisa de você — Havoc dizia irritada, porém mais calma do que Niki.

A hora disso ocorrer não poderia ser pior, pois o Gigante Zumbi e o Cavaleiro Post-Mortem acabaram de chegar. Como verdadeiros colossos, eles ergueram suas armas e as desferiram contra a linha de frente. A maioria conseguiu desviar do ataque, alguns poucos foram pegos de surpresa e acabaram sendo arremessados para trás.

Niki berrou quase chorando e se atirou contra o avatar do amigo cavaleiro a tempo de movê-lo para longe do martelo do Cavaleiro Post-Mortem. Apesar do empurrão, o avatar manteve-se em pé, imóvel. Já ela não teve a mesma sorte.

Ragnar viu Niki ser arremessado contra a parede da casa à esquerda. A vida dela caiu de 72% para 23%. Aquele Post-Mortem não era brincadeira, ele deveria ser algumas vezes mais forte comparado àquele que lutaram no covil das serpentes.

O druida recuperou a postura, chutou para longe o desespero tentando lhe dominar e correu em direção a Artic para sacudi-lo e fazê-lo voltar ao planeta Terra. 

Mas quando ficou a alguns passos dele, quando ergueu os braços para pôr as mãos no ombro do amigo, o cavaleiro virou em sua direção, seus olhos o encararam, mas não parecia olhar para lugar algum.

Imóvel da cabeça aos pés e com a face inexpressiva de um fantasma, Ragnar, Havoc e todos ao seu redor ouviram as seguintes palavras saírem dele:

— Não faça isso, mãe, não!

O cavaleiro desapareceu diante de seus olhos. As mãos de Ragnar desceram e tatearam o ar onde antes havia o corpo do amigo.


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