O Druida Lendário Brasileira

Autor(a): Raphael Fiamoncini


Volume 1

Capítulo 53: Sob Nova Direção

— Precisamos reconstruir este lugar o mais rápido possível, e para isso irei precisar da ajuda de vocês — disse Ragnar enquanto caminhava por uma passagem de pedras no interior do santuário.

— Ursos são criaturas forjadas para a guerra e não para trabalhos mundanos. — Hardgart irritou-se, mas continuou o acompanhando.

— O trabalho enobrece a alma, meu caro líder urso. E como bem sabe, minha prioridade é restaurar os dias de glória do santuário, ou vai dizer que não gostaria de viver em um lugar digno das histórias de antigamente.

Ragnar ouviu-o rosnar em incômodo, incapaz de contra-argumentar.

— O que você está planejando para nós?

— É como você disse: ursos foram forjados para a guerra. Então aposto que suas patas são fortes o bastante para derrubar as árvores dessa região. Também sei por experiência própria o quão bons nós somos em transportar coisas pesadas.

— Nós não somos mulas de carga! — Hardgart parou de caminhar para exibir seus dentes afiados.

Tamanha reação chamou a atenção de dois ursos vermelhos à direita. Não querendo causar tumulto, Ragnar ergueu as mãos em sinal de paz e tentou tranquilizar a fera irritada, dizendo:

— Acalme-se. Somos infinitamente melhores do que mulas de cargas. Eu já lhe contei sobre o dia que roubei toneladas de ferro de uma guilda maligna? Então… foi graças a forma de urso que consegui carregar tanto peso de uma só vez.

Hardgart cerrou os olhos e voltou a caminhar. Após uma dúzia de passos, perguntou:

— Você irá nos ajudar ou vai ficar olhando a gente fazer o serviço pesado?

— Irei ajudar, claro. Vamos precisar de bastante gente para procurar e derrubar árvores velhas e decadentes. Além de um grupo separado para fazer o trabalho de serraria, pois ainda não existem bolsas grandes que chega para caber um tronco de árvore.

Saíram de uma construção abandonada de pedra e pisaram na passagem que os levaria ao centro do santuário.

— Algo mais? — Hardgart quis saber.

— Pedras, muitas pedras. Estou falando de uma pedreira inteira. Mas isso é segredo, ainda não anunciei aos meus colegas de guilda que futuramente planejo construir um monumento nesse santuário, quem sabe uma torre em espiral com mais de cinquenta metros de altura…, talvez irei chamá-la de Torre Bifrost.

— Por que tanta extravagância? Druidas não deveriam ser servos da natureza? Criaturas humildes?

— Hardgart, por dentro sou verde como a grama que nos cerca, mas também sou ambicioso como um rei.

— Está bem. — O chefe dos ursos soava cansado. — Irei reunir os líderes de clã para tratar disso tudo. E… Ragnar. — Ergueu a cabeça para encarar o druida. — Você realmente se importa com esse lugar, então… obrigado.

Receber tanto afeto do urso carrancudo fez Ragnar sorrir.

— É cedo demais para me agradecer. Lembre-se, ainda farei vocês trabalharem muito daqui em diante.

— Já era hora de alguém fazer alguma coisa. Todos esses anos sem um líder verdadeiro nos deixou preguiçosos. — Ele se despediu, virou-se para o norte e avançou pelo gramado.

Ragnar estava para entrar na construção principal ainda não nomeada quando avistou um pequeno urso pardo correndo em sua direção com a língua para fora.

— Ragnar, Ragnar! Tem quatro estranhos querendo falar com você. Eles disseram que são amigos seus.

Vieram todos de uma vez, pensou. Mikken prosseguiu:

— Ótimo. Você poderia conduzi-los até meu salão? — Terminou apontando para a construção.

O pequeno balançou a cabeça em afirmação e disparou pelo caminho por onde veio. Ragnar esperou Mikken desaparecer de vista para só então entrar. Teias de aranha, folhas ressecadas, sujeira e rachaduras decoravam o chão, as paredes e o teto no interior da construção.

Serei obrigado a colocar aqueles quatro para fazerem uma boa faxina.

Conforme avançava, era iluminado pelos feixes de luz solar vindos dos buracos no teto e parede, então parou no centro exato do salão.

— Bjornhall — disse o nome que seu mestre dera ao lugar.

Segundo a tradição, caberia a ele renomear a seu gosto.

— Ragnarhall… — experimentou a sonoridade do nome, mas julgou-se indigno a tanto.

Olhou para cima, para o teto a mais de dez metros do chão. Em seguida analisou os arredores e maravilhou-se com as ideias que inundaram sua mente em um surto criativo.

Por que não unir o útil ao agradável? Um monumento e um centro de operações no mesmo lugar seria uma maneira eficaz de economizar recursos.

O reverberar de passos o despertou dos devaneios. O ecoar de vozes e risadas denunciaram as pessoas que se aproximavam.

Caminhou sem pressa para a entrada do salão. O primeiro a dar as caras foi o pequeno urso avançando às pressas.

— Ragnar… eles… chegaram — disse entre pausas ofegantes.

O druida foi até o filhote para lhe fazer carinho. Quando dirigiu o olhar para a entrada, os quatro deram as caras.

— Vejo que tiveram problemas para chegar aqui. — As barras de vida incompletas os entregaram.

— Ficamos horas tentando encontrar uma estrada, trilha ou passagem secreta para cá… — disse Skiff, cujos pontos de vida abaixo da metade davam a entender que foram emboscados.

— Mas cansamos e decidimos encarar a floresta maldita. — Niki tinha 3/4 da vida cheia.

— Nós quase morremos tentando atravessar aquele lugar. Então nos diga, existe uma passagem segura para cá? — Artic tinha mais de 80% de vida.

— Não, não existe. A floresta é o único caminho — Ragnar tranquilizou o cavaleiro.

Então seus olhos encontraram os da espadachim:

— A passagem foi tranquila para você, Havoc?

A espadachim de vida cheia piscou os olhos, parecendo não entender o porquê da pergunta.

— É… mais ou menos.

Skiff se adiantou, pôs a mão direita no ombro esquerdo de Havoc e começou a balançá-la em empolgação, então admitiu sem um pingo de vergonha:

— Nós fomos emboscados por dez gosmas ácidas assassinas, a Havoc solou os cinco que nos pegaram por trás, enquanto a gente sofria um bocado para lutar contra o resto. — Finalizou tirando a mão do ombro dela.

Havoc respirou fundo e pousou a mão direita sobre o cabo da espada embainhada.

— Eu consegui porque estou alguns níveis acima de vocês.

Ragnar cruzou os braços.

— Ainda assim foi um grande feito.

Notou que Artic parecia incomodado, aqueles olhos azuis e semicerrados o encaravam com suspeitas. Instantes depois de seus olhares se encontrarem, o cavaleiro se manifestou:

— Você estava nos testando?

Ragnar inclinou a cabeça para o lado, se fazendo de desentendido.

— Você nos fez atravessar uma floresta cheia de bichos mais fortes que a gente. E se um de nós tivesse morrido? E se todos nós morrêssemos? A gente teria falhado?

Ragnar relaxou a postura, fechou os olhos e coçou o queixo durante um minuto de reflexão.

— Você está exagerando. É claro que não foi um teste. Não existe uma passagem segura para cá…, ainda, mas está em nossos planos para um futuro muito, muito próximo.

Finalizou olhando para os quatro. Com o perfil deles selecionados, enviou de uma só vez os convites para se juntarem à guilda Ragnarok. Em poucos segundos as mensagens de confirmação foram aparecendo.

Havoc aceitou o convite

Skiff aceitou o convite

Niki aceitou o convite

— Artic? — Olhou com preocupação para o cavaleiro, perguntando-se se foi incisivo demais.

Niki foi até o amigo, o puxou para um canto do grande salão, e disse no ouvido dele, irritada:

— Artur, a gente conseguiu entrar. Aceita logo essa merda de convite. Tu vai querer ficar de gracinha pra cima de um profissional como ele? Tu faz ideia que o ego dessa gente é do tamanho do mapa desse jogo?

— Eu sei… — A voz tremulou ao sair. — Nós… nós conseguimos. Estamos na guilda do senhor profissional.

— Tá, esqueci de mencionar que ele é um falido, mas foda-se.

A inexpressividade de Artic foi afastada pelo esboçar de um largo sorriso. Ele olhou a amiga nos olhos e viu que Niki também sorria, então se abraçaram e pularam em alegria.

No centro do salão, Ragnar perguntou ao caçador e a espadachim:

— Perdi alguma coisa?

Ambos deram de ombro. Toda aquela felicidade para entrar em uma guilda só poderia significar uma coisa.

— Então vocês sabem…

O cavaleiro e a assassina cessaram as comemorações.

— Sabemos do quê? — perguntou Niki.

— Ele sabe que nós sabemos… — Artic admitiu à amiga. — Sim, nós suspeitamos de quem você realmente é.

Ragnar sentiu a palpitação acelerar, a respiração pesar. Uma sensação incômoda se alastrou por seu corpo.

— Vocês contaram isso a alguém?

— Não! — Niki negou com um quase-berro.

— Vocês prometem manter isso em segredo? — A expressão facial de Ragnar exprimia uma seriedade amedrontadora.

— É claro que sim, senão você nos expulsaria… — Foi Artic quem respondeu.

— Gente, o que está acontecendo? Do que vocês estão falando — Havoc morria de curiosidade.

Ragnar respirou fundo, decidido a abrir o jogo, e por mais que esses quatro pudessem revelar sua identidade, este seria um gesto de confiança aos primeiros integrantes da Ragnarok.

— Eu sou aquele profissional que caiu em desgraça.

— Richard Carvalho? — Havoc arriscou de imediato.

— Quê? Não! Mas, é… — Ragnar fez uma pausa para recobrar a postura. — Não, mas ele foi meu capitão de equipe quando entrei na Dark Age.

Havoc arregalou os olhos e soltou um:

— Não, não pode ser! Dante? Da… Daniel?

Ele acenou que sim;

— Você duelou contra o Lee Chung-Hee.

— Quem? — Niki, ao lado de Havoc, perguntou.

A espadachim virou-se para a assassina.

— White Snow, capitão da Seven Heavens, o melhor jogador do mundo.

Ragnar coçou a cabeça, um tanto envergonhado por ela estar mais interessada no maldito que o derrotou na semifinal. Um tanto derrotado, admitiu:

— Sim, eu enfrentei White Snow no mundial passado.

Foi então que reparou em Havoc: a escolha de classe, a vestimenta que usava, as cores escolhidas e o estilo de luta que praticava.

— Temos uma admiradora do floquinho de neve coreano — brincou.

Ela deu um passo para trás e bufou enraivecida. Vendo a reação, Ragnar estava para se desculpar quando ela se manifestou:

— Sim, eu o admiro muito. Amo de paixão a jogabilidade dessa classe. E sim, foi por causa dele que escolhi a classe espadachim. Mas… — Uma feição feliz e radiante acompanhou suas próximas palavras, ditas após uma breve olhada para Niki e Artic: — Assim como eles, também estou muito feliz em saber que estou com você.

— Obrigado pela confiança — ele admitiu, de coração.

Até o presente momento, Skiff manteve-se em silêncio, acompanhando a reação dos outros, mas quando a atenção dos demais se voltou para ele. Tudo que conseguiu dizer foi:

— Posso… posso tirar uma foto?

— Você faz parte da guilda, é claro que pode, mas podemos deixar para outra hora?

O caçador balançou a cabeça para cima e para baixo.

Ragnar olhou para cada um deles, era nítido que estavam abalados, alguns tomados pelo nervosismo. Não havia clima para discutir seus planos agora, por isso falou em um tom calmo:

— Estão dispensados. Aproveitem para colocar a cabeça no lugar. Em breve enviarei a vocês os planos e ambições que tenho para a guilda. E lembrem-se de nosso segredinho, deixem para mim escolher a data, a hora e o lugar para anunciar meu retorno a Nova Avalon. Estamos combinados?

E eles concordaram.


Página do Facebook onde você pode ficar por dentro dos lançamentos e também poderá interagir com o autor.

Página do Padrim para quem quiser contribuir mensalmente.

PIX[email protected]

Picpay: @raphael.fiamoncini



Comentários