Volume 1
Capítulo 28: Tarde da Noite
Era quase uma hora madrugada. Daniel estava acordado na sacada do apartamento, encostado no parapeito e com os olhos fixos na tela do celular em suas mãos
A imagem no aparelho era uma foto de Júlia, ela vestia o uniforme vermelho e branco da Red Crows, com logo da equipe, um corvo vermelho, bordado na jaqueta.
Na imagem a garota era rodeada por doze jogadores em seus quinze e dezessete anos. Eles posavam para a foto, com um sorriso no rosto.
Daniel estava aliviado por vê-la feliz, longe da situação terrível que se encontrava. Mas uma tristeza se apoderou de suas emoções, porém ela foi logo suplantada pelo espanto do tocar do interfone que ressoou pelos cômodos do apartamento.
Ele olhou para o pijama azul e amassado que vestia. Pensou se deveria ir se trocar, mas já era tarde da noite, então quem poderia ser? Ele deixou a preocupação de lado e atravessou o apartamento. Em frente ao interfone, atendeu com uma voz mal-humorada.
— Sim?
— É… Dani? Posso entrar?
— Jú?
— Eu mesma… Desculpa por não avisar que estava vindo, mas eu gostaria de conversar sobre umas coisas. Posso subir?
— É claro, só que eu estou de pijama.
— Sério? — Uma risada abafada foi captada pelo interfone. — Tudo bem.
Ele liberou o acesso ao prédio, depois destrancou a porta do apartamento e foi até a cozinha tomar um café requentado enquanto esperava por ela.
Durante o minuto seguinte uma tempestade de pensamentos nublou seu raciocínio, tudo girava em torno da pergunta: por que ela voltou? Quando colocou a xícara na pia, três batidas ecoaram da porta.
— Pode entrar, está aberta — falou em voz alta.
Júlia entrou no apartamento e trancou a porta antes de caminhar até a cozinha. Ela vestia as mesmas roupas de antes. E sua face não transparecia intenção alguma. Em vez de bombardeá-la com perguntas, deixou que a conversa fluísse naturalmente.
— Quer um café frio? — perguntou.
Júlia acenou que sim com a cabeça, fazendo-o esquentar uma xícara com leite no micro-ondas. O aparelho apitou trinta segundos depois, Daniel retirou a xícara e a levou até a visita, em seguida, despejou o restante do café que ainda restava na térmica.
— Um café requentado para a senhorita.
— Muito obrigado.
Ele se sentou na frente dela.
— Dona Maria sabe que sua filha está aqui?
— Sabe sim — disse Júlia. — Eu inventei uma desculpinha antes de vir para cá.
Ela bebericou o café aos poucos. Um silêncio se instaurou na cozinha, mas ambos não se deixaram abalar pela ausência de uma discussão, em vez disso, trocaram olhares e contemplaram o outro.
— Já passou da hora de jogar esse pijama fora — disse Júlia.
— Jamais, eu amo ele.
— Eu percebi.
Ela bebericou até a última gota do café, então se levantou, foi até a pia, lavou a xícara e a deixou para secar. Em seguida parou perto da bancada, pensou um momento e foi em direção à sala, mas parou no vão entre os dois cômodos, olhou por trás do ombro, e falou:
— Está uma noite linda, que tal a gente conversar na sacada?
— Ótima ideia. Me espere lá, eu só preciso fazer uma coisinha antes.
Ela então apenas acenou e atravessou a sala. O televisor continuava ligado, e para variar, outro programa estava repercutindo a revelação de Anika feita na tarde daquele dia.
Júlia empurrou a porta de escorrer para o lado e deu um passo para dentro da sacada, mas foi atacada por uma rajada de ar frio.
— Dani, pode me emprestar um… — E foi surpreendida quando um casaco caiu em seu ombro.
— Prontinho — disse ele, empurrando-a para que pudesse entrar na sacada.
Porém, Júlia não vestiu o casaco de imediato, ela o trouxe para frente, segurou-o com as duas mãos e contemplou o lobo cinzento bordado na altura do peito. Em seguida virou o casaco para ver o nome escrito atrás: “Dante”.
— Isso traz tantas memórias.
— Boas e ruins — ele acrescentou.
Júlia leu com carinho o nome “Dark Age” abaixo do logo da equipe, e só depois vestiu a peça do uniforme.
— Então era assim que você se sentia — falou olhando para as três listras brancas no braço direito da jaqueta, indicando a posição de capitão.
— É diferente, né? — ele quis saber.
— Sim. Engraçado como um detalhe tão simples pode provocar sensações diferentes.
— Quem sabe um dia você pode vestir o uniforme de capitã da Red.
— Não seja idiota, eu nunca vou superar o Cris.
— Com essa atitude você não vai mesmo.
As palavras ditas por Daniel fizeram ela relembrar da conversa que teve com Cristiano durante a viajem de carro ao hotel. Júlia deu-lhe as costas e se apoiou no parapeito da sacada, o movimento nas ruas tinham diminuído, mas ainda se ouvia o som das buzinas de gente gritando.
Daniel parou ao seu lado. O pijama era tão largo que tremulava a cada vez que uma rajada de vento.
— A Anika não foi a única que conseguiu uma classe lendária — falou admirando a lua no céu.
— É mesmo? E quem foi que … — No meio da frase Júlia captou o que ele queria dizer. — Não me diga que você também conseguiu…
Daniel acenou a cabeça e pronunciou o nome da classe com um sorriso satisfeito no rosto:
— Druida de Ferro.
— Incrível, e o que ela tem de diferente de um druida comum?
Ele contou sobre a evolução da forma de urso, o que a deixou sem palavras. Em seguida resumiu a jornada para conseguir desbloqueá-la, mas quando chegou nas Provações Druidas, nenhum detalhe foi poupado.
— Fui muito difícil vencer Bjorn em um duelo, mas acabei ganhando graças ao veneno da minha lança.
— Essa é uma ótima história — Júlia admitiu. — Parabéns pela classe lendária, você realmente mereceu ela, ainda mais depois de tudo que aconteceu.
— Mais para frente eu também pretendo fundar a minha própria equipe.
Júlia arregalou os olhos. Até um segundo atrás ficara fascinada pela história maluca por trás da classe lendária, mas quando pensou em todo o trabalho que ele teria para fundar uma equipe proporcional de sucesso, o entusiasmo sumiu de suas feições, substituído por uma preocupação velada.
— Nossa, mas que plano… ambicioso. — Tentou esconder a preocupação em sua voz.
Mas Daniel percebeu o ceticismo que nutria por seu plano.
— Você pode dizer a verdade, eu sei que é loucura, que custa caro e é muito burocrático. Mas esse é o único jeito de eu voltar depois que a minha imagem foi jogada na lama.
— Estarei torcendo para que tudo dê certo, de verdade — disse ela, esboçando um meio sorriso. — Prometo te ajudar sempre que puder.
— É aí que está o “x” da questão. Digamos que eu consiga fundar essa equipe e também consiga reunir uma equipe decente, eu poderia contar com você, como nos velhos tempos?
Ela abriu a boca para responder, mas pela expressão em seu rosto, Daniel já imaginou o problema, então se adiantou:
— Eu pagaria um salário digno, fique tranquila, você continuaria sendo tratada como uma profissional de alta performance.
Ela suspirou de alívio.
— Então eu aceitaria, mas você vai precisar me convencer de que o time pode competir contra os demais.
— Promete? — Ele quis saber, estendendo a mão para assumir o compromisso.
— Eu prometo — ela estendeu a sua, selando a promessa.
Cada um voltou a contemplar a paisagem noturna de Florianópolis.
— O Cris vai enlouquecer quando ficar sabendo que você prometeu entrar para o meu time hipotético.
— Engraçadinho… — Ela respirou fundo. — Parece que passou uma eternidade desde o mundial do ano passado.
— Parece mesmo.
— Lembra do embate contra a Dynasty?
— Naquele dia que você socou a cara do Xin Tao?
Ela gargalhou só de relembrar aquele momento.
— Foi um acidente. A gente estava conversando no refeitório do hotel quando fui me espreguiçar esticando os braços, a culpa não era minha se ele passou correndo ao meu lado naquela hora.
As risadas cessaram, e ela perguntou:
— Qual é o seu momento mais memorável de Paris?
Daniel tirou um momento para pensar. Sua mente foi inundada pelas lembranças dos dias na capital francesa, o local escolhido para sediar o mundial do ano passado.
— Aquele dia que a gente caminhou pelas ruas, tomando sorvete, vendo as lojas e contemplando a vida parisiense enquanto namorávamos sem ser aporrinhados por fãs chatos.
— Tu tá de sacanagem — ela protestou. — Naquele fim de semana a gente subiu na Torre Eiffel e foi visitar o Louvre, e você vem me dizer que passear e tomar sorvete foi melhor?
— Muito melhor. — Daniel admitiu sem hesitar. — Tinha gente demais naquela torre de ferro. E no museu nós ficamos ouvindo o guia explicar cada coisinha, enquanto na rua a gente só caminhou, olhou as lojas, as pessoas, a paisagem, tudo ao nosso tempo, e tomando um puta sorvete.
Ela tentou revidar dizendo que o passeio poderia ter sido feito em qualquer lugar do mundo, e que a torre e o museu eram atrações únicas daquele país. Porém, pensando em retrospecto, a memória que ele escolheu era recheada de conversas descompromissadas, risadas sinceras, brincadeiras espontâneas e momentos íntimos memoráveis. Então relembrou de um momento chave daquele dia.
— O pôr do sol na praia! — Júlia falou estalando os dedos.
— Exatamente… eu não trocaria aquilo por nada.
— Nem pela vitória no Campeonato Mundial?
Ele suspirou.
— Jú, por favor.
— Tá bom, tá bom. — No fundo ela sabia que estava forçando a barra, afinal, o sonho do campeonato era uma obsessão partilhada pelos dois. Em seguida parou para contemplar as estrelas no céu. — É lua cheia.
— A gente não está em um hotel de luxo em Paris, mesmo assim…
— É uma noite linda.
Ele pegou na mão dela, apoiada em cima do parapeito da sacada.
Júlia virou o rosto para dizer algo. Sua face enrubescia conforme as bochechas esquentavam.
— Está tentado me conquistar de volta? — ela perguntou.
— Estou, e está funcionando?
— Uhum — ela murmurou, então chutou a timidez para longe e o abraçou com força.
Eles permaneceram juntos, em silêncio, tirando proveito de um abraço acalorado. Júlia ergueu o rosto, apoiando o queixo no peito do rapaz, em seguida, esticou as mãos para tocar a face dele.
Daniel reagiu segurando-a pela cintura.
Eles aproximaram o rosto, lábios se encostaram e olhos fecharam. Júlia inclinou o rosto para o lado e o beijou com carinho, ditando um ritmo lento para saborear o momento.
Daniel a puxou para si, depois um passo para indicar que gostaria de mover-se. Júlia cedeu por curiosidade, e surpreendeu-se quando suas costas encostaram no parapeito da sacada. Seu corpo estava levemente arqueado para trás.
Júlia tocou-lhe o peito com a mão direita, depois passou-a por baixo da camisa do pijama e deslizou a mão pelo abdômen de Daniel. Uma risadinha escapou de seus lábios. Ela afastou o rosto, desmanchando o beijo.
— Você ganhou uns quilinhos, já não é tão durinho como era antes — comentou bem-humorada.
Daniel esboçou um sorriso constrangedor.
— Falta tempo para ir à academia.
— Aham, sei…
Ele revidou apalpando-a perna dela, sua mão deslizou pelo tecido da roupa. Então, com a ponta dos dedos, levantou a beirada da saia para tocar nas coxas da garota que desejava.
Júlia sentiu aquela mão gelada pressionar suas coxas bem-definidas. Ele continuou avançando de pouco em pouco enquanto se beijavam, entregando-se ao outro cada vez mais.
Ele falou no ouvido dela:
— Jú, você é incrível.
Assim como ele, Júlia não se aguentava mais, então se ergueu nas pontas dos pés para sussurrar no ouvido:
— Vamos? — terminou com uma risadinha.
Ele se afastou, pegou na mão dela e atendeu o pedido, conduzindo-a para o quarto.
***
Passou-se uma hora desde os amassos na sacada do apartamento. Os dois estavam juntinhos na cama do quarto, com nada lhes cobrindo além de um lençol fino, pois as roupas foram largadas pelo quarto antes de transarem. Seus olhos estavam voltados para a tela sobre a bancada.
— Lembra de quando nos conhecemos? — Júlia perguntou enquanto acariciava o peitoral dele.
— Foi na academia, no sexto andar do prédio da D.A. — Daniel respondeu afagando o cabelo dela.
— Lembra do momento exato?
— Não.
— Seu mentiroso, você lembra sim, só não quer falar.
— Está bem, admito. Eu estava na última série do supino quando você decidiu usar o aparelho do lado.
— Aí você quis se exibir para a novata colocando mais cinco quilos em cada lado.
— Para, já deu.
Júlia se aconchegou ao seu lado e aproximou o rosto para encará-lo mais de perto. Daniel fugiu de seu olhar, porém ela apertou-lhe a bochecha.
— Aí na quarta repetição você travou que nem bobalhão. Eu corri para te ajudar porque eu era uma novata inocente querendo ajudar uma das estrelas do time. Mas Dani, se isso acontecesse uns dois meses depois, eu te deixaria lá, com a barra travada no peito.
— Então eu rolaria a barra até a cintura para puxá-la de um ângulo mais favorável.
— Você fala isso agora porque fuçou a internet atrás de um truque para fugir dessa situação vergonhosa.
Ele respirou fundo e partiu para o contra-ataque.
— Se vamos falar de situações vergonhosas, que tal relembrarmos da festa de aniversário que você foi vestida para um casamento?
O sangue de Júlia ferveu, o rosto ficou vermelho, os dentes cerraram com força.
— Desgraçado, eu tinha esquecido disso. O aniversariante era sócio da Dark Age.
— Isso não é desculpa. Não é porque a pessoa é rica que ela vive como um bilionário.
— Você vai pagar! — ela rugiu com um travesseiro em mãos.
— Não! — Daniel ergueu a voz, mas foi tarde demais.
O travesseiro o atingiu em cheio, e ele revidou, culminando em uma breve briga de brincadeira.
Minutos depois, quando a situação acalmou e eles apenas riam da situação, os dois voltaram a se abraçar e a ver o programa na TV.
Uma rajada de ar frio adentrou no quarto, vindo da janela aberta à esquerda da cama. Júlia trincou os dentes e puxou o lençol para si, cobrindo seus seios.
— O que isso significa para você? — Daniel perguntou com seriedade.
— Eu não sei… — ela admitiu.
Seus olhos se encontraram, ele acariciou a bochecha dela.
— Júlia, eu te amo. Nós terminamos ano passado porque a gente… quero dizer, eu…
Ela o interrompeu assim que o viu hesitar em admitir a culpa.
— Nós dois, Dani. Nós dois concordamos em sacrificar nossa relação pelo mundial.
— Mas agora tudo mudou. Estamos em equipes diferentes, vivendo a quilômetros um do outro. Por mais que eu ame seu sorriso, suas brincadeiras, e o seu corpo. Eu não acho que iria dar certo um relacionamento desses. Me desculpe.
— Não precisa se desculpar. Eu também acho que reatar agora não daria certo. Eu só queria saber se nós dois estávamos na mesma página.
O coração de Daniel apertou ao ouvi-la repetir os mesmos argumentos. Ele pensou se ela também ficara abalada ao ouvir suas palavras.
Seus olhos se encontraram, olhares tristes foram trocados, Daniel tomou-a em seus braços e a trouxe para mais perto de si. Ela aceitou o gesto e o abraçou com força. Os fios longos e castanhos do cabelo dela esparramaram sobre o peitoral do rapaz.
— Jú… — disse ele.
— Da… — ela tentou dizer, mas soluçou no meio.
— Você está chorando?
— Não! — ela respondeu, a voz embargada pelo choro entalado na garganta.
Ele preparou uma piada, mas nada saiu quando tentou pronunciá-la, pois fora acometido pela dor da garota. Os olhos pesaram. O peito doía. A garota que amava chorava em seus braços. E, naquele instante, lágrimas brotaram de seus olhos, um par de gotas solitárias. Tentou ser forte, lutou para suprimi-las, mas no fim, rendeu-se a elas.
***
Depois de choraram juntos, os dois continuaram conversando e matando a saudade do outro, mas durante esse tempo todo a dor da separação não parou de atormentá-los.
Eles jantaram, assistiram a mais uma entrevista do programa do Kronos, tomaram banho juntos, encheram a cara com uma cerveja boa de verdade, e foram dormir após transarem e papearem outra vez.
Eles acordaram às sete horas da manhã, tomaram café da manhã e se prepararam para a despedida.
Júlia estava em pé no batente da porta, vestia sua camisa branca, saia preta e as sandálias castanhas. Para a ocasião, Daniel vestiu-se com uma camiseta meia manga listrada de vermelho e branco, bermuda jeans e um chinelo de dedo.
Eles seguravam na mão do outro.
— Acho que já deu, não posso mais enrolar o Cris. Ele deve estar uma fera, me esperando no lobby do hotel.
Ela se aproximou, o abraçou e o beijou uma última vez, então desviou o olhar.
— Tchau, Dani. Desejo que dê tudo certo com o seu novo time. E se eu puder ajudar de alguma forma, é só me avisar.
Chegou a hora dele se despedir.
— Boa sorte na Red, torço para que vocês vençam esse ano. E…
Ela selou os lábios dele com o indicador, um sorriso destoante do clima melancólico estava estampado em sua face.
— Não precisa dizer nada. Se tudo der certo a gente vai estar junto em seu novo time. Só vamos esperar até meu contrato com a Red Crows expirar. — Então ela pôs o indicar nos seus próprios lábios — Mas xiu! Que isso fique entre nós.
Aquelas palavras eram tudo que Daniel queria ouvir.
— Sua safada! — Ao ver a expressão na face dela, corrigiu: — Eu quis dizer no bom sentido.
— Aham…
Ela o beijou mais uma vez, despediu-se e se pôs a caminhar.
— Jú! — Daniel a chamou quando ela mal havia dado o terceiro passo.
Júlia virou-se para ouvir o que ele tinha a dizer, porém, acabou se surpreendendo quando o viu apontando o celular em sua direção.
— Pose pra foto — disse ele.
Ela pôs a mão esquerda na cintura, fez um “V” com a mão direita, pendeu a cabeça para o lado e esboçou um sorriso. O flash da câmera iluminou o corredor.
— Obrigado — Daniel agradeceu.
— Vai virar papel de parede?
— Sim, mas… eu posso excluir se quiser.
— Não precisa.
Ela se apressou até a porta do apartamento, roubou o celular das mãos dele, esticou o braço, e disse:
— Sorria.
Ele obedeceu. Júlia esticou ainda mais o braço, olhando a tela do aparelho para alinhar a câmera frontal até enquadrar os dois na foto.
— É pra hoje? — disse ele, mantendo o sorriso.
Ela beijou-o na bochecha esquerda e eternizou o momento pressionando o botão que acionou a câmera do celular. Antes de devolver o aparelho ao seu legítimo dono, Júlia conferiu a foto, que contrariando todas as suas expectativas, ficou ótima.
— Use essa daqui como papel de parede. E mande-a pra mim, quero guardá-la em nosso álbum.
Daniel tomou o celular em mãos. Aquele beijo na bochecha o pegou de surpresa, e isso transparecia na foto, nela o seu olho esquerdo estava fechado. Mas para sua felicidade aquilo não estragou a foto, pois sua reação somada à expressão brincalhona dela ao dar-lhe o beijo era uma das coisas mais belas e espontâneas que já viu.
— Obrigado — falou enquanto encaminhava a foto para ela.
Eles se beijaram e depois se despediram, só que dessa vez, para valer.
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