O Druida Lendário Brasileira

Autor(a): Raphael Fiamoncini


Volume 1

Capítulo 16: O Vampiro de Salem

As celas de Bremer estavam lotadas de criminosos. Entre os mais de trinta presos estavam os avatares de jogadores que descumpriram a lei. Um deles era Bartov, o único ainda conectado no jogo.

Ele estava sentado, batendo o pé contra o chão úmido de pedra quando alguém se aproximou das celas. A figura vestia um traje de couro marrom, com uma capa longa e um capuz jogado para trás. Era uma garota de cabelo longo, loiro e liso. Ela encarou Bartov e suspirou em desaprovação:

— O que foi que você fez dessa vez?

— Foi a porra de um druida. O cara é um veterano se fingindo de novato, mas ele a teve ajuda de um caçador.

— Você sabe o nome deles? — perguntou a garota.

— Claro, eu tirei algumas fotos da confusão, deixa que eu passo para você. — Bartov abriu o menu do jogo, e enviou os arquivos para a encapuzada.

— Você perdeu para eles?

Bartov se levantou do banco de madeira em que sentava, caminhou até as grades da cela, e respondeu:

— Não, claro que não. A baronesa e os filhos da puta dos guardas da cidade vieram ajudar. Se não fosse por isso, eu teria acabado com aqueles dois.

— O jogo acabou no momento que ele descobriu sua bebida tosca e falsificada. Pouco importa se você os tivesse matado. Eles renasceriam em pouco tempo, ainda são novatos e você acabaria marcado como um Matador de Jogador. Ela respirou fundo antes de prosseguir. — Nossa parceria termina aqui. Seu estabelecimento voltará para nossa guilda.

Bartov segurou nas barras da cela e as sacudiu em desespero.

— M-mas… vocês prometeram que me ajudariam se acontecesse alguma coisa.

— Nós prometemos, sim, mas você é o culpado por estar atrás das grades. Nós não temos como protegê-lo de sua própria estupidez.

— Você não pode fazer isso comigo, não depois de eu pagar uma fortuna por aquela estalagem. Ela é minha, minha! — o taverneiro finalizou aos berros.

— Foi uma simples concessão…

— Eu preciso daquela estalagem para continuar jogando. Eu não tenho futuro como guerreiro. Eu sou um bosta em combate

— O que você fazia antes de alugar nossa estalagem?

— Eu comprava mel em um vilarejo do reino de Ardélia e vendia nessa região. Por favor, não me faça voltar a essa vida. É uma hora de caminhada daqui até lá. É uma hora do mundo real.

— Não é problema nosso — ela finalizou, dando-lhe as costas.

— Havoc, eu imploro! — Bartov berrou a plenos pulmões, mas ela foi embora.

***

Após uma longa e cansativa caminhada por trilhas e estradas, Ragnar parou em frente ao portão frontal da cidade de Salem. Naquele instante ele relembrou da história contada por Bjorn.

Aquela era a cidade onde Mergraff estabeleceu seu reino de terror.

Mas quanto ele caminhou pelas ruas, tudo que viu foi paz e prosperidade. O fluxo de pessoas transitando era vinte vezes maior que o da cidade de Bremer, mas diferente de lá, aqui via-se mortos-vivos por todo lugar.

Haviam vampiros trajados dos pés à cabeça para se protegerem do sol, haviam zumbis arrastando os pés nos paralelepípedos da rua, também haviam esqueletos correndo de um lado para o outro, além das dezenas de cavaleiros revenantes sentados do lado de fora das tavernas discutindo quem entre eles teve a vida mais sofrida.

É a cidade dos mortos mais viva e bem humorada que já vi, Ragnar refletiu, caminhando por uma rua de casas de tijolos vermelhos. Quando cruzou uma esquina, dois guerreiros de um guilda familiar surgiram no horizonte. Ele recuou e os espiou por trás da parede de uma casinha.

Os guerreiros da Pata Negra foram embora. Ragnar suspirou aliviado, aguardou mais um pouco e retomou sua caminhada tomando cuidado para não trombar de frente com outros figurões da guilda.

Por sorte conseguiu chegar à Rua dos Artesões em segurança. Como o próprio nome sugeria, aquela era uma zona de oficinas, ateliês e laboratórios onde profissionais e artistas poderiam trabalhar em paz.

O laboratório de alquimia ficava nos fundos, longe da fumaça das forjas e do barulho vindo dos teatros onde bardos ensaiavam e criavam suas peças musicais. Ragnar pôs os pés no estabelecimento, o cheiro podre de poções falhas impregnava o ambiente. Um jovem humano de cabelo azulado veio ao seu encontro.

— Alquimista, você precisa de ajuda com alguma coisa?

— Não, obrigado — respondeu o druida.

— Muto bem, sinta-se à vontade para usar as estações de nosso laboratório.

Ragnar agradeceu e dirigiu-se ao salão do lado, uma área espaçosa, aberta, com uma dúzia de mesas longas onde ficavam os instrumentos de alquimia. Quase todas as estações estavam ocupadas, a única livre se encontrava nos fundos.

Sem outra opção, ele foi até lá e se acomodou no banco, debruçou-se sobre a mesa, pegou uma tigela de madeira e depositou nela duas folhas de Aloe Veraluna, a planta rara que colheu à exaustão no Refúgio dos Ursos de Ferro.

Apesar do recipiente ser grande, a folha esbranquiçada era maior. E, para piorar, faltavam equipamentos em sua estação de trabalho. Ele se esticou para o lado e pediu à alquimista a sua direita:

— Me empresta uma faca e um amassador?

A druidesa de cabelo verde, longo e cacheado falou bem-humorada:

— Fique à vontade.

Com os instrumentos que necessitava à disposição, ele repousou uma folha de Aloe Veraluna sobre uma tábua de madeira, depois usou a faca para descascá-la até restar apenas a membrana transparente que segurava o líquido, que se provou um desafio à parte de tão dura que era a folhagem.

A druidesa o encarava com um olhar curioso.

Ragnar dobrou a membrana dentro da vasilha para fazê-la caber, porém, ao soltá-la, ela se desdobrou na mesma hora, ficando metade para fora do recipiente. Ele ignorou o ato de rebeldia da planta e tentou amassá-la com o amassador emprestado, mas a folha resistiu com bravura a todo o seu esforço.

— Inferno — praguejou cerrando os dentes.

Então resmungou após a centésima tentativa, quando já estava em pé no banco, segurando o amassador com as duas mãos para espremer a membrana afim de extrair seu suco.

Àquela altura o laboratório de alquimia inteiro havia se reunido em seu redor. Cada pessoa palpitava uma solução diferente, mas Ragnar sabia que nenhuma delas daria certo.

Uma ideia estalou em sua cabeça.

— Afastem-se — alertou aos presentes.

A pequena multidão deu um passo para trás.

— Afastem-se mais, muito mais — insistiu.

Os espectadores se afastaram até a expressão em sua face mudar de irritado para calmo. Ragnar conjurou a Ira da Tempestade, fazendo seu corpo emitir descargas elétricas ao seu redor. Em seguida, levou o indicador aos lábios, pedindo aos espectadores que não o denunciassem à guarda da cidade por uso indevido de magia em espaço público.

Com sua mão eletrizada, ele empunhou o amassador e o desferiu com força contra a membrana de Aloe Veraluna, desmanchando-a. O suco da planta escorreu para o centro da vasilha, fluindo como uma nascente.

— Isso, caralho! — comemorou, e logo se virou para a plateia. — Desculpe pelo palavreado.

Todos esboçaram uma risadinha e começaram a aplaudir seu sucesso. Ragnar repetiu o processo para todas as mais de duzentas folhas de Aloe Veraluna. Em seu inventário agora haviam as duzentas unidades de suco e de cascas de planta.

Ele foi até o NPC alquimista que cuidava do laboratório e gastou suas economias comprando reagentes básicos de alquimia, depois voltou a sua estação e começou a experimentar todos os tipos de receita.

Cada receita produzida fornecia um pouco de experiência por sua criação e, caso fosse a primeira vez criando-a, a experiência obtida triplicava. Ragnar criou mais de trinta poções, elixires e drogas diferentes, então uma mensagem apareceu.

Sua proficiência em Alquimia avançou para o estágio Intermediário

Receitas intermediárias desbloqueadas

Você recebeu 10 pontos em Poder Mágico e Talento Mágico

Aquilo o motivou a continuar experimentando, pois evoluir uma profissão de criação desbloqueava uma miríade de itens novos a serem criados, ou descobertos.

A multidão continuava o observando. Ragnar experimentou fazer de tudo com a Aloe Veraluna: ele molhou, congelou, ralou, tostou, queimou, ionizou e tentou até mesmo fumá-la com o cachimbo presenteado pela druidesa de cabelos verdes, mas nada daquilo surtiu algum efeito.

Quanto estava para desistir de criar algo novo, ele insistiu mais uma vez pegando um frasco de vidro e derramando nele o suco da planta, depois esquentou o recipiente ascendendo uma pequena chama sobre a bancada de pedra.

O líquido começou a borbulhar. Ragnar então acrescentou fragmentos de Erva Púrpura, em seguida, acrescentou farelos de Espectro de Orquídea. Após misturar a combinação, um toque de sino anunciou seu sucesso.

Receita inédita descoberta

Parabéns, você descobriu a receita do Filtro Solar Fator Drácula

O coração parou um momento, a visão ficou turva, então a euforia da descoberta o fez gritar em comemoração. Ele olhou para a multidão e ficou sem palavras ao ver que eles também vibravam seu sucesso.

Um pensamento preocupante inundou sua mente. Todas aquelas pessoas testemunharam o processo de criação de um item inédito. E, se alguém entre eles prestou atenção no que estava fazendo, essa pessoa saberia quais ingredientes e quais processos foram utilizados na criação.

A Erva Púrpura era uma planta comum, muito utilizada em alquimia. O Espectro de Orquídea era mais difícil de obter porque crescia em poucos lugares, mas a peça principal, a Aloe Veraluna, nunca fora comentada dentro do jogo, tanto que ainda não constava nos bancos de dados e catálogos criados por entusiastas do jogo.

Era certo que a planta ainda era um segredo seu. E em segredo ele iria mantê-la.

Quando atenção voltou ao mundo do jogo ele ficou surpreso ao ver que a comoção não havia cessado. As dezenas de pessoas no laboratório conversavam em voz alta, alguns até dançavam ao ritmo das batidas de palmas de uma dúzia de aventureiros.

Algo agarrou seu braço direito, ao ver o que era ele se deparou com os olhos castanhos e arregalados de um feiticeiro de cabelo negro e liso, ele:

— Me ensina a receita?

— Não — Ragnar cortou-o na hora.

A resposta fez o feiticeiro torcer a face e começar a resmungar. Aquilo não seria um problema, decepcionar gente estranha era algo que estava acostumado a fazer desde os seus dias áureos como Dante. O problema foi que o feiticeiro lhe deu as costas e gritou:

— Ele não vai compartilhar com a gente!

Dezenas de jogadores vieram ao seu encontro, alguns imploravam, já o resto apenas xingava. A confusão aumentou conforme mais pessoas se ajuntavam aos insatisfeitos. Logo eles começaram a se empurrar.

A multidão no laboratório virou uma massa revoltosa que avançou como uma onda, espremendo Ragnar contra a bancada na parede.

Seus pontos de vida caíram para menos da metade. Alertas começaram a piscar avisando que poderia revidar contra aquelas pessoas sem ser punido pelo sistema.

Ragnar lutou para se afastar da multidão, ele distribuiu cotoveladas nos rostos, costelas e peitos de quem estivesse em seu caminho, porém, a turba insistia.

— SAIAM DE PERTO DE MIM! — ele gritou enfurecido, mas nada aconteceu.

Não havia outro jeito, então apelou, transformou-se em urso de ferro, lançando todo mundo para longe. Os corpos dos intrometidos se chocaram contra os instrumentos do laboratório, quebrando-os.

Os recipientes de vidros se fragmentaram em milhares de cacos sobre a superfície das bancadas e do chão da oficina. Dezenas de pessoas tombaram sobre as lascas afiadas. Muitos tiveram suas vestes danificadas, já os mais fracos sofreram cortes e perfurações que sangraram, manchando o piso de vermelho.

Em menos de um minuto, uma dupla de guardas apareceu para averiguar o furdunço, dois esqueletos vestindo cotas de malhas. O da direita, que portava uma longa alabarda em suas mãos ossudas, falou em sua voz fina e irritante:

— Que infernos aconteceu aqui?

— Eles estavam me importunando, eu apenas revidei — Ragnar respondeu em sua forma humana.

— Isso é verdade? — perguntou o esqueleto da esquerda, portando um porrete de madeira.

A druidesa de longos cabelos verdes olhou para Ragnar, ele a encarou de volta com um olhar recriminador.

— Sim — ela admitiu em um tom de voz culposo.

Os esqueletos se encararam — apesar de não possuírem olhos — deram de ombros e foram embora. Aos poucos os jogadores caídos no chão se levantaram, mas não foram embora, eles permaneceram em pé, esperando por algo.

— Que isso não se repita — Ragnar os repreendeu.

Eles ficaram cabisbaixo, e só então foram embora, com exceção da druidesa, ela veio ao seu encontro, para questionar:

— Essa sua forma de urso, ela é incrível… como você conseguiu ela?

— É um segredo, assim como o item que fabriquei.

Ela fez uma cara emburrada.

— Seu babaca mal agradecido. — Depois deu as costas e foi embora.

Ragnar respirou fundo e contemplou a bagunça que virou o laboratório. O funcionário do estabelecimento apareceu com uma vassoura na mão, fazendo-o sentir pena de seu destino.

Ainda bem que é um NPC, pensou.

Como sua estação de alquimia foi destruída durante o tumulto, Ragnar se dirigiu até uma das intactas perto da entrada. Enquanto o funcionário varria o chão, ele deu início a fabricação dos Filtros Solares Fator Drácula. Ao todo foram produzidas doze unidades, ele teria criado mais, porém, o estoque de Ervas Púrpuras chegara ao fim.

Porém, antes de voltar a Bremer e ao Covil das Serpentes para reabastecer seu estoque de ingredientes alquímicos, Ragnar decidiu avaliar o preço do item misterioso.

Ele deixou o laboratório de alquimia para trás e visitou cada loja do quarteirão. Como era de se imaginar, cada lugar ofereceu um preço diferente, o maior foi 22 rubros a unidades.

Ragnar persistiu, mesmo Salem sendo uma cidade grande ele continuou visitando todas lojas e vendedores em seu caminho. Depois de horas perambulando, já desesperançoso, entrou em uma loja de produtos mágicos. O local era espaçoso, limpo, e os produtos à venda estavam expostos em prateleiras, estantes e vitrines de mogno.

— Posso ajudá-lo — perguntou o vampiro atrás do balcão.

Ragnar virou-se para olhá-lo de frente, a pele pálida deixaria Drácula com inveja, seu cabelo longo, preto e liso compunham uma imagem esnobe, potencializada por um nariz avantajado.

— Pode sim — começou o druida. — Eu tenho algo que pode interessá-lo.

— É mesmo?

O vampiro saiu de trás do balcão e veio em sua direção. Ragnar tirou um frasco de filtro solar e o entregou para o lojista, que o pegou em mãos, tirou a rolha e deu uma cheirada.

— Parece Aloe Vera, só que… mais suave, com toques refrescantes salpicados de uma força sobrepujante.

— Não é um perfume, é um filtro solar.

O Vampiro torceu a face.

— É para proteger a pele do sol — Ragnar explicou, tendo uma ideia. — Quer saber? Essa amostra é grátis. Passe o produto em sua pele e veja por si mesmo como ele o protegerá do sol.

O vampiro grunhiu como um gato assustado. Aquela reação era lógica, afinal, era como pedir para um ser humano passar uma pomada no braço para depois colocá-la nas chamas de uma fogueira. Seria necessário um argumento muito poderoso para convencê-lo de que o filtro iria revolucionar sua vida, ou pós vida.

— Aposto mil rubros que esse filtro não queimará sua pele no sol.

O lojista negou balançando a cabeça, mas fez um contraproposta:

— Aposte sua lança que eu me arriscarei.

Ragnar empunhou a Perdição das Víboras. Aquele era um item épico de beleza única, apesar de estar ficando defasada ele não queria se desfazer dela antes de achar uma substituta digna. Porém, seu instinto dizia que essa era uma oportunidade única.

E como ele sempre deu razão aos seus instintos, ele respondeu:

— Fechado.

O vampiro sorriu, expondo seus dentes amarelados. Ele virou o frasco de cabeça para baixo e deixou o creme cair sobre seu antebraço direito, espalhando-o em seguida. Os dois caminharam até o lado de fora, onde o sol que se escondia atrás dos prédios mais altos da cidade.

Coberto por um manto e um capuz preto, o vampiro esticou o braço, expondo-o a uma fresta de luz trespassando as tábuas da cobertura da fachada. Em seguida, utilizou a mão direita, enluvada em couro, para puxar a manga do manto cobrindo seu braço esquerdo. O tecido dobrou até o cotovelo, a pele ficou exposta aos temíveis raios do sol poente.

Ele guinchou.

Ragnar se apavorou. Os segundos duraram minutos, e os dois minutos que passaram duraram uma eternidade para cada um. Ambos tinham muito a perder no experimento.

— Funcionou — o vampirou não acreditou nas próprias palavras. Seu braço estava intacto, sem uma mancha avermelhada sequer.

— Sim, funcionou — disse o druida.

— FUNCIONOU! — eles gritaram, abraçados.

— Prazer, meu nome é Sinistro Von Klevic. Sou um feiticeiro, membro da Sociedade dos Poetas Mortos-Vivos. E eu quero para agora todo seu estoque desse magnífico filtro solar. Ofereço 600 rubros a dezena, preço final, sem frescura, é pegar ou largar.

Ragnar se apoiou no vampiro, e falou no ouvido dele:

— Fechado, mas vou precisar de uns dois dias para coletar o material necessário. Prometo entregar cem unidades até a noite de amanhã.

Eles selaram o acordo com um aperto de mãos. O vampiro retornou à loja, e Ragnar correu em busca de mais materiais.

***

Passaram-se dois dias em Nova Avalon. Ragnar aproveitou o tempo livre para cultivar a última safra de ervas crescendo em seu canteiro na horta de Bremer. Em seguida, dirigiu-se à entrada do Covil das Serpentes para colher a última leva de Espectros de Orquídeas que acabara de florescer.

Porém, para sua decepção, aquilo não seria o bastante para produzir os cem filtros solares requisitados pelo vampiro Sinistro.

Para contornar o problema ele gastou suas economias comprando as ervas restantes nas lojas ao redor de Salem. Como era de se esperar, a erva púrpura era barata, enquanto o espectro de orquídea custou mais do que o triplo.

De volta à loja de artigos mágicos de Sinistro, Ragnar depositou os mais de cem filtros solares no depósito do estabelecimento. Antes de completarem a transação, o vampiro pegou um frasco aleatório e o testou para aferir a qualidade.

— Tudo certo — anunciou o lojista. — Aqui estão os 6.000 rubros que prometi. Quando tiver mais dessa belezinha, você já sabe quem procurar.

Quando o druida estava para sair, uma dúzia de vampiros entrou na loja.

— Já chegou? — disse o sujeito liderando o grupo, tirando o capuz, revelando seu cabelo curto e ruivo.

— Sim, foi ele quem fez — disse Sinistro Van Klevic, apontando para Ragnar.

O vampiro ruivão o abraçou.

— Obrigado, mestre druida. Você não tem ideia do quão feliz eu fiquei quando soube que poderei andar durante o dia mais uma vez.

A demanda por filtro solar o fez receber uma quantidade massiva de pontos de experiência. E por se tratar de um produto que iria revolucionar a vida dos vampiros de Salem, Ragnar recebeu pontos de reputação suficientes para avançar sua relação com a cidade.

Sua reputação com a Cidade de Bremer avançou de Neutro para Respeitado

Você evoluiu para o nível 13

Os pontos recebidos foram distribuídos em Talento Mágico para reduzir o custo de mana das magias.

Sua relação com a cidade avançou dois estágios de uma só vez.

Por padrão a reputação de um jogador iria primeiro evoluir de “neutro” para “amigo”, e, só depois de cumprir uma série de missões ela avançaria de “amigo” para “respeitado”. Como o próprio nome implicava, a reputação “respeitado” inferia um vínculo de admiração da cidade ao avatar do jogador.

A trupe de vampiros cercou Ragnar para tecer elogios ao grande serviço que estava prestando. No início achou graça, mas minutos depois chegou a um ponto que já estava ficando aborrecido com tamanha bajulação, mas antes que sua paciência acabasse, eles pararam de inflar seu ego e foram ao balcão da loja para papear com Sinistro.

Ragnar ainda não pretendia sair da loja, pois estava afim de dar uma olhada nos itens mágicos à venda. Ele parou diante de uma estante de madeira escura onde estavam guardados dezenas de livros grossos bem distribuídos e organizados.

Ele estava de costas quando uma espadachim adentrou no estabelecimento.

— Então é verdade — ela anunciou desembainhando a espada.

Ragnar olhou em direção à porta da frente e viu a tenente da guilda Pata Negra.

— O que você quer de mim? — ele falou com menosprezo.

— Quero que você pague os vinte mil rubros que nos deve pelos danos ao nosso estabelecimento.

— Vinte mil? Que exagero.

— Você não vai pagar?

— Não.

Havoc saltou para frente, pôs o pé direito em uma vitrine e se impulsionou para o alto, em pleno ar, utilizou a habilidade Investida para avançar cinco metros em um piscar de olhos, ficando de frente para Ragnar, ela desceu a lâmina da espada visando o peito dele.

Um baque agudo preencheu o lugar, o cabo da Perdição das Víboras bloqueou o golpe. Ragnar recuou, pronto para revidar a agressão, mas os braços e pernas da espadachim foram aprisionados por correntes saindo de dois pequenos portais.

— Me largue, vampiro desgraçado — ela rugiu, furiosa, forçando as correntes para tentar se desvencilhar.

— Você agrediu um de meus fornecedores. Ele pode ser um humano como você, mas já provou ser um grande amigo da comunidade dos Mortos-Vivos. Então, se não for para tratar de assuntos comerciais, retire-se de meu estabelecimento.

Sinistrou estalou os dedos, as correntes prendendo Havoc esfarelaram. Ela foi ao chão, mas conseguiu pousar em pé. Com uma expressão furiosa no rosto, ela falou:

— Você só pode estar de brincadeira, nós mandamos nessa cidade. — Então virou-se para encarar o druida. — Não vá pensando que se safou dessa, nós estamos de olho. Da próxima vez será diferente, me aguarde.

Ela deu as costas e saiu da loja.



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