O Druida Lendário Brasileira

Autor(a): Raphael Fiamoncini


Volume 1

Capítulo 12: As Provações Druidas

Bjorn ofereceu a Ragnar a chance de se tornar herdeiro de seu legado, mas para isso ele precisaria passar pelas Provações Druidas, uma série de quatro testes que julgariam se era merecedor ou não do título.

Eles entraram na construção principal do santuário, caminharam pelos corredores e salões até chegarem à área de treino, um local fechado do tamanho de um pavilhão esportivo.

Ragnar parou na beirada de uma das quatro arenas quadrangulares de madeira, e pisou com força, a tábua afundou alguns centímetros, mas logo retornou à posição original.

— Antigamente nós treinávamos arduamente durante o dia — disse Bjorn. — Foi ideia minha utilizar essa madeira maleável na construção das arenas. Nós druidas podemos possuir feitiços de cura poderosos, mas um braço quebrado ainda é um braço quebrado.

Em seguida ele estendeu o braço direito para frente, um cajado materializou-se em suas mãos, o objeto possuía tantas gravuras talhadas quanto o cabo da lança de Ragnar.

O espírito de Bjorn falou:

— Empunhe a Perdição das Víboras, estou curioso para vê-la em ação contra meu cajado. — Então caminhou até o lado oposto da arena, ficando a dez metros do druida.

— As Provações Druidas são divididas em quatro fases. A primeira consiste em me derrotar usando somente golpes físicos, portanto, nada de magia. Você tem três horas para me derrotar em todas as quatro fases, então, nada de corpo mole.

Bjorn girou o cajado entre os dedos, seu corpo foi coberto por uma camada azulada e translúcida.

— Pronto? — perguntou.

Ragnar respondeu que sim acenando a cabeça. O oponente ficou em guarda erguendo o cajado na altura do peito.

— Valendo! — Bjorn anunciou, disparando em altíssima velocidade.

Ragnar abriu os olhos e testemunhou faíscas azuladas relampejarem ao seu redor.

Ira da Tempestade, eu tenho 30 segundos de agilidade aumentada.

Em seguida cravou a ponta da lança no peito do adversário, então recuou-a para si e estocou mais duas vezes. Os três golpes em alta velocidade travaram a movimentação do inimigo por uma fração de segundos que o permitiu se afastar em segurança.

Bjorn era mais forte, logo, Ragnar sabia que precisaria vencer na agilidade, confiando em sua esquiva, pois seus pontos de energia eram baixos demais para bloquear toda uma sequência de golpes desferidos por alguém muito mais forte.

Eles se encararam. O druida contava com 23 segundos de Ira da Tempestade. Sabendo que precisava ser agressivo, avançou executando um corte horizontal, mas Bjorn recuou, esquivando. Ragnar foi para cima ativando sua transformação animal, só que desta vez, a transformação não ativou.

O cajado de Bjorn desceu contra seu braço direito.

— Eu achei que estava implícito, mas transformações animais estão proibidas.

— Obrigado pelo aviso — Ragnar falou, e logo partiu para cima, focado apenas em aproveitar os segundos finais da Ira da Tempestade.

O plano de batalha era desenhado em sua mente no decorrer do duelo. Bjorn era rápido, atento e não baixava a guarda com facilidade, mas suas aberturas ficavam mais evidentes a cada troca de ataques.

Ragnar percebeu que o inimigo não atacava quando sua energia reduzia para menos de 30%. Quando chegava nessa margem, ele recuava, levantava a guarda e o provocava, chamando-o de fraco e, ironicamente, de covarde.

Está na hora de abusar de você, arquidruida, Ragnar pensou quando sua barra de energia estava cheia e sua mana acima da metade.

Ele avançou, e Bjorn veio ao seu encontro executando uma série de ataques com seu cajado. Ragnar desviou de tudo e, quando a energia do oponente baixou para 32%, a Ira da Tempestade foi ativada.

Ragnar avançou como um relâmpago, sua lança dançou no ar, cortando o oponente com a guarda levantada, a maioria dos ataques foram bloqueados, mas sua energia era maior que a do oponente, então executou mais uma série de ofensivas.

Um estalo ressoou em seu ouvido como o tocar da trombeta de um anjo.

O cajado caiu no chão, quicou quatro vezes, e parou. Bjorn estava desarmado. E Ragnar tinha energia suficiente para uma sequência de quatro ataques. A ponta perfurante da arma cortou o ar, atingindo duas vezes o coração e a face do oponente.

Os quatro golpes críticos reduziram a barra de vida de 56% para 50%, segundos depois, para 49%, pois a Perdição das Víboras também causava dano de envenenamento ao longo do tempo.

Com o segredo da vitória descoberto, a vitória chegou após repetir a tática até zerar a vida de Bjorn, que se afastou para um lado de arena, e anunciou:

— Lamento por tê-lo subestimado, você é um dos melhores duelistas que já tive o prazer de enfrentar. Parabéns, você passou na primeira provação.

O espírito recuperou o cajado e o rodopiou mais uma vez entre os dedos da mão direita. A camada de energia azulada foi dissolvida, mas uma aura alaranjada tomou o seu lugar.

— A próxima provação é semelhante a anterior, mas agora você deverá me derrotar utilizando apenas feitiços e habilidades mágicas. Lembrando que a transformação animal continua proibida.

O temor de Ragnar foi concretizado. Um duelo mágico seria dificílimo para um druida nível baixo, pois o acervo de magias ofensivas disponíveis até o nível 10 era pequeno.

O Raio era seu único feitiço de dano mágico direto, não havia outra magia que pudesse ser combinada para aumentar seu dano.

A última opção era a Ira da Tempestade, que apesar de não causar dano diretamente, adicionava uma pequena quantidade de dano elétrico aos seus ataques normais.

De qualquer maneira, mesmo combinando os dois feitiços, seu dano por segundo seria baixíssimo, resultando em uma batalha longa que poderia demorar muito mais que os 22 minutos da prova anterior.

Três horas, 180 minutos, esse era o tempo limite estabelecido para vencer as quatro provações. Agora restavam-lhe 158 minutos e três provas para passar.

Bjorn bateu o cajado no chão antes de anunciar:

— A segunda prova começará… agora!

Ragnar empunhou a lança, conjurou a Ira da Tempestade, e avançou em alta velocidade. O cajado do inimigo bateu no chão mais uma vez. Ragnar sorriu e saltou, impulsionando o corpo para girar em pleno ar, a ponta da lança rasgou as raízes conjuradas por Bjorn.

O druida caiu a poucos passos do oponente. A palma da mão lançava faíscas azuladas ao seu redor, sinalizando que o feitiço conjurado estava pronto. Ragnar lançou o raio contra Bjorn, atingindo-lhe o peito, e tirando 1% dos pontos de vida.

Ragnar praguejou, o dano do feitiço era baixo demais apesar dos pontos investidos em Poder Mágico. Essa diferença entre dano físico e mágico vinha da arma que estava usando.

A perdição das Víboras era primariamente uma arma de combate corporal cujo maior atributo era seu Dano Físico. Apesar de também possuir Dano Mágico, algo raro para uma arma de combate, ele servia para fortalecer feitiços de cura e de suporte, que, quando comparados aos feitiços ofensivos, escalavam menos com o atributo mágico.

Ragnar ergueu a cabeça e deparou-se com o cajado de Bjorn vindo em sua direção, a arma cintilava uma fraca luz branca. Por reflexo ele ergueu o cabo da lança para se defender.

Madeira chocou contra madeira, e Ragnar perdeu 12% da vida apesar do bloqueio bem-sucedido.

Seu corpo continuava emitindo descargas elétricas, sinalizando que o efeito da Ira da Tempestade ainda persistia. Ragnar olhou nos olhos de Bjorn, faces determinadas se encararam por um segundo, seguido de uma troca de golpes rápidos que espalhou luzes e raios por toda a arena.

O druida golpeou com força e precisão para maximizar o dano infligido. Porém, quando a lança perfurava o corpo do adversário, a aura alaranjada anulava o dano físico, deixando subir apenas um número azulado equivalente ao dano elétrico causado pela Ira da Tempestade.

Assim que seu corpo parou de emitir as descargas, Ragnar mentalizou os 30 segundos de recarga para reativar a habilidade o mais rápido possível.

Sua única opção era conjurar raios para danificar o inimigo, mas isso poderia drenar toda sua mana caso não tomasse cuidado. Para evitar este problema ele se comprometeu a não usar magias quando a reserva de mana estivesse abaixo de ¼ do total.

O confronto prosseguiu em um duelo de alto nível. De pouco em pouco a vida de Bjorn decaia, mas em um ritmo que o deixou preocupado, pois já se passou uma hora desde o início da segunda provação.

Ragnar estendeu o braço e lançou um raio no momento que o oponente baixou a guarda. Uma mensagem apareceu em seu campo de visão.

A habilidade Raio evoluiu para o nível 5

A habilidade Raio recebeu uma melhoria

Raio (Nível: 5)

Conjura uma descarga elétrica que poderá interromper o alvo.

Melhoria Nível 5: seus raios deixam uma marca de Choque no alvo por 20 segundos. Se você acertar essa habilidade em alguém com três marcas de Choque, o dano causado será 50% maior.

A melhoria recebida aumentaria em muito o dano do quarto Raio conjurado em um inimigo. Isso trazia consigo um generoso aumento no dano por segundo causado pelo druida, uma vez que estava conjurando a habilidade durante o tempo de recarga da Ira da Tempestade.

Porém, um outro problema estava emergindo para atormentá-lo, a sua vida, ela estava abaixo de 15%.

Durante o combate, Ragnar consumiu suas últimas poções de vida, desta maneira restava-lhe apenas a Brisa Curativa como forma de regerar seus pontos de vida.

Ele sabia que tudo estava em seu desfavor, esse segundo teste evidenciava as grandes fraquezas de seu avatar. Mesmo com a melhoria do Raio, seu dano mágico ainda era fraco, a vida de Bjorn reduzia a uma velocidade digna de dar pena.

Mas Ragnar iria perseverar, desistir não era uma opção. Estes testes, por pior que fossem, eram a única forma de adquirir uma classe que pudesse fazê-lo competir em pé de igualdade com o melhor do mundo.

Falhar significava perder esta oportunidade para sempre.

Bjorn estendeu o cajado para frente e começou a conjuração de um feitiço.

Ragnar viu sua mana abaixo de 20%, mesmo assim conjurou uma Brisa Curativa. Sua vida foi restaurando a cada cinco segundos.

O feitiço do oponente ficou pronto, ele apontou o cajado para o centro da arena. Um vento fraco espiralou pelos arredores, ganhando força até obrigar Ragnar a se abaixar para não ser arrastado.

Segundos depois, o vento convergiu para o centro, ganhando força até transformar-se em um tornado.

O olho do tornado era uma zona perigosa onde o jogador recebia uma quantidade massiva de dano a cada segundo que ficasse dentro.

Sabendo disso tudo, Ragnar se afastou assim que viu o pilar se formar no centro. Como o vento forte o puxava na direção do vórtice, ele, com muita dificuldade, arrastou os pés até alcançar a borda da arena.

Ele conseguiu sair ileso daquela devastação. Durante esse tempo sua vida regenerou graças à Brisa Curativa, enquanto a mana carregou o bastante para conjurar mais uma cura.

Ele soltou um suspiro de alívio quando seus pontos de vida ficaram acima dos 50%. E, para melhorar, a ventania perdeu força até o tornado desaparecer da arena. Com a mana revigorada, Ragnar ativou a Ira da Tempestade ao mesmo tempo que o adversário conjurou outra magia.

Sob os pés do druida brotaram cinco raízes que tentaram prendê-lo ao chão, mas ele as cortou em três movimentos rápidos com a ponta da lança. Porém, aquilo não era o fim, o oponente estava próximo, apontando outro feitiço em sua direção.

Uma pequena pedra de gelo maciça ganhou forma, e começou a crescer na palma da mão esquerda de Bjorn, quando ela atingiu um metro altura, ele recuou o cajado e o desferiu com força contra a esfera de gelo, que foi lançada para frente como uma bola de baseball gigante.

Ragnar ergueu a lança, deixou a eletricidade acumular por um segundo, então conduziu a descarga elétrica contra a esfera, explodindo-a em milhares de fragmentos.

Bjorn ficou parado, sua mana e energia estavam abaixo dos 10%. Era a chance do druida aproveitar a Ira da Tempestade.

Ele foi para cima, entre as sequências de golpes ele conjurou raios até quebrar a guarda.

Em 15 segundos Bjorn foi afligido com três marcas de Choque, Ragnar executou mais duas estocadas de lança, depois estendeu a mão, deixou a energia fluir e lançou o quarto Raio contra o peito desprotegido do alvo.

Um relâmpago desceu do céu, causando os 50% de dano mágico adicional descrito na melhoria nível 5 da habilidade.

O relâmpago atordoou Bjorn por alguns segundos, Ragnar usou esse tempo para regenerar sua vida e mana. O cansaço estava cobrando seu preço, mas para compensar, o dano causado subiu graças a melhoria do feitiço.

Vinte minutos depois Bjorn estava de joelhos, respirando pesado, e com o cajado largado ao seu lado.

A segunda prova levou 92 minutos para ser concluída,

— Suas habilidades mágicas precisam melhorar, e muito.

— Eu sei.

Ragnar estava preocupado com as duas fases restantes, pois as primeiras, somadas, demoraram 114 minutos, mais da metade dos 180 totais. Portanto, se uma das duas provas restantes fosse tão complicada quanto esta última, o fracasso era garantido.

A ansiedade emergiu aos poucos dentro de si, mesmo assim, quando pousou o olhar sobre Bjorn e viu que ele ainda estava no chão, Ragnar foi até ele e estendeu uma mão para ajudá-lo a se levantar. Bjorn agradeceu, se levantou com a ajuda oferecida, e falou:

— O que acha de fazermos uma pausa antes de continuarmos?

Ragnar pensou antes de responder:

— Ela vai descontar do meu tempo restante?

Bjorn deu uma risada.

— É claro que não.



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