O Auto do Despertar Brasileira

Autor(a): Leonardo Carneiro


Volume 1

Capítulo 27: DESPERTO

Milan se sentou lentamente, ainda tentando processar o que havia acontecido. A chuva continuava a cair sobre a floresta, mas ele mal notava. Sua mente estava ocupada com as imagens do sonho e a sensação de poder que havia sentido ao usar a espada Espectro.

Ele se levantou, ainda um pouco tonto, e olhou em volta. A fenda mortal que havia criado com a espada ainda estava lá, um lembrete do poder que ele havia desbloqueado. Milan sabia que precisava entender melhor o que havia acontecido e como controlar esse poder.

Ao caminhar em direção à fenda, ele notou que a floresta ao redor estava começando a mudar. As árvores pareciam estar se inclinando em direção a ele, como se estivessem tentando ouvir seus pensamentos. O vento sussurrava segredos em seu ouvido, e as folhas das árvores pareciam estar dançando ao ritmo de uma música que só ele podia ouvir.

De repente, uma figura alada passou voando por ele, deixando um rastro de poeira de fada no ar. Milan a seguiu com os olhos, vendo como ela desaparecia entre as árvores. Ele sentiu um arrepio na espinha, sabendo que a floresta estava reagindo à sua presença.

A chuva começou a diminuir, e um silêncio estranho caiu sobre ela. Milan sentiu que estava sendo observado, e olhou em volta, tentando ver quem ou o que estava lá. Mas não havia nada à vista.

Então, ele ouviu um som suave, como o tilintar de sinos. Era uma melodia estranha, mas familiar. Milan sentiu que estava sendo chamado, e começou a caminhar em direção ao som.

Seguindo o som da melodia, ele notou que estava sendo levado em direção a algo importante. A floresta parecia estar se abrindo para ele, revelando caminhos e segredos que antes estavam ocultos. Ele caminhou por entre as árvores, sentindo o aroma de flores e a umidade da chuva no ar. Claro, concentrada e com a guarda alta. Ele não sabia que perigos poderia encontrar ali. 

À medida que ele caminhava, a melodia se tornava mais forte, mais clara. Milan começou a sentir uma conexão com a música, como se ela estivesse falando diretamente com sua alma. Ele sentiu um arrepio na espinha, e seus sentidos se aguçaram, como se estivesse se preparando para algo.

De repente, ele viu uma clareira à frente. No centro da clareira havia uma árvore enorme, com flores brancas e perfumadas que pareciam estar dançando ao vento. A melodia vinha de lá, e Milan sentiu que estava sendo chamado para se aproximar.

Ele se aproximou da árvore, sentindo a energia da floresta ao seu redor. A árvore parecia estar pulsando com a própria vida, e Milan sentiu que estava sendo atraído para ela. Ele estendeu a mão, e tocou o tronco da árvore.

No momento em que ele tocou a árvore, a melodia parou. O silêncio foi absoluto, e Milan sentiu que estava suspenso no tempo. Então, lentamente, a árvore começou a brilhar, com uma luz suave e branca que parecia estar vindo de dentro dela.

Milan sentiu que estava sendo iluminado, que estava recebendo uma mensagem ou uma visão. Ele fechou os olhos, e deixou que a energia da árvore o envolvesse. E então, ele viu...

Uma visão começou a se formar em sua mente, uma imagem de um mundo antigo e mágico. Milan viu criaturas mitológicas, fadas e ninfas dançando e cantando em uma floresta primordial. Ele viu antigos seres que habitavam essa floresta… assim como a visão que seu mestre, Cidin, lhe proporcionou diante da fogueira certa noite. 

A visão se desfez, e Milan abriu os olhos. A árvore ainda estava brilhando, mas a luz estava começando a diminuir. Ele sentiu que havia recebido uma mensagem, mas não sabia exatamente o que significava.

Ele olhou em volta, sentindo que a floresta estava esperando por ele. Ele sabia que precisava continuar em frente, seguir o caminho que havia sido traçado para ele. E com isso, ele começou a caminhar novamente, pronto para enfrentar o que quer que viesse a seguir.

Milan continuou a caminhar, sentindo que a floresta estava se fechando ao seu redor. A luz da árvore havia desaparecido, e agora ele estava cercado por sombras e silêncio. Ele podia sentir os olhos da floresta sobre ele, observando-o, esperando por ele.

Conforme mais se afastava daquela árvore imaculada, o ar começou a se tornar mais denso e mais pesado. Milan sentiu que estava sendo sufocado por uma presença maligna, que estava se aproximando dele. Ele tentou se preparar, mas não sabia o que estava vindo.

Milan não era tolo. Ele sabia que o mundo não era doce e que nada viria fácil. Nem tinha a doce expectativa de ser o heroi aguardado. Ele sabia o que vinha acontecendo desde que chegara a clareira recém destruída. 

Estava óbvio que a floresta tinha vida, já que provavelmente exista antes mesmo da chegada do homem naquelas terras. Ela, de algum jeito, tentava amansar Mil, tentando fazê-lo desviar de seu objetivo final. Acontece que Milan era centrado demais para deixar que algo assim acontecesse. Ele já não era mais um menininho de oito anos, afinal. 

Por esse motivo, e por estar fora das imediações da antiga clareira, que parecia fornecer proteção instintiva contra o que quer estivesse vivendo nos arredores, Milan sabia a real natureza da floresta. Pelo menos esta parte em que era obscura, carecendo de energia boa. Vez ou outra ele sentia, agora que podia observar mais o mundo com outros olhos… e as coisas não eram boas aqui.

A floresta começou a se fechar ao seu redor. O silêncio era opressivo, e ele podia sentir os olhos deste antigo labirinto lhe encarando. De repente, um sentimento despontou. Era algo estranho… mas ele sabia que estava algo errado. 

A chuva se aprofundou quanto mais ele se afastava da árvore de pétalas brancas e da clareira antiga. E mais e mais um sentimento ruim se aprofundava.

De repente, um rugido distante soou, um som que fez seu coração acelerar. Ele se virou, tentando ver o que estava fazendo tal barulho, mas não viu nada. Apenas a chuva caia densamente, formando poças e alagando as árvores escuras ao redor. O vento uivava também, balançando nos cipós e as flores enormes e altas. 

Dali a pouco, o rugido se tornou mais forte, mais próximo. Milan sentiu um medo crescente, um pavor que estava começando a dominá-lo. Raios, ele não queria se sentir assim, mas era inevitável. 

Sentindo que não poderia fazer mais nada, se virou rapidamente e correu, seus parecendo pesados, como se estivessem enraizados no chão. Mas era tarde demais. A criatura surgiu diante dele, um monstro gigantesco, com uma pele escamosa e preta como carvão. Seus olhos eram dois pontos vermelhos que brilhavam como carvões em brasa. Sua boca era uma grande fenda cheia de dentes afiados e pontiagudos, que pareciam estar sempre babando de fome. Suas garras eram longas e afiadas, com uma forma estranha que parecia ser feita para rasgar e destruir.

Milan sacou Espectro, que parecia mil vezes mais pesada do que antes. Ele estava tremendo de frio e medo, mas sabia que precisava lutar. A criatura se aproximou dele, seu cheiro de podridão e morte penetrando nos ossos de Milan. Ele sentiu um arrepio na espinha, mas não recuou. 

Um sorriso torto e sem graça surgiu o rosto de Mil.

‘Desgraça… como vou enfrentar algo assim? Maldita sorte, Milan Sgaard.’

A cada passo da criatura, fendas se aprofundaram no chão, criando sulcos de destruição e morte. A vida ao redor desvanecia, sendo instantaneamente obliterada por um fogo negro escapando da pele escura da vil criatura. 

Milan sabia que se fosse atingido fortemente pelo demônio, poderia significar seu fim. 

Então ele observou enquanto a criatura diminuía espaço e rapidamente se aproximava, abrindo a bocarra e erguendo a pata cheia de morte. 

Mas ele já não era mais o menino tolo que foi derrotado algumas vezes no passado. Por conta de seu aspecto de aprendizagem rápida, Milan conseguia se mover rapidamente também. 

Ele desviou por um triz, quase não conseguindo escapar. 

Rolando para frente, Milan deslizou e saltou para seus pés, abrindo uma boa distância entre si e a criatura. 

Milan era realmente muito rápido, desviando prontamente da maioria dos golpes da criatura, mas ele sabia que não poderia ficar somente nisso para sempre. 

Desviado mais uma vez por entre suas patas, ele ergueu Espectro num ponto baixo da criatura. Como ela se assemelhava a um lobo comum, provavelmente teria as mesmas fraquezas ou pontos fracos da criatura. 

No entanto, Milan assistiu enquanto sua espada deslizava através do pelo da criatura, sem proferir nenhum arranhão sequer. Atônito, Milan surgiu atrás da criatura e saltou para seus pés outra vez. 

Mas ele não contava com tamanha rapidez da criatura, que já tinha dado a volta e se virado para ele. Erguendo a espada, seu mundo girou quando a pata da criatura, diversas vezes maior do que uma pata normal, o atingiu no lado, lançando-o no chão. 

Milan voou longe, quicando diversas vezes no chão, o ar lhe faltando. Com certeza muitas costelas se quebraram neste momento. Mas não necessariamente aconteceu. 

Agora que Milan era um desperto, ele era muitas vezes mais forte e também mais resistente que o habitual. Se erguendo com certa dificuldade, mas sabendo que nada realmente tinha se quebrado, Mil cuspiu um punhado de sangue e sorriu. 

Seu rosto era lavado pela chuva enquanto sangue escorria do lado, banhando seus dentes brancos num rubro enlouquecedor. 

A criatura rosnou, andando de lado de modo imponente, nunca tirando o olho de Mil. 

O menino se apoiou num joelho, erguendo Espectro, e a apertou firmemente. 

Havia alguns modos que ele podia lutar contra a criatura, mas com seu orka quase no fim, e com a ordem ferrenha de Cildin de que ele nunca deveria usar seu Mar de Consciência, Milan começou a rodar a aura ao seu redor. Afinal, não havia treinado tanto para nada. 

O som serrilhado do rosnado da criatura ficou mais grave. 

'Sim, demônio! Eu também tenho alguns truques.’

Inundando a si com aura, Milan saltou para seus pés e ficou diversas vezes mais forte. E também mais rápido. 

Ele rapidamente se aproximou da criatura e ergueu a lâmina, tendo cuidado para não injetar aura demais. Mas o bicho era simplesmente rápido demais também. 

Acompanhando Mil desde o início, ele somente se moveu perto do seu embates, abrindo bem a bocarra e erguendo as patas dianteiras. 

Milan arregalou os olhos, mas deixou a aura fluir para sua mão e, eventualmente, para sua espada. Um controle fraco, mas fino de energia surgiu, banhando levemente a lâmina numa aura azul. Era fraca, mas Milan sorriu. 

O garoto ergueu a espada num controle absurdamente rápido e bem controlado, mas a espada só raspou de leve na pelagem da criatura. No segundo seguinte ele estava voando para longe, o monstro ficando de cabeça para baixo. 

Quando pousou – lutando tolamente para não quicar muito –, uma dor irradiou de seu ombro. Rapidamente sua mente ficou turva, e morte, dor, tristeza, depressão… tudo de ruim invadiu a mente de Mil, anuviando sua perspectiva da realidade. 

Ele olhou para o lado, observando enquanto veias negras surgiam no seu ombro, se alastrando feito fogo por seu pescoço, braço, costas… 

Caindo sobre um joelho, Mil baixou o rosto e gritou de dor. A chuva continuava lavando a sujeira e o sangue. Mas e o veneno? Droga. 

Ele ergueu o rosto e observou a criatura caminhando lentamente até ele. Esse maldito estava apenas brincando. Era engraçado brincar com a refeição antes de consumi-la? Um riso fraco surgiu de seu peito. 

Milan sabia que nenhuma força o salvaria. Ele não tinha mais energia áurea para lutar, nem sabia como poderia enfrentar um terror como aquele. Céus, era melhor morrer. 

Sim, entregar-se para a morte, pelo menos assim a raiva, a dor, o ressentimento sumiriam. Não haveria mais vingança. 

Suspirando, ele assentiu. Era o melhor. Se entregar, virar o banquete dessa criatura muitas vezes mais forte. Era seu destino. Ele lutara bem. 

Então porque raios seu corpo não obedecia? Droga. 

Ele ergueu, ignorando todos os desejos banais de sua mente. Era uma mente conturbada, inebriada pela falta de razão. Não havia razão. 

Não havia aura. 

Mas a espada parecia discordar. Demoniozinho maldito… 

A arma exalou uma energia diferente de antes, uma aura nebulosa e roxa, irradiando e iluminando tudo. E ela se estendia para Mil, atrasando o avanço da morte em suas veias. Clareando seus pensamentos. 

Os pensamentos que continuavam a pedir que não resistisse. Mas quem seria Milan se não fosse contra até mesmo sua própria mente?!

Ele agiu rapidamente, se aproximando da criatura. Um rasgo de sua pata seria o bastante para cortar alguém ao meio. Mas não um Desperto. 

A marca das unhas ficou cravada em seu peito, mas não havia sangue. Havia uma cicatriz em forma de garras em seu peito. 

Outra avalanche de rasgos, mas Milan desviou bem. Ele também ergueu sua mão, Espectro mirando em lugares menos pronunciados. Nas omoplatas, entre o dorso e um braço… um olho. 

Milan conseguiu afundar sua espada profundamente na cavidade visual da criatura, que rosnou, abrindo a bocarra e quase mutilando o jovem. Mas ele não se contentou e sorriu. Agora, empatados, ambos poderiam terminar com essa luta. 

Apoie a Novel Mania

Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.

Novas traduções

Novels originais

Experiência sem anúncios

Doar agora