O Apocalipse de Yohane Brasileira

Autor(a): Enrico Ferr


A1 – Vol.3

Capítulo 58: Entrando a força

— Não, por favor! Deixa a gente ir! — As vozes inocentes e aterrorizadas imploravam para a mulher de longos cabelos negros a sua frente.

Duas garotinhas de cabelos escuros e mechas brancas choravam e soluçavam com pavor, enquanto aquela em seu encalço avançava sem nenhuma hesitação no olhar.

Uma lâmina mágica.

Dois gritos.

 

Um despertar.

A mente de Olívia entrou em estado de inconsciência por meio segundo, quando percebeu que não havia como escapar da casa feroz que avançou no grupo. Porém, assim que seus olhos se abriram, percebeu que estava bem. Na verdade, sequer tinha se movido, com exceção de seus braços, que estavam em posição de defesa.

Confusão e dúvida foi o que a cercou. Como poderia? Ela não teve tempo de conjurar um escudo ou campo de força, que seria a única coisa capaz de impedir que eles se tornassem petisco de assombração. No entanto, era exatamente isso que separava aquele grupo das presas amadeiradas da cabana ambulante.

Um campo de força esverdeado e brilhante, que havia cortado todos os galhos que os prendiam e os levantado centímetros do chão, os libertando.

Cena Verde.

Esmeralda.

Adam.

Aquela proteção saia diretamente das mãos de Adam, que parecia sequer perceber o que tinha realizado. Afinal, estava na mesma posição de defesa que Olívia, com olhos fechados e uma expressão de garotinho assustado.

“Você sabia que ele era um bruxo?” A voz interior parecia tão surpresa quanto, questionando enquanto observava a cena pelos olhos claros de Olívia.

— Não. Mas sem tempo pra questionar!

Ela estava certa. Não importa o quão incrível e surpreendente fosse, ele claramente era um amador, e não iria aguentar outro ataque da casa feroz. Mas aquele amador comprou o tempo que Olívia precisava para conjurar um feitiço rápido de ataque.

Com movimentos bruscos dos punhos cerrados, ela repetia palavras em algum idioma antigo, que soava como russo ou ucraniano, mas que não parecia formar nenhuma frase com sentido. Porém foi efetivo, pois logo em seguida seus dedos começaram a emanar algum tipo de eletricidade de cor rosa, sendo lançada contra a casa, que cambaleou.

— Cacete! — Adam gritou e, sem perceber, desfez o escudo de força. — Eu tô maluco ou acabei de usar magia? Tipo, magia de verdade!

— Sim! Magia de verdade! Agora corre, aquela casa já está se levantando! — Olívia exclamou, indo em disparada na direção oposta à cabana da bruxa.

— Galinheiro maldito! Galinheiro maldito! Galinheiro maldito! — Yohane correu sem pensar duas vezes. Talassofobia era apenas um de seus vários medos irracionais e, naquele momento, sua megalofobia estava atacando.

— Não precisa deixar claro pra todo mundo a sua criação caipira, ruiva! — Adam reclamou, correndo junto da colega.

— Calem a boca e corram mais rápido! Yohane, queima aquela coisa! — Magda exclamou, tentando manter a mente calma. E falhando, obviamente. Ela também não queria ser devorada.

— Não! — a pequena e felpuda Amaterasu alertou no ombro de Adam. — Não sabemos se a Yelena está lá dentro! Se queimarem a casa, podem acabar matando a garota!

— Não esperava tamanha consideração vinda de você! — gritou Olívia, saltando sobre uma raiz sobressalente. — Acabou de subir no meu conceito. Em vez de deidade de araque, você agora é uma divindade de merda.

— Isso é muito pior! — a feneco rosnou, e teria avançado sobre a bruxa, caso não estivesse se concentrando em se prender no ombro de Adam com suas garras.

— Então o que a gente faz?! — Yohane gritou, saltando na última hora sobre um pinheiro que despencou logo à sua frente. — Essa foi por pouco!

— Eu avisei que aquela mulher controla a floresta! Adam, cuidado! — Olívia exclamou ao ver um galho se retorcendo com movimento de serpente, indo em direção ao alemão.

Mas foi tarde demais. A floresta era esperta e reconheceu Adam como a maior ameaça do grupo – o que era inesperado, considerando o peso da concorrência. O galho se enroscou no pescoço do jovem e o suspendeu no ar junto da raposa em seu ombro, os balançando como se fosse uma pinhata de aniversário, apenas para lançar ambos, logo em seguida, precisamente dentro da boca do galinheiro maldito. Olívia não tinha certeza, mas parecia que a casa tinha usado o tapete-língua para lamber os beiços-porta.

Magda parou de uma vez, levantando uma grande quantidade de neve em sua guinada forçada. — Não! Eu não vou perder minha família pela terceira vez. — Como uma velocista olímpica, ela disparou em direção a cabana da bruxa, invocando suas correntes, pronta para arrancar cada tábua de madeira que compunha aquela casa.

— Magda, espera! — Olívia tentou impedi-la, mas foi em vão.

Ela estava cega pela raiva e preocupação, e isso a fez cometer um erro de amador que iria torcer os rostos de suas treinadoras em pura decepção. Ela não prestou atenção nos arredores. Por esse erro, duas raízes saltaram do chão, a fazendo tropeçar e rolar sobre a neve, metros à frente, parando apenas quando a própria cabana pisou em seu corpo, a afundando no solo. Usando sua língua-tapete, o galinheiro maldito enrolou Magda, inconsciente, e a engoliu de uma vez, como um sushi.

— Que droga! Por que ninguém nunca me escuta! — Olívia gritou frustrada, desviando dos galhos que tentavam a agarrar.

— Olívia! Eu não quero ser chata! — Yohane estava tendo dificuldade em terminar uma sentença completa, já que parte de seu foco estava em carbonizar as raízes e galhos que também tentavam a capturar. — Mas qual é o plano?!

Enquanto corria e saltava, a Olívia pensou o mais rápido que pôde em um plano de contra-ataque, até que chegou na conclusão mais simples: manter o plano anterior.

— Entrar na cabana!

— Como é que é?!

— Yohane, me cobre, preciso de um minuto pra fazer esse feitiço.

— Um minuto inteiro?!

— É forma de falar, só segura ela o máximo que der!

— Espero que saiba o que está fazendo!

E Yohane decidiu confiar na parceira bruxa. Sua roupa civil se transformou em chamas, revelando seu uniforme tático em um passe de mágica. Afundando seus coturnos na neve, ela freou bruscamente, se virando para cabana enquanto erguia suas mãos. Em um vislumbre rápido, Olívia pode ver as veias dos antebraços da garota ruiva clareando sob a pele, como velas iluminando um quarto escuro. As palmas de suas mãos brilharam e na cena seguinte, uma onda de chamas foi lançada, criando uma barreira flamejante que separava a dupla da cabana maligna.

E não parou por aí. Avançando em direção ao pinheiro mais próximo, a garota se curvou e desferiu dois chutes rápidos contra a madeira, que se assemelhavam com duas lâminas de fogo. Em seguida, deu mais dois chutes: um para deitar o gigantesco tronco em pleno ar, e outro para lançá-lo como um míssil na direção da casa.

Olívia sabia que Yohane era poderosa no momento em que a viu, mas aquilo fez tanto ela, quanto sua voz interior dizerem as mesmas palavras:

“Ela é assustadora.”

A loira tinha, de fato, pedido por cobertura, mas não esperava aquilo. Sentia que algo estava diferente. Não apenas sua postura mudou, como sua expressão e sua brutalidade. E foi então que Olívia viu:

Vermelho.

Brilhando.

Aquela não era Yohane.

Mas havia tempo para isso. Rapidamente, Olívia entrelaçou os dedos enquanto repetia mais palavras indecifráveis e, assim que os dedos brilharam, os separou, gerando vários fios de energia. Girando suas mãos em direções opostas, os fios se entrelaçam, e então se multiplicaram, formando chicotes.

— Olívia Romanova! — A voz de Yohane estava diferente, e ela exclamava para a parceira enquanto chamava a atenção da cabana que, de alguma forma, era excepcional na arte de piruetas e esquivas. — Eu não sei o que você pretende fazer, mas sugiro que faça com rapidez! Essa aberração de madeira é estranhamente habilidosa.

A cabana, após desviar de uma saraivada de chamas lançada por Yohane, arrancou um pinheiro inteiro do solo com uma de suas pernas de galinha, o lançando contra a jovem ruiva.

Por sorte, ela, em um movimento muito preciso, avançou no projétil enquanto girava seu corpo como uma escavadeira, atravessando o pinheiro e o queimando de dentro pra fora.

“Uau” A voz murmurou, seguida de um movimento rápido de Olívia, que lançou seus chicotes contra as pernas da cabana, apenas para fazê-la cair no chão quando os puxou novamente.

Com a casa caída e temporariamente desnorteada, Olívia gritou enquanto corria em direção a sua enorme inimiga: — Pula na boca dela!

— O que?! — Azul. — Tudo isso pra no final nos entregarmos como prato principal? — Yohane estava indignada, questionando com seu tom de voz habitual.

— Só confia em mim! Rápido, antes que ela se levante!

— Se isso não der certo, eu vou quebrar a sua cara antes de ser digerida!

E com essas últimas palavras, Yohane correu junto de Olívia e as duas saltaram em um altura impossível para qualquer ser humano comum, caindo voluntariamente no interior da cabana de Baba Yaga.

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