Apocalipse de Yohane Brasileira

Autor(a): Henrique Ferreira


A1 – Vol.2

Capítulo 45: Reunião de família

A bruxa rangeu os dentes por baixo do capuz e também avançou, e Magda fez o mesmo. A batalha começou, com a inimiga em uma absurda desvantagem, mas, diferente das expectativas, ela estava conseguindo lidar bem ao lutar contra duas adversárias tão habilidosas.

Yohane já era acostumada a usar os punhos e, depois de tanto treinar com Maeve, sabia como se portar em uma luta com um adversário habilidoso. Mas, mesmo seus movimentos sendo precisos e poderosos, diferente de alguns meses atrás, a experiência da bruxa claramente a colocava em outro nível. Ela defendia os ataques da ruiva apenas com o pensamento, formando escudos e barreiras rosadas de pura energia. Yohane estava sendo ignorada, enquanto Magda era quem tinha toda a atenção da bruxa.

Os movimentos da alemã com suas correntes eram majestosos, como uma dança acrobática. Ela usava tanto a lâmina da ponta como chutes e pontapés para atacar o alvo. Seus reflexos eram tão rápidos que faziam seu tempo de reação ser quase instantâneo, usando tanto as correntes quando o corte da lâmina para, assim, defender os projeteis e ataques corpo-a-corpo da inimiga.

A ruiva, frustrada com a falta de atenção que estava recebendo na luta, começou a aumentar a força e velocidade de seus goles, se tornando um estorvo real para a bruxa.

— Yohane, você está começando a tirar minha paciência. Fica fora disso!

Uma grande mão negra foi invocada, segurando os dois braços de Magda. Ao mesmo tempo, a bruxa moveu o braço em direção a ruiva, a lançando para longe com uma onda de choque rosada.

— Yohane! — gritou Magda.

— Agora somos só eu e você, "Maggie".

— Afinal de contas, por que tanto esforço pra me fazer sofrer?! É vingança por eu ter matado tantos dos seus companheiros bruxos? Eu sei que fiz muita merda, mas não acho que você seja algum anjo da morte pra ter tanta autoridade e ficar tentando me punir desse jeito. O que diabos eu fiz pra você?

— No momento em que eu puder ver seu corpo no chão, com os olhos perdendo o brilho da vida, eu vou te explicar tudo. Mas até lá, eu só quero ver você sangrar!

Uma segunda mão negra foi invocada, socando o estomago de Magda. A alemã sentiu algumas costelas se partindo, e a dor chegava até os órgãos mais internos.

— Nos últimos dez anos eu te observei. — Socou novamente. — Vi você chorar e sorrir. — De novo. — Fazer amizades e inimigos. — Outra vez. — Mas nunca sequer vi você culpar sua mãe pelo que ela fez!

— Minha… mãe? — Sangue escorria da boca de Magda e respingava na neve, manchando o solo alvo de vermelho.

— Ela te traiu, te abandonou! Deixou você sozinha! E você a defende até hoje! Como pôde ficar contra seu pai naquele dia?! Como pôde chamá-lo de covarde, quando ele apenas queria proteger você e seu irmão?! Como você pôde ser tão egoísta, Magda?!

Não era possível ver seu rosto, mas sua voz deixava claro que ela estava sofrendo. Por algum motivo, aquelas palavras pareciam bem pessoais para ela.

— Como… como você sabe disso…?

Lagrimas caíram do rosto escondido da bruxa, e ela socou o estômago de Magda uma última vez, a fazendo cair no próprio sangue.

A inimiga encarou a alemã de cima, com as mãos trêmulas. Foi possível ouvi-la suspirar, respirando fundo e se acalmando. Invocou uma longa lâmina rosada, pronta para dar o golpe de misericórdia.

— Ei, dona Bruxa! — A voz de Yohane foi ouvida com um grito, seguida de uma explosão, o que assustou a bruxa, a fazendo se virar bruscamente e ficar em guarda. — Aquilo doeu!

Mas não pôde reagir. Yohane foi voando em direção a mulher, como um foguete saindo do planeta. Com o punho cerrado, acertou em cheio o maxilar da inimiga, a fazendo sair rolando. Metros à frente, conseguiu parar ajoelhada, se apoiando no chão.

— Que garota insuportável! — gritou a bruxa, irada.

— Já me chamaram de coisa pior, seja mais criativa! — Yohane respondeu com um sorriso cansado, enquanto ajudava Magda a se levantar. — Você tá bem?

— Não… — Cuspiu sangue. — Mas já passei por coisa pior.

— Maldição… — A bruxa se levantou, seus olhos brilhavam com uma energia rosada descontrolada, e era a única que se podia ver em seu rosto além de sua boca com dentes serrados, cheios de sangue. — Por que vocês não morrem?!

— Elas não podem morrer quando tem um cara tão bonitão as esperando em casa! — Uma voz arrogante e confiante foi ouvida, indo em direção à bruxa. Seus olhos se arregalaram, olhando para a origem da voz. Um rastro esverdeado e então, sangue jorrou. As coxas da bruxa estavam sangrando, e um jovem com um cabelo castanho avermelhado na altura do ombro estava ao lado, empunhando um par de adagas.

— Adam! — Yohane não pôde conter o sorriso em ver o garoto.

— É nossa chance, vamos! — Magda engoliu a dor e correu ao ataque, tinha que incapacitar a inimiga logo, não tinha certeza se poderia continuar aquela luta por mais tempo, estando tão ferida.

— Já… — Porem, mesmo ajoelhada em uma poça gélida de sangue, a bruxa gritou, liberando uma onda de choque ao seu redor que lançou os três ao chão. — CHEGA!

O capuz da mulher voou, revelando um belo cabelo negro curto com mechas brancas na frente. Ela tentou se levantar, mas não conseguia ficar em pé, o corte foi profundo.

Porém, o mais chocante aconteceu quando o trio de caçadores viu o rosto, até então secreto, da bruxa.

— Que porra… é essa?!

Exclamou Magda, sem acreditar no que via com seus olhos. Com exceção da cor de seus cabelos e dos olhos azuis, a bruxa tinha exatamente o mesmo rosto que o dela. O maxilar, o nariz, o formato. Tudo era idêntico.

— O que significa isso?! Por que não desiste das ilusões de uma vez?! Você não tem como nos vencer com esses joguinhos.

A bruxa sorriu cansada, enquanto cuspia sangue.

— É engraçado, não é? Eu venho te caçando há quinze anos, te odiando com cada átomo do meu corpo… e você nem sabe quem eu sou, irmã.

Os três ficaram em silêncio, atônitos com a revelação da bruxa.

— O que foi? Achou que Adam tinha sido o único enganado por nossos pais, sendo feito de otário e obrigado a esquecer a própria família? — disse a bruxa, sentando no chão. — Mas no seu caso foi diferente, não é? Você não esqueceu de mim. Você nunca sequer me conheceu. Agora, olhe onde estamos: Finalmente os irmãos Vernichter estão reunidos! Ah, é, mas eu não sou uma Vernichter. Uriel me deserdou da família quando nós ainda tínhamos três anos, e tudo isso por sua culpa! — Não tinha força para impedir as lagrimas de caírem, elas se misturavam com o sangue à medida que escorriam pelo rosto.

— Não… isso não é possível.

— Somos filhas de um bruxo com uma querubim, Magda. Tudo é possível, principalmente as coisas ruins. Somos gêmeas, mas eu não nasci naquela maldita Descendência Escarlate que ela tinha tanto orgulho. Eu nasci parecida com o nosso pai, com uma sensibilidade mágica maior que a de vocês. Mas, como você nasceu perfeita pra ela, nossa mãe simplesmente me viu como um produto defeituoso… se não fosse pelo nosso pai, eu não sei se estaria viva.

— Então, você é a Amélia? — perguntou Yohane, surpresa.

— Hm? — A bruxa olhou para a ruiva com um sorriso triste. — Parece que você sabe mais sobre nossa família do que eles, garota.

— Você sabia disso? — Magda perguntou agressivamente.

— Marko não era apenas meu professor, era meu amigo. Ele sempre contou história sobre sua ex-esposa e seus três filhos. Além do Adam, duas estavam na Europa, separadas. Com a Amélia — apontou para a bruxa. —, ele ainda mantinha contado. Mas com a Magda, não conversava há anos. Ele sempre me disse que, caso conhecesse o Adam, não comentasse sobre essas conversas. Acho que agora entendo o motivo…

Amélia deu uma risada em meio as lágrimas.

— Que família saudável.

— Mas se a mãe te deserdou, por que você não foi atrás dela? Por que me perseguir por todo esse tempo? — perguntou Magda.

— Por que eu quero que ela sofra. Quero que ela perca tudo e sinta o desespero que eu sofri. E qual o melhor jeito de fazer uma mãe sofrer do que destruir o coração e mente da filha favorita dela? Nunca quis te machucar, irmã, mas para me vingar da nossa mãe, você tinha que morrer. Assim eu levaria seu corpo pra ela, e finalmente atravessaria o coração dela enquanto ela lamentava sobre seu cadáver.

Os olhos arregalados dos presentes deixavam claro o quão chocados estavam. O vento frio era triste e, conforme o céu escurecia, a noite de réveillon se tornava cada vez mais melancólica.

— Mas, então, por que você não veio atrás de mim? — perguntou Adam, igualmente atônito com as revelações anteriores.

Amelia o olhou com um olhar gentil.

— Você é meu irmãozinho caçula, Adam. Nunca faria nada para te ferir. Além disso, nesta família, você é o único sem pecados. O pai estava certo em tentar te deixar fora disso, mas nosso sangue sempre nos atraí de volta a esse mundo. Ter o poder de um anjo, mas as fraquezas de um humano, essa é a maldição de todo nefilim… — Amélia respirou fundo e se forçou a levantar, usando sua magia para se apoiar. — Agora não existem segredos entre nós. Como deixamos tudo claro, vou embora por hora. Não sou idiota de continuar lutando nesse estado. Mas, Magda, saiba que eu voltarei. Eu odeio você. Odeio nossa mãe. E eu vou matar as duas. — A voz serena não escondia seus sentimentos embaralhados. Ela estalou os dedos e desapareceu em poeira mágica, deixando três pessoas chocadas e em silêncio. Esperavam muita coisa daquela batalha, menos o que acabara de ocorrer.

Magda, Adam e Amélia. Três irmãos separados, vindo de uma família rachada.

Yohane, que poderia ser considerada uma clandestina naquela reunião de família, tentou começar um novo assunto.

— Adam, vocês encontraram a Astrid? — perguntou, afinal, era esse o objetivo desde o início.

— Deixei Tera com Hilda na caverna quando ouvi vocês lutando, elas já devem ter resgatado a princesa… — Nem Adam conseguia esconder. O jovem, que sempre era animado e confiante, estava inconformado.

— Vamos. — disse Magda limpando o sangue de sua boca e fazendo suas correntes desaparecerem em um pó dourado. — Adam, iremos atrás do Marko quando resolvermos isso.

— Certo…

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