Volume 2
Passando o Fim do Ano com o Anjo
Uma vez que o Natal tinha passado, o mundo inteiro poderia sentir o fim do ano se aproximando
No dia seguinte após passar o natal com Mahiru, Amane saiu para fazer algumas compras por conta própria. Quando terminou, seus arredores haviam se transformado drasticamente, e Amane admirava o novo cenário a caminho de casa.
As luzes amarradas ao redor da cidade permaneceram, mas as árvores decoradas e os enfeites de Natal já haviam sido substituídos por ornamentos mais tradicionais Japoneses. As lojas também atualizaram seu catálogo, vendendo comidas e decorações de ano novo. Se ainda houvesse qualquer coisa relacionada ao natal à venda, na melhor das hipóteses, estaria com preço reduzido e de baixo de uma placa de “LIQUIDAÇÃO DE ESTOQUE”
Amane aconchegou seu rosto profundamente nas dobras macias do seu cancelou enquanto refletia sobre a mudança repentina. Mahiru havia lhe dado o cachecol xadrez monocromático como presente de natal. Ele era tanto prático quanto elegante; parecia estiloso e era bem suave ao toque, e o mais importante, mantinha o vento gelado do inverno bem longe.
Amane nunca havia realmente usado um cachecol antes, então ele estava se sentindo grato por este enquanto conferia o conteúdo das sacolas de compras penduradas em seus braços.
Embora os dois devessem dividir esta responsabilidade - para reduzir a carga sobre Mahiru, que preparava toda a comida - Amane geralmente saía para comprar os ingredientes, munido de uma lista de compras.
Era um dia frio, e as sacolas de Amane estavam cheias de vegetais, cogumelos e carne - Mahiru deveria estar planejando cozinhar um caldo. Os vegetais em abundância era a sua maneira de sutilmente instigar Amane a comer uma dieta mais balanceada e nutritiva.
Ele riu silenciosamente para si mesmo, rindo que de certa forma Mahiru estava se preocupando com ele, mesmo que não estivesse de fato ali.
Ele conferiu novamente se havia pegado tudo, então voltou rapidamente para casa, tremendo diante do frio implacável.
“Bem vindo de volta.”
Já estava anoitecendo quando Amane entrou em seu apartamento, e Mahiru estava lá para recebê-lo
Este era um sentimento estranho, ser recebido em seu próprio apartamento, mas recentemente ele se acostumou com isso.
“Mm, Estou de volta… Eu comprei mochi em fatias finas; tudo bem?”
“Você quer cozinhar isso na panela, certo?”
“Aham, Eu também peguei um pouco de lámen para terminar o jantar”
“...Não tem como eu comer isso tudo, você sabe.”
“Não se preocupe, eu vou me certificar de que não tenha desperdícios.”
Amane nunca foi adepto a comer grandes refeições antes, mas agora, graças a comida de Mahiru, ele começou a apreciar jantares maiores. De fato, ele achou o tamanho das suas porções um pouco consideráveis e resolveu começar um treino com pesos.
Mahiru parecia estar observando sua própria dieta também. Ela raramente preparava alimentos calóricos. Por outro lado, ela também parecia pensar que Amane poderia ganhar um pouco de peso, já que ele era tão magro. Amane tinha esperanças que ganharia músculos, não gordura.
“Bem, se você vai comer tudo, então tudo bem. Aqui, me dê as sacolas. Eu vou por as coisas na geladeira. Vá lavar suas mãos.”
“Eu sei, eu sei”
Amane entregou as sacolas cheias para Mahiru e obedientemente seguiu para a pia.
“Eu estava aqui pensando, o que vai fazer para o Ano Novo, Mahiru?”
Depois de comer cada pedacinho da deliciosa comida do dia, como sempre, Amane repentinamente perguntou para Mahiru a pergunta que estava pesando em sua mente.
“Ano novo é…Bem, não tenho motivos para voltar para casa, então eu vou ficar aqui.”
Ele percebeu seu erro quando ouviu o tom indiferente de Mahiru, mas ela não parecia tão incomodada.
Sua relação com os pais não era boa, então ela sempre teve uma atitude fria sempre que a conversa se voltava para sua família.
Mas se esse é o caso, Mahiru não vai passar o feriado sozinha?
Amane tem essa promessa de mostrar seu rosto em casa a cada 6 meses, logo ele estava planejando visitar durante o recesso - isso foi antes de conhecer Mahiru.
“Você está indo para casa, certo Amane?”
“Está certa; Eu estou sob ordens expressas de aparecer.”
Ele olhou de relance para ela e viu que a expressão em seu olhar estava, de alguma maneira, mais fria que o normal. Ela parecia ter se conformado em passar o feriado sozinha, com Amane indo embora e tudo mais.
“...Cara, quando eu chegar em casa vou ser completamente interrogado por sua causa.”
“Nossa, que terrível…”
“Eu posso provavelmente escapar só falando o básico para meu pai, mas a minha mãe vai querer ouvir tudo e um pouco mais.”
“Isso é muito estranho, já que eu falo com ela o tempo todo”
“Você realmente se tornou próxima a minha mãe bem rápido”
Por alguma razão, Mahiru tinha rapidamente feito amizade com a mãe de Amane e, sem que ele percebesse, estava mandando fotos e histórias privadas… o que francamente o matou um pouco por dentro. Mas Mahiru parecia estar obviamente gostando disso, então Amane não viu nenhum mal nisso. Ele só esperava que ela não estivesse contando para sua mãe nada que ela não precisasse absolutamente saber.
Recordando a expressão distante e solitária que vez ou outra surgia no rosto de Mahiru, Amane decidiu que não queria deixá-la ali sozinha.
“Bem, eu vi a minha mãe a pouco tempo… Eu sentiria falta do meu pai, mas eu me pergunto se estaria tudo bem eu não voltar para casa nesse fim de ano… Além do mais, eu supostamente voltaria durante as férias de verão de qualquer maneira.”
Amane estava pensando que se ficasse para o feriado, eles continuariam jantando juntos como sempre… Está decidido, desde que não seja um incômodo para Mahiru.
“...oh?”
“Mm. Além do mais, eu quero comer seu macarrão de Ano Novo”
“Mas que guloso você é.”
“É tudo devido a sua comida.”
“...Até quando são comidas pré prontas?”
“Até quando são.”
Mesmo se ela só ferver o macarrão soba instantâneo, Amane tinha certeza que ele ainda apreciaria. Afinal, o importante sobre compartilhar as refeições era o tempo que passavam juntos
“...Você é uma pessoa muito estranha”Mahiru comentou.
“ Silêncio.”
Ele viu seu sorriso levemente
“...Obrigada”
“Pelo que?”
“Por nada.”
Mahiru não disse mais nada, mas sua expressão brilhou de alguma forma, e ela abraçou com força sua almofada favorita.
E então 31 de Dezembro chegou. A Véspera de ano novo estava encerrando o ano. Para muitos foi um dia ocupado, gasto limpando e preparando para a chegada do novo ano, mas-
“Eh, ei, Mahiru?”
“O que foi”
“...Você tem certeza que não quer minha ajuda com nada?”
Da sua posição, sentado confortavelmente no sofá da sala, Amane estava observando as costas de Mahiru enquanto ela estava em pé de avental em sua cozinha. Ela estava lá desde de manhã, fazendo osechi, a comida tradicional para o Ano Novo Japonês.
Como eles decidiram passar o ano novo juntos, naturalmente eles precisavam do suficiente para alimentar ambos.
Amane assumiu que iriam comprar pronto, mas aparentemente Mahiru pretendia fazer tudo a mão. Isso teria sido complicado mesmo para uma dona de casa experiente, então era surpreendente, mesmo para essa brilhante estudante do Ensino Médio, enfrentar tudo sozinha.
Amane estava seriamente impressionado, mas Mahiru havia dito, “Bem, não há chances de nós conseguirmos osechi de uma loja agora. Você tem que encomendar essas coisas com antecedência”
Reconhecidamente, ela estava absolutamente certa, mas mesmo assim, Amane admirava Mahiru por ter decidido fazer tudo por conta própria.
Claro, ela pegou atalhos onde conseguiu. Por exemplo, ferver seus próprios feijões pretos demoraria muito e ocuparia uma boca de fogão por tempo de mais, então eles compraram alguns feijõess já preparados.
“Amane, você parece desconfortável quando eu digo que não precisa fazer nada, mas tem ao menos alguma ideia de como poderia me ajudar?”
“Honestamente? Não.”
“Eu bem que pensei, É mais fácil se você simplesmente ficar fora do caminho.”
Amane não conseguia argumentar contra a avaliação severa de Mahiru. então ele tentou sentar quietinho no sofá , mas achou impossível apenas sentar-se e não fazer nada.
Não é como se Amane não tivesse feito nada completamente - Ele tinha acabado de limpar seu apartamento no dia anterior e, mais cedo, ido à umas compras rápidas pegando ingredientes para fazer os pratos do osechi, além de comida o suficiente para não precisar sair de casa por um bom tempo. Ele cuidou da maioria das tarefas físicas, mas naquele momento, Mahiru estava ocupada e ele não estava fazendo muito.
“Você deve estar cansado por ter movido todos os móveis e eletrodomésticos ontem para a limpeza, então por favor, descanse” Disse Mahiru sem se virar, Amane pensou ter ouvido um tom de preocupação em sua voz.
Parecia que Mahiru já havia terminado sua limpeza de Ano Novo. Aparentemente, não teve muito trabalho já que ela sempre mantém sua casa tão arrumada.
Então essa é a diferença entre alguém que tem o hábito de manter as coisas limpas e alguém que não. Amane refletiu. Imagino que eu deveria ter percebido isso antes…
“Bem, mesmo assim, eu me sinto péssimo sobre isso.”
“Eu gosto muito de cozinhar, então sem problemas.”
“Mesmo assim…”
“Está tudo bem; Estou me divertindo”
Amane estava sem saber como reagir a Mahiru, que o dispensou, totalmente concentrada em seu trabalho.
“Mahiru, eu fui em frente e comprei o almoço”
Seria injusto esperar que Mahiru preparasse o almoço quando ela está com suas mãos ocupadas com o osechi, então Amane foi até a loja de conveniência. Ele percebeu que não haveria problema com uma simples refeição de sanduíches, já que Mahiru não comia muito de qualquer maneira.
Mahiru tinha tirado seu avental. Ela já devia estar planejando tirar uma folga, então o tempo parecia exato
“Obrigado por se dar o trabalho,” Mahiru disse enquanto entrava na sala de estar. Seu intervalo também seria seu almoço. “Eu sinto muito por não conseguir fazer o almoço”
“Fala sério, eu sou definitivamente aquele que devia estar se desculpando, contigo fazendo todo aquele osechi. Aqui, vamos comer. Como um sanduíche e um café au lait soa?”
“Está ótimo, obrigada” Mahiru disse enquanto aceitava a comida e pegava um lugar ao lado dele no sofá.
“Então, quanto você conseguiu fazer até agora?” Amane perguntou
“Bem, eu estou usando um monte de ingredientes prontos, e estou tentando não limitar o número de pratos então… Eu diria que estou quase acabando. Depois disso, tem um monte de coisas que precisam descansar ou esfriar na geladeira. Você parece gostar de omeletes doces, então fiz essas à mão.”
“Como você sabia??”
“Você gosta de todos os outros pratos que eu faço, não achei que omeletes enroladas seriam exceção.”
Ele supôs que ela havia cozinhado eles especialmente no forno. Ele ouviu o barulho mais cedo e se perguntou o que ela estava preparando nele.
“Você gosta dos que tem um leve toque de doçura, certo?”
“Você me conhece tão bem.”
“Não é surpreendente que eu iria aprender seus gostos após diversos meses.” Mahiru disse enquanto beliscava seu sanduíche de alface e presunto. Ouvir aquilo o fez muito feliz.
Enquanto Amane começava a comer o onigiri que comprou para si mesmo, ele olhou para a cozinha, seus olhos pousaram sobre as pequenas caixas de comidas em vários níveis que Mahiru trouxe com ela.
Ela deve estar planejando pôr a comida naquelas caixas.
Ele não esperava que ela fosse tão longe a ponto de trazer caixas especiais para toda a comida — afinal de contas, ela morava sozinha, assim como ele — então ele tinha ficado um pouco chocado ao ver os compartimentos elegantes, pintados com verniz e decorados com folhas de ouro
“Sério, eu não posso te agradecer o suficiente. Como posso explicar...? No último ano, pude aproveitar a comida de uma forma que nunca poderia ter imaginado quando comecei a morar sozinho.”
“E eu aqui pensando que você estava indo bem sozinho.”
“Venenosa. Você sabe melhor do que ninguém que eu estava sobrevivendo com refeições de lojas de conveniência.”
“Isso certamente não era saudável. Com certeza.” Mahiru soltou um suspiro de descontentamento, mas também tinha um sorriso de compreensão, o que pegou Amane de surpresa. “Bom, agora que estou aqui,” ela acrescentou, “Não vou deixar você voltar aos seus péssimos velhos hábitos, ok??
“Quem é você? Minha mãe?”
“É sua própria culpa por estar vivendo desta maneira. No próximo ano você certamente vai aprender a comer apropriadamente. Eu fui clara?”Os olhos de Mahiru brilhavam com entusiasmo.
Amane percebeu que ela tinha acabado de anunciar sua intenção de passar o próximo ano com ele também. O pensamento o deixou terrivelmente envergonhado, e ele se viu desviando o olhar.
No entanto, Mahiru deve ter interpretado aquele gesto como relutância em abrir mão de seus hábitos preguiçosos, pois imediatamente fez uma careta para Amane, que se viu lutando para se explicar de forma desajeitada.
Mahiru terminou de fazer e embalar todos os pratos de osechi por volta do pôr do sol e depois começou a preparar os noodles de Ano Novo, que envolviam simplesmente cozinhar os noodles e preparar os acompanhamentos, já que tinham comprado-os pré-cortados
Ela tinha um pouco de kamaboko sobrando do osechi, então foi uma adição perfeita. Tudo o que precisava fazer era escaldar o espinafre e fatiar a cebolinha verde
A parte mais trabalhosa era o tempurá de camarão, mas Mahiru parecia não ter dificuldades enquanto fritava todos.
"Também sobrou um pouco de kabocha, então vou fritar enquanto preparo aqui."
“Caramba... esses noodles de Ano Novo vão ser incríveis.”
“Às vezes é divertido fazer coisas assim,” disse Mahiru enquanto terminava de servir os noodles. Eles pareciam muito mais esplêndidos do que as pessoas geralmente costumam comer em casa.
Ela havia feito dois grandes pedaços de tempurá de camarão por tigela, e o tempurá adicional de kabocha estava crocante na perfeição. Havia bastante espinafre e cebolinha, e o kamaboko estava cortado em um formato decorativo de leque.
Amane percebeu que Mahiru gostava de manter seu tempurá crocante, já que ambas as porções estavam colocadas em pratos separados, em vez de diretamente na tigela com os noodles. Ele ficou grato por esse pequeno e atencioso gesto.
“Uau!”
“Por favor, coma.”
Talvez preocupada de que os noodles não fossem suficientes para saciar o apetite de Amane, Mahiru serviu todas as sobras dos pratos de osechi em um prato pequeno.
Amane observou Mahiru tomar seu lugar e, em seguida, cada um juntou suas mãos para agradecer pela comida antes de saborearem seus noodles.
Embora Mahiru tenha dito que o Soba era pré-preparado, ela deve ter escolhido noodles de alta qualidade. Amane conseguia sentir o rico aroma do trigo premium a cada mordida. O caldo não era muito grosso nem muito fino, e estava tão bem temperado que ele suspirou de prazer. Isso o aqueceu desde as profundezas de seu estômago. O prato perfeito para um dia frio.
“Agora sim… isso é como o fim do ano deveria ser”
Ele deu um gole no caldo e suspirou... murmurando para si mesmo.
Ele certamente estava aproveitando a oportunidade de relaxar e assistir TV enquanto comia seus noodles, aguardando a chegada do Ano Novo.
Também era tradição de sua família todos os anos comer noodles de Ano Novo e passar a véspera de Ano Novo assistindo aos especiais musicais de fim de ano na televisão, então Amane ficou feliz por poder manter essa tradição.
Mas esta noite ele não estava sentado com sua família; em vez disso, havia uma linda garota ao seu lado.
“Quando você come noodles de Ano Novo, é como se caísse a ficha de que o ano realmente está acabando, não é?” perguntou Mahiru
“Sei o que você quer dizer…” Amane replicou. “Tanta coisa aconteceu esse ano.”
É claro, ele estava falando principalmente sobre o seu florescente relacionamento com Mahiru.
Quando ele começou a morar sozinho, ele não podia imaginar de forma alguma que uma garota tão bonita fosse preparar refeições tão deliciosas para ele..
“Ah, porque este foi o ano em que você começou a morar sozinho, não é, Amane? Deve ter sido difícil.”
“Você, por outro lado, nunca pareceu ter nenhum problema.”
“Bem, é porque eu consigo fazer praticamente tudo sozinha. Isso é um desastre para alguém como você, que tenta viver por conta própria mesmo não sabendo fazer nada.”
“Ah, isso é verdade, mas…”
“Você é realmente definição de irremediável, não é?”
A expressão no rosto de Mahiru era suave enquanto ela o repreendia, com mais charme do que irritação. Ela não parecia sobrecarregada ao cuidar de Amane. Ela parecia apenas... contente.
“…Eu te devo por tudo o que fez este ano.”
Ele repetiu as palavras de agradecimento que havia dito a ela no Natal, e Mahiru sorriu levemente.
“E nunca se esqueça disso.”
Sua rápida concordância o incomodou um pouco, mas sua salvação foi que Mahiru não tinha más intenções.
“Espero que me ajude no próximo ano também…”
“Eu sei que vou precisar. Se eu não estivesse por perto, você mergulharia de cabeça em um estilo de vida degradante e descuidado em pouco tempo.”
“Eu não posso negar.”
“...Se você está ciente disso, então deveria melhorar...”
“Vou me esforçar para fazer isso no próximo ano.”
Mesmo que ele se esforçasse, Amane tinha a sensação de que o constante cuidado de Mahiru acabaria rapidamente com qualquer desejo de se virar sozinho. Claro, ele não podia dizer isso em voz alta, então empurrou o pensamento para o fundo de sua mente.
Ele faria o melhor para manter sua casa arrumada, mas não havia dúvida de que ainda dependeria dela para as refeições. Ele se tornara completamente domesticado, e o fato de estar dolorosamente ciente disso não o tornava menos verdade. Além disso, Mahiru sempre ria toda vez que ele dizia que ia tentar melhorar.
Amane fez uma careta, mas Mahiru apenas sorriu levemente, como se estivesse saboreando o momento..
“O Ano Novo está quase chegando.”
“Parece que sim.”
Eles haviam terminado de comer os noodles de Ano Novo e estavam sentados no sofá assistindo ao tradicional show musical de fim de ano na televisão. Antes que percebessem, o novo dia — e o Ano Novo — estava a apenas alguns momentos de distância.
O tempo havia passado muito mais rápido do que Amane esperava enquanto estava ocupado assistindo Mahiru aproveitar silenciosamente o espetáculo. Aparentemente, ela não estava muito familiarizada com a música pop atual, possivelmente porque não assistia muita TV em geral.
A tela mudou para a cena do sino do templo — um sinal claro de que o ano estava prestes a terminar. O grande sino começou a tocar. Sentada ao lado dele, Mahiru ouviu silenciosamente as badaladas, seu olhos abaixados.
Quando o sino tocou pela centésima sétima vez —
No momento em que o novo dia começou, Mahiru virou-se para ele, sentou-se corretamente e se curvou.
“Feliz Ano Novo”, disse ela.
Pego pelo momento, Amane também se endireitou e lhe deu a mesma saudação formal de Ano Novo. “Feliz Ano Novo... É meio estranho, não é? Passar juntos.”
“Haha, eu suponho que sim” Mahiru respondeu. “Eu espero que você cuide de mim esse ano também.”
“Claro... Embora pareça que eu é que deveria ser quem está te pedindo isso, não é?”
“Não posso discordar.”
Mahiru soltou uma risadinha, e Amane lhe deu um sorriso ligeiramente desconfortável. Então, o smartphone que ele tinha no colo começou a vibrar. Seu aplicativo de mensagens tinha várias notificações — mensagens de Ano Novo tinham chegado de Itsuki e Chitose.
O telefone de Mahiru também vibrou. Ela tinha acabado de conhecer os amigos dele e ainda não tinha trocado informações de contato com Chitose, então ela devia estar recebendo mensagens de uma amiga que Amane não conhecia.
Nos últimos anos, a conveniência de enviar saudações de Ano Novo por mensagem de telefone tinha se tornado realmente popular.
“Eu só vou responder aqui”
“Também”
Amane imaginou que Mahiru provavelmente tinha recebido muitas mensagens. Ainda assim, de alguma forma, ele tinha a sensação de que ela não tinha o hábito de dar seu contato para garotos.
Ele observou os dedos habilidosos de Mahiru deslizando com destreza pelo telefone enquanto ela digitava suas respostas. “São momentos como esse em que você finalmente parece uma garota do ensino médio comum”, ele comentou antes de verificar seu próprio telefone.
As mensagens de Itsuki e Chitose eram o clichê de 'Feliz Ano Novo', seguido por perguntas desnecessárias. “Você passou o Ano Novo se aproximando da Senhorita Shiina?” Como sempre, Itsuki era desconcertantemente perspicaz.
Amane respondeu negando.
Imediatamente, recebeu uma resposta zombeteira de Itsuki, acusando-o de mentir. Por um tempo, os dois amigos mantiveram uma animada conversa por mensagem. Itsuki faria certas alegações que Amane negaria a cada vez, e então ele… sentiu um peso cair contra seu braço.
Uma fragrância doce pairou sobre ele.
O contato repentino o surpreendeu. Ele olhou timidamente para o lado, sem acreditar que pudesse ser verdade... apenas para confirmar que Mahiru estava mesmo encostada nele, dormindo profundamente.
- Calma, calma, calma!
Amane não disse nada em voz alta, mas já estava começando a entrar em pânico por dentro.
Mahiru tinha cochilado em sua casa antes, mas quem poderia imaginar que ela faria isso aqui e agora, bem ao lado dele, encostada em seu ombro?
Era óbvio o que tinha acontecido.
Eles tinham ficado acordados até tarde, depois da meia-noite e trinta da madrugada. Mahiru, que seguia uma rotina rigorosa, provavelmente não estava acostumada a estar acordada a essa hora. Além disso, ela tinha passado a maior parte do dia se esforçando, preparando os pratos de osechi, e devia estar exausta, mesmo que não demonstrasse isso exteriormente. Simplesmente, ela não teve forças para resistir mais ao sono.
Amane compreendia completamente, mas adormecer agora, de todas as horas!
Cochilando contra o ombro de Amane, Mahiru tinha uma expressão verdadeiramente pacífica, completamente alheia à confusão e pesar dele. Seus cílios longos e seu nariz e lábios rosados tinham uma suave vulnerabilidade que Amane não tinha notado antes
Não era a primeira vez que ele via o rosto dela dormindo, mas nunca a tinha observado de tão perto, e a visão o deixou paralisado.
“Mahiru...”, ele disse hesitante. “Mahiru, acorde.”
Não houve resposta.
Mahiru devia estar incrivelmente cansada. Parecia que seu cansaço a tinha arrastado para os oceanos mais profundos do sono. Ele a chamou e a cutucou com o ombro, mas a garota não mostrava sinal de acordar.
Mesmo quando ele tocou seu ombro e sacudiu suavemente seu corpo, Mahiru não se mexeu.
Suas tentativas de acordá-la fizeram com que ela começasse a se inclinar para a frente depois de deslizar de seu braço. Em pânico, Amane a segurou e a puxou de volta para perto... o que estava tudo bem, mas agora ele se viu a abraçando. Seu alarme só aumentou.
Nossa…ela cheira tão bem…
Após o jantar, Mahiru tinha ido brevemente para casa a fim de se refrescar, e a fragrância floral de seu shampoo que se misturava com seu cheiro natural deixava Amane tremendamente desconfortável. E ele não conseguia deixar de notar como ela era macia, pressionada contra ele.
Amane não estava lidando bem com isso.
Ele tinha tentado acordá-la, mas ela tinha adormecido profundamente demais, e ele relutava em tentar acordá-la com mais força.
O que devo fazer?
O Ano Novo mal tinha começado, e Amane já enfrentava um dilema inacreditável.
Ele olhou para a garota adormecida em seus braços com uma determinação sombria. Ela ainda estava dormindo profundamente. Ela realmente deve confiar em mim para adormecer assim sem se preocupar, Amane percebeu. Isso era o suficiente para fazê-lo querer bater a cabeça na parede de frustração e vergonha, pois seu senso de razão começava a falhar.
Não importa como tentasse, sua atenção continuava voltando para o sentimento distinto de seu corpo esguio pressionado contra ele. Era firme, mas uma suavidade feminina, e havia uma intoxicante particular atração onde seus peitos se encontravam…
- O que diachos eu devo fazer?
Não só Amane estava completamente despreparado para sua situação atual, como a inimaginável suavidade pressionando contra ele estava rapidamente minando qualquer compostura que ainda tinha sobrado.
Essa foi a primeira vez que ele percebeu o quão macio, flexível e cheiroso garotas poderiam ser…e até mesmo pensar como ele se sentia era o suficiente para mandar sua mente direto pro caos. Era como um grande loop.
Mesmo assim, ele ainda sentia a obrigação de fazer algo. Tinha a sensação de que não haveria uma saída fácil dessa, então Amane tentou clarear sua mente e reunir sua determinação.
No momento, havia três maneiras que ele conseguia pensar para lidar com isso.
- Acordar Mahiru forçadamente.
- Levar Mahiru para casa.
- Deixar Mahiru dormir em sua própria cama - e passar a noite no sofá.
A primeira opção o fez hesitar. Ele não gostava da ideia de acordar Mahiru à força quando ela estava obviamente tão cansada. Além disso, ele era o responsável por tê-la exaurido, então, se fosse possível, ele queria deixá-la descansar.
À primeira vista, a opção dois parecia inicialmente ser a menos desconfortável, mas ele realmente não se sentia à vontade com a ideia de procurar pela chave do apartamento de Mahiru pelos bolsos em seu corpo e entrar na casa de uma garota sem permissão. Ele também suspeitava que Mahiru não ficaria muito contente ao descobrir que ele tinha decidido isso por conta própria.
A opção três, deixá-la passar a noite, parecia ser uma escolha mais segura e fácil de executar, mas ele não estava emocionalmente preparado para ter uma garota bonita dormindo em sua cama. Não importa o quão bem se entendem normalmente. Amane sentia como se a encantadora inocência de seu rosto adormecido estivesse deixando-o louco.
A ideia de uma beleza deslumbrante adormecida em seu travesseiro era quase insuportável para esse jovem em crescimento. Algumas das imagens que passaram por sua mente o faziam se sentir culpado.
Mesmo assim, não dava para negar que era a opção mais promissora e a mais considerável que Amane podia pensar.
Ele se preparou para a tarefa e gentilmente envolveu as mãos nas costas e sob os joelhos de Mahiru, erguendo-a lentamente.
Ela dormia profundamente e era leve como uma pena. Claro que ele nunca diria isso em voz alta, mas Mahiru parecia quase efêmera em seus braços.
Ele aprendeu por experiência própria que ela provavelmente não acordaria facilmente, mas, apenas por precaução, Amane tentou mantê-la o mais estável possível enquanto a carregava cuidadosamente para o seu quarto. Levá-la não foi tarefa fácil, já que ele precisava usar ambas as mãos, mas eventualmente Amane conseguiu colocar Mahiru na cama.
Seu corpo delicado afundou no colchão.
Assim que Amane a cobriu com um lençol e um edredom, ela estava pronta para dormir. Ele não via nenhuma indicação de que ela fosse acordar, e tudo o que podia ouvir era sua respiração regular e rítmica.. Seu rosto estava lindo como sempre, mas vê-la tão angelical durante o sono fazia o coração de Amane disparar no seu peito.
Ele gentilmente a aconchegou e então sentou-se ao lado da cama.
É mais do que consigo aguentar…
Ter uma garota dormindo em sua cama, lembrando-se da sensação suave do corpo corpo dela contra o seu, vendo seu adorável e indefeso rosto, então percebendo o quanto ela confia nele por cair no sono em seu apartamento daquele jeito — isso um milhão de outras coisas passavam por sua mente.
É claro, ele estava grato por ela confiar nele, mas ao mesmo tempo, não podia deixar de pensar que ela o via apenas como um incômodo seguro e sem esperanças, um garoto inofensivo.
Amane olhou para ela e notou a expressão tranquila em seu rosto adormecido. Ela estava completamente alheia ao seu tormento interno.
Ela não tem ideia do que eu sinto.
E ela baixou sua guarda de mais.
…Eu poderia me deitar naquela cama agora se eu quisesse…
O pensamento permaneceu apenas por um momento antes dele expurga lo para fora de sua mente. É claro que isso seria errado, em vários níveis. E ela sabia que no momento que Mahiru acordasse e visse eles dormindo juntos, ela nunca mais iria falar com ele novamente. Ele estremeceu diante a imagem de seus olhos se tornando frios novamente.
Essa é definitivamente uma péssima ideia.
Mas talvez, ao invés disso, se…só um pouco…estaria tudo bem, certo?
Ele estendeu uma mão em direção a cabeça de Mahiru.
Liso, elegante, brilhante — essas eram as palavras que vinham à mente enquanto ele deslizava os dedos por seu cabelo longo, suave e vibrante sem encontrar um único emaranhado.
Ela deve trabalhar duro para mantê-lo desse jeito, ahm…?
Sentindo tanto uma admiração quanto um arrepio pelos extraordinários esforços exigidos pela feminilidade, Amane deixou seus dedos deslizarem lentamente pela bochecha de Mahiru. Sua pele de porcelana estava surpreendentemente gelada, pelo menos em comparação com os dedos de Amane. Quando o breve carinho acabou, Amane olhou para baixo e viu que um leve sorriso havia tocado o rosto tranquilo de Mahiru
“Boa noite.”
Tenho certeza de que ela ficará surpresa quando acordar amanhã de manhã... ou na verdade, hoje, eu suponho. Considerando o que ele acabara de passar, ele imaginou que ela poderia aceitar uma pequena surpresa.
Eu realmente não tenho jeito…
Amane sorriu, preocupado, e então gentilmente estendeu a mão para acariciar a pele suave do rosto de Mahiru mais uma vez.