O Anjo da Porta ao Lado Me Mima Demais Japonesa

Tradução: Jklipoo

Revisão: Saki


Volume 2

O Começo das Férias de Primavera

Isso é pior do que eu esperava...

Amane reprimiu um bocejo enquanto observava a figura distante do diretor da escola no palco, fazendo um discurso sério. Ele realmente não se importava com as cerimônias de encerramento ou qualquer discurso que o diretor tivesse preparado para a ocasião. Francamente, preferia estar dormindo.

A maioria dos estudantes ao seu redor parecia compartilhar desse sentimento. Poucas pessoas estavam realmente prestando muita atenção. Todo mundo estava claramente distraído.

Ainda assim, não era como se os estudantes pudessem exibir seu tédio, então Amane fez uma expressão séria e desejou silenciosamente pelo fim rápido da cerimônia enquanto deixava o discurso do diretor fluir por um ouvido e sair pelo outro, os minutos passando enquanto ele fingia ser um aluno exemplar.

Ele poderia se importar com a formatura, mas isso era apenas a cerimônia de encerramento. Não importava muito.

"...Ah, estou tão rígido."

"Os discursos do diretor são sempre tão longos."

Esse era o sentimento geral enquanto os estudantes voltavam para suas salas de aula.

No entanto, todos pareciam bem animados, provavelmente porque duas semanas de liberdade os aguardavam após esse último período de aula.

Do seu lugar, Amane observava seus alegres colegas de escola que em breve seriam libertados de suas aulas entediantes, e soltou um suspiro silencioso.

As férias de primavera começam amanhã, mas como ele as passaria?

Ele havia acabado de ver seus pais, então considerando o custo de viajar, ele achou que poderia passar sem ir para casa. Mas isso o deixou com uma agenda vazia.

Mesmo que se preparasse completamente para as aulas do próximo ano, teria muito tempo livre. Ele tinha considerado arrumar um emprego de curto prazo, mas não havia conseguido nada e agora não havia tempo suficiente. Os únicos amigos com quem ele poderia sair durante as férias eram Itsuki e Chitose.

"Ei, ei, Amaneee—"

Itsuki apareceu assim que surgiu mente de Amane.

Quando se virou, viu Itsuki usando um sorriso entusiasmado... e ficou imediatamente desconfiado. Itsuki só sorria assim quando tinha um favor a pedir ou quando estava prestes a sugerir algo tolo.

"O que é?"

"Você está livre a partir de amanhã?"

"Acho que sim."

"Certo, certo, achei que sim. Isso é bom, muuuito bom."

Ainda sorrindo, Itsuki bateu na mochila que estava pendurada na lateral de sua mesa. Embora todos devessem ter limpado seus armários e mesas no dia anterior, a mochila de Itsuki estava claramente cheia. Eles nem tinham aulas naquele dia, então o máximo que ele poderia ter precisado trazer para a escola seria uma caneta e talvez um fichário, mas a mochila de Itsuki parecia que ia explodir.

"...O que é tudo isso?" Amane perguntou.

"Troca de roupa."

"Por quê?"

"Porque vou ficar na sua casa..."

Itsuki assumiu seu tom mais humilde e lisonjeiro e fez um olhar suplicante para Amane.

Amane não pôde deixar de franzir o cenho para o amigo.

"Espere um pouco; você já ouviu falar de dar aviso prévio?"

"Claro que sim. Considere-se notificado de que estou indo para aí, ficarei várias noites e trarei a festa comigo!"

"O quê, você vai manter o bairro inteiro acordado a noite toda? Como você acha que isso vai dar certo, idiota?"

"Puxa, cara, eu estava apenas brincando... Mas estou falando sério sobre você me deixar ficar com você."

Itsuki raramente deixava de avisar com antecedência quando estava indo para a casa de Amane. A primeira coisa que veio à mente de Amane foi que era uma emergência. Amane lutou para imaginar sobre o que poderia ser, no entanto.

"Tive uma briga com meu pai esta manhã."

Como se estivesse respondendo à pergunta interna de Amane, Itsuki prontamente revelou o motivo.

"...Sobre Chitose?"

"Sim. Quando meu pai fica bravo, ele não me ouve a menos que eu o deixe em paz por alguns dias. E tenho ficado muito na casa da Chi, então preferiria não ir lá. Não importa o quão aceitáveis sejam os pais dela, não parece certo, sabe?"

"Mas você está bem em ficar comigo?"

"Pensei que você poderia me deixar."

Itsuki provavelmente achava que não seria grande coisa. Ele já havia ficado várias vezes no apartamento de Amane, mesmo antes de Amane arrumar o lugar.

E não é como se Amane não quisesse deixar seu amigo ficar com ele. Mas havia o problema de Mahiru. Amane estava preocupado que estaria forçando-a a permanecer em sua persona pública durante um momento em que ela queria relaxar, já que ele não achava que ela se sentiria à vontade agindo casualmente com Itsuki por perto.

E havia outro problema. Recentemente, ele percebeu que Mahiru estava agindo de maneira estranhamente afetuosa, e ele tinha medo de que, se Itsuki a visse tratando um cara daquela maneira, ele imediatamente tiraria conclusões erradas.

"...Deixe-me perguntar."

Amane enviou uma mensagem de texto para Mahiru perguntando o que ela achava. Provavelmente, ela enviaria um aviso sobre as compras antes de ir para casa, então ele esperava que ela visse a mensagem quando fizesse isso. Levou apenas um momento para enviar a mensagem, mas Itsuki soltou um longo suspiro.

"O quê? Vocês dois estão morando juntos ou algo assim?"

"Vou te deixar no chão, sem aquecedor ou futon."

"Justo quando começo a pensar que você é um cara legal por me deixar ficar, você ameaça ficar parado e não fazer nada enquanto eu congelo até a morte?"

"Ei, você se meteu nisso sozinho."

Amane lançou um olhar para Itsuki que basicamente dizia "Sobre o que você está falando?", e Itsuki só pôde dar de ombros em resposta.

Eu é quem deveria dar de ombros. Não quero que você cause problemas para Mahiru com suas travessuras habituais.

Itsuki era bastante bom em ler o ambiente, então Amane não achava que ele incomodaria Mahiru conscientemente ou algo assim, mas não estava ansioso para toda a zombaria que teria que suportar no momento em que ela não estivesse por perto. Amane suspirou enquanto Itsuki sorria para ele.

Aparentemente, Mahiru às vezes checava o celular na escola, pois Amane já tinha recebido uma resposta: "Vou fazer o jantar como de costume se você comprar comida para três".

"Ela disse que está tudo bem."

"Uau, vou comer a comida da Mahiru!"

"Isso não era seu objetivo o tempo todo, era?"

"Direi apenas que não sou de perder uma oportunidade. Além disso, você sempre elogia a cozinha dela. Quero experimentar pelo menos uma vez."

"...Não seja um incômodo para ela."

"Posso ser um incômodo para você, mas nunca para ela."

"Também não me irrite."

Itsuki gargalhou, e Amane deu um tapa na testa dele. Embora seu amigo tenha gemido de dor, ele ainda exibia um sorriso animado, e Amane soltou mais um suspiro exagerado.

 

"Então, quanto tempo você planeja ficar?"

Amane olhava para Itsuki, que já estava confortável desde que tinham chegado com as compras. Itsuki não tinha ido muito à casa de Amane ultimamente porque Mahiru estava sempre por perto, mas antes disso, ele visitava o apartamento de Amane com frequência e obviamente ainda se sentia em casa ali.

Itsuki cruzou as pernas e deu um gole na xícara de café, perdido em pensamentos. Parecia um modelo em um ensaio fotográfico. "Hmm... Bem, por enquanto, que tal... três dias, mais ou menos. Caramba, isso é um verdadeiro incômodo!"

"Seu pai não é uma pessoa ruim, mas parece ser bem teimoso."

"Meu velho é um teimoso idiota."

"Vamos lá..."

"Quero dizer, quem ele pensa que é para me dizer com quem posso ou não namorar?! De qualquer forma, vou sair de casa quando for adulto." Itsuki mostrou a língua, demonstrando sua raiva.

Amane sabia que Itsuki não odiava realmente o pai. O seu velho era o tipo de cara que queria que tudo fosse do jeito dele, com certeza, mas uma vez que alguém ganhava sua afeição, ele sempre os tratava bem. Amane achava que era uma boa pessoa, pelo menos.

Mas Chitose nunca tinha obtido sua aprovação. Amane pensou que provavelmente tinha a ver com o fato de que a família de Itsuki era bastante próspera. O pai de Itsuki provavelmente queria que seu filho namorasse alguém da mesma classe social. Ao mesmo tempo, Amane se perguntou se talvez o pai de Itsuki simplesmente não suportava a personalidade única de Chitose.

De qualquer forma, parecia que ele tinha desconsiderado o relacionamento de Itsuki sem ouvir nada do que Itsuki tinha a dizer. Então, Itsuki declarou que, se era assim, ele estava saindo de casa.

"Você tem sorte quando se trata de pais, Amane. Eles deixam você fazer o que quiser."

"Meus pais são muito próximos, então acho que querem que o filho deles escolha um parceiro que ele goste."

"Estou realmente com inveja dos seus pais."

A criação de Itsuki tinha sido realmente rígida, então talvez fosse natural para ele passar por uma fase rebelde. Clarear o cabelo e agir como se nada o afetasse eram apenas outras partes de sua revolta. Amane não achava que ele estava realmente em posição de criticar.

"Você diz isso, mas tenho certeza de que seus pais não são tão ruins."

"Eles podem ser pessoas decentes, mas são péssimos pais. Quero dizer, você não pode apenas tentar controlar seus filhos o tempo todo, cara. Você tem que deixá-los correr livremente às vezes, porque se você sempre tentar mantê-los na coleira, eles vão te morder um dia."

"E você acha que estaria bem, correndo livremente o tempo todo?"

"Talvez, se eles me deixassem fazer o que eu quisesse. Mas em vez disso, colocaram uma coleira em mim e me colocaram em uma gaiola, então tudo o que posso fazer é mostrar os dentes." Itsuki deu de ombros. "Eles estão vivos há quanto tempo? Você pensaria que deveriam ter aprendido algo até agora." Ele terminou o café de uma vez só.

"Bem, você pode relaxar por alguns dias. Quero dizer, estamos de férias, então não temos nada além de tempo."

"Amigos realmente são o maior tesouro da vida...!"

"Não se agarre a mim assim; é assustador."

"Você me fere! Exijo a culinária da Lady Shiina como consolação!"

"Como se você precisasse de desculpas para jantar..."

"He-he!"

"Não aja de maneira tão estranha."

"Que crueldade, me feriu mais uma vez! Ai, ai!"

Itsuki fez um gesto de enxugar lágrimas, mas seu sorriso estava mais largo do que nunca. Amane o observava com irritação, mas também com um pequeno sentimento de alívio.

Itsuki tinha frequentes desentendimentos com o pai, mas a briga desta manhã parecia tê-lo afetado mais do que o normal. Era óbvio que ele estava tentando manter uma aparência forte na escola.

Amane ficou feliz em ver que seu amigo estava se sentindo pelo menos um pouco melhor. Claro, ele não queria deixar transparecer para Itsuki que estava preocupado, então fingiu estar aborrecido, mesmo enquanto suspirava secretamente aliviado.

 

Mahiru veio ao apartamento de Amane algum tempo após o pôr do sol.

Ela chegou de mãos vazias, presumivelmente porque Amane já havia adquirido todos os ingredientes que ela havia pedido.

Amane havia avisado com antecedência que seu amigo estaria lá, então ela não pareceu incomodada com a visão de Itsuki se acomodando. Na verdade, foi Itsuki quem pareceu um pouco desconcertado.

"Faz um tempo, Akazawa."

"É bom te ver depois de tanto tempo. Desculpe por invadir o seu ninho de amor de repente... Ai, ai! Eu entendi; foi só uma brincadeira! Desculpe por me intrometer; deve ser estranho ter um cara desconhecido por perto."

Amane tinha pisado no pé de Itsuki sem dizer uma palavra, mas mesmo enquanto gemia de dor, ele exibia um sorriso amigável.

"Não, de jeito nenhum", respondeu Mahiru. "É divertido ter pessoas tão... animadas por aqui."

"Bem, não espere por paz e sossego com esse cara por perto", Amane acrescentou.

"Você não deveria falar coisas assim", repreendeu Mahiru.

Amane ficou calado, mas Itsuki o olhava de forma presunçosa, então ele o beliscou no lado onde Mahiru não podia ver. Infelizmente, Itsuki estava em ótima forma, então não havia muitos lugares onde Amane pudesse pegá-lo com os dedos.

"Bem, então, vou preparar o jantar, então relaxem, por favor."

Mahiru ignorou a briga dos meninos, sorriu angelicalmente, colocou seu avental e partiu para a cozinha. Ela obviamente se sentia à vontade deixando o convidado sob os cuidados de Amane.

Itsuki olhou para as costas de Mahiru enquanto ela saía, ainda sorrindo presunçosamente. "...Você é próximo o suficiente para dar a ela uma chave do seu lugar, hein?"

"Cala a boca."

Mahiru havia entrado com sua chave, em vez de tocar o interfone. Itsuki não deixou de perceber esse sinal de intimidade.

"E ela me disse 'Por favor, relaxe' como se fosse a dona do lugar. Sinceramente, ela está agindo como se já fosse sua esposa!"

"Quer que eu te expulse?"

"Okay, okay, estou só brincando... é o que eu normalmente diria, mas você precisa entender como isso parece, meu chapa!"

Amane tentou agarrá-lo pela gola, mas Itsuki se esquivou. Ele atravessou o tapete e ligou o console de videogame de Amane. Amane deslizou para fora do sofá e sentou ao lado dele, garantindo dar-lhe um leve chute nas costas no caminho, e os dois mataram o tempo jogando.

Não demorou muito para que Amane começasse a ouvir o som de Mahiru retirando os pratos. Ele não a deixaria fazer tudo, então ele se levantou e foi para a cozinha.

"Deixe-me ajudar. Posso levar os pratos que já estão prontos?"

"Sim, obrigada."

Amane levou vários pratos empilhados com comida para a mesa. Quando os colocou, pegou Itsuki o olhando, parecendo perplexo.

"...Como devo dizer isso?"

"O que foi?"

"Sabe de uma coisa? Vou guardar para mim mesmo."

"Que diabos...", murmurou Amane enquanto Itsuki começava a guardar o console do jogo.

 

Quando chegou a hora do jantar, os três se sentaram, com os pratos caseiros de Mahiru à sua frente, e Itsuki exibia uma expressão verdadeiramente satisfeita.

"Tão bom..."

"Muito obrigada."

Mahiru se sentou direita e comportada enquanto comia. Ela exibia seu sorriso calmo e angelical, mas, como Itsuki já conhecia o segredo deles, Amane podia perceber que ela estava se permitindo relaxar um pouco.

Itsuki parecia estar em transe, levando bocados de comida à boca.

Amane havia avisado Mahiru com antecedência que Itsuki comeria mais do que ele, então ela havia preparado porções grandes para ele, mas mesmo assim, ele estava comendo bem rápido.

"Uau, você é um homem de sorte, Amane, por poder comer comida assim todos os dias..."

"Estou muito ciente disso. A comida está deliciosa como sempre, aliás."

"...Muito obrigada."

Ele deu sua reação a Mahiru após experimentar a sopa de missô.

Os lábios de Amane se curvaram em um sorriso enquanto saboreava o gosto. Ele não pôde deixar de sorrir com a reconfortante combinação de dashi e missô. Era tão bom que ele nunca se cansava, mesmo comendo todos os dias. Mas a pessoa que a cozinhava parecia não perceber o quão sublime era, então ele sempre fazia questão de dizer.

A sopa tinha um sabor suave que lembrava a personalidade de Mahiru. Aquecia todo o seu ventre. Ele não achou surpreendente que Itsuki estivesse enfeitiçado.

"Ah, é tão bom."

Hoje Mahiru havia feito o prato favorito de Amane, omelete enrolado, então ele estava com ainda mais apetite do que o normal. Claro, a comida de Mahiru era tão boa que Amane sempre repetia, mas mesmo assim, seu apetite era completamente diferente quando ovos estavam no cardápio.

Enquanto saboreava os pratos ricos e reconfortantes, Itsuki continuava olhando de relance para Amane e Mahiru. "...Que casal feliz", murmurou.

"Disse algo?"

"Nada!" Itsuki balançou a cabeça. "Nada mesmo!" Ele voltou sua atenção para o prato.

Amane decidiu não questioná-lo mais. Ele percebeu que Mahiru o encarava silenciosamente e apenas deu de ombros.

 

Após o jantar, Mahiru foi para casa mais cedo.

Normalmente, ela ficaria na casa de Amane até a hora de se recolher, geralmente um pouco depois das nove, mas, como Itsuki estava ficando, ela decidiu que era melhor sair um pouco mais cedo. Os dois ficaram sozinhos enquanto Amane lavava a louça, e ele se perguntou se essa tensão não era parte da razão pela qual ela havia ido embora tão cedo.

Quando Amane perguntou a Itsuki sobre o que haviam conversado, ele disse que tinham apenas feito uma pequena conversa e falado sobre Chitose. Amane não questionou mais seu amigo, mas tinha a suspeita de que outros tópicos tinham surgido.

"Ei, Amane?"

Logo antes de dormir, Itsuki olhou para cima de onde tinha estendido um futon no chão do quarto.

"O que é?" Amane perguntou de sua cama.

"A maneira como você olha para a Shiina, com esses olhos grandes e doces... Você definitivamente tem uma queda por ela, certo?"

"Cale a boca."

"Qualquer um pode ver, cara. Você está absolutamente apaixonado."

"Não me faça te expulsar no frio."

"Ah, vamos."

Amane lançou um olhar para o amigo que o desafiava a continuar, mas Itsuki não parecia nem um pouco desencorajado. Por outro lado, ele também não estava usando seu sorriso insolente habitual. A expressão de Itsuki parecia genuinamente feliz — e até um pouco orgulhosa.

"Bem, tudo bem, não estou esperando que você admita. Mas quero que saiba que estou feliz por você, cara. Estou feliz que você tenha encontrado alguém que possa te apreciar."

"Hã?"

"Meu Deus, você é realmente lerdo. Olha, a maioria das pessoas da nossa turma provavelmente pensa que você é um cara estranho e solitário."

"Estou perfeitamente ciente disso, obrigado."

Entre seus colegas de classe, Amane sempre foi algo como um personagem simples e pouco sociável, o tipo de garoto que nunca se destacava ou era notado, apesar de sua alta colocação em quase todas as provas.

Comparado a caras como Itsuki, o cavalheiro sofisticado e alegre, ou Yuuta, o jovem príncipe, Amane poderia muito bem ser invisível. Sem mencionar que, quer ele soubesse ou não, Amane sempre fazia o máximo para não se destacar ou causar impacto. Claro que não era popular.

"Mas eles estão indo apenas pelo que podem ver", Itsuki continuou. "Eles não conhecem o verdadeiro você. E mesmo as pessoas que te conhecem têm que olhar com atenção para ver suas qualidades."

Itsuki estava olhando para Amane sem uma pitada de zombaria em seus olhos. Sua sinceridade repentina deixou Amane um pouco desconfortável.

"É uma pena que você não saiba o quanto é incrível. É por isso que fico tão feliz que a Shiina veja você como realmente é e se dê tão bem com você."

"Itsuki..."

"Então, vá em frente e comece a namorá-la, e vamos fazer um encontro duplo!"

"Meu Deus, por que sempre voltamos a isso?"

Embora obviamente não pudesse perder a oportunidade de provocar seu amigo, Amane percebeu que Itsuki não estava olhando diretamente para ele. Provavelmente estava tentando esconder sua vergonha depois de ficar tão emocional. Amane achou que Itsuki poderia ficar desequilibrado por um tempo.

"Chi também ficaria feliz, sabia", acrescentou Itsuki.

"Por favor, vocês dois vão se divertir. Nos deixe de fora. Quero dizer, se - e isso é puramente hipotético - mas se desenvolvêssemos esse tipo de relacionamento, você realmente gostaria de ser visto com um cara que parece comigo?"

"Não, obviamente faríamos você se transformar no homem misterioso. Aliás, você ainda não me deixou ver isso."

"Não."

"É uma daquelas coisas que você só deixa a Shiina ver?"

"Itsuki, você tem uma escolha. Ou você pode calar a boca e aproveitar minha hospitalidade ou congelar até a morte sob o céu frio de inverno."

"Bem, me desculpe!"

Itsuki se ajoelhou em cima de seu futon e se curvou em um pedido de desculpas falso.

"Que absurdo.", murmurou Amane em tom exasperado.

Itsuki ainda estava tramando maneiras de conseguir uma namorada para o amigo para animar sua vida.

Mas não há chance de eu conseguir namorar a Mahiru... certo?

Ela já fez tanto por ele. Se os dois realmente começassem a namorar, ele provavelmente dependeria dela para absolutamente tudo. Esqueça o quanto ele já era mimado, namorar Mahiru era um caminho certo para uma dependência total.

E de qualquer forma, Mahiru não parecia interessada em garotos.

Ela não tinha muito problema em estar perto de Amane, Itsuki ou até mesmo do pai de Amane, mas quando se tratava dos outros meninos da escola, ela os mantinha todos a uma distância confortável, usando sua máscara de anjo como uma armadura espessa.

Os colegas do sexo masculino estavam sempre se aproximando dela para confessar seu amor, mas ele nunca soube que Mahiru namorou alguém, nunca. Era como se ela não quisesse nada com garotos.

E como Amane ainda não tinha certeza do que sentia por Mahiru, ele não tinha pressa em se envergonhar com uma confissão morna. Além disso, ele estava convencido de que Mahiru não tinha esse tipo de sentimento por ele de qualquer maneira.

Namorar Mahiru permaneceria uma fantasia distante.

"Mas olha, Shiina obviamente gosta muito de você. Dê um passo para trás e analise bem a sua situação antes de descartar tudo como impossível." Itsuki falou como se tivesse visto direto no coração de Amane.

Amane apenas murmurou "Fácil para você falar..." e se encolheu debaixo de seu cobertor.

 

“Itsuki é tão esperto! Eu também quero comer a comida da Mahirun!”

No dia seguinte, Chitose ligou para Amane em um horário ridículo.

Evidentemente, Itsuki havia entrado em contato com ela na noite anterior. Ele tirou fotos do jantar deles, como já havia visto muitas garotas fazendo, aparentemente com o propósito de enviar para Chitose.

"Não me diga. Você tem que perguntar para a Shiina."

"Ok, então se eu conseguir a Mahirun para dizer que está tudo bem, você vai compartilhar comigo?"

"Bem, é..."

"Entendi!" Chitose respondeu com energia. "Ok, eu vou perguntar a ela!"

Então ela desligou.

Amane tinha afastado o telefone de seu ouvido porque Chitose falava muito alto. Agora ele fez uma expressão exasperada. Como sempre, ele não sabia se deveria ficar impressionado ou aterrorizado pela energia de Chitose.

Itsuki, que estava assistindo o tempo todo, parecia muito satisfeito.

"A Chi parece bem animada."

"Você não pode fazer algo sobre sua namorada?"

"Praticamente impossível, cara", respondeu Itsuki alegremente. "Quando ela vê algo que quer, a Chi não segura. É por isso que eu a amo tanto."

Amane imaginou que a opinião de Itsuki fosse um pouco tendenciosa, por estar apaixonado e tudo mais. Havia muito a ser dito sobre a energia abundante de Chitose e a facilidade com que ela fazia amizade com quase todo mundo, e Amane estava pronto para admitir que muitas vezes invejava essas qualidades que ele claramente não tinha.

Por enquanto, ele decidiu esquentar as sobras do jantar de ontem e comê-las no café da manhã. Silenciosamente, ele agradeceu a Mahiru pela comida e por sua futura paciência ao lidar com a ligação de Chitose.

"E aqui estou eu!"

Chitose apareceu, junto com Mahiru, pouco antes do almoço. As duas estavam carregando sacolas transbordando de comida. Chitose também estava usando uma mochila que parecia ser uma bolsa de pernoite, e Mahiru estava sorrindo com um certo pesar. Evidentemente, elas se encontraram mais cedo e foram fazer compras juntas. Isso explicava porque ambas estavam carregando sacolas e como Chitose tinha chegado ao apartamento de Amane.

"Você chegou aqui bem rápido...", comentou Amane.

"Fiquei super animada com a ideia de passar a noite na casa da Mahirun!"

"Espera, o quê?"

"Estamos de férias de primavera, então pensei, por que não? E a Mahirun disse que podia, então aqui estou!"

Chitose sorriu amplamente e olhou para Mahiru em busca de confirmação, e Mahiru assentiu com um sorriso.

Ela obviamente não teve escolha.

Chitose deve ter persuadido Mahiru a deixá-la passar a noite. Mas Mahiru não parecia particularmente chateada ou algo do tipo, apenas um pouco perplexa com o desenvolvimento repentino.

Enquanto Mahiru ia guardar as compras na geladeira, ela se aproximou de Amane. "Não se preocupe comigo. Eu disse a ela que estava tudo bem", ela o tranquilizou em um sussurro tão suave que só ele podia ouvir.

Amane usava um sorriso preocupado enquanto observava Mahiru guardar os ingredientes do jantar na geladeira.

"Estou ansiosa pela cozinha da Mahirun!", exclamou Chitose, sentando-se ao lado de Itsuki e abraçando-o firmemente. Amane tinha perdido seu lugar por enquanto, então ele foi para a cozinha.

"Há algo que eu possa fazer para ajudar?"

"...Amane, você sabe que não sabe cozinhar."

Ela falou baixo para que não fosse ouvida na sala e o chamou pelo primeiro nome. Amane sorriu levemente.

"Eu poderia cortar legumes ou algo assim? Na verdade, se você me der instruções, eu poderia fazer algo simples. Eu mostrei que posso fazer algumas coisas, não mostrei?"

"...Tudo bem, aceitarei a ajuda. Você realmente não quer ficar na outra sala, quer?"

"Muito perspicaz. Eles já estão flertando."

Amane deu de ombros e foi até a pia para lavar as mãos.

Ele sabia que não podia fazer muito, mas não era como se fosse completamente inútil. Ele podia pelo menos ajudar Mahiru com coisas como medição e preparação, então ele virou as costas para os pombinhos e seu flerte por um tempo e se tornou o assistente de cozinha de Mahiru.

"A propósito, o que vamos ter para o almoço hoje?"

"Omeletes com arroz, sopa verde e salada. Chitose disse que queria comer o tipo de omelete que está meio cozido por dentro quando você corta com uma faca."

"Legal."

"Você gosta muito de pratos com ovos, não gosta?"

"Ovos são ótimos. Além disso, os seus são os mais deliciosos, então estou ansioso."

A cozinha de Mahiru nunca decepcionava, e Amane estava ainda mais animado ao ouvir que teriam ovos, sua comida favorita. Ele ainda pensava nos omeletes de ensopado de carne que tinham comido naquela época. Ele ficaria feliz em comê-los todos os dias.

Amane elogiou silenciosamente Chitose por seu excelente pedido de menu, enquanto alegremente media e lavava quatro porções de arroz. Aos poucos, ele percebeu que Mahiru ainda estava ali, ao lado da geladeira.

"...O que foi?"

"...Agradeço pelo elogio, mas não me pegue desprevenida assim."

"O que você quer dizer?"

"Está tudo bem se você não entendeu."

Mahiru se virou abruptamente e começou a cortar os ingredientes para a sopa, deixando Amane ali, parecendo perplexo.

"Não posso acreditar que eles agem assim e ainda não estão namorando."

"Sinceramente."

 

“Ah, isso tava tão bommm!!”

Chitose terminou o último pedaço do almoço e deu tapinhas em sua barriga em completa satisfação.

Mahiru sorriu, feliz por ver que seus esforços foram tão apreciados. Aparentemente, ela gostava de agradar. As aparições repentinas do dia claramente não a tinham abalado muito.

“Nossa, você realmente sabe fazer de tudo, não é, Shiina?” Itsuki exclamou. “Você conseguiu preparar omeletes meio cozidos que mantiveram sua forma, mas ainda estavam tão macios por dentro.”

“É tudo graças à minha professora de culinária”, respondeu Mahiru modestamente.

“Você estudou culinária?”, perguntou Chitose.

“Sim, mais ou menos. O suficiente para cuidar de mim mesma e para entreter convidados quando preciso.”

“Uau!”, maravilhou-se Chitose. “Essa deve ter sido uma professora incrível se você aprendeu a cozinhar assim!”

Mahiru devia estar falando sobre a empregada que ela tinha mencionado para Amane antes, a única pessoa na casa de seus pais que a tratava com alguma gentileza.

“Eu me pergunto se eu poderia ficar tão boa assim se tivesse uma professora como essa.”

“Talvez se você fosse um pouco menos... aventureira na cozinha, teria melhores resultados”, sugeriu Itsuki.

“Ei, qual é a graça se você não experimenta um pouco?!”

“Bem, se você tentasse seguir uma receita por uma vez, tenho certeza de que poderia fazer praticamente qualquer coisa.”

Era verdade; Chitose seria uma cozinheira muito boa se parasse de brincar. Mas sua falta de disciplina realmente prejudicava seus esforços.

A personalidade de Chitose era como a de um gato - ela fazia o que lhe dava na telha no momento e geralmente seguia as coisas no seu próprio ritmo. O problema é que ela basicamente não tinha autocontrole. Ela poderia se forçar a se concentrar por um tempo se precisasse, mas era obviamente exaustivo para ela. Chitose simplesmente não era assim.

"E não só na cozinha", continuou Itsuki. "Você poderia tentar trazer um pouco de compostura para a sua vida cotidiana. Você tem um ótimo modelo ali, vê?"

"Ah, tenho certeza de que você adoraria que eu ficasse mais parecida com a Mahirun, mas receio que está sem sorte. Além disso, parece... desconfortável."

"Isso é muito rude com a Shiina."

"Talvez. Mas você tem que admitir, a Mahirun sempre parece tão formal. Ou talvez, tipo, sufocada?" Às vezes, Chitose podia ser surpreendentemente perspicaz. "A Mahirun que vemos na escola é meio sem graça."

"Isso é realmente como eu pareço para os outros?", murmurou Mahiru.

"Bem... estamos em classes diferentes", respondeu Chitose, "então não sou uma autoridade, mas você parece sem graça ou... meio como se estivesse olhando para tudo de cima, à distância, sabe? Quero dizer, você ainda é legal com todo mundo, mas consigo perceber que você nunca se solta."

A conjectura de Chitose estava certíssima.

Mahiru certamente tratava os outros com bondade e respeito, mas também nunca deixava ninguém, exceto um número muito pequeno de pessoas, ver por trás da sua máscara. Ao interpretar o papel de uma jovem graciosa e digna, ela mantinha sua verdadeira identidade segura e escondida.

Ninguém sabia disso melhor do que Mahiru, porém. Amane observou sua expressão se tornar sombria. Mas Chitose colocou o braço ao redor dela e sorriu.

“Mahirun faz uma carinha super fofa sempre que eu trago esse tipo de assunto, então você pode dizer que ela está sendo honesta, né? Eu gosto mais dessa versão!”

Chitose riu e apertou Mahiru com força. Mahiru parecia envergonhada por um momento, mas depois retornou hesitantemente o abraço de Chitose.

“Sabe, Mahirun”, continuou Chitose, “acho que você deveria se abrir mais. Quero dizer, você poderia deixar o Amane te mimar completamente, sabe? E sabemos que você pode ser super doce com as pessoas que gosta. Então, se usar isso a seu favor, elas vão cair aos seus pés!”

“Eu não faria algo assim!”, insistiu Mahiru.

“Ehh?”

“...Eu não sou assim, Chitose”, murmurou Mahiru, virando-se abruptamente.

“Ah, sério?” respondeu Chitose, olhando para Amane.

Claro que Amane não iria se envolver nessa discussão. Mahiru não tinha pedido ajuda ou algo do tipo, e ele sabia que ela poderia lutar suas próprias batalhas.

Dito isso, se ela por acaso pedisse, Amane estava pronto e disposto a fazer praticamente qualquer coisa que seu coração desejasse. Isso seria muito embaraçoso de admitir, então ele tentou manter uma expressão neutra enquanto observava a troca entre Chitose e Mahiru.

“Ah, cara, é um espetáculo ver duas garotas bonitas se dando bem, né?”

“Suas palavras, não as minhas.”

Deixando a frase um tanto pervertida de Itsuki passar sem comentários, Amane percebeu que Mahiru tinha encontrado uma amiga do mesmo sexo. Ficou feliz que ela tinha mais alguém com quem podia se abrir.

A pernoite de Chitose naturalmente aconteceu na casa de Mahiru.

Amane esperava que ela quisesse ficar com Itsuki, mas ela disse que como ele sempre estava na casa dela, ficaria feliz em estar com Mahiru, e as duas foram para o apartamento de Mahiru depois do jantar.

Amane já sabia que Itsuki e Chitose eram muito próximos, e que Itsuki muitas vezes passava a noite na casa dela. Não havia nada de estranho nisso, mas de repente, por algum motivo, ele se sentiu envergonhado ao se deparar com o fato de que Itsuki frequentemente dormia na casa de Chitose.

Itsuki sussurrou, “O que você está imaginando aí, garoto melancólico?”

Amane pisou no pé do amigo. Foi misericordioso o suficiente para não pisar no mindinho dele.

“Escuta, cara, pisar no meu pé não vai esconder sua vergonha para sempre!”, resmungou Itsuki.

“É culpa sua por ser tão irritante”, murmurou Amane, virando-se.

Não era como se ele estivesse tentando machucá-lo ou algo assim - Itsuki obviamente sabia disso. Nenhum dos dois estava realmente bravo por um pouco de brincadeira entre amigos.

“Na verdade, tenho ficado na casa dela um monte ultimamente. Começou a se tornar meio que o novo normal, sabe?”

“Sim, sim, entendi a mensagem. Pode parar com isso.”

“Achei que esse tipo de conversa fosse padrão entre caras.”

“Não é, e posso viver sem isso.”

Amane não tinha vontade de ouvir os detalhes gráficos do romance de seu amigo, e sabia que quando a história terminasse, e ele olhasse feio para Itsuki, Itsuki ia gargalhar e sorrir de volta para ele alegremente.

"Você realmente é um herbívoro, né, Amane? Ou é apenas a falta de experiência que está te segurando?"

"Eu vou te derrubar."

"Bem, acho que é exatamente por isso que a Shiina se abriu para você, né? Ela provavelmente não teria chegado perto de você se soubesse que você estava à caça. Ainda bem, né?!"

Itsuki deu um polegar para cima e um grande sorriso. Amane o encarou amargamente, o tipo de expressão que ele nunca mostraria para a Mahiru.

Mas parecia não ter o menor efeito em Itsuki, que apenas riu da situação.

Amane estava ocupado lançando olhares furiosos para o amigo quando sua raiva foi interrompida por um tom eletrônico alegre de seu smartphone - seu alerta de mensagem de texto. Ele parou de franzir a testa tempo o suficiente para verificar a tela. A mensagem era da Chitose.

Amane abriu o aplicativo de mensagens, pensando que ela devia estar perguntando sobre os planos para o dia seguinte, e viu que tinha uma mensagem, e que incluía uma fotografia.

"Olha, olha, a Mahirun está tão fofa! A propósito, consegui permissão dela para enviar isso."

Era apenas essa frase e uma foto anexada.

A imagem mostrava a Mahiru sentada em cima de uma cama, segurando o urso de pelúcia que Amane tinha dado, apoiado em seus joelhos, com o que parecia ser o quarto dela ao fundo. Isso não foi o que fez Amane pausar.

Na foto, Mahiru estava usando um pijama - especificamente, um longo tecido rosa claro de mangas compridas, também conhecida como uma camisola. Ela parecia elegante e refinada - e hipnoticamente feminina. Ela obviamente acabara de sair do banho, e a pele que aparecia nas mangas e na gola aberta da camisola ainda estava levemente corada.

Era uma imagem incrivelmente sugestiva, embora nada inapropriado estivesse exposto.

De alguma forma, ela parecia modesta e sedutora ao mesmo tempo.

E o que mais chamou a atenção foram os olhos da Mahiru. Ela não estava olhando para a câmera. Em vez disso, sua cabeça estava um pouco baixa, e ela mantinha os olhos baixos - não o suficiente para esconder o rosto, mas o suficiente para dar a impressão de timidez.

Os pontos rosados em suas bochechas provavelmente não eram apenas do banho.

A expressão da Mahiru parecia tímida, mas também ansiava. Era muito mais sedutora do que qualquer expressão que ele já tinha visto antes. Mas o urso de pelúcia em seu colo a fazia parecer ainda mais adorável do que o normal. Era apenas uma fotografia, mas Amane sentia suas bochechas queimarem.

Aquela idiota!

O que a Chitose estava tentando fazer, enviando uma foto para ele assim? Especialmente antes de dormir? Não tinha como ele conseguir dormir depois de ver algo assim.

"Por que você está corando?" perguntou Itsuki. "Está olhando para fotos indecentes no seu telefone ou algo assim?"

"Claro que não!"

"Ok, então o que você está olhando?"

Itsuki olhou rapidamente por cima de seu ombro, e Amane não teve tempo de esconder a imagem. A foto exibida na tela foi refletida nos olhos de Itsuki, e ele sorriu sabiamente.

"Entendi, entendi. Você é realmente um garoto inocente, né?"

"Que tal você ir dormir–para sempre?"

"Você está implorando pela minha morte?"

"Devo dizer isso diretamente?"

"Isso é muito cruel da sua parte. Quer dizer, que homem não ficaria animado ao ver um anjo assim? Embora, eu tenha que admitir, a Chi ainda é a mais fofa..."

"Pare de falar sobre sua namorada, seu idiota."

Amane suspirou exasperado, passou a mão no cabelo e, quando o fez, ouviu o som de um clique de câmera.

"...Itsuki?"

"Nada; só recebi uma mensagem da Chi me pedindo para tirar uma foto sua para marcar a noite. Apenas uma lembrança boba. Não deve ter problema, certo?"

"Eu acho. Contanto que você não esteja planejando fazer algo com a minha foto..."

"Relaxe, não é como se mais alguém fosse ver. Além disso, há uma boa razão para isso, posso te assegurar."

Amane olhou para Itsuki com profundo ceticismo. Ele não fazia ideia qual poderia ser essa razão. Mas Itsuki apenas sorriu, parecendo particularmente convencido, e Amane suspirou, murmurando para si mesmo que não valia a pena tirar sua foto.

Ouvindo o amigo reclamar, Itsuki murmurou em voz ainda mais baixa: "Esse cara realmente não entende, não é?"

 

“...Estou exaustO...”

No terceiro dia, a estadia de Itsuki e Chitose finalmente acabou. Os dois foram embora para a casa de Chitose, onde Itsuki passaria mais um ou dois dias. (Aparentemente, os pais de Chitose não se importariam se ele ficasse para sempre, mas mesmo assim, ele não queria se impor.) Eles comeram o almoço feito por Mahiru e saíram sorrindo, mas não sem antes encorajar Amane e Mahiru a se comportarem bem na ausência deles.

Amane imaginou que retrucar teria sido mais problema do que valia a pena, então ele deixou a provocação deles passar.

"Você não está cansada também, Mahiru?"

Os dois estavam sentados juntos no sofá de Amane.

"...Estou exausta. Foi realmente difícil. Mas também foi muito divertido."

"É mesmo?"

Mahiru não era do tipo que convidava amigos para o apartamento dela, pelo menos não desde que Amane a conhecia, então ele achou ótimo que Chitose lhe tivesse dado a desculpa para fazer isso.

Parecia que às vezes ela saía com Chitose quando Amane não estava por perto, então se ela tinha feito uma amiga próxima, não podia ser algo ruim.

"...Bom, você sabe, eu fiquei realmente surpresa quando aquela foto foi enviada..."

"Ah, ah, aquilo?"

Quando Mahiru disse a palavra foto, Amane não pôde deixar de lembrar do visual elegante e ao mesmo tempo ousado dela na noite anterior. Suas bochechas estavam quentes.

Não é como se ela tivesse mostrado muita pele, mas Amane ainda conseguia se lembrar de como a camisola acentuava suas curvas suaves. De certa forma, sua modéstia a tornava ainda mais atraente. Ele já tinha arquivado a imagem em sua mente para mais tarde, embora se sentisse surpreendentemente culpado.

"O-ontem", explicou Mahiru, "ontem, Chitose disse 'Você é tão fofa!' e tirou várias fotos. E-então, eu não tenho certeza exatamente qual ela enviou para você. Ela estava realmente insistindo, então dei minha permissão, mas... espero que não tenha sido algo muito embaraçoso..."

Parece que Chitose não mostrou para Mahiru qual foto tinha enviado. Amane imaginou que ela tivesse enviado a melhor foto, mas se perguntou se Mahiru estava ciente de como ela parecia — ou até mesmo que Chitose tinha fotografado aquele momento em particular. Ele não tinha certeza de como Mahiru reagiria se ele mostrasse a foto para ela. A foto não era obscena nem nada, e Mahiru definitivamente não parecia mal, mas ainda assim, poderia causar muitos problemas.

"Uh, hummm, bem, foi... foi uma foto sua com o urso de pelúcia nos joelhos."

"O-urso de pelúcia...?"

"Eu acho que você está cuidando bem dele, né?"

Bem, essa parte era verdade, pelo menos.

Amane, ainda se sentindo culpado, decidiu que a melhor coisa a fazer era afundar a imagem no fundo de sua memória. Se não pudesse esquecer, pelo menos poderia selá-la. Quando Mahiru ouviu a palavra urso, ela pareceu mais ou menos lembrar o momento em que a foto foi tirada, e ela sorriu levemente.

"Eu te disse que ia dar valor a ele," ela disse, "porque é um presente precioso."

Diante do olhar caloroso e do sorriso suave e acolhedor dela, a respiração de Amane ficou presa na garganta.

Esse sorriso era diferente do seu habitual sorriso angelical - era honesto e afetuoso.

Amane se sentiu hipnotizado pela beleza delicada dela, como se sua doçura suave o estivesse convidando a abraçá-la e puxá-la para perto.

"...Uh, s-sim, acho que disse," balbuciou Amane. "Você deve gostar muito dele, né?"

"Claro que sim", respondeu Mahiru. "Você o escolheu para mim, afinal." Ela sorriu sinceramente. "Você não precisa se preocupar; eu o trato bem. Todos os dias eu faço carinho na cabeça dele, e o abraço apertado quando eu adormeço, e—hummm... esquece o que eu disse."

Amane mal podia acreditar que ouvira certo.

Uma garota linda como Mahiru dorme com um urso de pelúcia. Isso é inegavelmente fofo.

Ele se lembrou de como Mahiru parecia angelical quando estava dormindo. Apenas imaginar a cena o fez corar.

Com aquele rosto angelical de dormir, ela abraça um urso de pelúcia enquanto dorme. Mahiru, essa garota linda, vai para a cama segurando o urso de pelúcia que dei a ela.

Mahiru já estava vermelha, até as orelhas. Ela o agarrou pelo braço. "P-por favor, esqueça essa última parte."

"I-isso é literalmente impossível."

"Ahh, estou tão envergonhada!"

Mahiru o olhou com lágrimas se formando nos cantos dos olhos. Essa expressão era ainda mais devastadoramente fofa do que a última, mas era óbvio que Mahiru não percebia.

"É mesmo assim tão grave? Não vejo qual é o problema."

"Isso me faz parecer uma criança, não é? Dormir com um bicho de pelúcia, quero dizer."

"N-não, acho isso realmente fofo."

Mahiru virou-se contra Amane e enterrou o rosto em sua almofada favorita. "Você não está ajudando..."

Amane se sentia terrivelmente culpado por achar Mahiru fofa quando estava fazendo beicinho, mas ele não pôde evitar - achou isso encantador.

O que ele queria fazer naquele momento era estender a mão e acariciar a cabeça de Mahiru, mas ele sabia que era uma ideia terrível, especialmente agora, então ele manteve suas mãos longe e apenas olhou para Mahiru.

Depois de alguns momentos, ela espiou de trás da almofada. Seus olhos brilhavam e seu rosto estava corado, mas ela se recompôs o suficiente para lhe lançar um olhar repreensivo.

"...Amane, você precisa me contar algo embaraçoso também. Não é justo se eu for a única."

"O quê...?"

Mahiru tinha se colocado nessa situação. Amane não se sentia responsável por se colocar em uma situação semelhante. Mas ele sabia que era melhor não dizer isso.

Por outro lado, ele estava tendo dificuldade para encontrar algo embaraçoso que ela já não soubesse.

"Se você não me contar algo", disse Mahiru com firmeza, "vou mandar mensagem para o Akazawa e perguntar a ele."

"Quando vocês trocaram informações de contato com o Itsuki...?"

"Na verdade, a Chitose me deu suas informações, e trocamos mensagens... ontem, acho. Mas não era sobre nada em particular... nada com que você precise se preocupar de qualquer maneira..."

Mahiru parou de falar e enterrou o rosto na almofada novamente.

Neste ponto, Amane realmente não tinha ideia do que estava acontecendo.

 



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