O Anjo da Porta ao Lado Me Mima Demais Japonesa

Tradução: DelValle

Revisão: Jeff, Mon, Kurayami


Vol 9

Capítulo 3: Reuniões se Aproximando e Lutas Individuais

“Reuniões de pais e professores, hein…”

   Embora grato por Itsuki e Chitose estarem reunindo discretamente informações sobre os desejos de Mahiru das formas mais indiretas possíveis, Amane continuou trabalhando duro em seu trabalho. Ele estava se preparando cuidadosamente para o aniversário de Mahiru, pouco a pouco, para não deixá-la desconfiada.

   Então, um dia, pedaços de papel foram distribuídos entre a classe. Escrito neles estava um anúncio que não foi particularmente bem recebido pelos alunos. Logo após o festival cultural, a escola conduziu duas rodadas de pesquisas: a primeira foi uma confirmação dos horários dos responsáveis, enquanto a segunda foi uma pesquisa sobre aspirações de carreira futura para os alunos. Agora que era novembro, logo era hora de incentivar uma coordenação maior entre os alunos que se preparavam para os exames e a escola.

   Essas discussões envolveriam os alunos reconfirmando seus caminhos de carreira desejados com um responsável presente, levando em consideração tanto a capacidade acadêmica quanto a atitude em relação à vida. Dando uma olhada no aviso para verificar os detalhes, Amane notou que sua reunião estava marcada para uma das primeiras sessões, então ele decidiu que seria melhor informar Shihoko o mais rápido possível.

   Dado que seu trabalho era flexível o suficiente para permitir que ela trabalhasse nos horários em que as reuniões poderiam ser agendadas, já estava combinado que Shihoko seria a única a comparecer às reuniões. Amane estava grato por ela poder organizar sua agenda para participar, apesar de morar tão longe, mas honestamente, ele não estava ansioso por isso.

     Bem, ela ficará feliz em estar aqui.

   Já que Shihoko estava sempre disposta a mimar e se preocupar com seu filho — bem, principalmente Mahiru — ela estava provavelmente emocionada com a ideia de visitar mais uma vez. Amane podia imaginá-la jogando ambas as mãos para o alto de pura alegria.

“Ugh, minha mãe não poderá vir para a minha, então terei que contar com meu pai. Mas que droga.” Enquanto isso, Itsuki, por um motivo completamente diferente, parecia visivelmente irritado. Um traço de desgosto passou por seu rosto enquanto ele segurava o aviso contra a luz, aumentando ainda mais sua expressão desanimada. Ele permaneceu sentado com uma cara séria mesmo depois que a aula terminou e todos os outros foram embora, então ele estava claramente temendo a ocasião.

   A antipatia de Itsuki pela situação estava tão estampada em seu rosto que Amane, que pessoalmente não se incomodava com as reuniões, só conseguiu forçar um leve sorriso.

“Você realmente não consegue lidar quando seu pai se envolve, consegue?” Amane comentou.

“Você realmente não pode me culpar, no entanto. Já consigo ver a insistência vindo de longe. Ele vai continuar falando sobre como minhas notas são assim, meu comportamento é assado, ou como eu deveria escolher uma escola para meu futuro.”

   A percepção de Amane sobre Daiki e a percepção de Itsuki sobre Daiki eram muito diferentes, tanto em como se sentiam quanto em como viam nele. Embora Amane não pudesse concordar com a opinião de Itsuki, ele não tinha escolha a não ser aceitar que, para Itsuki, esse era o tipo de pessoa que Daiki era.

   Chitose também se aproximou e murmurou com um leve olhar preocupado no rosto. “Hmm. Minha mãe está vindo — ela provavelmente vai se vestir como se não houvesse amanhã.”

“Sim, minha mãe também vem...” Amane respondeu. “Mas por que os pais ficam tão animados com isso em primeiro lugar? Alguns deles aparecem como se estivessem vestidos para a guerra ou algo assim.”

   Nem é preciso dizer que Amane não estava sugerindo que eles usassem algo excessivamente casual, como roupas de lazer, por exemplo. Dito isso, havia algo estranho em andar de um lado para o outro com um pai vestido com uma roupa que gritava ‘Vamos lá!’ Pode ser difícil suportar quando um pai parece totalmente diferente do que seu filho está acostumado a ver.

   Shihoko costumava usar trajes formais para seu trabalho, então Amane estava um tanto acostumado a vê-la com roupas elegantes. Mesmo assim, a ideia dela se vestir com uma roupa exageradamente zelosa ainda lhe dava arrepios.

“Para ser justa, praticamente é uma, você não acha?” Chitose raciocinou.

“Os filhos deles estão se jogando em uma batalha feroz, afinal.”

“Eu entendo que os exames são como uma guerra, mas ainda assim.”

“Eu acho que eles só querem se exibir um pouco, sabe? Eles serão vistos por outros colegas na escola, e eles podem dizer isso ou aquilo quando todos estiverem alinhados. É meio constrangedor para uma criança, não é? Então eu acho que alguns pais fazem isso só para não quererem envergonhar a si mesmos ou seus filhos.”

“Sim, eu entendo, mas... Eu já posso dizer que minha mãe vai ficar super animada.”

“Ahaha, eu meio que consigo imaginar isso.”

“Só seja normal, por favor... normal...”

   Embora Amane tivesse certeza de que Shihoko escolheria uma roupa apropriada, depois de levar em conta que era uma chance para ela se encontrar com Mahiru e discutir o futuro de seu filho, além de sua escola ser a alma mater de seu pai, não havia como contornar seu entusiasmo. Amane achou desanimador pensar em quão animada sua mãe provavelmente ficaria.

   Só de pensar nisso ele se sentia intimidado, então Amane decidiu deixar de lado os pensamentos sobre sua mãe por enquanto. Em vez disso, ele lançou um olhar rápido para o assento de Mahiru, que estava vazio no momento. Mahiru tinha se afastado para cuidar de algo na biblioteca, e Amane ficou um pouco aliviado por ela não estar lá para ouvir a conversa. Se estivesse, provavelmente a teria chateado.

     ...Tenho que ter cuidado com o que digo.

   Amane nunca ouviu falar dos pais de Mahiru participando de um evento como esse antes. Se tivessem comparecido, provavelmente teriam se tornado um assunto quente de conversa na escola se tivessem sido vistos por um colega de classe. Portanto, era seguro presumir que seus pais nunca haviam vindo. Amane nem tinha certeza se Mahiru havia contado a seus pais sobre alguma reunião anterior. Considerando como ela se sentia em relação aos pais e como seus pais se sentiam em relação a ela, ela havia provavelmente escolhido não contar a eles nem uma única coisa.

[Mon: Coitada… Toda vez que lembro é simplesmente tão triste… / Kura: É de cortar o coração.]

   Embora seu pai, Asahi, pudesse comparecer se Mahiru o informasse, Amane tinha a sensação de que a própria Mahiru recusaria. Para Mahiru, a presença e o envolvimento de Asahi eram coisas que ela considerava não mais significativas, então ela provavelmente escolheria não o informar.

“Sabe, só de pensar na minha reunião também está me deixando desanimada, então não vamos pensar nisso!” Chitose interrompeu com uma voz alegre para aliviar a atmosfera, antes de abaixá-la novamente, sorrindo como se estivesse tramando algo. “De qualquer forma, meu senhor, tenho coletado informações secretamente sobre o assunto que discutimos antes. Heh heh heh.”

“Seu rosto. Cuidado com seu rosto,” alertou Amane. Internamente aliviado pelo assunto ter mudado antes de Mahiru retornar à sala de aula, ele então olhou para o bilhete na mão de Chitose.



✧ ₊ ✦ ₊ ✧



   O dia das reuniões de pais e professores chegou mais cedo do que o esperado. A reunião de Amane estava marcada para depois da escola, então Shihoko tinha planejado chegar um pouco antes do horário. De longe, ele a viu parada na entrada de visitantes.

   Ah, ela realmente se esforçou, ele pensou imediatamente.

   Desde que ficasse quieta, Shihoko parecia uma mulher gentil e composta. No entanto, hoje ela tinha optado por usar um terno, complementando-o com maquiagem que oferecia uma aparência mais digna em comparação com seu estilo gentil usual. Provavelmente era uma versão refinada de seu traje de trabalho. Algo sobre isso a tornava difícil de abordar — em um forte contraste com seu eu normal, ela agora exalava uma aura afiada e intimidadora. Parecia que ela tinha até ajustado sua postura para combinar com seu traje sério.

   Apesar de ser sua própria mãe, a aparência excessivamente jovem e desafiadora da idade de Shihoko atraiu olhares discretos de alunos próximos, alguns dos quais ficaram para trás para atividades do clube e outros tiveram reuniões durante o mesmo intervalo de tempo. Isso tornara incrivelmente difícil para Amane se aproximar dela. No entanto, por mais hesitante que estivesse, o horário da entrevista não poderia ser alterado. Ele reuniu coragem e chamou: “Mãe”. Em resposta, o rosto dela se iluminou instantaneamente com um sorriso brilhante.

“Óh céus, Amane! Já faz cerca de um mês, estou feliz em ver que você está bem,” disse Shihoko, sorrindo. Todos os traços de sua atmosfera e expressão anteriormente intimidadoras desapareceram, o que era muito típico dela.

   Amane de repente se sentiu exausto. Divertida com o seu chamado, Shihoko o provocou dizendo: “Oh, meu Deus, você está tão feliz em ver sua mãe novamente que ficou fraco?” ao que Amane estreitou os olhos e retrucou: “Até parece.”

   Talvez para a surpresa de ninguém, Shihoko não agiu de forma diferente, apesar de estar vestida com esmero. Ela riu alegremente, depois disso eles começaram a caminhar vagarosamente pelo corredor.

   Mesmo não estando familiarizada com o layout da escola, Shihoko marchou para frente, confiante de que Amane a guiaria conforme necessário. Como ainda faltava um bom tempo para sua reunião, Amane suspirou e começou a seguir Shihoko.

“Você nunca me contata a menos que precise de algo, Amane. É bem problemático, de fato.”

“Eu deveria...?”

“Ah, não seja assim. Uma conversinha aqui e ali não faria mal.”

“Você sempre fala sobre as coisas mais mundanas, mãe.” Não que Amane não gostasse desse tipo de conversa, mas que Shihoko podia ser muito agitada às vezes. Uma única resposta dele levava geralmente a mais dez mensagens dela, e isso acontecia constantemente. Apenas manter a conversa era exaustivo por si só.

“Não é disso que se trata uma conversa fiada? O objetivo é continuar se comunicando.”

“Só, por favor, não vá longe demais com isso. E pare de enviar fotos para a Mahiru pelas minhas costas.”

O quêêê?

“Não me venha com essa.”

   Apesar de já tê-la repreendido uma vez, as fotos dele ainda estavam secreta e constantemente chegando às mãos de Mahiru. Amane sabia que ele tinha que recusar firmemente mais uma vez, deixando claro que isso precisava parar.

“Então eu vou criar um grupo com você e a Mahiru-chan, e compartilhá-los lá. Dessa forma, não será pelas suas costas!”

“E o meu consentimento!?”

“Estou só brincando.”

   Amane fez uma careta o mais forte que pôde. Para ele, aquela declaração casual dela não soou nada como uma piada. Ela então o repreendeu, dizendo: “Minha nossa, se você continuar fazendo caretas assim enquanto é jovem, isso vai ficar marcado quando você for mais velho.”

     Então, se eu tiver um monte de rugas quando for mais velha, vou te culpar por isso.

“De qualquer forma, você tem se esforçado muito nos estudos, espero?” Assim que o rosto de Amane voltou ao normal, Shihoko perguntou, mantendo seu tom franco.

“Você saberia olhando meus boletins até agora.”

   Amane sempre enviava qualquer coisa relacionada a testes, classificações e boletins diretamente para seus pais. Ele nunca escondia nada, então não havia razão para Shihoko não estar ciente de seu desempenho acadêmico.

“Verdade, mas também é um fato que o professor pode ter outra perspectiva para dar. É uma boa ideia ouvir o que seu professor tem a dizer, você não acha?”

“...Estou tentando o meu melhor do meu jeito. Estou confiante de que não relaxei no departamento de esforço. Eu... Posso não ser capaz de dizer que estou vivendo uma vida da qual me orgulho ainda, mas estou me esforçando para chegar lá.”

   Em seu primeiro ano no ensino médio, Amane sabia que tinha uma natureza séria e notas naturalmente boas, mas ele era movido apenas pela expectativa de mantê-las. Ele não tinha um propósito claro. Ele não tinha nenhuma paixão em particular ou obrigação. Ele estudava simplesmente porque era isso que os alunos deveriam fazer.

   Foi durante seu segundo ano que a mentalidade de Amane começou a mudar. Motivado a ficar ao lado de Mahiru sem que ela fosse menosprezada por causa dele, e a ter orgulho de si mesmo, ele começou a se esforçar pelo bem do futuro deles.

   Pode-se até dizer que foi sua mentalidade em si que mudou. Junto com sua nova motivação e atitude, em vez de manter suas notas sem rumo, a mudança mais significativa foi que ele se tornou mais entusiasmado em melhorar a si mesmo, permitindo-lhe trabalhar ainda mais em direção ao seu futuro. Até agora, suas notas este ano foram ainda melhores do que no ano anterior, e Amane antecipou que, nesse ritmo, ele receberia notas significativamente melhores até o final do ano. Isso alimentava sua motivação ainda mais.

“Ah, bem, sim. Eu já sabia disso,” reconheceu Shihoko.

“Qual é...”

“Uma vez que você decide algo, você verá até o fim. É assim que você é, afinal, certo?” Shihoko afirmou sem um traço de dúvida. Suas palavras foram diretas o suficiente para impedir Amane de expressar qualquer reclamação que ele tivesse. “Você é meu filho, afinal. Estou cuidando de você há dezessete anos — conheço você muito bem. Você é bem disciplinado nesse sentido. Em tudo que você colocou tudo de si, você alcançou resultados de uma forma ou de outra. Além disso...”

“Além do quê?”

“Você não pode se dar ao luxo de ser desleixado com a Mahiru-chan por perto, certo? Afinal, garotos adoram se exibir.” Shihoko piscou para ele com um sorriso provocador e travesso.

   Amane franziu os lábios e se virou. “Fique quieta. Vamos, está quase na hora, mãe. Vamos.”

“Olha só. Talvez eu tenha acertado em cheio.”

   Ignorando os comentários desnecessários de sua mãe, Amane acelerou o passo, sem prestar atenção às risadas divertidas atrás dele enquanto liderava o caminho.



✧ ₊ ✦ ₊ ✧



   Inicialmente planejada para durar apenas cerca de dez a quinze minutos, a reunião de pais e professores terminou muito mais rápido do que o esperado. O comportamento exemplar de aluno honorável de Amane e sua forte capacidade acadêmica permitiram que a reunião ocorresse muito bem. Além disso, como suas notas atuais correspondiam mais ou menos aos requisitos para sua universidade de escolha, não havia muito o que discutir.

   Essa foi a última reunião de pais e professores realizada antes de seu crítico terceiro ano do ensino médio. Amane havia previsto que poderia exigir uma discussão mais longa ou uma conversa mais aprofundada sobre a preparação para seus próximos exames, mas acabou sendo nada mais do que uma confirmação de intenções entre ele, sua mãe e seu professor. No geral, foi surpreendentemente breve.

   Depois de agradecer ao professor e sair da sala de reunião, Shihoko descartou o ato de mãe séria que havia assumido durante a discussão e seu sorriso alegre e habitual retornou enquanto eles se afastavam. Isso se deveu em parte ao fato de ela ter mantido uma postura composta durante a reunião, mas também ao seu alívio após ouvir o feedback positivo do professor da sala de aula.

“Muito bem. Não que eu estivesse preocupada, mas é reconfortante saber que até o professor acha que você é um ótimo aluno, e ouvir isso diretamente do professor me deixa ainda mais feliz, pois agora sei que você está se esforçando ainda mais do que eu pensava.”

“Bem, quero dizer, ir bem na escola era a condição para eu viver por conta própria.”

   Embora a diferença de motivação que Amane tinha entre o primeiro e o segundo ano fosse noite e dia, suas notas durante o primeiro ano já haviam sido satisfatórias. Ele nunca pensou que sua mãe precisaria reconfirmar isso, mas uma promessa era uma promessa. Ele entendeu que era direito dela garantir que não houvesse reclamações sobre sua parte do acordo.

“Ahh, eu só disse isso para mantê-lo alerta. Honestamente, imaginei que você manteria suas notas altas mesmo se eu não dissesse nada. Pelo que vale a pena, você sempre foi um garoto diligente.”

“O que quer dizer com ‘pelo que vale a pena’?”

“Nossa, você sempre foi diligente. Antes, era de uma forma mais reticente e constante, o que tornava difícil notar seu entusiasmo à primeira vista. Agora, você não está mais satisfeito com apenas um objetivo. Você continua encontrando e agarrando novos repetidamente — é como um power-up, se você quiser? É uma coisa maravilhosa.”

“...Bem, obrigado.”

“Parece que suas notas melhoraram significativamente desde o seu primeiro ano também, então você não tem reclamações minhas. É quase como se o interruptor para sua motivação estivesse bem ao seu lado.”

“Só para você saber, não estou fazendo isso pela Mahiru. É por mim mesmo. Ainda assim, não posso negar que olhar para ela me empurra para fazer melhor. Isso acende um fogo em mim.”

   Amane sabia que ele tinha sido diligente, mas parecia quase presunçoso comparar isso ao nível de diligência de Mahiru. Ele nunca conheceu uma pessoa tão autodisciplinada quanto ela, e sabia que o esforço que ela fazia para melhorar muitas facetas de si mesma para viver de acordo com sua reputação era nada menos que extraordinário. A diferença entre eles era vergonhosamente gritante.

   Mahiru já tinha estudado a maior parte do currículo do ensino médio e tinha passado a consolidar seu conhecimento fundamental em preparação para os exames de admissão à universidade, então o escopo de seus esforços até agora era imenso. Uma vez, ela mencionou casualmente que “Trabalhar duro agora para tornar as coisas mais fáceis depois não é tão árduo quanto se pode pensar.” Seu tom tinha sido tão indiferente que preocupou Amane. Ele estava preocupado de que ela pudesse estar se esforçando além de seus limites.

   Apesar disso, estar ao lado de Mahiru inspirava Amane ainda mais. Ver Mahiru trabalhando tão duro o fez detestar descansar sobre os louros. Consequentemente, Amane seguiu o exemplo e começou a se concentrar ainda mais nos estudos, como uma forma de se aprimorar.

“É tão maravilhoso que vocês possam se animar e encorajar um ao outro. Vocês são tão apaixonados um pelo outro — de muitas maneiras.”

“Vamos lá, mãe...”

“Oh, querido, não faça cara feia para mim. Na verdade, estou te elogiando. É verdade que você e Mahiru-chan se dão tão bem, então por que ficar infeliz?”

“Nada. É a maneira como você interpreta as coisas e depois me provoca sobre isso.”

   Embora Amane tivesse um relacionamento incomumente próximo com sua mãe em comparação com outros de sua idade, isso não veio sem seu próprio conjunto de problemas.

     A mãe sempre diz coisas que não deveria.

   Fosse por sua natureza, deliberado ou simplesmente resultado de seu desejo ardente de fazer Mahiru sua nora a todo custo, Shihoko tinha uma tendência a cutucar Amane sobre todo e qualquer assunto envolvendo Mahiru. Era como se ela estivesse tentando apressá-lo ou acender uma chama nele.

“Meu Deus, que duro. É só uma conversinha,” Shihoko respondeu, exasperada.

“Continuar fazendo algo que alguém não gosta não é uma boa conversa.”

“Tudo bem, tudo bem, eu estava errada.”

   Apesar de dizer que estava errada, Shihoko não pareceu particularmente arrependida. Amane lançou-lhe um olhar furioso antes de suspirar audivelmente, tentando fazê-la se sentir um pouco culpada como forma de resolver o assunto.

   Enquanto a impenitente Shihoko descia o corredor com passos leves, Amane massageou sua testa e começou a refazer seu caminho quando Shihoko parou de repente e olhou para fora de uma janela próxima. Curioso, Amane também fez uma pausa e, basicamente pela primeira vez, ele captou os sons dos alunos no meio das atividades do clube, com seus gritos ecoando pelo ar.

   Instruções foram dadas em vozes fortes e claras, cânticos foram feitos para sincronizar as respirações e houve explosões de aplausos jubilosos, talvez celebrando algo, pontuados pelo sinal de um apito. Em meio a esses sons, a música da banda de metais ecoou de uma sala de aula próxima, quase como se estivessem tocando para animar todos os alunos absortos em suas atividades.

“Ah, os sons da juventude. Que lindo,” Shihoko comentou com um sorriso melancólico, olhando com carinho para as figuras distantes dos alunos. “De qualquer forma, Amane, você vai se dedicar totalmente aos estudos para os exames de admissão de agora em diante, certo?”

   Assim que Amane estava prestes a perguntar se ela tinha algo em mente, a expressão habitual de Shihoko retornou. Ela olhou para ele com o mesmo olhar antigo de sempre. Sabendo que se ele perguntasse agora, não obteria uma resposta, Amane decidiu ignorar o olhar anterior de nostalgia e inveja em seus olhos.

“…Bem, sim. Daqui a um ano, os alunos com recomendações já estarão fazendo — ou talvez até tenham terminado — seus exames. Então, só falta um ano para se preparar.”

   Amane considerou que continuar trabalhando meio período durante um período tão crucial era uma atitude imprudente, mas ele descartou rapidamente o pensamento, pois já havia decidido equilibrar os dois. Não importa o que acontecesse, ele estava determinado a fazer dar certo.

“Então o ano que vem certamente será uma época agitada para você,” comentou Shihoko.

“Basicamente. É assim que acontece do segundo para o terceiro ano, embora eu não possa dizer que gosto de quão cheia minha agenda ficará.”

“Infelizmente, esse é o caminho que todo aluno que se prepara para os exames deve seguir.”

   Ninguém queria ativamente se enterrar em estudos. Era apenas uma necessidade, algo que tinha que ser feito por si mesmo, para encarar seriamente os exames de admissão. Amane, já tendo se resignado ao período agitado em seu futuro, recebeu um aceno de aprovação de Shihoko.

“Você está bem preparado. Você já levou isso em consideração também,” ela disse com um sorriso. “Volte para casa neste inverno. Com seu exame no ano que vem, você não terá muito tempo livre.”

“…Eu já sabia disso, mas pensar no que está por vir ainda é desanimador.”

   Shihoko riu. “Que olhar sombrio. Bem, suponho que nunca seja um período divertido. Eu vi minha própria cota de inferno nos meus dias de estudante.”

“Você era inteligente naquela época, mãe?”

“Devo assumir que isso foi um insulto?”

“Por que você levaria dessa forma!? Tipo, em termos de notas!”

   Como Amane a conhecia agora, Shihoko era altamente inteligente. Ela havia acumulado uma vasta riqueza de conhecimento — embora parte do qual ela provavelmente fosse melhor sem — e a maneira como ela falava era incrivelmente racional. Enquanto Amane imaginava que ela era considerada uma pessoa inteligente, ele achava surpreendentemente difícil imaginar como suas notas realmente eram.

   Os dezessete anos de experiência de Amane com sua mãe lhe disseram que, uma vez que seu humor piorasse, poderia demorar um pouco para seu ânimo retornar. Assim, Amane se apressou para esclarecer o que ele queria dizer para evitar qualquer mal-entendido. Shihoko lançou-lhe um olhar frio por um breve momento antes de descartar o assunto com um simples, “Meu Deus.”

   Pouco depois, ela começou a pensar. “Hmm. Claro, entre mim e o Shuuto-san, eu não diria que sou a mais inteligente. Suponho que minhas notas eram bem medianas naquela época. Eu não me destacava em nenhuma área em particular, então pode-se dizer que eu era somente uma aluna típica.”

“Uma aluna típica, hein…”

“O que há com esse olhar cético? Embora eu possa não parecer agora, eu era uma garota muito simples e quieta na época.”

[Mon: Difícil de acreditar akakkakaka]

“Simples e quieta, hein.” Para Amane, a ideia de que a chamativa e extrovertida Shihoko já foi simples e quieta parecia mais parecida com uma imagem autoproclamada do que com a realidade.

“Se você tem algo a dizer, então diga, okay?” Shihoko insistiu.

“Não, absolutamente nada.”

“Céus.”

   Apesar de ser encarado, Amane sabia que não deveria dizer nada que pudesse deixar sua mãe ainda mais irritada. Como ele sabia como lidar com sua mãe, Amane escolheu ficar em silêncio. Shihoko percebeu que pressionar mais o assunto seria inútil, então ela virou o rosto com um bufo, murmurando: “Que garoto teimoso você é.” Apesar dessa isca, Amane permaneceu em silêncio.

“De qualquer forma, eu não era particularmente diligente ou notável o suficiente para ganhar elogios de ninguém. Eu escolhi o caminho que queria eventualmente, o que foi ótimo e tudo, mas como foi uma decisão repentina, tive que estudar no último minuto para o exame. Aqueles tempos foram realmente algo e tanto — acho que a impressão que dei foi totalmente diferente.”

“Impressão, como em?”

“Eu basicamente parecia estar prestes a desmaiar, ou como se não tivesse espaço para respirar, eu acho. Meus amigos naquela época costumavam me dizer que eu tinha uma aparência bem medonha, como se estivesse encurralada e insana. Era bem ruim, aparentemente.”

   Para Amane, a aparência suave de sua mãe tornou a descrição de sua aparência horrível feita por seus amigos ainda mais difícil de acreditar. Surpreso, ele instintivamente se virou para olhá-la. Shihoko prontamente assentiu, sem mostrar nenhum indício de seu comportamento passado. “Bem, posso dizer em retrospecto que não tinha nenhum plano concreto para falar,” ela disse, mostrando seu olhar gentil característico. Embora não fosse inédito uma mãe parecer diferente para seu filho do que seus amigos, Amane ainda achava difícil imaginar sua mãe demonstrando qualquer tipo de comportamento desesperado.

   Sua mãe estava com um sorriso brilhante enquanto dava de ombros em resposta ao olhar que Amane lhe deu. “No seu caso, Amane, não estou particularmente preocupada. Ao contrário de mim, você sempre foi do tipo que se prepara com bastante antecedência e trabalha duro para aperfeiçoar seu conhecimento fundamental. Confio que você não cometerá erros descuidados e que entende suas próprias habilidades bem o suficiente para fazer escolhas informadas.”

“Sim, claro,” afirmou Amane.

“Você já planejou como vai se preparar para os exames, não é?”

“Naturalmente. Eu adaptei para combinar com os exames de admissão da universidade em que quero me matricular.”

“Como mãe, vou apoiá-lo onde quer que você queira ir, mas é natural que eu fique curiosa. Eu entendo por que você pode não discutir muito conosco, mas se você tem um objetivo claro em mente, ajuda se você nos contar. Dessa forma, podemos apoiá-lo adequadamente.” Shihoko falou em um tom gentil e terno, tentando não soar como se estivesse repreendendo-o. Em vez disso, suas palavras não eram nada mais do que um lembrete gentil. Agora, sentindo-se terrivelmente ingrato, uma forte sensação de culpa picou o coração de Amane. Ele sabia que, mesmo que escolhesse não falar agora, Shihoko não o culparia por isso. No entanto, como seu filho, ele também entendia que suas palavras vinham de um lugar de preocupação parental, então, embora hesitante, Amane lentamente olhou para baixo, tomando um momento para reunir seus próprios sentimentos.

“...Eu não tenho um objetivo específico em mente. Sinceramente, se eu puder garantir um emprego que me permita viver uma vida confortável com Mahiru, então não estou realmente preocupado com os detalhes,” confessou Amane. Embora ele tenha consultado outras pessoas sobre sua escolha de universidade, suas decisões foram amplamente tomadas por conta própria, nem ele estava fixado em nenhuma instituição em particular em geral. “Minha escolha foi menos sobre perseguir minhas paixões e mais sobre escolher uma universidade e especialização que abriria mais portas para mim em termos de emprego, depois de considerar minhas habilidades. Claro, o pré-requisito era que tivesse que ser algo em que eu estivesse pelo menos interessado.”

   A universidade que Amane escolheu oferecia programas nas áreas em que ele estava interessado em aprender mais, e correspondia às suas habilidades acadêmicas atuais e ao esforço que ele planejava fazer. Além disso, parecia ter grandes perspectivas de emprego futuro. Comparado a outros alunos que tinham uma visão clara de suas futuras carreiras ou objetivos específicos para sua experiência universitária, o processo de pensamento de Amane pode parecer um tanto deficiente para alguns. Amane sabia disso muito bem. Como resultado, ele estava relutante em discutir suas escolhas com muita ansiedade. Embora estivesse totalmente comprometido em se preparar para a universidade e planejasse se esforçar ao máximo para evitar envergonhar a si mesmo, sua confiança diminuía quando se tratava de escolher uma futura carreira específica que almejava.

“Minhas prioridades são, em primeiro lugar, manter um estilo de vida confortável quando eu começar a trabalhar, em segundo lugar, ter algum tempo livre e, por último, encontrar um emprego que eu goste e que me permita viver uma vida saudável. Claro, o objetivo principal da universidade é estudar áreas especializadas, mas não tenho paixão para tomar uma decisão com base apenas nisso... Quero priorizar o que vem depois.”

   Embora Amane tivesse muita determinação para ter sucesso em seus exames de admissão à universidade, ele ainda não tinha uma visão do que exatamente queria fazer depois. Ele ainda não havia encontrado a paixão para se comprometer com o que queria estudar lá. Amane resmungou mentalmente. Essa contradição de ser apaixonado sem uma paixão o deixou sentindo-se internamente em conflito.

   Observando a turbulência interna de seu filho, Shihoko não respondeu nem com raiva, nem tristeza. Em vez disso, ela olhou para ele com um olhar calmo e compreensivo que parecia dizer: Entendo, então é isso.

“Pode ser difícil dizer se você tem um sonho ou não. Ser tão pragmático é bem típico de você, Amane.”

“Não é tanto ser pragmático, mas sim fazer uma lista de prioridades devido à incapacidade de decidir.” Normalmente, alguém começaria decidindo o que quer fazer e, em seguida, escolheria uma profissão após a graduação, comparando as condições entre várias empresas. No momento, no entanto, isso não era algo que Amane pudesse fazer. “Eu invejo aqueles que têm uma ideia clara do caminho que querem seguir.” Amane continuou. “Eu vim para cá — a alma mater do meu pai — porque eu queria viver tranquilamente, longe de casa. Foi ótimo me acostumar com um novo estilo de vida e encontrar meu lugar aqui... mas quando se trata disso, eu não tenho uma visão clara do que eu quero me tornar ou do que eu quero fazer.”

“Eu me matriculei na escola de arte entusiasticamente por capricho, então eu não posso dizer muito sobre mim, mas seja qual for a sua escolha, certifique-se de que você não se arrependerá, Amane. É a sua vida, afinal.”

“É uma decisão importante na vida. Eu entendo.”

   A base da vida de uma pessoa era geralmente lançada durante os anos de estudante, que era a razão pela qual Amane estava agonizando sobre suas escolhas. Para decisões importantes como essas, seus pais respeitavam sua autonomia, permitindo que ele tomasse todas as suas decisões por si mesmo. No entanto, isso só aumentava sua ansiedade.

   Comparado a estudantes cujos caminhos foram decididos por seus pais ou tiveram que desistir de continuar seus estudos devido a restrições financeiras, as circunstâncias de Amane podem ser um problema privilegiado. No entanto, a liberdade de escolher por si mesmo também significava que ele tinha total responsabilidade por essas escolhas. Seria uma decisão que ele próprio tomaria — mesmo que cometesse um erro grave, seria somente ele quem suportaria.

“Só ficaremos aqui até que vocês dois consigam se sustentar sozinhos. A partir daí, suas vidas estarão em suas próprias mãos, certo? É um caminho que você deve trilhar por conta própria. Pense bem e tome suas decisões com cuidado.”

“Eu entendo.”

“De qualquer forma, o que você quer ser ou fazer pode mudar a qualquer momento. Quando chegar a hora, certifique-se de ter conhecimento e habilidade suficientes para não ter muita dificuldade em escolher seu novo caminho. Adicionar mais cartas à sua mão deve ser a prioridade enquanto você ainda é um estudante. Você pode achar difícil reunir tempo e dinheiro para fazer isso mais tarde, então conte com seus pais enquanto ainda pode.”

“…Okay.”

“Não se preocupe. Pode não parecer, mas Shuuto-san e eu temos economizado diligentemente juntos. Temos construído isso para que você possa abrir suas asas com segurança quando chegar a hora. Sinta-se à vontade para confiar em nós o quanto precisar.”

   Shihoko sempre valorizou a liberdade de Amane. Como ela acreditava nele e estava constantemente pronta para dar seu apoio, ela entendia suas preocupações e lhe deu um simples empurrão. Mesmo que Amane a achasse incômoda às vezes, era durante momentos como esses que ele se lembrava de sua verdadeira essência como uma mãe admirável e solidária. Essa percepção aqueceu Amane profundamente, um calor reconfortante se espalhando por seu coração.

   Se Shihoko estava ciente dos sentimentos de gratidão e admiração de Amane ou não, era incerto. Seu sorriso característico ainda estava em seu rosto, ela levou a mão ao peito em uma demonstração de extrema confiança. “Hah, você sempre tenta lidar com tudo sozinho, então se apoie um pouco em nós, não é? Ah, mas não estou muito confiante em ajudar com os estudos, então é melhor você pedir isso ao Shuuto-san.”

“A maneira como você destacou os estudos, é muito parecida com você, mãe.”

“É tudo uma questão de encontrar a pessoa certa para o trabalho.”

“Isso é basicamente o mesmo que admitir que você não é muito boa nos estudos, sabia?”

“Você disse alguma coisa?”

“Não, nada.”

“Nossa. Ah, mas sinta-se à vontade para perguntar o que quiser sobre moda, okay? Sua mãe está mais do que feliz em fazer tudo por você!”

“Quer saber, eu vou passar.”

“Ah, vamos lá!”

   Um baque surdo e pesado logo percorreu as costas de Amane, mas não foi doloroso. Em vez disso, foi como se uma rajada de vento o tivesse varrido, soprando para longe as partes tímidas e ansiosas de si mesmo que se acumulavam nas profundezas de seu coração.

   Influenciado pelo sorriso caloroso e ilimitado de Shihoko, Amane se viu abrindo um pequeno sorriso.

   Achei que tinha me tornado bem durão, mas parece que ainda consigo ser sensível às vezes, Amane pensou, divertido.

“Tudo bem, vamos para a casa da Mahiru-chan, okay? A reunião dela também é hoje?”

“A da Mahiru é amanhã.”

   Shihoko pode ter dito isso de passagem, mas Amane sentiu que não havia mais nada que pudesse dizer. Ele previu que a reunião de pais e professores começaria com apenas a última presente. Abordar o assunto pode ser semelhante a cravar um pequeno espinho no lado de Mahiru. Shihoko, provavelmente ciente das circunstâncias, não expressou as preocupações na mente de Amane. Em vez disso, ela simplesmente disse: “Oh, é mesmo? Se fosse hoje, poderíamos ter ido às compras juntas no caminho para casa,” mostrando um leve arrependimento.

“Talvez eu devesse passar para dizer olá. Não faz tanto tempo, mas de alguma forma parece que já faz um tempo desde a última vez que nos encontramos.”

“Então fique à vontade. A Mahiru ficará emocionada.”

   Shihoko riu. “Vejo que você não está tentando me impedir.”

“Seria inútil tentar impedi-la, mas mesmo assim, por que eu faria isso? Vocês duas realmente gostam da companhia uma da outra.”

   Dada a escolha entre se preocupar com Shihoko enchendo a cabeça de Mahiru com ideias estranhas ou ver a alegria que Mahiru sentia quando estava com alguém que ela realmente adorava, escolher a última opção foi uma decisão fácil para Amane. Embora Mahiru gostasse de ser mimada, ela só podia se abrir com seu namorado, Amane, ou Shihoko, uma mulher que a amava como uma mãe. Amane nunca negaria a Mahiru a felicidade de ver uma pessoa tão importante em sua vida. Dito isso, Amane ainda não conseguia se livrar da preocupação de que sua mãe diria a Mahiru coisas que ela não deveria, então ele, é claro, decidiu que ficaria de olho nelas.

     Mahiru é pura de coração, e a minha mãe tira vantagem disso colocando ideias estranhas em sua cabeça.

   Sem Shuuto lá para manter as coisas sob controle, Shihoko, muitas vezes levada — ou talvez muito feliz por isso — tendia a contar a Mahiru coisas que poderiam ser prematuras para ela, ou divulgar detalhes desnecessários sobre Amane. Nesse sentido, Shihoko era uma pessoa em quem seu filho depositava pouca confiança ou dependência.

“Você se tornou bem gentil, não é?”

“Aposto que eu seria ainda mais gentil se você se acalmasse um pouco,” Amane retrucou.

“É uma coisa terrível de se dizer, que eu não sou calma.”

“Mãe, por favor, abaixe um pouco a voz e diminua os gestos. Podemos começar por aí.”

   Amane frequentemente pensava que poderia respeitar mais sua mãe se ela superasse sua tendência de agir mais jovem do que sua idade perto dele, embora ele nunca tenha expressado isso em voz alta. Shihoko simplesmente deu de ombros. Ela olhou para ele como se dissesse que ele estava sendo excessivamente sensível.

“...Eu me pergunto para onde foi toda a sua fofura.”

“Diga o que quiser. Eu nunca fui fofo para começar.”

“Veja, é exatamente disso que estou falando… Oh?”

Hm?

   Shihoko foi a primeira a notar.

   Ela piscou várias vezes e focou seu olhar no corredor. Amane seguiu o exemplo e virou a cabeça na mesma direção, onde viu duas figuras familiares. Uma era Itsuki — seu humor estava visivelmente azedo, e ele tinha abotoado todos os botões da camisa de forma incomum para ele. O outro era um homem vestido com um terno elegante e bem ajustado, que Amane não via desde o festival cultural.

   O olhar que Daiki deu a Itsuki — seu filho — estava longe de ser suave. No entanto, ao perceber que Amane e Shihoko estavam lá, seus olhos se tornaram gentis e ele sorriu calmamente, uma luz calorosa enchendo seu olhar.

“Olá, Daiki-san,” Amane cumprimentou. “Faz tempo desde o festival.”

“Ah, Fujimiya-kun, e sua mãe também. Saudações. É bom ver vocês dois parecendo bem,” respondeu Daiki.

Tch.” Amane notou Itsuki estalar a língua para o sorriso caloroso de seu pai — um sorriso que ele dirigia dificilmente a seu próprio filho. Amane não tinha certeza se deveria comentar sobre isso, mas estava claro que Itsuki estava de mau-humor. Ele sabia que eles estavam em desacordo há algum tempo e tinha ouvido sobre seus problemas familiares diretamente de Itsuki, então o atrito deles não era surpreendente. No entanto, hoje, as faíscas entre eles pareciam especialmente intensas.

     ...Eles devem ter brigado um pouco antes de virem.

   Embora Itsuki já estivesse incomodado com as reuniões de pais e professores, Amane não esperava que a situação piorasse ainda mais. Amane mudou sua atenção para Itsuki, mantendo seu olhar fixo nele. Considerando o quão amuado ele estava, Itsuki agora tinha uma expressão que só poderia ser descrita como carregada de espinhos. Itsuki notou Amane olhando para ele e virou a cabeça para a janela sem jeito.

“Meu filho tem estado sob seus cuidados. Obrigado,” Daiki demonstrou sua apreciação.

(Shihoko) “Nossa, essa realmente deveria ser minha fala... O Amane parece ter realmente se aberto para o Itsuki-kun, e muitas vezes recebe ajuda dele.”

[Mon: A alfinetada haha; Genial!]

   Ciente da feroz discórdia entre Itsuki e Daiki, Shihoko continuou a sorrir enquanto falava. Ter que ouvir seus pais conversando era sempre uma experiência estranha e desconfortável para as crianças, mas Amane imaginou que se isso pudesse ajudar a aliviar o humor irritado de Itsuki, então valeria a pena.

“Meu filho sempre fala sobre ele.”

“Espera, mãe…”

   Enquanto Amane esperava uma distração para aliviar a tensão de Itsuki, ele não queria que Shihoko revelasse algo assim bem na frente dele. 

   Shihoko se virou para o perturbado Amane, curiosamente perguntando: “Algo errado?” Ela tinha uma expressão de fingida ignorância, e Amane mais uma vez se lembrou de quão astuta sua mãe podia ser. Com toda a probabilidade, Shihoko fez o comentário intencionalmente para quebrar a atmosfera pesada. Amane não pôde deixar de sentir como se tivesse sido apunhalado nas costas de repente e levantou exageradamente a sobrancelha para ela.

“Mãe, sério…”

“Oh, eu estava enganada?”

“Quero dizer, não, mas ainda assim!”

“Mesmo como sua mãe, posso dizer que você deposita grande confiança no Itsuki-kun. Você confia nele frequentemente, não é?”

“Que tipo de idiota admite isso bem na frente deles, no entanto!?”

“Não vai passar a menos que você diga diretamente a eles, Amane.”

“Eu digo isso o tempo todo!”

“Oh, é mesmo? Isso é verdade, Itsuki-kun?” Com um sorriso alegre e inocente, Shihoko mudou a conversa para Itsuki, que havia ficado em silêncio até agora.

   Embora um pouco nervoso no começo, Itsuki finalmente assentiu. Ele coçou a bochecha, um pouco envergonhado. “Ahh... bem, sim. Hum, ele me pega de surpresa ocasionalmente.”

“Heh heh, o Amane se tornou bem honesto consigo mesmo, não é?” A risada de Shihoko era alegre, ainda assim digna. Ela aproveitou o momento antes de virar seu sorriso caloroso para Daiki, que estava observando silenciosamente a troca deles. “Sério, muito obrigada por tudo. Esse meu garoto não é muito direto, então ter o Itsuki-kun por perto tem sido uma grande ajuda, para dizer o mínimo.”

“…Parece que sim,” Daiki afirmou, com sua voz um tanto rígida e prática. Embora Itsuki não tenha feito careta abertamente com a resposta do pai, a leve contração de sua sobrancelha foi difícil de não notar. Percebendo isso, os olhos afiados de Daiki se estreitaram levemente. “Parece que você tem algo a dizer.”

“Nah, não realmente,” Itsuki retrucou.

   Deduzindo que Itsuki não tinha intenção de abandonar sua atitude teimosa, Daiki suspirou antes de apontar na direção em que Amane e Shihoko estavam antes.

“...Vou sair um pouco. Esteja na frente da sala de reunião antes que seja hora de começar.”

“Entendi. Apenas vá logo.”

   Até Amane, que era mais rude do que a maioria, ficou surpreso com a atitude atual de Itsuki. Chamar Itsuki de rude não seria suficiente — ele parecia totalmente hostil, sem vontade de aceitar Daiki nem um pouco. Como alguém que conhecia a situação deles, isso deixou Amane nervoso o tempo todo. Daiki, por outro lado, desistiu de repreender Itsuki por seu comportamento rude ou decidiu não o fazer na frente de outros. Com outro suspiro profundo, ele aceitou o desafio de Itsuki sem mais comentários e passou por Amane e Shihoko sem dizer uma palavra.

   Embora Daiki tivesse relações amigáveis ​​com Amane e Shihoko, a tensão entre ele e Itsuki era palpável. Quando os passos de Daiki finalmente se distanciaram, Amane não conseguiu evitar soltar um suspiro profundo. Ele não estava acostumado a situações tão intensas e, como ele naturalmente ficava do lado de Itsuki, a atitude de Daiki era especialmente difícil de engolir. Com ele agora fora de cena, a atmosfera se suavizou, o que refletiu descaradamente na expressão de Itsuki.

   Amane lançou-lhe um olhar gentil. “Ah, certo. Sua reunião é hoje também. Isso me escapou completamente.”

“Você já terminou a sua?” Itsuki perguntou.

“Sim. Acabou bem rápido.”

“Entendo. A minha vem depois da próxima.”

   A troca deles foi bastante seca. O motivo provavelmente foi devido à tensão persistente no ar do encontro deles há alguns momentos. Embora a atmosfera tivesse suavizado até certo ponto, abaixo da superfície, ainda estava tensa. Itsuki também percebeu isso. Ele olhou para o chão desconfortavelmente, evitando contato visual. Sua irritação pode ter desaparecido de seu rosto, mas Itsuki foi incapaz de suprimir sua turbulência interna. Seus olhos, que ele mantinha virados para longe, pareciam quase trêmulos.

“Eu não entendo o sentido dessas reuniões de pais e professores. Quer dizer, não há realmente nada para conversar. Eu nem tenho ideia se ele está disposto a ouvir o que eu tenho a dizer,” Itsuki compartilhou.

“O que você planeja fazer no futuro, Itsuki?” Amane então perguntou. Como seu amigo, provavelmente haveria muitas oportunidades de falar sobre isso, mas as circunstâncias com Daiki dificultaram isso.

   Seria realmente o momento certo para perguntar? Amane se perguntou, mas como ele já havia expressado, não havia como voltar atrás.

“Eu decidi o que quero, mas se meu pai vai aprovar ou não é outra história. Ele tem suas próprias ideias sobre onde eu deveria estar.”

“E sua mãe?”

“Ela fica tipo ‘Não podemos deixá-lo fazer o que quiser?’ Eu acho,” Itsuki respondeu. Depois de falar sobre sua mãe, Itsuki simplesmente deu de ombros, um pouco exasperado. A aspereza que antes mantinha as pessoas à distância parecia ter diminuído agora.

   Nunca tendo conhecido a mãe de Itsuki, Amane não podia dizer muito com certeza, mas ela parecia ter uma posição de não intervir nisso. Isso era evidente pela maneira como Itsuki a descreveu. Essa abordagem centrada na liberdade dela provavelmente era uma espécie de salvação para Itsuki.

“Falando sobre opostos polares...”

“Não é tanto ela ser desinteressada, mas sim pensar ‘Nosso filho não é de se deixar mandar, não é? Em vez de arriscar que ele reaja mal e siga o caminho errado, é melhor deixá-lo fazer o que quiser’,” explicou Itsuki.

“Ela com certeza entendeu tudo,” comentou Amane, rindo de quão precisa a previsão da mãe de Itsuki havia se mostrado. Como seu amigo, Amane viu Itsuki incorporar exatamente o tipo de comportamento rebelde com o qual ela se preocupava.

   Ela é tão franca e clara quanto possível, Amane não pôde deixar de pensar, apesar de ela nem ser sua mãe. Ele tinha certeza de que sua natureza refrescante, implacável, mas compreensiva, era uma graça salvadora para Itsuki.

   Como prova disso, a atmosfera outrora rude havia se acalmado consideravelmente.

“A questão é que papai é o único que ainda não cedeu. Eu entendo seu processo de pensamento e raciocínio, mas tê-los empurrados para mim não é a melhor opção,” disse Itsuki.

“Sim.”

“Claro, do jeito que as coisas estão agora, eles vão pagar minha mensalidade... Mas isso não significa que eu esteja bem com ele ignorando completamente meus desejos. Se isso acontecer, eu vou fugir de casa de verdade.”

“Duvido que o Daiki-san iria tão longe.” Tendo falado com Daiki quando Itsuki não estava por perto, Amane sabia que ele não forçaria decisões que ignorassem completamente os desejos de Itsuki. No entanto, da perspectiva de Itsuki, ele ainda se sentia oprimido, acreditando que seu pai poderia agir dessa forma. Como alguém de fora, a situação era frustrante de se testemunhar.

  Para o bem ou para o mal, a teimosia e a personalidade inescrutável de Daiki pareciam apenas incitar a rebeldia de Itsuki ainda mais.

“Haha, quem sabe. Ele pode estar calmo agora, mas o que ele vai dizer a seguir é uma incógnita. Ele não percebe o quanto ele errou sendo tão autoritário com meu irmão? Não sou a segunda chance do meu pai na vida, nem sou o substituto do meu irmão,” disse Itsuki; Sua voz ecoou com amargura e dor, como se estivesse cuspindo sangue. Sua negação clara não encorajou nem conforto, nem simpatia de Amane.

   Os pais de Amane estavam deixando-o fazer o que quisesse. Eles expressaram seu amor de maneiras que ele conseguia entender facilmente. Com isso em mente, ele percebeu que dizer qualquer outra coisa só machucaria Itsuki ainda mais, já que sua família tinha uma dinâmica muito diferente.

   Itsuki, tendo desabafado a amargura que havia se acumulado dentro dele, pareceu registrar a expressão de Amane. Isso o fez olhar para os pés sem jeito, provavelmente incapaz de avaliar como Amane havia recebido a conversa.

“…Me desculpa.”

“Não, você não deveria se desculpar por isso. Quem está machucado com tudo isso é você… Não é realmente meu lugar para dizer, mas você deveria tentar conversar com ele.”

“…Sim, eu sei.” Depois de um momento de hesitação, Itsuki assentiu e seguiu Daiki.

   Não importava a direção que as coisas tomassem, ele provavelmente entendia que precisava conversar se quisesse seguir em frente.

   Sempre havia pessoas por aí com quem, não importava o que acontecesse, você nunca conseguia encontrar um ponto em comum. Embora Amane não acreditasse que Daiki se enquadrasse nessa categoria, ele reconhecia que Itsuki talvez nunca conseguisse chegar a um acordo com seu pai. A possibilidade de seu relacionamento sempre permanecer em um impasse era muito real. Nesse caso, Amane estava determinado a apoiar Itsuki. Embora ainda menor de idade e limitado em como poderia ajudar, Amane queria apoiar seu amigo da melhor maneira possível, oferecendo-se para ajudá-lo no que pudesse.

   Embora Amane estivesse pronto para apoiar Itsuki, ele ainda esperava que em algum momento, Itsuki e Daiki pudessem encontrar uma maneira de se entender. Ele não podia interferir nos assuntos familiares de outra pessoa, mas não conseguia deixar de esperar por uma resolução.

“O Itsuki-kun parece ter suas próprias lutas familiares também,” Shihoko comentou após observar Itsuki silenciosamente com seu olhar enquanto ele fugia. Ela se misturou ao fundo para evitar interromper a conversa entre os dois amigos.

“Ahh. Sim, ele tem.”

“Como mãe, posso entender querer que seu filho siga um caminho que você aprova. Os pais ficam céticos se seus filhos escolhem um caminho que não os levará a uma carreira de sucesso. Eles naturalmente querem que seus filhos trilhem o caminho com o mínimo de dificuldades desnecessárias.”

   Como a posição de Shihoko era diferente da de Amane, ela podia ver o relacionamento entre Itsuki e seu pai de uma perspectiva mais realista. Ela suspirou suavemente e encolheu os ombros. “Ser pai é uma coisa difícil,” ela murmurou.

“Aos meus olhos, acredito que as crianças devem ser as que conduzem suas próprias vidas. Se os pais interferem muito, isso impede sua capacidade de desenvolver independência. Uma quantidade moderada de envolvimento é o caminho a seguir. Somente se eles estiverem seguindo por um caminho perigoso, um pai deve intervir e guiá-los de volta. Isso deve ser o suficiente.”

“Mãe, você é realmente racional sobre tudo isso.”

“Porque não importa como você olhe para isso, interferir demais é claramente prejudicial para as crianças.”

   Shihoko, firme em sua convicção, não vacilou ao dizer sua parte. “Pais que colocam restrições desnecessárias em seus filhos fazem isso mais por si mesmos. Usando ‘é para o bem deles’ como justificativa, eles restringem as oportunidades de seus filhos para sua própria conveniência. Eu não gosto disso nem um pouco.”

   Shihoko amava e se importava muito com Amane, mas nenhuma vez ela o forçou a fazer nada. Ela sempre respeitou sua autonomia e mostrou a ele os vários caminhos que ele poderia seguir sem o guiar pela mão. Em vez disso, ela o observava por trás, pronta para intervir e detê-lo com um agarrão em seus ombros se houvesse um perigo claro à frente. Caso contrário, ela esperava silenciosamente ao seu lado, não importava o quanto ele agonizasse sobre qual caminho escolher.

   Vivenciando isso em primeira mão, Amane sentiu a postura inabalável de Shihoko como mãe.

“Uma vez que você se torna independente, você deve viver usando sua própria força. Se os pais tentarem ditar a vontade dos filhos e acorrentá-los à força, isso só trará sofrimento a ambos no longo prazo. O verdadeiro inferno começa quando os pais se vão. Para a criança, será como viver com as pernas quebradas — você pode até ter esquecido como ficar de pé. Elas apenas experimentariam um estado lento e constante de declínio,” explicou Shihoko decisivamente. “Ninguém jamais poderia me fazer pensar que é benéfico para a criança,” acrescentou, cortando o assunto com facilidade.

   Vendo a expressão no rosto de Amane, Shihoko sorriu amargamente. “Bem, o pai do Itsuki-kun parece mais estranho do que fixado ou controlador. Não sinto nenhuma malícia nele. No entanto, não é como se ele estivesse amarrando Itsuki-kun involuntariamente. Você pode ver a culpa que ele sente. Ele provavelmente é ruim em se comunicar adequadamente e não consegue se obrigar a retirar o que uma vez disse — ele é como meu próprio pai.”

   Amane só conseguiu inclinar a cabeça. Ele nunca imaginaria que Shihoko compararia Daiki ao seu pai — em outras palavras, seu avô. Para Amane, ele era um velho gentil e de bom coração, falante, que adorava sorrir. Até onde ele conseguia se lembrar, seu avô não tinha nenhuma semelhança com a pessoa com quem Shihoko o estava comparando.

   Percebendo a confusão de Amane, Shihoko riu e disse: “Ele é apenas gentil com os netos. Na verdade, ele era muito teimoso e nunca foi bom com as palavras.” Parecia que Amane era mais querido pelo avô do que ele imaginava. Enquanto ele processava essa informação que levou dezessete anos inteiros vivendo neste planeta para aprender, Shihoko balançava de diversão. Depois de concordar com a cabeça em satisfação, ela olhou para o corredor onde Itsuki e Daiki haviam desaparecido.

“Bem, contanto que eles entendam a razão e o bom senso, é melhor deixar o resto para suas próprias habilidades e pensamentos. Mas, em troca, nós os ensinamos a garantir que eles possam cuidar de si mesmos adequadamente quando se tornarem adultos,” afirmou Shihoko com firmeza.

“Vou manter isso em mente,” respondeu Amane.

   Shihoko riu. “Não me preocupo muito com você, na verdade. Afinal, você é filho de Shuuto-san e eu.”

“Bem, tenho quase certeza de que penso da mesma forma que o pai até certo ponto, sim.”

“E pensar que você me deixaria de fora. Parece que não te ensinei bem o suficiente.”

“Estou brincando. Então, por favor, pare de esmagar meu pé.”

   Amane resmungou, tendo escorregado e recebido a reprimenda de sua mãe. Enquanto isso, Shihoko — sua agressora — riu muito e deu um tapinha nas costas de Amane.

 

-Link para o nosso server do Discord

Apoie a Novel Mania

Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.

Novas traduções

Novels originais

Experiência sem anúncios

Doar agora