O Anjo da Porta ao Lado Me Mima Demais Japonesa

Vol 9

Capítulo 1: O Que Estava Diante de Mim Quando Abri Meus Olhos

     Este deve ser o paraíso na Terra...

   Momentos depois de acordar, este pensamento surgiu na mente de Amane, seus sentidos ainda estavam nublados pelo sono. A primeira coisa que ele viu ao abrir os olhos foi sua amada namorada. Ela estava confortavelmente aninhada em seus braços, e seu cabelo liso e sedoso estava suavemente desgrenhado. Enquanto seu cabelo cuidadosamente tratado, que brilhava como fios de ouro, caía sobre um dos braços de Amane, ela olhou para ele com olhos que lembravam pedras preciosas, confortavelmente aninhados em seu abraço.

   Amane, ainda em uma névoa sonolenta, sentiu a confusão piscar em sua mente por um momento enquanto registrava a presença de Mahiru ao seu lado. Ele teve uma breve memória dela ficando na noite anterior — então fez sentido. Como se viu, Mahiru não escapou imediatamente como fez da última vez que dormiu junto. Em vez disso, ela decidiu esperar até que Amane acordasse de seu sono.

   Mahiru percebeu imediatamente que Amane tinha acordado e se contorceu algumas vezes em seus braços, para encontrar uma posição agradável, antes de se virar para ele com um sorriso tímido. “Bom dia, Amane-kun.”

“...Bom dia. Há quanto tempo você está acordada?”

“Cerca de dez minutos, eu acho. Achei que seria legal aproveitar esse calor enquanto saboreio a visão do seu rosto adormecido antes de começar a preparar nosso café da manhã.”

“...É divertido me ver dormir?”

“Sim, claro. Serve como minha fonte de energia, sabia?” O rosto de Mahiru sorriu com satisfação e espírito. “Graças a você, estou cheia de energia esta manhã,” ela acrescentou. Suas palavras por si só foram suficientes para agitar o seu interior, com uma vibração, então Amane a abraçou com força em uma tentativa de mascarar a curiosa sensação de cócegas.

   O abraço repentino de Amane pegou Mahiru de surpresa, mas ela relaxou rapidamente antes de envolver seus braços em volta de suas costas, depois que ele sussurrou suavemente: “Me dê um pouco de energia também.” Considerando que Mahiru estava tomando seu tempo, isso significava que eles ainda tinham muito tempo de sobra. Amane aproveitando o momento, utilizou a oportunidade para saborear sua suavidade, seu calor e seu aroma doce e refrescante. Sorrindo com a visão, Mahiru brincou: “Oh, você está se entregando de novo?”

   Amane quase quis retrucar: De quem você acha que é a culpa? Mas ele decidiu não fazer isso, pois a resposta para essa pergunta era certamente óbvia para Mahiru. Sem dizer mais nada, ela deixou Amane se aconchegar nela, permitindo que ele fizesse como quisesse.

   Em seus braços se instalou uma existência amada, uma a quem ele podia jurar com a maior certeza que poderia dedicar seu tudo, e que ela também o aceitaria em troca.

     Eu sinto verdadeira alegria, do fundo do meu coração.

   Amane permitiu que essa alegria sem limites permeasse cada fibra de seu ser, degustando sinceramente o calor que ele encontrou em seus braços, relutante em deixar ir.

   Ele estava vivendo uma manhã tão alegre que, sem pensar, quase deixou seus olhos se fecharem mais uma vez. No entanto, Mahiru notou que sua respiração havia relaxado a um ritmo semelhante ao sono, e prontamente deu um tapinha em suas costas gentilmente.

“Amane-kun, por favor, não volte a dormir.”

“...A opção de ficar deitado na cama e faltar à aula é tentadora.”

“Isso não parece algo que um aluno exemplar como você deveria dizer.”

   Amane não conseguiu deixar de rir do sussurro provocador de Mahiru enquanto refletia sobre essas palavras. Ele pode tê-las proferido, mas tanto Amane quanto Mahiru eram vistos como alunos disciplinados, sem registros de atrasos ou ausências na escola. Dito isso, a situação em questão era tão tentadora que parecia ser capaz de virar de cabeça para baixo até mesmo suas personalidades diligentes.

“Você realmente quer ficar na cama tanto assim? Poderia ser a magia do futon?” Mahiru brincou.

“É mais como sua magia, eu diria.” A presença de Mahiru provou ser muito mais tentadora para Amane do que a do futon, o que sugeria que se eles não tomassem cuidado, poderiam acabar matando aula, sacrificando também a presença de Mahiru.

   Mahiru, que estava se tornando cada vez mais uma tentação para Amane voltar a dormir, soltou um suspiro não de repreensão, mas de partes iguais de espanto e constrangimento com a resposta de Amane. “Môu.” Então, ela finalmente começou a se mover para escapar dos braços dele.

“Então, se eu me afastar, você será liberto desse feitiço mágico. Vamos, levante-se e se vista.”

“...Eu sei que preciso, mas ainda assim...”

“Eu não vou te mimar quando se trata de tudo, você sabe. Vamos, levante-se, lave o rosto e se refresque.” Enquanto Mahiru prontamente o mimava quando o momento era apropriado, ela era firme sobre mudar de marcha. Antecipando facilmente a tentativa de Amane de se enrolar no futon, ela ‘brincalhonamente’ arrancou o cobertor de suas mãos.

   Amane ia se levantar mesmo sem a insistência de Mahiru, mas ao vê-la o despertando tão alegremente, ele sorriu de uma forma que não chamaria sua atenção.

     No futuro, essa certamente não seria uma maneira ruim de acordar.

   Para registro, Amane era totalmente capaz de acordar na hora certa se realmente quisesse, mas ele não conseguia deixar de pensar que era legal brincar assim, contanto que não incomodasse Mahiru. Ele não queria fazer travessuras, mas acreditava que era aceitável confiar nela e agir um pouco mimado de vez em quando, já que Mahiru parecia gostar de cuidar dele.

   Enquanto Amane pensava nisso, um arrepio se espalhou por seu corpo. Ele saiu da cama e começou a tirar roupas para trocar. No momento em que abriu o armário, o comportamento de Mahiru mudou para uma tensão repentina que pairou no ar. Isso levou Amane a abafar uma risada com as mãos sobre a boca. Seus ombros tremeram visivelmente.

“Como devemos nos trocar?” Ele então perguntou. “Devo ir ao banheiro primeiro?”

“…Por favor, vá. Mas você não deve espiar.”

“Como se eu fosse espiar. Você não acha que isso é algo para o qual teríamos que pedir permissão?”

   Eles podem estar namorando, mas Amane não considerou realmente vê-la se trocar. Isso seria uma invasão de privacidade e, afinal, seus sentimentos atuais de constrangimento eram muito mais fortes do que antes. Para Amane, ver Mahiru se trocar não seria um grande problema, além de ela se sentir envergonhada e se encolher. No entanto, o mesmo não poderia ser dito de Mahiru. Estava claro que eles não seriam capazes de se olhar nos olhos por um tempo, e ambos poderiam sentir vontade de morrer de constrangimento mútuo depois.

“V-você quer ver?”

“…Eu estaria mentindo se dissesse que não quero. Mas não quero fazer nada que possa te chatear, e seria um pouco problemático ficar muito animado tão cedo pela manhã.”

“V-você está certo, mas…”

“É, então vamos parar por aqui. Nem sempre é certo expor cada coisinha sobre o outro.”

   Isso era óbvio, mas Amane estava, sim, curioso. No entanto, ele sabia que não deveria agir com base nessa curiosidade no momento. Ele acreditava que tais assuntos privados só deveriam ser compartilhados após estabelecer um consentimento genuíno, e certamente não logo de manhã em um dia de aula.

“Isso eu posso dizer com certeza.” Amane deu de ombros e estava prestes a sair da sala quando Mahiru retornou com uma voz um pouco exasperada: “Esse é um dos seus pontos fortes, mas também uma causa de frustração, Amane-kun.”

✧ ₊ ✦ ₊ ✧

   Depois de se trocar, como Mahiru havia dito que prepararia no dia anterior, Amane desfrutou de um café da manhã caprichado composto por dashimaki tamago, salmão ao estilo de Kyoto, alguns acompanhamentos pré-preparados, sopa de missô e arroz branco. Depois de terminar, ele se concentrou em se preparar para a escola, fazendo-se apresentável.

   Como ele já havia preparado seus livros didáticos e outros itens no dia anterior, tudo o que ele tinha a fazer era amarrar sua gravata e vestir seu blazer, mas ele parou com a gravata na mão, perdido em pensamentos por um momento.

“Algo está errado?” Percebendo a pausa contemplativa de Amane, Mahiru se aproximou dele com uma voz curiosa. Amane, embora se sentindo um pouco hesitante, estendeu a gravata que estava segurando junto com um alfinete de gravata que ele mantinha escondido para Mahiru.

   Era o seu presente de aniversário — o alfinete de gravata que ela lhe dera no dia anterior. Ele queria que Mahiru — a pessoa que o dera a ele — fosse a pessoa a colocá-lo nele pela primeira vez.

“Você poderia dar o nó na minha gravata para mim?”

   Quando ele perguntou timidamente, Mahiru piscou surpresa, mas logo entendeu sua intenção e sorriu brilhantemente, concordando com a cabeça. “Okay,” ela disse. Muito respeitosamente, Mahiru pegou a gravata e o alfinete, e então se ajoelhou na frente de Amane, que estava sentado no sofá, para enrolar a gravata em volta do pescoço dele.

   Embora dar um nó em outra pessoa devesse ser diferente de fazer isso para si mesmo, Mahiru conseguiu realizar a tarefa suavemente e prendeu rapidamente a gravata em Amane sem nenhuma dificuldade. Ela então fixou o lindo alfinete com uma flor gravada na gravata com movimentos que só poderiam ser descritos como impressionantes e graciosos.

   Embora Amane raramente usasse alfinetes de gravata fora de ocasiões formais, este de alguma forma parecia perfeito — talvez devido ao fato de que Mahiru foi quem escolheu para ele.

“...Combina comigo?” Perguntou-se Amane.

“Claro. Eu escolhi especialmente para você, então combina naturalmente com você.”

   Ao ver Mahiru sorrir com uma confiança inabalável, as bochechas de Amane naturalmente se suavizaram em um sorriso também. “Você tem um bom olho para esse tipo de coisa, então se você diz que combina comigo, posso ficar tranquilo.”

“É perfeito,” garantiu Mahiru. “Prestar atenção aos acessórios também é crucial para estar na moda.”

“Eu só queria saber se o presente que você me deu combina comigo, não necessariamente se estava na moda.”

“Fique tranquilo, certamente combina com você.”

   Embora Mahiru tivesse uma tendência a ver Amane através de lentes cor de rosa, ela sempre tentava oferecer uma perspectiva objetiva quando se tratava de questões de aparência, então não parecia haver problemas nessa frente. Como o alfinete de gravata mal era visível sob a lapela do blazer, pode fazer apenas uma diferença sutil, mas esses toques finos no traje eram realmente cruciais para elevar a aparência.

   Amane endireitou naturalmente as costas, pois usar algo escolhido por Mahiru lhe trouxe uma alegria incrível. Era possível que seu desejo de parecer digno de estar ao lado dela o tivesse influenciado bastante.

   Sentindo o presente de Mahiru, preso perto de seu coração, Amane sentiu uma onda de felicidade e uma nova confiança surgirem dentro dele, desta vez ainda mais forte do que antes.

“...Sério, você fica tão incrivelmente bonito quando parece confiante que isso realmente me pega desprevenida, Amane-kun.” Mahiru murmurou baixinho enquanto Amane ajustava sua camisa e vestia seu blazer.

“E quando não pareço confiante?”

“Você parece mais fofo, eu diria. Ainda bonito, no entanto.”

“Bem, há muitas coisas que eu quero dizer sobre isso, mas não importa. Eu estou bonito agora, certo?”

“Sim, muito.”

“…A ponto de ficar ao seu lado não ser um problema?”

   Amane não hesitaria quando se tratasse de ficar ao lado dela. No entanto, ele ocasionalmente se perguntava se parecia deslocado naquela posição. Independentemente do que os outros possam pensar, ele não tinha intenção de sair do lado dela, mas seria impossível alegar que não estava preocupado com a forma como estava sendo percebido.

   Ele continuava trabalhando para se aprimorar, mas se esses esforços estavam visivelmente valendo a pena era outra questão. Amane, sabendo da resposta de Mahiru, mas perguntando mesmo assim, recebeu uma resposta cheia com um sorriso indulgente. “Honestamente, Amane-kun…” Mahiru então acariciou sua bochecha amorosamente. “Não se preocupe. Você é bonito por dentro e por fora. Não vou deixar ninguém reclamar, mas mesmo ignorando meus sentimentos pessoais, você é uma pessoa maravilhosa.”

“Entendo. Isso é bom então… Vamos para a escola?”

“Sim.”

   Quando Amane se levantou e estendeu a mão, Mahiru a agarrou sem hesitação. Como Mahiru sempre lhe ofereceu seus sentimentos genuínos, Amane pôde ficar de pé ao lado dela e andar em frente, segurando sua mão. Foi graças a ela que ele conseguiu se mudar a esse ponto.

     Eu nunca posso deixá-la ir.

   Jurando mais uma vez nunca a deixar ir e sempre fazê-la feliz, Amane deu a Mahiru um sorriso suave enquanto saíam de casa juntos.

✧ ₊ ✦ ₊ ✧

“…Pelo que parece, você deve ter se divertido muito ontem à noite, hein?”

   Depois de se separar de Mahiru, que aparentemente tinha algumas tarefas na sala de professores, Amane entrou na sala de aula apenas para ser recebido por um Itsuki sorridente. Como Amane esperava, ele instantaneamente se tornou o objeto de provocação de Itsuki na escola, apenas um dia após seu aniversário. Aliás, parecia que Chitose ainda não havia chegado.

   Embora não fosse nenhuma novidade, encarar a provocação de Itsuki pessoalmente trouxe uma onda de constrangimento ainda mais forte do que Amane havia imaginado, fazendo com que suas sobrancelhas franzissem naturalmente por reflexo. “Não faça isso soar tão sugestivo. Nós apenas comemoramos como alguém normalmente faria.”

“Claro, claro — o que você disser.”

“Oh, sério isso…”

   Itsuki notou a sobrancelha levantada de Amane e deu um tapinha em seu ombro com um sorriso malicioso. “Brincadeira, cara. De qualquer forma, parece que os preparativos da Shiina-san ocorreram sem problemas. Estou feliz.”

“Obrigado por ajudá-la.” Amane suspirou, incapaz de repreendê-lo, e em vez disso soltou um breve grunhido.

“Dito isso, eu realmente não fiz muita coisa. Na verdade, a Chi e a Kido-san foram as que fizeram a maioria do trabalho. Elas foram as que deram conselhos e ajudaram com tudo.”

“Mesmo assim, você se esforçou para manter isso em segredo, certo? Estou muito grato.”

“Bem, uma surpresa é o que torna tudo ainda mais especial, não acha? Estou feliz que você teve um aniversário memorável. Mais uma vez, feliz aniversário.” Itsuki, sendo o amigo atencioso que era, sorriu e deu um tapinha no ombro de Amane novamente.

“…Obrigado.” Amane respondeu calmamente. Suas bochechas, coradas com uma mistura de felicidade e constrangimento, quase relaxaram enquanto ele mordia o lábio.

   Chitose ainda não chegou, então terei que agradecê-la mais tarde também, Amane considerou, já que ela havia oferecido muitos conselhos a Mahiru. Chitose quase certamente o provocaria por isso, mas parecia um pequeno preço a pagar por sua gentileza. Amane estava pronto para aceitar graciosamente.

   Saboreando a simples alegria de ter amigos dispostos a comemorar seu aniversário, Amane soltou um suspiro, o que pareceu atrair a atenção dos colegas de classe que aparentemente estavam ouvindo.

“Huh? Era o aniversário do Fujimiya-kun?” uma garota da classe gritou.

“Sim, sim — foi ontem, na verdade.” Quando Itsuki confirmou, seus colegas de classe exclamaram em uma voz um tanto alta, “Sério?!” e se viraram para olhar em sua direção.

“Por que você não disse nada?” A mesma garota reagiu. “A Shiina-san e todos os outros não mencionaram nada sobre isso, então eu não tinha ideia!”

“U-uh, bem, era para ser uma surpresa e tal, então...” Amane murmurou.

“Ah, entendi. Mas não nos contar é meio ruim... Agora não tenho nada para te dar hoje... Suco seria bom?”

“Então eu te dou esse doce,” um garoto ofereceu. “É uma edição limitada sabor ‘arroz de cogumelo enoki’.”

“Isso parece nojento pra caramba... Vamos lá, não dê isso a ele.”

“O que é isso?! É viciante pra caramba! É tão bom!”

“Tem um gosto horrível, né?” Retrucou a garota.

“Você é tão má! Arroz de cogumelo enoki é delicioso!”

“Eu duvido? É muito amargo. Eu não diria que é um sabor adequado para um doce, para começar.”

“Seu argumento lógico machuca tanto a mim quanto à empresa que o faz!”

   Amane ficou total e completamente perplexo enquanto seus colegas se reuniam em massa, tendo aparentemente ouvido falar da pequena conversa deles. Itsuki sorriu um pouco e sussurrou, “Eles são pessoas legais, não são? Não pense muito — apenas aceite-os.”

[Kura: o momento em que todos percebem que a pessoa quieta da sala é uma das mais boas.]

   Desde que Amane decidiu mudar seu comportamento na frente de todos, ele sentiu uma ligeira mudança, trazendo-o um pouco mais perto de seus colegas de classe... Mas esta foi a primeira vez que eles se aproximaram dele tão livremente para comemorar, e isso fez seu coração se sentir inexplicavelmente quente. Se ele tivesse permanecido fechado, evitando interação com os outros, ele nunca teria sido cercado por pessoas assim.

“... Hum, obrigado a todos. Estou muito feliz.” Enquanto ele agradecia, incapaz de esconder completamente o constrangimento em sua voz, os colegas ao redor dele abriram sorrisos calorosos e genuínos, levando Amane a murmurar “Obrigado,” mais uma vez, um pouco mais suavemente.

✧ ₊ ✦ ₊ ✧

“…Parece que Amane-kun se tornou bem popular no pouco tempo que estive fora.”

   Tendo terminado suas tarefas e retornado para a sala de aula, Mahiru viu Amane cercado por seus colegas de classe. Ela parecia surpresa, mas feliz com a visão. Sua surpresa era compreensível, dado que ver Amane no centro das atenções não era exatamente uma ocorrência cotidiana. No entanto, o que realmente a cativou não foi seu aumento repentino de popularidade, mas sim o calor envolvendo seu coração enquanto observava seus colegas de classe celebrando-o.

“Ah — bom dia, Shiina-san! E não se preocupe, não vamos roubar o Fujimiya-kun de você nem nada!”

“E-eu não estava preocupada com isso. Eu simplesmente fiquei surpresa ao vê-lo cercado por todos.”

“É verdade, a única outra vez que o Amane foi cercado assim foi quando ele anunciou seu relacionamento com Mahirun. Eu também estou surpresa.” Chitose, que havia entrado na sala de aula com ela, também ficou surpresa ao ver a comoção em torno de Amane, com seus olhos se arregalando. Quando seus olhos encontraram os de Amane, ela lhe lançou um sorriso brincalhão. “Se o velho você visse isso, ele ficaria pasmo.”

“Bem, eu acredito que eu teria ficado sem palavras.” O próprio Amane reconheceu que seu antigo eu carregava uma aura sombria, que era a mundos de distância da pessoa que ele havia se tornado. O antigo ele pode ter achado a pessoa que ele era agora difícil de lidar. Isso não significava, no entanto, que Amane não gostasse de quem ele havia se tornado.

   Ele tinha aprendido a se esforçar para ficar ao lado da pessoa que mais amava e, embora não dissesse que havia parado de se menosprezar completamente, ele o fazia com muito menos frequência. Talvez a maneira mais precisa de dizer isso fosse que ganhar confiança lhe deu paz de espírito.

   Experimentar em primeira mão como o amor pode influenciar uma pessoa, Amane olhou para seu eu passado com uma mistura de constrangimento, amargura e um toque de nostalgia. Engolindo esses sentimentos, ele simplesmente sorriu fracamente.

   Chitose, borbulhando de excitação, exclamou: “Você se tornou muito mais aberto do que antes, não é? Você é um excelente exemplo de como se apaixonar pode mudar alguém.”

“Cale a boca. Isso é um problema?”

“Não! Acho que é uma coisa boa, de verdade. Não que você fosse ruim antes, mas você parece muito mais feliz agora. Você sorri muito mais,” disse Chitose, cutucando suas bochechas com os dedos indicadores para enfatizar seu ponto, fazendo Amane instintivamente tocar suas próprias bochechas.

   Olhando para Mahiru, ele a viu assentindo com um sorriso terno, como se o choque já tivesse passado. “Além disso, seu sorriso está muito mais gentil do que antes. Não é mesmo?” Mahiru perguntou.

“Exatamente!” uma garota concordou. “O olhar em seus olhos está totalmente diferente. Não é tão óbvio quanto quando você olha para a Shiina-san, no entanto.”

“Bem, obviamente ele ficaria totalmente carinhoso quando se trata da Shiina-san. Basta olhar o quanto ele a ama.”

“Chegou ao ponto em que, ultimamente, você parece estar ainda mais apaixonado do que o próprio anjo,” afirmou outro.

“...Eu entendo, então, por favor, não olhe muito,” Amane pediu. “Estou ciente de que sou doce com a Mahiru.”

   Amane teve o cuidado de não baixar a guarda e revelar uma expressão muito relaxada perto de Mahiru, embora parecesse que seus colegas já haviam notado sua tendência a amolecer quando estavam juntos. Vozes de concordância podiam ser ouvidas ao redor deles, de colegas, homens e mulheres.

   Amane sentiu uma renovada sensação de constrangimento brotando de dentro e uma sensação de cócegas ao redor de seus lábios. Percebendo isso, Chitose bateu palmas para mudar o clima, dizendo: “De qualquer forma, provavelmente deveríamos deixar assim antes que o Amane comece a ficar de mau-humor.”

   Ela não deveria ter começado então, Amane raciocinou, mas ele também entendeu que ela tinha sua própria maneira única de celebrá-lo.

   Com um leve sorriso, Chitose tirou uma caixa embrulhada de sua bolsa. “Então, mesmo que esteja um dia atrasado, aqui está um presente meu e do Ikkun!”

“...Sério, muito obrigado por ser atenciosa e passar por todos esses problemas com a Mahiru.”

“Heh heh heh. Bem, eu sou a única e melhor amiga da Mahirun, sabe~. Estou sempre pronta para embarcar nos esquemas e tramas da minha adorável amiga. Aqui está!” Chitose entregou a caixa surpreendentemente pesada para Amane com uma explosão de excitação em sua voz.

   Se Itsuki e Chitose tivessem escolhido o presente juntos, provavelmente não foi um que errou o alvo. Enquanto Amane esperava que não fosse algo muito bobo ou sem sentido considerando o momento, ele ficaria grato em receber qualquer coisa deles, a menos que fosse totalmente ultrajante.

   A dupla tinha ótimo gosto, então Amane não estava preocupado com a escolha do presente, mas o peso inesperado o fez olhar para ele com curiosidade. O que poderia ser?

“…Só perguntando, mas o que tem dentro?”

“Aw, você está perguntando isso agora? Quer dizer, eu poderia te dizer, mas…”

[Del: Aham, deve ser uma pedra de amolar. / Mon: akkakaakka Quem lembra dessa?! / Kura: A propósito, a data está próxima, não?]

   Uma onda de desconforto tomou conta de Amane quando ele olhou para Mahiru por um momento. “Ei, o que há com essa resposta sugestiva?”

“Ahaha. Brincadeira, brincadeira. Não é nada perigoso — é um conjunto de talco e sais de banho. Alguns com aromas que Mahirun gosta e alguns que são perfeitos para o metabolismo, de acordo com as avaliações. Pensei que talvez vocês dois pudessem usá-los.”

“…Por que você está assumindo que os usaremos juntos? Normalmente, você os usaria sozinho.” Amane apreciou o presente, mas seu comentário desnecessário o fez franzir a testa.

   Embora tivessem algum nível de intimidade física, o relacionamento deles era puro. Amane não queria que fossem conhecidos como um casal que frequentemente tomava banho junto. Não que eles não tivessem tomado banho juntos antes, mas era sempre com trajes de banho ou toalhas. Além disso, não era como se eles tomassem banho juntos toda vez que Mahiru ficava lá.

“Os outros vão ter a ideia errada,” disse Amane, franzindo a testa, ao que Chitose respondeu com um insatisfeito: “Awww...” de uma forma que o fez querer beliscar suas bochechas, mas ele conseguiu se conter.

“Não diga nada que as pessoas possam entender mal,” repetiu Amane.

“Isso é o que você chama de ser um covarde.”

“Itsuki, fique quieto.”

“Sim, sim, claro... Embora, mesmo que eu não fique quieto, sinto que todo mundo já sabe que vocês dois estão ficando bem quentes e pesados... Ai, okay, entendi.”

[Mon: Mas namoral, todos os colegas ficam “Ai, ai, parem de flertar na sala”, MAS AI MANDAM UMA DESSA… Complicado, viu?]

   Amane pressionou o punho na cintura de Itsuki enquanto ele se aproximava, a sensação simples e dura que retornou o fez sentir uma leve sensação de derrota. No entanto, tendo silenciado Itsuki com sucesso, Amane soltou um suspiro profundo.

“Eu realmente aprecio o presente e o pensamento que vocês dois colocaram nele, mas, por favor, não digam nada que não devam.” Enquanto dizia isso, Amane de alguma forma conseguiu evitar que suas bochechas queimassem de vergonha enquanto ele retornava ao seu assento com o presente cuidadosamente segurado em suas mãos.

   Itsuki o seguiu, colocando uma mão na cintura de forma exagerada. “Diga, Amane...” Uma vez longe do grupo de colegas, Itsuki se inclinou perto do ouvido de Amane.

“O quê?”

“Ninguém disse nada sobre vocês terem que tomar banho juntos. A suposição era que vocês se revezariam se um de vocês ficasse...”

“...Cale a boca.”

“Eu sussurrei isso super baixinho, sabe!?”

   Amane, percebendo tarde demais que havia atirado no próprio pé, mordeu o lábio e se virou, enquanto Itsuki ria e dava tapas nas costas de Amane para provocá-lo.

✧ ₊ ✦ ₊ ✧

“Oh, a Shiina-san deixou escapar o segredo?”

   Na hora do almoço, Amane agradeceu a Ayaka por ajudar Mahiru, e ela retribuiu com um sorriso travesso. Sem revelar nada, Ayaka havia colaborado secretamente com Mahiru para orquestrar a celebração surpresa de Mahiru, pela qual Amane era grato. Embora, ao mesmo tempo, ele também se sentisse um pouco enganado. O silêncio de Ayaka significava que Souji estava envolvido, o que implicava que todo o evento havia sido mantido em segredo por todos os participantes.

   Esse nível de colaboração era, sem dúvida, graças à popularidade de Mahiru. Embora Amane não pudesse deixar de admirar sua influência, ele questionava interiormente a necessidade de um plano tão elaborado. Naturalmente, o desejo de Mahiru de surpreender Amane deve ter sido a principal motivação.

“Você descobriu o ingrediente secreto?”

“Basicamente. Eu só achei que tinha um gosto parecido, só isso.”

“Então foi fácil dizer, afinal. Talvez o café na casa da minha tia seja delicioso mesmo.”

“...A propósito, o que fez você sugerir café para a Mahiru?”

“Oh, a Shiina-san estava tendo problemas para decidir sobre o bolo, então enquanto vasculhávamos livros de receitas e revistas juntos, sugeri colocar café nele. Então ela aceitou a ideia. Foi uma ótima sugestão, se é que posso dizer,” Ayaka sorriu.

   Enquanto Amane exibia um sorriso amargo, ele teve que concordar que era delicioso, então ele simplesmente assentiu.

“Pelo que parece, você ficou bem satisfeito com o resultado, então tudo está bem quando acaba bem. Tenho certeza de que a tia Fumika ficará emocionada.”

“…Estou realmente grato pela ajuda da dona, mas temos que dar a ela todos os detalhes?”

   Expressar sua gratidão pela ajuda dela era a coisa natural a se fazer. Embora ele ainda não conseguisse se livrar desse sentimento de desconforto dada sua natureza animada, Amane acreditava que compartilhar um pouco do que aconteceu com Fumika era inevitável. Dada sua primeira impressão, no entanto, a ideia de lidar com sua animação sem limites era assustadora.

   Ayaka pareceu ter entendido o ponto de Amane, dando um sorriso ligeiramente irônico e murmurando, “B-bem, acho que apenas uma breve explicação bastaria. Minha tia não é do tipo que se intromete muito... provavelmente.”

   Esse “provavelmente” só conseguiu alimentar a ansiedade de Amane, mas considerando que Fumika não era uma pessoa má no coração, e que a conversa serviria como um grande sustento para ela, ele imaginou que estaria tudo bem. Contanto que fosse com moderação, claro.

“De qualquer forma, muito obrigado. Por ir tão longe por alguém como eu... embora a Mahiru ficaria brava se eu dissesse isso. Obrigado.”

“De jeito nenhum~. Ajudar no aniversário de um amigo é a coisa natural a se fazer. Então, aqui está algo meu também.”

   Ayaka então tirou uma caixa um tanto grande e embrulhada de sua mochila. Era um pouco grande demais para segurar com uma mão. Amane foi rapidamente pego de surpresa, pois não esperava receber nada dela. “Parece que minha surpresa também foi um sucesso!” Sua declaração alegre o trouxe de volta à realidade.

“Aqui, isso é meu e do Sou-chan. Por favor, aceite.”

“Você não precisava passar por todo esse trabalho, mas... obrigado. Posso perguntar o que tem dentro?”

“Proteína!”

“Sem mudanças aí, hein.”

   Sua resposta energética levou Amane a rir e aceitar o presente. Ayaka então exclamou orgulhosamente: “Esse é realmente saboroso e tem uma ótima taxa de absorção! É aprovado até mesmo pelo Sou-chan!” enquanto mostrava uma cara presunçosa, o que fez Amane rir ainda mais.

   Se Souji estivesse com eles, Amane poderia imaginá-lo respondendo “Não me use como sua cobaia,” com um olhar exasperado no rosto.

   Percebendo o que Amane estava pensando, Ayaka sorriu brilhantemente e acrescentou: “Fique tranquilo, o Sou-chan disse ‘Bem, proteína é proteína, então tenho certeza de que está bom’, quando ele tinha um monte! Nós os testamos completamente, então não seja tímido!” Ela manteve seu sorriso alegre.

   Parece um experimento de laboratório obscuro para mim, Amane pensou, mas depois de ver o sorriso inesperadamente radiante de Ayaka, ele decidiu guardar seus pensamentos para si mesmo. Às vezes, segurar a língua era o caminho a seguir.

[Del: “Quem controla as suas palavras possui conhecimento, e o sereno de espírito é inteligente. Até o insensato, quando se cala, é tido por sábio; se fica de boca fechada, passa por inteligente.” – Pv 17.27-28]

“De qualquer forma, obrigado por tudo o que você fez. Você foi uma grande ajuda, Kido.”

“Está tudo bem, está tudo bem. Estou me intrometendo porque quero, e, na verdade, o Sou-chan também me disse para manter minha intromissão com moderação.”

“Não acho que você esteja se intrometendo. Você realmente nos ajudou muito.”

“Hmm, mas só porque eu queria, então você não deve se preocupar muito, Fujimiya-kun. Além disso, há algo nisso para mim também.”

“Tipo o quê?”

“Heh heh heh... Se você se der bem com o Sou-chan, então ele ficará de melhor humor. E quando ele estiver de bom humor, eu posso passar ainda mais tempo tocando seus músculos.”

“…Entendo.”

   Embora Amane sorrisse ironicamente para os motivos travessos e egoístas de Ayaka, havia mais nela do que aparentava, o que era uma qualidade que qualquer pessoa familiarizada com ela poderia perceber. Sua inclinação natural para cuidar dos outros era evidente até mesmo nas interações limitadas de Amane com ela, e parecia que ela gostava realmente de fazer isso.

   Além disso, ela tinha o hábito de menosprezar a própria ajuda dela, pedindo a Amane que não se preocupasse em retribuir nenhum favor. Assim, após agradecer por sua consideração, Amane deu de ombros e disse: “Bem, contanto que você e o Kayano estejam bem com isso, então acho que está tudo bem.”

✧ ₊ ✦ ₊ ✧

“Hoje foi incrível, não foi?”

   Depois que voltaram para casa e terminaram o jantar, Mahiru murmurou isso em um tom suave enquanto relaxavam no sofá juntos.

   Amane entendeu exatamente a que ela estava se referindo e respondeu: “Sim.”

   Mahiru então relaxou suas bochechas em puro contentamento, como se ela mesma fosse a celebrada. Alívio, satisfação e deleite. Sua expressão mostrou uma delicada combinação de tais emoções enquanto ela sorria para Amane, fazendo-o se sentir insuportavelmente tímido a ponto de desviar inadvertidamente o olhar para a TV.

   Dispostos na mesa de centro entre o sofá e a TV estavam vários presentes que ele recebeu de seus amigos. Começando com os presentes de Itsuki, Chitose e Ayaka, ele também recebeu alguns de colegas de classe com quem não era particularmente próximo, que lhe foram dados no calor do momento. Eles consistiam principalmente em lanches e bebidas, mas Amane se sentiu tímido e alegre por receber as bênçãos de seus amigos, apesar de tentar o máximo para não deixar transparecer. No ano passado, não houve nenhum tipo de comoção na classe, pois ele só contou a Itsuki e Chitose sobre seu aniversário, então, em comparação, a celebração que ele recebeu este ano pareceu quase surreal.

   Como alguém que normalmente se considera indiferente, Amane não ansiava particularmente por uma celebração tão grandiosa. No entanto, ele não pôde deixar de se sentir genuinamente feliz em receber tais desejos de aniversário.

“...Eu não esperava que todos me parabenizassem tanto. Embora eu tenha passado adiante aquele doce com sabor de arroz e cogumelo enoki.”

   Mahiru riu. “Eu estava um pouco curiosa sobre aquilo, pessoalmente.”

“Você precisaria provavelmente de algo para limpar seu paladar depois, isso é certo.”

   Mahiru, com sua sede mais forte por conhecimento culinário, era mais fascinada por lanches exóticos obscuros do que Amane. Embora Amane apreciasse o gesto, ele era menos aventureiro com seu paladar, recusando educadamente as guloseimas mais incomuns. Como se para compensar, ele recebeu um doce com sabor de ensopado de carne, que parecia suspeitosamente com um cubo de caldo concentrado. Talvez seu colega de classe fosse um verdadeiro conhecedor dessas escolhas excêntricas de guloseimas.

[Del: Humm... coisas estranhas né, acho que a minha última foi um bife de carne e ração de cachorro com sal, apenas. Mon: Estrogonofe com feijão e farofa… Eu amo para falar a verdade! ]

   Intrigado, mas se divertindo um pouco pelo passatempo inesperado de um colega de classe com quem ele não falava com frequência, Amane deu uma olhada em todos os presentes que seus amigos e colegas lhe deram. Ele sentiu uma genuína sensação de felicidade, mas uma sensação crescente de dúvida e leve ansiedade começou a ofuscar sua alegria.

“...Está realmente tudo bem que todos comemorarem tanto?” As palavras de Amane escaparam inesperadamente.

   A expressão gentil de Mahiru mudou rapidamente, substituída por uma mistura de aborrecimento e desconforto, olhando para ele com um leve beicinho. “Por que você parece tão preocupado? A razão pela qual todos os nossos colegas de classe o parabenizaram é porque você conseguiu interagir e formar amizades com eles. É tudo resultado do seu próprio mérito, Amane-kun. Você entendeu?”

“Desculpe, desculpe. Não estou tentando me menosprezar nem nada. De alguma forma, simplesmente não pareceu real para mim. Só isso. Normalmente não conto às pessoas sobre meu aniversário.”

   Amane sentiu como se estivesse pressionando pessoas com quem não era particularmente próximo a parabenizá-lo por seu aniversário sem qualquer tipo de aviso prévio ou antecipado. Ele estava perfeitamente feliz em receber apenas algumas palavras daqueles de quem era mais próximo.

   Tiveram muito mais pessoas do que antes, então você não pode me culpar por ficar surpreso, era a mensagem que Amane estava tentando transmitir.

“Hehe, isso só prova como você é reconhecido e abençoado por aqueles ao seu redor, Amane-kun. É algo para se sentir alegre.”

“Sim, espero que sim.”

“Amane-kun.” Mahiru rebateu com uma voz desaprovadora, o que fez Amane abrir um sorriso. Diante de seu olhar tão severo que pedia: Você não deve se menosprezar, seria impossível para ele permanecer atolado em negatividade.

“Desculpe, desculpe — Eu sei... Estou feliz.”

“Sim... Por favor, aceite os parabéns deles sinceramente.” Mahiru se apoiou em seu braço com seu sorriso habitual e, sentindo a leve pressão e peso, ele relaxou suas bochechas e olhou para Mahiru. Sua felicidade pela comemoração de seu aniversário era inteiramente genuína, até mesmo agindo como se fosse seu próprio dia especial. Isso o levou a acreditar que sua alegria era verdadeiramente sincera.

     ...Então, na realidade, Mahiru vê aniversários como eventos que devem ser celebrados.

   Na verdade, isso era especialmente verdadeiro se o aniversário pertencesse a um amigo próximo ou alguém querido para ela. Mesmo que fosse para um indivíduo com quem ela não estava muito familiarizada, Mahiru ainda lhe daria sinceros parabéns. Mesmo assim, quando ele se lembrou de como o aniversário de Mahiru no ano passado veio e passou sem uma festa, um espinho frio e afiado espetou nos sentimentos calorosos e confusos que se acumularam em seu coração ao longo do dia. Mas—era um lembrete espinhoso que ele não odiava exatamente. Era um aviso que o incitou a reavaliar a realidade da situação, e também serviu como um catalisador para empurrá-lo para frente e fazer uma certa pergunta a Mahiru.

“Diga...”

“Sim?”

   Amane pretendia falar com uma voz tão suave quanto pudesse, sem quaisquer espinhos ou arestas, mas Mahiru, tendo percebido a mudança sutil em sua voz, parou de se apoiar nele e endireitou as costas. Mahiru se preparou, não por cautela, mas talvez em antecipação a uma discussão importante.

   Amane limpou a garganta. “Sabe, hum, eu não sou muito bom em guardar segredos, então você pode notar coisas ou ficar desconfiada de mim se eu tentar esconder coisas — e seria ruim para mim se você descobrisse e não ficasse feliz com isso. Então, pensei em avisá-la com antecedência.”

“O que é?”

“Seu aniversário é no mês que vem, certo?”

“Ah... sim, agora que você mencionou.” Mahiru pareceu surpresa como se tivesse acabado de lhe ocorrer. Então, após vários momentos de contemplação, ela assentiu. A julgar por sua reação tardia, ela estava completamente alheia à sua chegada, vendo-a puramente como um evento que não lhe interessava. Nem sequer chegou às bordas de seus pensamentos, levando a sua resposta tardia.

   Amane sentiu uma indiferença avassaladora em relação a si mesma, o que ele achou difícil de assistir. “Para você, ter seu aniversário comemorado não é realmente uma sensação agradável, é?”

“Não é tanto que eu ache desagradável... é mais como se eu fosse totalmente indiferente a isso.”

   Assim como Mahiru alegou, ela nunca se importou muito com seu próprio aniversário. Isso era algo que Amane sabia desde o último aniversário dela, mas ouvir isso dito tão diretamente, mesmo depois de terem começado a namorar, ainda lhe trouxe uma pontada de melancolia.

“Para mim, é simplesmente um dia que marca o envelhecimento de um ano, não um dia para comemoração. Eu quase nunca comemorei,” explicou Mahiru. “Ah— Mas eu fiquei feliz quando você comemorou ano passado! Não é que eu seja indiferente às pessoas que comemoram esse dia — é mais como se eu não conseguisse me importar com meus próprios assuntos.” Ela acenou com a mão no ar em reconhecimento. A pequena comemoração que ela teve no ano passado ainda estava fresca em sua mente.

   Percebendo que ele a havia deixado preocupada, Amane se sentiu um pouco culpado e se desculpou. “Desculpe. Eu não queria fazer você dizer tudo isso. Eu entendo que para você, esse dia não é particularmente especial.”

   A criação de Mahiru e o ambiente em que ela cresceu, do qual Amane estava bem ciente, deixaram claro porque seu próprio aniversário não tinha significado para ela. Até onde ele podia perceber, Mahiru não estava mais sofrendo com seu passado. Mas para Amane, isso por si só não era suficiente.

   Mesmo que isso fosse seu ego falando, Amane desejava que Mahiru se sentisse verdadeiramente amada, que ela não merecia nada além de felicidade e que seu nascimento fosse um evento que valesse a pena comemorar.

“Uhm, isso pode ser apenas meu ego falando... mas para mim, seu aniversário é um dia muito especial.”

“Especial...”

“Assim como você considera meu aniversário especial, eu também considero seu aniversário mais especial do que o de qualquer outra pessoa.”

   Amane tinha ouvido de várias pessoas que Mahiru tinha se esforçado muito para se preparar para seu aniversário. Ele também sabia que o amor dela por ele era profundo e sincero, vindo do fundo do coração. Ele não queria se tornar alguém que simplesmente se sentava e saboreava seu amor. Amane se esforçava para retribuir a mesma quantidade de amor — se não mais — por tudo o que ela havia lhe dado.

“Mahiru, estou tão apaixonado por você que não sei o que fazer. Sou tão grato e feliz por você ter nascido neste mundo, e sempre serei cheio de gratidão. Na minha mente, estou sempre agradecendo por você ter nascido, por me conhecer e por se apaixonar por mim... Para mim, o dia em que você nasceu é um dia incrivelmente especial.”

[Del: Receber uma dessa cara, imagina só... por enquanto só sonhando. / Mon: Como uma mulher, eu estou boiola!]

   Sem dúvida, Mahiru era a luz da vida de Amane. O dia em que ela veio a este mundo era extraordinariamente especial, e ele não queria nada mais do que ela percebesse isso.

“Então, uh — se você não achar desagradável, posso comemorar seu aniversário também? Assim como você comemorou o meu? Posso, do fundo do meu coração, expressar minha mais sincera gratidão por você ter nascido neste mundo?”

   Amane não iria insistir em uma comemoração sem considerar seus próprios desejos sobre o assunto. Se ela se sentisse desconfortável com a ideia, ele estava perfeitamente satisfeito em tratar o dia como qualquer outro. Se ela preferisse passar o dia em silêncio, Amane estava pronto para deixar o assunto de lado e continuar sua vida diária normalmente. No entanto, se ela concordasse com a ideia, Amane estava determinado a comemorar o melhor que pudesse, utilizando todos os recursos à sua disposição. Ele queria transmitir que havia pessoas ao seu redor que eram gratas por seu nascimento.

   Ainda olhando diretamente para ela, Amane esperou que Mahiru respondesse após fazer essa pergunta. Imediatamente depois, ele notou uma mudança em sua expressão diferente de alguns momentos antes — uma de surpresa. Uma pitada de incerteza e medo cintilou em seus olhos... Ela olhou para Amane com descrença.

“...Você tem certeza?” ela perguntou.

“Você não é contra?” Amane respondeu.

“Não, não, de jeito nenhum. Hum, estou muito feliz. É só que, pensar que alguém como eu iria…”

“Mahiru, lembra de antes? Você não olhou para mim como se não quisesse que eu me menosprezasse? Não é bom então ir e fazer a mesma coisa você mesma, sabe.” Sem se conter, Amane agarrou espontaneamente as bochechas de Mahiru — uma demonstração de sua perplexidade, incerteza e ansiedade — antes de dar uma boa puxada. Brincando provocativamente com suas bochechas, que não eram nem muito moles, nem muito rígidas em sua maciez, Amane procurou dissipar gentilmente quaisquer sentimentos negativos que pudessem estar afundando em seu coração. Então, um som realmente bobo, “Owkay, eu — eu enthendo…” saiu de sua boca, que não conseguia fechar completamente.

   Embora Amane tenha tido o cuidado de evitar causar dor, ainda deve ter sido um pouco chocante para Mahiru, pois ela continuou a olhar para ele com uma expressão atordoada mesmo depois que ele a soltou. Quando ele perguntou: “Você percebe o quanto você significa para mim agora?” A cor em seu rosto começou a suavizar, sugerindo que ele brincar com suas bochechas não era o único motivo de sua surpresa.

   Ela murmurou suaves, mas sem palavras: “Ah...” e “Uuuh...” baixinho, e então, hesitante, ela olhou para cima para encarar Amane. A sombra de ansiedade havia desaparecido de sua expressão.

“...Muito obrigada. Só ter meu aniversário comemorado por você, Amane-kun, me enche de felicidade... É uma sensação estranha. Sempre acreditei que meu aniversário não tinha importância alguma.”

“Então, a partir deste ano, vou garantir que você não tenha mais motivos para continuar acreditando nisso.”

   A indiferença de Mahiru estava provavelmente enraizada no relacionamento complicado que ela tinha com seus pais. Esse era um aspecto dela que Amane nunca poderia apagar completamente, nem queria. Era parte do que moldou Mahiru na pessoa que ela é hoje.

  Se nada mais, estava claro como cristal que essa indiferença vinha de um lugar vulnerável dentro dela — um que ela não queria que os outros tocassem. Portanto, Amane queria sobrescrever essa apatia aparentemente desdenhosa. Ele queria fazê-la sentir que tinha pessoas que a estimavam e eram gratas por sua existência.

“Dar uma festa enorme com todo mundo... não é realmente seu estilo, é, Mahiru? Vamos comemorar pacificamente, juntos.”

“...Certo.”

   Embora sociável, Mahiru também era uma garota naturalmente tímida — ou mais precisamente, cautelosa — e, como tal, preferia um ambiente tranquilo, mesmo durante seu aniversário. Como ela preferia não revelar seu aniversário a muitos, Amane sentiu que celebrá-lo em particular seria uma ideia melhor. Parecia que, agora, Mahiru não era avessa a deixar seus amigos próximos saberem sobre seu próximo aniversário. Uma conversa com ela e a sempre ansiosa Chitose poderia ser uma ótima maneira de explorar possíveis maneiras de comemorar.

   Enquanto Amane planejava lentamente, mas com certeza, arranjos futuros, ele notou Mahiru olhando para ele atentamente. Ela parecia um pouco envergonhada e desconfortável, mas ainda visivelmente feliz enquanto se encolhia em uma bola.

   Amane não conseguiu evitar uma risadinha. “Você realmente não está acostumada a ter uma festa para você, não é, Mahiru? Nós mal planejamos alguma coisa ainda.”

“E-eu sei, mas...”

“Bem, estou feliz que você não parece se importar com a ideia... Então, isso significa que estarei nos bastidores para preparar uma festa para você. Por favor, me deixe escapar só dessa vez.”

   Mahiru riu. “Okay~.”

   Tendo já discutido sobre ele comemorar o aniversário dela, Amane sentiu que seria justo anunciar diretamente sua intenção de fazer arranjos em segredo. Ele imaginou que Mahiru perceberia isso no momento em que mencionasse o aniversário dela, mas, dado que queria evitar causar qualquer possível ansiedade sobre a celebração, decidiu pedir permissão para seu inevitável “comportamento suspeito”. Em resposta, Mahiru começou a rir alegremente.

   O leve sorriso e a voz brilhante de Mahiru trouxeram consigo uma sensação de alívio para Amane, e ele começou a acariciar sua cabeça enquanto ela se inclinava para seu toque com leve carência.

“Farei o meu melhor para fazer você o mais feliz possível. Também me esforçarei para pesquisar as coisas de vários ângulos e pontos de vista.”

“E você deixou tudo isso escapar na frente da própria pessoa?”

“Ah—”

“Hehe. Honestamente, você pode ser tão descuidado às vezes.”

“Não posso argumentar com você sobre isso. Você acertou em cheio.”

   Com isso, Mahiru riu, sua risada soando suave e melodiosamente como sinos.

“Vou esperar por isso.”

“Claro. Farei o meu melhor para atender às suas expectativas.”

“Certo. Nesse caso, estarei esperando ansiosamente.”

   Ver que Mahiru, que antes era indiferente, agora estava animada para a chegada de seu aniversário, deixou Amane mais feliz do que qualquer outra coisa. Com um aceno firme, ele decidiu naquele momento tornar o mês restante inesquecível para ela.

 

 

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