Vol 10
Capítulo 7: Visitantes Inesperados no Final do Ano
O café onde Amane trabalhava estaria fechado no Ano Novo, permitindo que ele relaxasse enquanto o ano chegava ao fim. Se ele realmente conseguiria relaxar, no entanto, era outra história.
✧ ₊ ✦ ₊ ✧
“Mahiru, é assim que você se organiza?”
Era véspera de Ano Novo, o último dia do ano. Amane e Mahiru haviam terminado a grande faxina no dia anterior na esperança de passar o último dia do ano tranquilamente, sem se preocupar com o tempo... mas isso era, claro, apenas uma ilusão. Assim como no ano anterior, Amane se viu na cozinha, ajudando Mahiru a preparar osechi, o prato tradicional japonês de Ano Novo.
Ao contrário do ano anterior, quando mal conseguia cozinhar, Amane agora era capaz de lidar com as coisas na cozinha, pelo menos em um nível fundamental. Como Mahiru geralmente se encarregava do jantar nos dias em que ele estava trabalhando, Amane achava errado deixar toda a cozinha para ela. Isso o tornaria uma péssima pessoa. Assim, ele se ofereceu para ajudar.
O ideal seria que Amane tivesse assumido a liderança no preparo da comida, mas, como mal sabia fazer osechi e só conseguia se lembrar vagamente do que continha, não havia como guiar o processo.
E assim, ele se estabeleceu no papel de assistente de Mahiru.
Após receber uma breve aula de corte decorativo com Mahiru, Amane fez o possível para fatiar o kamabokayo, embora tenha ficado um pouco mais desajeitado do que o exemplo dela. Quando ele mostrou a ela, Mahiru lhe deu um sorriso radiante e disse: “Perfeito, você está indo muito bem,” oferecendo-lhe uma estrela dourada de aprovação.
“Depois de cortá-los, por favor, arrume-os na parte inferior esquerda da caixa de jubako, alternando as cores à medida que avança.”
“Farei isso.”
Mahiru considerou a cor, o tamanho e a quantidade dos outros pratos de osechi que estavam preparando ou que haviam deixado para esfriar. Ela instruiu Amane enquanto imaginava o arranjo perfeito para a refeição final.
Enquanto ele posicionava cuidadosamente as fatias vermelhas e brancas na caixa de jubako de uma forma que se destacasse, exatamente como Mahiru havia instruído, Amane não pôde deixar de se maravilhar com a forma como ela conseguia realizar tantas tarefas simultaneamente. Ao mesmo tempo, sentiu-se um pouco culpado, percebendo que a havia deixado fazer tudo isso sozinha no ano passado.
“Só consigo imaginar pelo que você passou fazendo isso no ano passado...”
“Hehe, fico feliz que você entenda como isso pode ser demorado. Cada prato de osechi individual não é muito complicado, mas quando você adiciona mais, eles começam a se acumular. Exige muito tempo e esforço.”
“Não tenho palavras para agradecer por tudo o que você investiu nisso.”
“Por favor, não abaixe a cabeça, okay? Ainda estamos no meio do preparo.”
“Sim, senhora,” respondeu Amane.
Com o fogão e o forno funcionando a todo vapor, qualquer movimento descuidado poderia ser perigoso, então Amane manteve a calma e se concentrou nas tarefas ao seu alcance. Sua contribuição foi limitada, especialmente depois de quase queimar o tazukuri mais cedo. Daí em diante, seguiu as instruções de Mahiru à risca, ajudando a cozinhar.
“...Espera aí, eu meio que aceitei sem pensar muito, mas não é estranho você fazer osechi como se não fosse nada? Isso é realmente algo que as pessoas fazem do zero com tanta facilidade?”
“Tudo graças aos ensinamentos da Koyuki-san,” respondeu Mahiru. “Para garantir que eu estivesse preparada para qualquer situação, ela me ensinou todo tipo de coisa.”
“Quem é ela, exatamente...?”
“Ela diz ser uma dona de casa comum.”
“Comum, hein...?”
Não importa como você olhasse para isso, as habilidades de Koyuki estavam longe de ser comuns.
Embora Koyuki tivesse se tornado governanta da casa de Mahiru depois que sua própria filha já tinha idade suficiente para viver sem sua supervisão, ela devia ter atuado como dona de casa por muitos anos. O fato de ela não ser uma dona de casa qualquer ficava claro pela forma como ensinara a Mahiru habilidades perfeitas de dona de casa. Além disso, Koyuki até mesmo lhe proporcionara uma educação emocional completa. O que a tornava ainda mais notável era o fato de tratar Mahiru — que não era sua filha — com cuidado e carinho genuínos, oferecendo-lhe orientação sincera como se realmente fosse sua própria filha.
Amane realmente queria ressaltar que não havia nada de “comum” em Koyuki, mas como não eram próximos o suficiente para que ele a contatasse casualmente, não teve escolha a não ser deixar a ideia de lado.
“Olhar para a Koyuki-san faz você perder de vista o que ‘comum’ realmente significa.” comentou Mahiru.
“O mesmo vale para você, Mahiru.”
“Hã...?”
“Por favor, entenda o quão incrível você é.”
Koyuki era certamente uma mulher impressionante, mas o fato de Mahiru, que recebera educação especializada dela, ser igualmente notável não pareceu afetá-la. Mahiru se dedicava ao trabalho duro sem esforço e nunca pulava os treinos repetitivos, levando tudo na esportiva. Mas, na realidade, essas eram qualidades dignas de elogios, qualidades das quais ela deveria se orgulhar.
“É verdade, suponho que se possa dizer que me esforcei...”
“Sim, você é incrível. Sempre me impressiono e realmente a respeito por isso. É algo que você passou anos dominando — eu nunca conseguiria.”
“...Obrigada, mas bajulação não te levará a lugar nenhum.”
“...Achei que pelo menos te veria corar.”
Em momentos como esses, Mahiru poderia perder de vista o esforço que havia feito se Amane não a elogiasse. É por isso que Amane acreditava que deveria sempre expressar seus verdadeiros pensamentos sempre que possível. Ele não estava tentando bajulá-la — Mahiru realmente trabalhava duro e a respeitava pelas qualidades que faltava nele.
Mahiru achou um pouco constrangedor aceitar o elogio de frente, soltando um suspiro fofo enquanto murmurava: “Meu Deus!” O suspiro era de felicidade, e não de desprazer. Parecia que ela havia aceitado o elogio com propriedade.
“Vou permitir que você experimente em troca do elogio.”
Enquanto Mahiru tirava a massa de tâmara recém-assada do forno, Amane instintivamente deu um passo para trás, mantendo uma distância segura da assadeira quente — uma precaução que aprendera bem em seu trabalho e na preparação de bolos. Observando o pãozinho fumegante sair, ele não pôde deixar de exclamar: “Quentinho do forno!” com um toque de alegria.
O datemaki, que Amane achara tão delicioso no ano passado que comera mais do que o devido, agora estava fumegando e exalando um aroma maravilhoso. Só o aroma da massa já era suficiente para deixá-lo com água na boca de antecipação.
“...Por enquanto, só faltam os acompanhamentos. Ainda preciso enrolar enquanto está quente, então você vai ter que esperar,” disse Mahiru a Amane, que parecia um cachorro sendo instruído a esperar por um petisco. Seus ombros caíram de decepção, e Mahiru, achando graça, conteve o riso, os ombros tremendo enquanto ria baixinho e estendia a esteira de bambu para enrolar.
✧ ₊ ✦ ₊ ✧
Graças à ajuda de Amane, por mais modesto que fosse, o osechi que vinham preparando desde a manhã encheu as caixas de jubako antes do pôr do sol.
[Kura: Já estava com saudades de caps assim.]
Mesmo tendo feito porções menores e menos tipos de pratos, já que eram apenas os dois, Amane não pôde deixar de se maravilhar com a eficiência com que tudo havia se organizado.
Ainda há uma variedade impressionante aqui... pensou ele. Assim que admirou a grande seleção, Mahiru revelou casualmente: “Eu adiantei a preparação de alguns pratos ontem,” o que o fez admirar ainda mais sua habilidade e eficiência.
Só para constar, o datemaki estava delicioso. Sua textura recém-assada, fofa e úmida, oferecia uma doçura sutil e um toque de sabor dashi. Como era para a celebração de Ano Novo de amanhã, Amane foi repreendido com um firme “Mau!” após provar apenas uma fatia. Mesmo assim, saber que tinha algo pelo qual ansiar no dia seguinte o deixou mais do que satisfeito.
Com tudo pronto, só faltava deixá-los esfriar. Amane e Mahiru começaram a limpar a cozinha quando, de repente, o som da campainha ecoou pela cozinha e pela sala de estar. Ambos olharam para cima ao mesmo tempo, surpresos com a visita inesperada.
Amane não havia encomendado nada online e, se seus pais fossem enviar um pacote, teriam mandado uma mensagem no dia anterior — principalmente depois que ele os lembrou de fazer isso no outro dia. Isso deixava a possibilidade de Itsuki ou Chitose aparecerem, mas, mesmo sendo amigos próximos, parecia improvável que fizessem uma visita sem avisar na véspera de Ano Novo. Essa possibilidade foi rapidamente descartada. “Vou verificar o interfone rapidinho.”
“Certo,” respondeu Mahiru.
Talvez seja um vendedor porta a porta... pensou Amane. Mas quem viria fazer uma proposta de vendas justamente na véspera de Ano Novo? Confuso, inclinou a cabeça para o lado.
Não podia pedir a Mahiru, que segurava uma esponja molhada, para atender a porta, então secou rapidamente as mãos com uma toalha e verificou o painel de visitante que piscava. Ao olhar para a tela do interfone, congelou.
[Moon: Uma terça a noite, depois da janta com a esposa, alguém do nada toca a campainha… É bem assim o clima!]
“Quem apareceria em um momento como este...?” Amane começou a resmungar, apenas para parar no meio da frase. De certa forma, um de seus palpites estava certo, mas, por outro lado, estava completamente errado.
“Algum problema?” perguntou Mahiru.
“...Espere, o quê? Por quê?”
“Perdão?”
“São meu pai e Itsuki.”
“...Perdão?” Mahiru inclinou a cabeça, confusa, claramente tão perplexa quanto Amane com a situação inesperada.
[Kura: Completando a Mon: Esposa correndo para ver.]
Se fosse apenas Itsuki, Amane não teria ficado tão confusa, mas por que seu pai, que morava longe, estava ali — e por que com Itsuki a reboque? Amane não conseguia nem imaginar ou entender o que havia provocado essa situação inesperada.
“Não entendo. De fato eu não entendo. Por que meu pai está aqui? E por que com Itsuki? Não estou entendendo nada. Mas acho que devo deixá-los entrar por enquanto. Tudo bem?”
“Eu não me importo, mas...”
Amane primeiro pediu permissão a Mahiru, imaginando que Shuuto e Itsuki já soubessem que Mahiru estava lá. Embora um pouco perturbada, Mahiru concordou hesitante em deixá-los entrar.
Não querendo fazê-los esperar, Amane rapidamente os deixou passar pela entrada principal do prédio, decidindo que seria melhor pedir uma explicação assim que estivessem lá dentro. De fato, poucos minutos depois, a campainha tocou. Quando ele abriu a porta, lá estavam eles — Itsuki e seu pai, Shuuto. Era uma combinação tão estranha que nem Mahiru conseguiu esconder sua confusão enquanto estava ao lado de Amane.
“Desculpe por aparecer em um momento tão estranho. Tenho certeza de que os surpreendemos,” disse Shuuto com um sorriso de desculpas.
“Honestamente, sim. Estou definitivamente surpreso, mas enfim...” Olhando para o lado, Amane notou Itsuki parado ali, com roupas relativamente leves — nada adequadas para o auge do inverno. Ele não estava vestido para o frio e sua pele parecia cansada. Algo não batia.
“...Desculpe, Shiina-san. Devemos estar incomodando você.”
“Tudo bem. Estávamos quase terminando nosso trabalho, então não se preocupe. Vou preparar algumas bebidas quentes para vocês agora.” Vendo que Itsuki parecia prestes a pegar um resfriado, Mahiru rapidamente lançou um olhar para Amane antes de acenar educadamente para os dois e ir para a cozinha.
Amane gesticulou para que os dois entrassem e se acomodassem.
Shuuto entrou com um sorriso calmo, enquanto Itsuki, parecendo inquieto e evitando qualquer contato visual, hesitou por um momento antes de entrar em seu apartamento.
✧ ₊ ✦ ₊ ✧
O vapor subia suavemente da caneca sobre a mesa, indo em direção a Itsuki como se quisesse trazer vida de volta ao seu rosto pálido. Como ele parecia estar com frio, Mahiru preparou um chá de mel e gengibre para aquecê-lo, enquanto para Shuuto, seu chá preto favorito.
Mahiru, que havia escolhido as bebidas com base em suas preferências e condições, entregou discretamente um cobertor a Itsuki, que estava levemente vestido. Em seguida, pegou uma almofada e sentou-se formalmente ajoelhada ao lado de Amane, que estava sentado no chão.
“Tenho certeza de que vocês têm muitas perguntas, mas deixem-me falar primeiro,” começou Shuuto.
“Faz um tempo, não é, Amane, Shiina-san?”
Amane, ciente do humor de Itsuki e esperando que ele se abrisse por conta própria, decidiu primeiro perguntar a Shuuto o motivo de sua visita. No entanto, antes que pudesse dizer qualquer coisa, Shuuto começou a falar com seu sorriso alegre, já o entendendo sem dizer uma palavra.
“Você diz que já faz um tempo, mas veio ao nosso festival cultural.”
“É, mas dois meses ainda contam como ‘um tempo’, não acha?”
“Exatamente,” Mahiru interrompeu.
“Não nos vemos há dois meses. Shuuto-san, já faz um tempo. Mais uma vez, obrigada pelo presente de Natal. Estou fazendo bom uso dele.”
Embora Mahiru já tivesse expressado sua gratidão pelo presente por mensagens e videochamadas, ela parecia determinada a agradecê-lo pessoalmente. Ela curvou a cabeça educadamente. Como havia mencionado, havia pouco tempo desde o Natal, mas ela estava usando o presente para suas tarefas e tempo de estudo individual. Ela estava genuinamente satisfeita com a praticidade.
“Fico feliz em ouvir isso. Eu estava preocupado que pudesse ter sido um incômodo,” disse Shuuto.
“Um incômodo? De jeito nenhum! Gostei muito e me deixou muito feliz!”
Vendo sua reação confusa, Shuuto sorriu calorosamente, provavelmente sabendo o tempo todo que Mahiru guardaria o presente com carinho e o usaria com cuidado.
“Então, posso ouvir o que vocês realmente vieram falar?” perguntou Amane.
“Claro. Eu disse que viria esta manhã, mas parece que você não viu,” respondeu Shuuto com uma risadinha.
“Sério? Uau, você tem razão. Eu estava ajudando a Mahiru a fazer os pratos osechi deste ano, então não olhei meu celular... Desculpa, a culpa é minha.”
Quando Amane olhou seu celular, exatamente como Shuuto havia dito, havia duas mensagens não lidas dele, que comunicavam seu plano de visita. Como Amane havia dito aos pais que estaria em casa na véspera de Ano Novo, Shuuto provavelmente estava confiante de que ele estaria lá, mesmo sem resposta. Foi descuido de Amane por não ter verificado o celular, então ele não podia culpar Shuuto por aparecer sem que ele soubesse.
“Eu deveria ter te avisado ontem. Desculpe por isso. Deve ter sido uma grande surpresa da sua parte…” desculpou-se Shuuto.
“Bem, sim — eu fiquei surpreso, mas não foi exatamente por você que eu fiquei surpreso.”
Não foi o fato de Itsuki ou Shuuto terem visitado o suficiente para fazê-lo cair em choque. O que surpreendeu Amane foi que os dois — que quase não tinham contato um com o outro — tinham vindo juntos.
[Moon: Papo de “uma vez na vida, outra…”. Mas que essa combinação é estranhamente satisfatória… Bom, vamos ver como vai desenrolar!]
“Primeiro de tudo, você gostaria de saber por que eu vim aqui, certo? Bem, meu motivo não é complicado. Eu tinha alguns negócios inevitáveis por aqui, e já que estava nisso... Bem, acho que se pode dizer que esse era meu verdadeiro objetivo. Vim ver como você estava.”, explicou Shuuto.
“É, eu já imaginava. Faz sentido,” respondeu Amane. “Se tivesse sido a mãe dizendo isso, eu não teria acreditado nela nem por um segundo.”
Em uma de suas mensagens, Shuuto mencionou que tinha negócios por perto e planejava passar por lá na volta, o que levou a Amane. Não era nada estranho. Shuuto não decidiria de repente pegar um trem-bala ou dirigir até lá só para ver como alguém estava sem um motivo sólido. Agora, se tivesse sido Shihoko, bem... era de fato uma possibilidade.
“Isso não é muito legal.”
“Bem, se fosse a mãe, ela obviamente teria vindo só para ver Mahiru. Ela provavelmente até inventaria alguma desculpa para isso.”
“Sim, você tem razão. Shihoko-san estava fazendo beicinho mais cedo porque queria vir comigo.”
Amane não conseguiu evitar um sorriso irônico ao ouvir a menção de sua mãe, que continuava tão obcecada por Mahiru como sempre. Mahiru, embora envergonhada, não conseguiu esconder a felicidade que isso trazia, suas sobrancelhas se arqueando levemente em um sorriso tímido, mas satisfeito.
“Então, por que você está com o Itsuki? Você o tem como contato ou algo assim?”
“Não, nada disso... Eu só o vi sozinho no parque a caminho daqui, então o chamei. Ele me pareceu familiar, então estou feliz por não ter me enganado.”
Sua memória estava tão afiada como sempre; Shuuto avistou Itsuki e decidiu levá-lo junto.
“...Parecia que você estava lá fora há um bom tempo, Itsuki. Aconteceu alguma coisa?” Amane perguntou, preocupado.
Graças ao chá de mel e gengibre, ao cobertor e ao ar quente no quarto, a pele de Itsuki melhorou muito, voltando gradualmente ao normal. No entanto, a expressão preocupada em seu rosto permaneceu inalterada.
Itsuki sempre fora sensível ao frio. Amane não conseguia imaginá-lo saindo de casa com roupas leves naquela época do ano, e a ideia de vê-lo sentado sozinho em um parque sem fazer nada era ainda mais incomum. Algo havia acontecido que o fez sair correndo de casa — pelo menos, era o palpite de Amane.
“Bem, uh... Como eu explico isso...” Itsuki hesitou.
“Você brigou com seu pai, não brigou?”
Para o Itsuki fugir daquele jeito geralmente era por esse motivo. Como era véspera de Ano Novo, ele provavelmente estava passando mais tempo em casa com a família e, dada a tensão existente entre ele e o pai, não era surpresa que eles acabassem em algum tipo de discussão.
“O que causou isso desta vez?” perguntou Amane.
“...Desta vez, a culpa não é toda do meu pai. Ele não foi exatamente a causa direta...”
“E com isso você quer dizer?”
“Como é fim de ano, meus irmãos voltaram para casa a contragosto. Aí, meu pai e meu irmão mais velho começaram uma de suas discussões habituais... e eu meio que fiquei no meio do fogo cruzado. Então, saí para clarear a mente e, bem, olhar para o horizonte, eu acho?”
“...Seu irmão causou a briga?”
“Basicamente.”
Juntando as palavras de Itsuki, seu irmão mais velho — que estava morando longe de casa com a companheira devido a problemas familiares — voltou para as festas de fim de ano. Isso se transformou em uma discussão com o pai deles, Daiki, que resultou em Itsuki sendo arrastado para a briga. Frustrado, Itsuki saiu furioso de casa. Shuuto, que por acaso estava passando por ali, o viu e o trouxe junto, provavelmente para dar uma olhada e ficar de olho nele.
[Moon: Uma viagem ao redor do mundo, esse efeito borboleta 🦋]
“E o Daiki-san sabe que você saiu?”
“Ele pode ter notado quando eu saí furioso, mas estava imerso numa discussão com meu irmão, então é difícil dizer... Você sabe como o herdeiro da família vem em primeiro lugar e tudo mais.”
Pelo tom resignado de Itsuki e sua expressão exausta e melancólica, Amane inferiu que a atmosfera em casa estava mais do que tensa. Normalmente, Itsuki sempre mantinha uma atitude otimista. Ele nunca deixava que os outros vissem o que ele estava passando. Mas agora, ele estava visivelmente exausto.
“O que você quer fazer, Itsuki?”
“É isso que eu quero saber... Não tenho ideia. O que eu quero fazer? O que eu devo fazer?”
“...A discussão aconteceu porque seu irmão disse que ainda não quer herdar a família ou algo assim?”
Itsuki se encolheu levemente, seu corpo se tensionando enquanto sua boca formava uma carranca.
Considerando o que Amane sabia sobre Daiki, ele não parecia ser um homem que se irritaria sem motivo. Ele era severo, mas não irracional. Então, para ele ter uma discussão tão acalorada, algo terrível havia acontecido. Amane supôs que o futuro da família Akazawa estava em jogo, o que envolvia tanto Itsuki quanto seu irmão mais velho. Como se viu, sua previsão não estava muito longe da verdade.
“Ele não se recusou abertamente a assumir o comando, mas... Bem, meu irmão permaneceu calmo, mas ainda assim demonstrou sua resistência. Ele disse coisas como: ‘Pai, se você continua tão arraigado depois de tanto tempo, então eu...’ E quando tentei intervir e mediar, ambos me calaram. ‘Crianças não devem falar’ e ‘Você não precisa herdar nada, então nunca entenderia!’, eles disseram. Então, sim, não havia muito o que eu pudesse fazer.”
“Itsuki...”
“Tipo, o que eles querem de mim? Eles deveriam aprender como é ser constantemente arrastado para essa maldita confusão.” As palavras amargas de Itsuki refletiam seus verdadeiros sentimentos.
Em sua situação atual, como segundo filho, Itsuki se encontrava em uma espécie de limbo — ele era um reserva, por assim dizer. Ele tinha algum grau de liberdade, mas permanecia preso à responsabilidade, como um balão flutuando sem rumo, mas ainda preso por um fio. Com as duas pessoas segurando aquele fio constantemente em conflito, não era de se admirar que Itsuki, preso nessa posição incerta, estivesse sendo abalado e jogado de um lado para o outro emocionalmente.
Mesmo assim, a frustração pesava mais sobre Itsuki do que a raiva. Ele agarrou o cobertor com força e soltou um suspiro profundo.
“...Hum, Shuuto-san, posso te perguntar uma coisa?” Itsuki falou hesitante.
“Se for algo que eu possa responder, terei o maior prazer.”
Itsuki provavelmente queria fazer perguntas a um adulto sem relação com ele e suas circunstâncias. Shuuto não alteraria suas opiniões nem amenizaria as coisas só porque Itsuki era amigo de seu filho. Amane podia dizer com segurança que seu pai sempre falaria o que pensava sem preconceitos ou considerações indesejadas.
“Shuuto-san... você gostaria que seu filho assumisse o seu lugar?”
“Antes de responder, lembre-se de que só posso falar como alguém que não está vinculado à responsabilidade de transmitir um legado. Isso afetará minha resposta.”
Shuuto não conhecia todos os detalhes da situação de Itsuki. Como Amane respeitava a privacidade de Itsuki, ele nunca havia compartilhado os problemas do amigo com os pais. Shuuto teria que basear sua resposta no que acabara de ouvir e em seu breve encontro recente com Daiki.
“Minha família não possui um legado importante o suficiente para ser transmitido, então minha resposta pode ser um pouco diferente do que você busca, Itsuki-kun. Mas acho que ver o filho trilhar o mesmo caminho deixaria qualquer pai feliz. Isso significa que eles superaram seus pais e continuam em frente.”
A família Fujimiya não era uma família distinta como os Akazawas e, embora algumas coisas fossem passadas de geração em geração, eles eram uma família comum. Shuuto não conseguia compreender completamente a profundidade das lutas específicas de Itsuki, mas estava ciente disso e continuou sua explicação pensativamente.
“No entanto,” continuou Shuuto, com a voz severa, “eu também acredito que não é algo que devemos forçar. Considerando meus métodos mais relaxados, talvez seja mais fácil para mim dizer isso, mas se uma linhagem familiar termina, ela termina. Não há mais nada a se fazer. Eu pessoalmente não me preocuparia.”
“...Mesmo que isso signifique encerrar um caminho seguido por gerações?” Itsuki prosseguiu, perguntando novamente.
“Sim, mesmo assim. Claro, me deixaria feliz ver meu filho continuar no caminho que eu já trilhei. Mas, no fim das contas, pretendo deixar essa decisão para ele.”
“Pai...” Amane murmurou, tocado por suas palavras.
“Ah, não me entenda mal. Não acho que preservar um legado familiar seja inerentemente ruim,” esclareceu Shuuto. “Passar adiante algo que foi confiado de geração em geração é importante. Há coisas hoje que só existem por causa disso. Também não estou dizendo que seu pai tenha uma mentalidade falha.”
“Entendo,” respondeu Itsuki solenemente.
“No entanto, não acredito que forçar vá levar a algo bom. As pessoas resistem mais quanto mais pressionadas,” disse Shuuto com um sorriso fraco e agridoce enquanto olhava para o longe. “No fim das contas, pais e filhos são indivíduos separados — pessoas completamente diferentes. Mesmo que um pai deseje que seu filho se torne isso ou aja assim, isso não significa necessariamente que isso acontecerá. Nem significa que os pais devam ter o direito de decidir tudo por seus filhos. As coisas raramente saem exatamente como planejado. Na verdade, eu também me rebelei contra meus pais quando era mais jovem.”
“Espera, o quê?”
“Eu não era exatamente uma criança bem-comportada. Estava sempre causando problemas para os meus pais.”
Amane sempre achou que seu pai e seus avós paternos se davam muito bem, pois nunca tinham discussões ou conflitos — um relacionamento ideal entre pais e filhos. Mas, de acordo com Shuuto, esse nem sempre foi o caso durante sua juventude. Agora, ele não passava de um adulto calmo e gentil, e até Amane o via como uma pessoa equilibrada. Mas, de acordo com o próprio Shuuto, “eu era um pouco difícil naquela época,” para a surpresa de Amane.
“Então, Itsuki-kun, você está tendo dificuldades para lidar com seu futuro por causa da situação da sua família, certo?” perguntou Shuuto gentilmente.
“...Sim,” Itsuki assentiu com uma expressão preocupada, sobrecarregado pelas questões envolvendo Daiki, Chitose, o legado da família e a questão da sucessão.
Vendo isso, Shuuto continuou, com o rosto calmo e reconfortante. “Vindo de mim, as palavras que estou prestes a dizer podem soar irresponsáveis. Mas, pelo que posso perceber, seu pai parece o tipo de homem que consegue sentar e conversar.”
“Isso não é...”
“Eu entendo, Itsuki-kun. Para você, não é assim que as coisas parecem. Seu pai provavelmente parece teimoso e indiferente aos seus sentimentos. Mas não acredito que ele seja realmente um homem irracional e inflexível que não ouve nada,” continuou Shuuto calmamente.
Amane sentia o mesmo. Daiki não era um homem teimoso e inflexível que se recusava a ouvir os filhos ou que se limitava a seguir seus próprios caminhos. Daiki não teria levado as palavras de Amane a sério se fosse tão rígido ao se aproximar. Daiki era um homem firme, com princípios e um claro senso de direção, mas também era capaz de ser caloroso. Amane acreditava que, após o incidente com Itsuki e Chitose, Daiki havia se tornado mais rígido por preocupação com o filho, e essas preocupações o tornavam mais inflexível.
“No momento, imagino que você não conseguiu fazer seu pai sentar e ter uma conversa de verdade. Não o vejo mentalmente preparado para essa fase ainda.”
“Sentar...?”
“O que quero dizer é que a preparação é necessária para tudo. Não se pode ter uma discussão construtiva no meio de uma tempestade.”
Shuuto tomou um gole de seu chá, que já estava esfriando, com o olhar firme enquanto olhava para Itsuki. Seu olhar era suave e compassivo, mas, ao mesmo tempo, penetrante.
Ele foi direto ao cerne da questão.
“O ego dos pais tende a se manifestar em momentos como este. Imagino que as preocupações do seu pai sejam uma mistura do que ele acredita ser o melhor para si mesmo e para você. Provavelmente é por isso que ele está sendo tão teimoso.”
“Você realmente acha que ele acredita que é por mim?” Itsuki respondeu, com a voz embargada pela dúvida.
“Até os pais podem perder de vista o que está ao seu redor. Sua visão se turva e eles ignoram o que é realmente importante para eles. Coisas que fazem com as melhores intenções podem se tornar algemas para seus filhos. Este é o resultado. Você nunca fez algo que achava certo, apenas para que isso levasse a uma situação que — embora não fosse o pior cenário — ainda estava longe do ideal?”
Itsuki mordeu o lábio, claramente se lembrando de algo do passado. Qualquer que fosse a lembrança que surgiu, deve ter tocado em algo. Após alguns momentos de silêncio, Itsuki perguntou baixinho. “O que... eu devo fazer?”
“O que você realmente quer, Itsuki-kun?” Shuuto respondeu gentilmente.
“Estar com a Chi... com a Chitose.”
“E o que seu pai quer?”
O rosto de Itsuki ficou amargo. “Obviamente, que eu termine com ela o mais rápido possível.”
“Não, isso está errado.”
“Amane?”
“Não acho que seja isso que ele realmente quer,” disse Amane, com a voz firme.
Amane não estava tentando defender Daiki. Emocionalmente, ele estava do lado de Itsuki. No entanto, não concordava totalmente com a crença de Itsuki de que Daiki estava tentando separá-lo de Chitose à força. Era verdade que Daiki ainda não havia aceitado ou reconhecido Chitose completamente, mas também não havia tentado ativamente se livrar dela. Na verdade, da perspectiva de Amane, parecia que Daiki queria aceitá-la, mesmo que lutasse para isso.
No entanto, parecia que Daiki estava lutando com algo que não conseguia aceitar totalmente, então ele lutava para aceitar a situação.
“Você só está dizendo isso porque tem um motivo para sustentar isso, certo?” Itsuki prosseguiu.
“...Eu sei que é ruim tirar conclusões precipitadas sobre os pais de outras pessoas, mas não acho que o Daiki-san queira forçar você a terminar com a Chitose,” respondeu Amane, organizando seus pensamentos. “Pelo menos, nunca o ouvi dizer algo como ‘você deveria terminar’.”
“Você não acha que ele se conteve quando você estava por perto porque é meu amigo?”
“Eu também considerei isso, mas não acho que seja isso que esteja acontecendo.”
“...Se for, então deve ser assim que parece para você. Mas, para mim, parece que ele já se decidiu há muito tempo — que eu preciso terminar com a Chi.”
Era natural que a visão de Amane sobre Daiki fosse diferente da de seu próprio filho. Para Itsuki, provavelmente parecia que seu amigo estava defendendo a própria pessoa que era a causa de todas as suas frustrações. Amane notou um rubor se espalhar pelo rosto antes pálido de Itsuki.
“Meu pai não é nada parecido com o seu! Seus pais se importam de verdade com você! Meu pai não dá a mínima para o que eu sinto!”
No momento em que as palavras saíram de sua boca, o rosto de Itsuki ficou sombrio. Ele rapidamente percebeu que havia deixado as emoções tomarem conta dele. O arrependimento o atingiu instantaneamente, e seus ombros, antes tensos, caíram. Com um olhar sério, quase de dor, ele murmurou: “Desculpe...” de um jeito que fez até Amane se sentir um pouco culpado.
“Não se preocupe com isso,” respondeu Amane. “Eu entendo. É frustrante quando alguém que não entende de verdade a situação tenta falar como se entendesse, e deve ter parecido que eu estava do lado de Daiki-san. Você não tem culpa, Itsuki. Eu errei. Sinto muito mesmo.”
Ficar ao lado dele e concordar com tudo o que ele dizia não era amizade verdadeira nem carinho — era apenas uma maneira de evitar conflitos e superar o momento. Não era isso que Amane queria fazer por Itsuki. Fazer isso trairia a confiança que Itsuki depositara nele. Amane sabia que seu amigo estava genuinamente lutando para encontrar seu caminho, e não queria simplesmente deixá-lo preso, evitando o assunto. A realidade era que Amane havia defendido Daiki parcialmente, o que só alimentou ainda mais a raiva de Itsuki. Ele se arrependia genuinamente disso e sabia que Itsuki tinha todo o direito de estar chateado.
“...Seu idiota. Por que você está se desculpando?”
“Porque eu estava errado.”
“Até parece. Eu simplesmente fiquei bravo e descontei em você sem motivo. Você não está errado. Estou sentado aqui, reclamando e choramingando como um bêbado patético.”
“Bêbado? O quê, por causa de chá de gengibre com mel?”
“Cala a boca, cara,” resmungou Itsuki.
[Moon: Kkkk Apesar de tudo, ainda tem uns momentos de zoeira entre os dois! Deixa o clima bem mais leve!]
Sabendo como Itsuki era, Amane tentou deliberadamente aliviar o clima, pois manter a conversa séria demais por muito tempo não ajudaria. Itsuki pareceu entender e entrou na brincadeira, ainda que um pouco teatralmente. Embora sua frustração não tivesse desaparecido completamente, ele não parecia mais inclinado a desabafar em Amane. Em vez disso, Itsuki engoliu a raiva e tentou mostrar seu sorriso radiante de sempre.
Shuuto, que observava em silêncio, sem interromper, esperou até que a tensão entre Amane e Itsuki diminuísse antes de falar novamente.
“Minha postura como pai difere da do Daiki-san, então não posso dizer muito,” começou Shuuto. “Mas, mesmo que seja apenas uma vez, acho importante ter uma conversa calma com ele. Eu também não o vejo como alguém que descartaria tudo sem pensar. Eu também entendo seu ponto, Itsuki, sobre sentir que ele não escuta... É por isso que, ao se aproximar dele, você precisa jogar suas cartas corretamente para garantir que o alcance.”
“Minhas cartas?”
“Pontos fracos, vantagens, desvantagens... qualquer coisa serve,” explicou Shuuto. “Se você não consegue fazê-lo sentar e conversar, não há conversa para se ter. Perceba que fazê-lo entender ou conquistá-lo sem qualquer influência é uma tarefa quase impossível. Lembre-se de que os pais já têm cartas poderosas apenas em virtude de sua posição. Da perspectiva de uma criança, pode parecer uma vantagem injusta desde o início.”
“...Então, sem essa influência, é como se não houvesse sentido em ter uma conversa,” observou Itsuki com um suspiro.
“Eu não diria que é inútil, mas, no mínimo, é improvável que ele ouça. O ideal seria que vocês pudessem sentar e ter uma conversa honesta sem nenhuma barganha envolvida. Mas o fato de não terem conseguido fazer isso até agora é exatamente o motivo de estarem com dificuldades, não é?”
“...Certo.”
“Seu pai provavelmente não te vê como um igual. Ele ainda te vê como uma criança que precisa ser protegida e acredita que você deve seguir as palavras dele como pai.”
Itsuki provavelmente sentiu isso também. Havia uma tensão palpável em seu rosto enquanto seu maxilar se contraía.
“Você não quer que as coisas desabem completamente com seu pai, certo, Itsuki-kun? Nesse caso, você precisa arquitetar uma situação que o arraste para a mesa de negociações. Se você reagir impulsivamente ou se rebelar de forma imprudente, isso só o fará redobrar a aposta.” Apesar de ter conversado com Daiki brevemente, Shuuto parecia ter um profundo conhecimento de sua personalidade.
Amane também não estava profundamente envolvido na situação, então era simplesmente um caso de a impressão que Shuuto tinha de Daiki corresponder ao que Amane havia observado. No mínimo, não parecia que a percepção de Itsuki sobre seu pai fosse tão diferente da deles quanto ele poderia imaginar.
“Nem todos são compreensivos e nem todos compartilham os mesmos valores. Haverá pessoas que não querem o que você quer. Se algo é certo ou errado pode ser interpretado de muitas maneiras.”
“...Então, mesmo que eu não acredite que o que meu pai diz seja o melhor para mim, ele acha que é a coisa certa da perspectiva dele. É isso que você quer dizer?”
“E vice-versa,” continuou Shuuto. “O que você quer pode não parecer necessariamente benéfico para seu pai. É por isso que nenhum de vocês pode recuar tão facilmente.”
“...Mas eu...” Itsuki começou, contanto hesitou.
“Por esse exato motivo, você precisa tomar medidas para trazê-lo à mesa. Se quiser evitar o pior cenário, o caminho mais seguro é preparar uma ou duas moedas de troca.”
O “pior resultado” ao qual Shuuto se referiu provavelmente seria cortar laços com sua família e deixar a casa para sempre. Itsuki provavelmente já havia considerado essa possibilidade. No entanto, tomar uma atitude tão ousada acarretaria riscos significativos, e Amane não achava que Chitose quisesse que Itsuki seguisse esse caminho. Se descobrisse que Itsuki estava rompendo laços com a família por ela, o convenceria a desistir. Afinal, Chitose vinha lutando para obter a aprovação de Daiki para que a posição de Itsuki permanecesse inalterada. Amane não conseguia imaginá-la concordando com o afastamento de Itsuki da família.
“Depois de escolher suas cartas, você precisa descobrir exatamente o que quer, Itsuki-kun,” aconselhou Shuuto. “Qual é o seu desejo? Como você pode realisticamente realizar esse desejo? Você definiu alguma meta concreta? E quanto está disposto a ceder? É melhor resolver tudo isso antes de conversar. Se tudo o que você oferece é uma vaga esperança sem um plano claro, então vá em frente presumindo que seu pai não o levará a sério. Ele seria bastante rigoroso com relação a isso, particularmente, imagino.”
Com sua teimosia, inabalável e insistente, Daiki não aceitava argumentos indiferentes. Itsuki também entendia isso, apertando os lábios e franzindo a testa, pensativo. Vendo isso, Shuuto silenciosamente encorajou Itsuki gentilmente enquanto ele processava tudo.
“Se, depois de fazer tudo o que puder, ainda não conseguir chegar a um acordo, então estou disposto a me tornar uma de suas cartas na manga também. Ter outro adulto ao seu lado pode ser um trunfo poderoso,” Shuuto ofereceu.
“...Por que você está disposto a ir tão longe para me apoiar? Acho que não fiz nada para merecer seu favor, e não há nada para você ganhar com isso.”
Itsuki não conseguia entender por que Shuuto estava tão disposto a ajudá-lo. De sua perspectiva, Shuuto era simplesmente o pai de Amane, alguém com quem ele não tinha nenhuma relação direta. Tirando uma breve saudação há cerca de dois meses, Shuuto era praticamente um estranho para ele. É claro que Itsuki desconfiaria. Shuuto não apenas ouviu atentamente e deu conselhos; Ele até se ofereceu para intervir e oferecer ajuda diretamente — algo que Itsuki naturalmente achou estranho. Se Amane estivesse no lugar de Itsuki e Daiki, por exemplo, e de repente ele se envolvesse e demonstrasse tanto apoio, Amane provavelmente ficaria igualmente cético, imaginando se havia algum motivo oculto por trás disso.
Shuuto piscou algumas vezes e depois sorriu gentilmente para dissipar quaisquer suspeitas ou dúvidas.
“Tenho uma dívida de gratidão,” disse Shuuto com um sorriso calmo.
“Uma dívida...?” Itsuki perguntou, confuso.
“Acredito que foi você quem salvou meu filho, Amane. Porque você estendeu a mão para ele e lhe ofereceu sua, meu filho evitou trilhar um caminho sombrio. E agora, ele está vivendo em paz, simples assim,” disse Shuuto com um sorriso.
“...Esse motivo o satisfaria?”
Shuuto apreciava a presença de Itsuki na vida de Amane muito mais do que esperava.
Amane nunca havia discutido Itsuki com seus pais em detalhes, mas eles entendiam que ele era um de seus amigos mais próximos e alguém em quem realmente podia confiar. Quando Amane se recolheu em sua concha, seus pais foram os mais preocupados com seu bem-estar. Eles ficaram preocupados quando ele decidiu se distanciar de todo o barulho e agitação de sua cidade natal e se dirigiu para um lugar onde ninguém o conhecia, mas ainda assim lhe ofereceram apoio.
Agora, Amane percebia o quão grato Shuuto havia sido a Itsuki — muito mais do que Amane imaginava. Itsuki o aceitara como amigo quando Amane escolheu ficar sozinho.
...Isso é bastante constrangedor para mim, no entanto... Amane pensou.
Ouvir seus pais expressarem gratidão ao seu amigo simplesmente por ser seu amigo era o suficiente para envergonhar qualquer filho. Amane certamente se sentia assim, mas sabendo que tanto Itsuki quanto Shuuto provavelmente considerariam qualquer resposta que ele desse apenas como timidez, ele decidiu ficar em silêncio.
“Se isso não for motivo suficiente, então...” Shuuto continuou pensativo, “Vou dizer o seguinte: não estou tentando apontar culpados, mas não acho que a atitude do seu pai em relação a você possa ser considerada justa. Como indivíduo, gostaria de apoiar e zelar pelas suas escolhas, Itsuki-kun. Tenho uma queda por aqueles que são sinceros e determinados em suas buscas. É uma boa qualidade para se possuir.”
Desta vez, Shuuto expressou seu carinho por Itsuki em um tom despreocupado. Itsuki foi pego de surpresa por um momento e encarou Shuuto, que continuou a demonstrar sua gentileza. Então, como se estivesse tentando se conter, as sobrancelhas de Itsuki se curvaram e uma expressão suave, quase resignada, tomou conta de seu rosto.
“...Isso não é justo.”
Apesar de ter um pressentimento sobre o que Itsuki queria dizer com “não é justo,” Amane permaneceu em silêncio, simplesmente observando o amigo enquanto ele refletia em silêncio. Shuuto também não disse mais nada. Paciente e silenciosamente, observou Itsuki sentado com a cabeça baixa, esperando que ele tomasse uma decisão.
✧ ₊ ✦ ₊ ✧
“Aqui, Itsuki. Não pegue um resfriado.”
Depois de permanecer em silêncio por um tempo, Itsuki finalmente decidiu ir para casa antes que o sol se pusesse completamente. Agradeceu a Amane e seguiu em direção à porta da frente.
Itsuki caminhou com um propósito renovado, muito mais sereno do que quando chegou. Ao ver isso, Amane sentiu-se à vontade. Silenciosamente, pegou um casaco e um cachecol no quarto. Enquanto Itsuki se abaixava para calçar os sapatos, Amane colocou delicadamente os itens em sua cabeça.
Assustado com a escuridão repentina que cobria sua visão, a confusão momentânea de Itsuki fez Amane rir por um instante. Itsuki levantou o casaco e o cachecol, segurando-os nos braços. Seus olhos — não mais ardendo de frustração — encontraram os de Amane.
“...Obrigado,” murmurou ele.
“Devolva-os na próxima vez que nos encontrarmos. Espero que você não fique com essa cara triste quando nos vermos novamente.” respondeu Amane, provocando.
“Você não pode simplesmente dizer que está preocupado comigo? Qual é.”
“Se eu dissesse, você fingiria que está tudo bem.” Amane sabia que tinha o mesmo hábito, mas Itsuki tinha uma inclinação ainda maior de arcar com tudo sozinho.
Itsuki sempre se exibia com uma fachada alegre e despreocupada, tentando agir de forma brincalhona e tranquila. No entanto, agora que Amane o conhecia bem, conseguia enxergar além daquela fachada. Por dentro, Itsuki era sério, reservado e tinha um forte senso de responsabilidade — alguém que acreditava não poder confiar nos outros. Era como se usasse uma máscara para esconder seus verdadeiros sentimentos e o que estava passando.
Não era difícil imaginar que ele era do tipo que carregava sua dor e ansiedade sozinho. Ele sempre teve o hábito de suportar até estar à beira do colapso, algo que Amane há muito desejava mudar. Desta vez, porém, mesmo que tenha sido o gentil encorajamento de Shuuto que o motivou, Itsuki buscou apoio. Esse gesto deixou Amane genuinamente feliz.
Itsuki fez uma careta ao ouvir o comentário de Amane, mas o fato de poder reagir daquela forma era um sinal de que seu coração havia se acalmado notavelmente. Ao ver isso, Amane riu mais uma vez.
“Bem, se as coisas derem errado, sinta-se à vontade para ficar aqui se precisar de um lugar para resolver as coisas. Só não guarde tudo para si,” disse Amane, com um tom leve, porém sério. “E também...”
“...Que foi?”
“Não tente resolver tudo por conta própria.”
“O quê?”
“É um problema da sua família, sim, mas também é um problema que envolve você, a Chitose e o Daiki-san. Eu entendo que você não queira dizer nada para a Chitose, pois você não quer machucá-la. Eu entendo mesmo. Mas se você tentar lidar com tudo sozinho, ela provavelmente não aceitaria isso.”
Itsuki provavelmente acreditava que, como ele tecnicamente havia começado o problema, era sua única responsabilidade lidar com ele até o fim. No entanto, Amane não conseguia imaginar Chitose concordando com essa mentalidade.
“Se você quer passar o seu futuro com a Chitose, não perguntar o que ela pensa sobre isso seria uma injustiça,” disse Amane com firmeza. “Se você contar tudo a ela depois do ocorrido, ela com certeza vai ficar brava.”
Seja por reconciliação, por manter as coisas como estavam ou por cortar laços, o fato de Itsuki não ter discutido as coisas com Chitose primeiro certamente causaria um rompimento entre eles. Negociar sem uma das pessoas-chave envolvidas nunca levaria a um futuro em que todos estivessem satisfeitos.
Sabendo disso, Amane ofereceu um aviso e um lembrete ao sempre autoconfiante Itsuki. Amane notou os olhos do amigo se moverem de forma estranha, como se tivesse percebido que havia sido pego de surpresa.
“...Agindo como se tivesse me descoberto,” resmungou Itsuki.
“Há quanto tempo você acha que sou seu amigo?”
“Mal faz um ano e meio, seu idiota.”
“Faz mesmo tão pouco tempo?”
“...É, nem me conte.”
Amane sentiu como se já tivessem tido uma conversa semelhante antes, só que com os papéis invertidos, então hoje deve ter sido a maneira de Itsuki retribuir o favor. Quando Amane sorriu com a nostalgia, Itsuki não pôde deixar de abrir seu melhor sorriso do dia, um sinal de que finalmente havia feito as pazes.
✧ ₊ ✦ ₊ ✧
“O Itsuki-kun estava bem?” Shuuto perguntou com uma voz preocupada enquanto Amane retornava à sala de estar após se despedir de Itsuki.
“Por enquanto, ele pelo menos se recompôs. O resto é com ele, e isso é tudo o que posso dizer.”
“Concordo. Talvez eu tenha exagerado ao me intrometer demais nos assuntos de outra família. Só espero que o Itsuki-kun encontre um jeito de seguir em frente,” acrescentou Shuuto.
“...Sim.”
“Cada família tem seus próprios desafios a enfrentar,” murmurou Shuuto com sinceridade.
“Peço sinceras desculpas por todos os problemas que causei naquela época.” Como o causador dos desafios de Shuuto no passado, Amane só conseguiu abaixar a cabeça profundamente, incapaz de simplesmente ignorar o comentário.
Shuuto riu baixinho. “Ha ha ha, para mim, Amane, seus sentimentos são o que mais importa. Você conseguiu encontrar um lugar para si aqui, então quem sou eu para dizer alguma coisa? Nós apenas deixamos você sair do ninho um pouco mais cedo do que a maioria, certo?”
Seus pais nunca deixaram de se preocupar com ele, mas o despediram de coração aberto, apesar disso. Agora, Amane percebia que aquela tinha sido a maior demonstração de confiança deles. Algumas pessoas poderiam interpretar morar sozinho sendo um estudante do ensino médio como negligência, mas para Amane, sua situação atual refletia diretamente a fé de seus pais nele. Ele não queria trair essa confiança — queria corresponder a ela.
“Não estou mais preocupado com você. Você começou a olhar para o futuro e se esforça para conquistar as coisas certas. Se você escolheu seu caminho, tudo o que podemos fazer é te dar um empurrãozinho.”
“...Pai,” murmurou Amane, comovido com a resposta.
“Acima de tudo, você encontrou alguém valiosa para você, então não há nada mais que eu possa pedir.”
Mahiru, que ouvia em silêncio a conversa sobre os problemas de Itsuki, corou de repente ao ouvir as palavras “alguém valiosa”. Amane soltou um suspiro, sentindo as bochechas esquentarem.
Não gosto de como o pai faz isso...
“Pai.”
“Sim?”
“Acho que esse é um hábito questionável de se ter,” respondeu Amane com um suspiro.
“Ha ha, é mesmo? Desculpe, mas é assim que eu sou, então não posso mudar. Mas se você realmente não gosta, posso tentar suavizar um pouco,” respondeu Shuuto com uma risada.
“...Eu não disse que era ruim.”
“É mesmo?”
Se tivesse recebido provocação excessiva, Amane teria revidado ou até mesmo ficado bravo. Mas como as observações de Shuuto eram apenas seus pensamentos genuínos escapando, Amane achou difícil ficar realmente bravo com ele. Embora não acreditasse que isso fosse sempre uma desculpa, a maneira como Shuuto falava com olhos tão sinceros e um sorriso gentil, como se estivesse satisfeito, o deixou sem vontade de discutir.
Embora Amane tivesse algumas reflexões sobre como Shuuto parecia usar isso a seu favor, sabia mais do que ninguém que Shuuto realmente se importava com ele. Assim, não tinha escolha a não ser aceitar isso como apenas mais uma daquelas coisas.
Enquanto Amane expirava lentamente, tentando dissipar a leve insatisfação que pairava no ar, Shuuto deu seu sorriso habitual. Então, com movimentos tão graduais quanto a respiração de Amane, levantou-se gentilmente do sofá.
“Bem, então tive a chance de cumprimentar meus queridos filhos, então acho que é hora de me despedir. Originalmente, eu tinha planejado passar por aqui para suas reuniões de pais e mestres.”
“Eu nem sonharia em forçar alguém sobrecarregado de trabalho a liberar sua agenda só para isso,” declarou Amane. Ele sabia que o trabalho do pai não era de forma alguma uma empresa abusiva, mas ainda assim era um fato que Shuuto era um homem ocupado. Amane se sentiria culpado por pedir aos pais que se esforçassem para comparecer.
“Essas reuniões são eventos importantes, sabia?” disse Shuuto com um tom sério. “São todas sobre o futuro do seu filho.”
“Mesmo assim. A mãe veio, e ela é bem confiável com coisas assim... embora algumas outras coisas sobre ela sejam difíceis de defender.”
“Tenho certeza de que a Shihoko-san ficaria bastante chateada se soubesse disso.”
“Vai ficar tudo bem, contanto que você não conte a ela,” disse Amane.
“Acho que não tenho escolha. Vou manter isso em segredo da Shihoko-san,” Shuuto se virou para Mahiru. “Especialmente porque pude saborear um chá delicioso.”
“Temos que agradecer à Mahiru por isso,” acrescentou Amane com um suspiro de alívio. Ele curvou a cabeça em agradecimento a Mahiru pelo delicioso chá, e ela pareceu visivelmente perturbada, fazendo Amane rir.
“Shiina-san, obrigado por hoje. Deve ter sido uma surpresa e tanto,” disse Shuuto, calorosamente.
“Não, tudo bem. Fiquei um pouco assustada, mas foi bom vê-lo novamente, Shuuto-san,” respondeu Mahiru educadamente.
“Se você tivesse me avisado antes, poderíamos ter preparado uma recepção adequada,” observou Amane.
“Foi uma decisão de última hora, sabe? A pedido do meu pai,” explicou Shuuto, dando de ombros levemente.
Se ele tivesse me contado ontem... Embora a culpa fosse de Amane por não ter percebido a mensagem que chegara mais cedo naquela manhã, Amane ainda não conseguia deixar de torcer para que seu pai tivesse enviado a mensagem um pouco mais cedo. No entanto, agora sabendo que Shuuto havia ido a pedido do avô, Amane conseguia entender a visita repentina.
“Na verdade, a Shihoko-san queria vir também, mas não seria bom levá-la para um dos recados do meu pai, e ela tinha coisas para resolver em casa. E, sejamos honestos, ela não iria querer ir embora depois de chegar.”
“Minha mãe com certeza ia querer passar a noite aqui,” comentou Amane. “Eu consigo imaginá-la querendo ir para a primeira visita ao santuário do ano também. Ela se acomodaria e se recusaria a ir para casa.”
“Exatamente.”
O julgamento de Shuuto foi tão certeiro que Amane fez um sinal de positivo com o polegar.
Quanto a Mahiru, ela não se importaria que Shihoko passasse a noite lá e, na verdade, acolhia a ideia. Ela baixou os olhos ligeiramente, decepcionada, e murmurou: “Que pena...,” uma reação que certamente levaria Shihoko às lágrimas.
“Por favor, mande cumprimentos à Shihoko-san,” disse Mahiru educadamente. “Da próxima vez, vocês dois deveriam vir juntos.”
“Claro. Vou dizer a ela que você estava ansiosa para vê-la,” sorriu Shuuto.
“Parece que ela vai aparecer assim que ouvir isso,” suspirou Amane, já imaginando a visita repentina.
“Aha ha, bem, você deve ficar bem. Meus pais vão passar lá este ano.”
“O vô e a vó?”
Quando Shuuto mencionou de repente uma visita do seu pai, Amane achou que algo parecia um pouco estranho. Acontece que seus avós estavam vindo visitar a casa da família desta vez. A família Fujimiya não se reunia com frequência com seus parentes, mas visitavam ou eram visitados pelos avós a cada poucos anos. Este ano, os avós de Amane devem ter decidido visitar a família.
“Eles ficaram decepcionados por não te verem, Amane. Disseram também que queriam conhecer aquela sua ‘pessoa especial’.”
“P-pessoa especial...” ecoou Mahiru.
“Pai...”
“Não fui eu,” esclareceu Shuuto.
“Vou reclamar com a mãe mais tarde.”
“Acho que é justo.”
Amane sempre podia contar com Shihoko para deixar as coisas escaparem em relação a Mahiru. Decidindo pressioná-la sobre isso mais tarde, ele imaginou que aproveitaria a oportunidade para também desejar-lhe um feliz fim de ano.
Shuuto não se incomodava nem um pouco com a ideia de seu filho repreender a esposa. Ele provavelmente até apoiaria Amane com um simpático e rápido: “Bem, foi você quem deixou escapar, Shihoko-san, então a culpa é sua.” Sua atitude calma e imparcial lembrou Amane de como seu pai era justo.
Essa é uma coisa que eu gosto no meu pai, pensou Amane enquanto o seguia até a porta da frente com Mahiru.
“Bem, então, até a próxima. Tenham um ótimo Ano Novo.”
“Sim, espero que vocês dois também tenham um Ano Novo maravilhoso,” respondeu Mahiru educadamente.
“Cuidado para você e a mãe não pegarem um resfriado,” alertou Amane. “Mandem lembranças ao vô e à vó.”
“Entendido. Cuidem-se e até breve,” disse Shuuto com um aceno antes de sair.
Quando a porta da frente se abriu, o ar frio varreu a casa, expulsando o calor enquanto Shuuto saía. Amane observou silenciosamente a figura confiável do pai desaparecer no frio. Depois de um momento, virou-se para Mahiru, que o observava, e afagou-lhe gentilmente a cabeça.
“Foi um dia bastante tempestuoso.” Enquanto caminhavam juntos de volta para a sala de estar, Amane não conseguiu deixar de se lembrar das duas visitas que tiveram hoje.
“Ainda não acabou... mas é verdade. Eu não esperava ver o Akazawa-san e o Shuuto-san juntos daquele jeito.” Mahiru respondeu, suas bochechas macias exibindo um leve sorriso.
“Acho que o pai simplesmente não conseguiu deixar o Itsuki em paz depois de vê-lo... Sinceramente, o Itsuki deveria ter vindo direto até mim, principalmente porque ele chegou até o nosso parque.”
“Acho que o Akazawa-san hesitou no último minuto. Ele tende a se concentrar muito no humor, não é? Mesmo dizendo para você confiar nele, ele tenta resolver os problemas sozinho. Presumo que ele tenha se contido porque eu estava aqui,” respondeu Mahiru, chegando à mesma conclusão que Amane.
Ele não conseguiu evitar encará-la com surpresa, estudando-a atentamente.
“Você também fica de olho no Itsuki, não é, Mahiru?”
“Bem, ele é um grande amigo seu, meu, e é namorado da minha grande amiga... Você está com ciúmes, por acaso?”
“Nnnnop. É que... Eu sinto um pouco que, mesmo que ele tente fazer tudo sozinho, tem gente cuidando dele, sabe?”
Itsuki tinha o hábito de manter as coisas em segredo, esquivando-se de perguntas e evitando escrutínio, mas as pessoas ao seu redor entendiam sua verdadeira natureza. Chitose, sua namorada, naturalmente o entendia melhor, mas Amane, Mahiru e até Yuuta também reconheciam seu lado sensível. Como amigo, vê-lo tentar lidar com tudo sozinho era frustrante. Se ele se abrisse mais com suas dificuldades e se apoiasse nos outros, o apoio estaria esperando por ele.
“Acho que você poderia ser um pouco mais direto com o Akazawa-san também, sabia?” sugeriu Mahiru.
“...Vou tentar.”
“Não é exatamente por isso que a Chitose-san e os outros te chamam de ‘tsundere’?”
Por que todo mundo fica tentando me rotular de alguma forma estranha? Amane estreitou os olhos para Mahiru. Talvez eu consiga ver a parte do ‘tsun’, mas não há nada de ‘dere’ para ver aqui.
Mesmo assim, Mahiru não tinha a menor dúvida sobre o rótulo. Ela apenas olhou para a expressão dele e sorriu, dizendo: “Ah, por favor, não comece a ficar de mau humor. Môu,” deixando-o perplexo mais uma vez.
Amane suspirou, murmurando: “Meu Deus!” enquanto se virava. Uma risada divertida ecoou ao seu lado, mas ele continuou desviando o olhar, respondendo com silêncio.
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