O Anjo da Porta ao Lado Me Mima Demais Japonesa

S.S. Vol 9

Short Story 1: Um Vislumbre de Luz nas Profundezas do Lamaçal

   Após receber o formulário de pesquisa de cronograma para a reunião de pais e professores, Mahiru voltou para o seu quarto e, descuidadamente, colocou a impressão sobre a mesa. Como precisava devolvê-la à escola, não a jogou fora. Se não fosse obrigatório, ela a teria jogado no lixo sem hesitar.

   Todos os anos, o coração de Mahiru se agitava de inquietação sempre que as reuniões eram realizadas. Agora, esse sentimento havia se acalmado, tornando-se meras ondulações em comparação com o passado, e, de certa forma, Mahiru havia se conformado com as reuniões depois de concluir o ensino primário e fundamental com nada além de seu próprio poder. Ela havia se resignado à situação há muito tempo, e agora seu coração apenas formigava levemente — nada mais.

   De fato. Ela estava acostumada há muito tempo e nem desejava mais que isso se tornasse realidade. Sabendo muito bem que seus pais nunca viriam e nunca olhariam para trás, ela não se preocupou em contatá-los. Para ela, fazer isso seria uma completa perda de tempo.

   Mahiru pretendia escrever no formulário que seus pais não estavam disponíveis por motivos pessoais e que qualquer data para o encontro seria suficiente. Ela o tirou da bolsa e o colocou sobre a mesa apenas para esse propósito. Se não fosse rápida, Amane poderia começar a se preocupar enquanto a esperava em seu apartamento, mas, apesar de ser uma questão de escrever apenas uma linha, Mahiru se viu incapaz de pegar a caneta. Ela apertou os lábios com força.

“...Depois de tanto tempo, por que eu...”

   Era inevitável.

   Não havia motivo para hesitar.

   Tudo o que ela precisava fazer era escrever que seus pais não viriam.

   Isso era tudo, mas, por algum motivo, sua mente foi subitamente inundada por uma sensação de vazio e resistência avassaladores.

   No ano passado, havia apenas uma sensação leve e desagradável, como tinta preta sangrando em seu coração. Então, por que seu coração estava tão abalado este ano?

     Deve ser porque conheci o Amane-kun.

   Amane era tanto para culpar, quanto para agradecer por essa mudança.

   Através de Amane, ela viu como era ser uma criança amada acima de tudo. Testemunhara a pacífica, brilhante e linda luz de alguém que vivia uma vida valorosa e repleta de felicidade. Por ter sido queimada por aquela luz deslumbrantemente bela, por ela ter queimado seus olhos com tanta intensidade, ela ficou consternada e decepcionada com a gritante diferença entre a realidade de Amane e a sua.

   Mesmo repetindo para si mesma que havia desistido, ela ainda ansiava por isso, invejava e sonhava com isso. O arrependimento se instalou e ela se sentiu patética ao se apegar a esses sentimentos — não conseguia evitar de odiar-se por isso. Pior ainda, ela se viu momentaneamente direcionando esses sentimentos sombrios para Amane. Isso a fez sentir-se mais envergonhada do que qualquer outra coisa. Se contasse a ele, poderia vê-lo sorrir com uma cara triste e aceitar seus sentimentos. Ele a abraçaria sem dizer uma palavra sequer. Ninguém sabia o quanto Mahiru ansiava por uma família e afeto mais do que ele. Certamente, se ela expusesse seu sofrimento, ele a aceitaria.

   Foi justamente por compreender isso tão bem que Mahiru teve que engolir todos os seus sentimentos antes de ir para a casa de Amane. Sua ansiedade, inveja, inferioridade e anseio — tudo isso — ela precisava processar sozinha para poder encarar de frente.

   Ela não podia continuar se apegando à esperança que queria manter para sempre.

“Vai ficar tudo bem.”

   Estou realmente olhando para frente agora? Com ​​esses pensamentos em mente, enquanto se encorajava, Mahiru pegou a caneta que estava sobre a mesa e pressionou a ponta firmemente contra o papel.