Blue-Rays
Flores de Cerejeira e Observação com o Anjo
Este capítulo se passa depois da história bônus do volume 2, antes do volume 3.
Com a chegada da primavera, o frio arrepiante começou a desaparecer, substituído por um calor suave que envolvia os arredores. Os raios de sol suavizaram-se com o clima agradável, o suficiente para trazer um sorriso ao rosto. A temperatura estava ótima e permitia passeios ao ar livre sem usar roupas pesadas – era realmente a estação perfeita para sair.
Nesta época do ano, as pessoas naturalmente tinham mais oportunidades de se aventurar ao ar livre. E a mais proeminente dessas atividades era, claro, a observação de sakuras.
[Del: Evento conhecido como Hanami.]
✧ ₊ ✦ ₊ ✧
“Uau, olhe para todas as pessoas”, comentou Amane.
Com a chegada de abril, uma onda de sakuras em plena floração finalmente alcançou a área onde Amane e Mahiru viviam. A tela da TV mostrava inúmeras pétalas de cores claras balançando de um lado para outro, florescendo como se declarassem sua presença, mas ainda mais impressionante era a imponente multidão de pessoas abaixo, todas vestidas com trajes coloridos.
Amane encontrou um programa de notícias que cobria as sakuras, mas mesmo que fosse um evento anual, ele achou o grande número de pessoas presentes um pouco esmagador.
Transmitida na tela estava a área de Tóquio, então era natural que houvesse uma multidão tão grande, mas como alguém olhando de fora para dentro, ele se perguntou se as pessoas estavam realmente lá para contemplar as sakuras ou apenas para ver o número de pessoas.
“Eu… só posso dizer que tudo parece muito impressionante. Embora isso seja normal durante o feriado, posso me ver rapidamente ficando sobrecarregado se eu realmente estivesse lá.”
Também ao lado de Amane estava Mahiru, que havia ido até sua casa e agora assistia com indiferença. Eles terminaram o almoço mais cedo do que o normal e estavam relaxando até o programa começar, e não tendo olhado adequadamente para as árvores de sakura este ano, eles se viram absortos na transmissão.
“Especialmente porque as pessoas parecem se reunir em áreas com pelo menos algumas árvores de sakura”, continuou Mahiru. “É provável que haja uma luta por lugares para sentar, e as multidões apertadas se destacam mais do que as cerejeiras.”
“Mais uma marca registrada da primavera, eu acho.”
“Não tenho certeza se deveríamos chamar assim…”
Embora tenha respondido parcialmente com descrença, Mahiru também não pareceu se opor ao assunto. Como ela não parecia ter muitas boas lembranças da primavera, Amane ficou preocupado em mostrar-lhe esses vídeos, mas ao ver que ela não estava particularmente incomodada, ele soltou um suspiro de alívio.
Alheia aos sentimentos de Amane, Mahiru observou os barulhentos espectadores de sakura comendo e bebendo, mantendo sua expressão habitual.
“Mas mesmo assim, parece ser… animado”, disse ela.
"Com certeza. Realmente faz você perceber que todos, independentemente da idade, podem gostar de olhar as sakuras, hein.”
“Bem, é a época para isso, afinal. Lembra quando vimos brevemente as sakuras outro dia? Havia outros visitantes lá também, se você se lembrar.”
Outro dia, eles tinham saído para o que era mais um simples passeio do que uma caminhada por uma alameda ladeada por sakuras, e mesmo assim já havia visitantes passeando. A multidão não era tão grande quanto à mostrada atualmente na TV, mas a visão ainda estava fresca na mente de Amane. “É verdade, havia alguns deles.”
Eles não apenas viram grupos de amigos, amantes e famílias, mas também membros regulares da sociedade. A visão de todos eles apreciando as árvores de sakura com álcool nas mãos era difícil de esquecer.
Mahiru, no entanto, parecia não gostar da atmosfera festiva de beber e cantar, enquanto murmurava: “As pessoas realmente acham divertido fazer essas coisas?” Ela parecia tanto confusa quanto incrédula.
“Bem, muitos diriam que gostam de comer e beber como querem, sem nenhuma preocupação no mundo. Aqueles que colocam a praticidade antes da estética ficam mais do que felizes em usar isso como motivo para festa.”
"É assim que é?"
“É assim que eu vejo, de todas as formas. Pessoalmente, prefiro ir com calma e aproveitar a vista, já que não gosto muito de fazer tanto barulho. Embora eu ainda não tenha dado uma boa olhada nas árvores de sakura este ano, assim como no último.”
Se Amane considerasse o passeio deles no outro dia como uma observação de sakura, então ele deixaria por isso mesmo, mas isso não era suficiente em seus livros. Ele acreditava que ver as sakuras não se tratava da confusão carregada de comida e bebida mostrada na tela, mas sim de apreciar pacificamente sua beleza durante um piquenique ou lanches.
No ano passado, ele estava muito consumido pelo caos que se seguiu ao morar sozinho pela primeira vez, tendo estado ocupado desfazendo as malas e lidando com várias formalidades. E este ano, ele priorizou passar seu tempo com Mahiru, então não fez nada como ver as sakuras.
Claro, ele havia feito aquele passeio casual, o que para ele era bom, mas ainda sentia uma pontada de solidão por perder uma tradição que normalmente mantinha.
“Você costumava ir ver sakuras quando estava no ensino fundamental?” Mahiru perguntou.
“Eu não diria que ia ‘com frequência’, mas minha família tende a dar tudo de si quando se trata de eventos sazonais como este. Costumávamos ir praticamente todos os anos, em família.”
A abordagem de Shuuto e Shihoko à paternidade consistia em enriquecer-se através de uma infinidade de experiências diferentes, por isso eles frequentemente o levavam a lugares diferentes e o deixavam participar de várias atividades.
Naturalmente, eles também participaram ativamente de eventos sazonais como este, e ir ver sakuras se tornou um dos eventos básicos que eles gostavam de realizar todos os anos.
Como família, eles iam a parques repletos de cerejeiras, faziam um piquenique e tomavam algumas bebidas com tranquilidade enquanto contemplavam as flores. Mesmo algo tão simples como aquilo lhes trazia satisfação, e essa era a essência da observação de sakuras. Reconhecer e admirar a beleza das flores era por si só o que eles consideravam uma espécie de educação.
Dois anos se passaram desde a última vez que admiraram as árvores de sakura como uma família, e o pensamento deixou Amane um pouco nostálgico, já que ele não teve a chance de fazer isso desde que se formou no ensino fundamental.
Dito isto, como estava preocupado com o ambiente familiar de Mahiru, Amane evitou continuar a conversa e, em vez disso, manteve as coisas breves. Mas parecia que Mahiru não estava nem magoada nem descontente. Ela simplesmente sorriu, com seus olhos revelando sua leve solidão e inveja.
"Entendo." Embora a resposta de Mahiru tenha sido concisa, Amane não foi tão chato a ponto de não perceber os sentimentos por trás dela.
Mas será que tentar agir de acordo com os sentimentos dela realmente a beneficiaria? Amane estava preocupado com isso especificamente. Pelo que ele sabia, poderia ser um assunto que ela queria manter enterrado ou que poderia lhe trazer dor. Mas se... se por alguma possibilidade, os olhos de Mahiru estivessem voltados para um sonho que ela pensava que nunca se tornaria realidade... Então não seria errado eu dar a ela uma amostra do que ela deseja, certo?
“…Ei, uh…” Assim que Amane falou, embora hesitante, o breve brilho nos olhos de Mahiru desapareceu e voltou à sua cor misteriosa e habitual.
"Sim?" ela respondeu.
“Você tem algum plano depois disso?”
"Eh? N-Nada em particular, se você quer saber...”
Antes de convidá-la, era fundamental saber se ela estava com a agenda aberta. Amane não teve coragem de fazer com que Mahiru cancelasse seus planos para aceitar seu convite e, acima de tudo, ele não queria se tornar uma pessoa tão egocêntrica. Mas, diante de sua pergunta repentina, Mahiru congelou no lugar por um momento antes de balançar a cabeça vagamente, fazendo oscilações de seu lindo cabelo louro ondularem no ar.
“Entendi”, respondeu Amane. "Então, hum, você se importaria se eu... pegasse esse tempo?"
"Huh?"
Desta vez, os olhos de Mahiru retrataram totalmente sua confusão. Ela parecia não ter ideia do que ele estava falando, como se ainda não tivesse entendido o que Amane estava pedindo a ela.
Amane estava bem ciente de sua brusquidão, coçando a bochecha enquanto resmungava. “Como devo explicar isso?” Ele lentamente abriu a boca, pretendendo completar o convite de uma forma ou de outra.
“Bem, uh — outro dia, nós apenas... fomos dar um passeio rápido sob as árvores de cerejeira, certo? Eu apenas pensei que seria bom se fôssemos aproveitar as sakuras direito. C-claro, se você não gosta da ideia, tudo bem, mas…”
Embora sua voz fosse desaparecendo no final, era quase inevitável.
Neste exato momento, Amane estava perfeitamente ciente de que ele estava essencialmente a convidando para um encontro - e por sua própria vontade, para começar. Se ela o rejeitasse aqui, ele acabaria causando sofrimento desnecessário a ela. Agora, sua presunção de que ela aceitaria seu convite parecia extremamente arrogante.
Ele timidamente tentou avaliar a reação dela, mas depois de piscar várias vezes, Mahiru mostrou uma expressão que não era nem exasperada nem incomodada, mas sim um tanto perturbada... por ora, simultaneamente, seu rosto sugeria uma mistura de alegria e confusão.
“…Você não deveria planejar algo assim com antecedência? Pode não haver espaços disponíveis para nós agora.”
“Você está absolutamente certa”, admitiu Amane prontamente.
Estava quase claro que ele a convidou para sair no calor do momento e, diante do comentário dela sobre sua falta de planejamento, Amane só conseguiu encolher-se em resposta. Veja bem, ele sabia que Mahiru não pretendia que suas palavras fossem maldosas.
Como prova disso, ela exibiu um sorriso gentil ao olhar para Amane, que, depois de se encolher na cadeira, corrigiu sua postura.
“Fufu,” Mahiru riu. “…Mas também gosto de seguir o fluxo.”
E com isso, Amane obteve o consentimento dela.
“…Você realmente vem comigo?”
Se divertindo, Mahiru riu da pergunta tímida e incerta de Amane. “Amane-kun, foi você quem me convidou”, ela respondeu em tom de provocação.
Amane ficou aliviado ao ver que ele não a aborreceu, mas Mahiru ainda o observou com diversão e soltou uma risadinha.
“Bem, sim — eu convidei, mas ainda havia uma chance de você não querer ir comigo.”
“Se fosse isso que eu estava pensando, eu teria recusado você na hora. Além disso, eu não teria andado com você outro dia.”
“Suponho que você tenha razão, mas…”
Mahiru pode ter a língua afiada às vezes, mas no fundo ela era uma pessoa sincera e honesta. Se ela não quisesse fazer algo, ela recusaria antecipadamente e certamente não passaria tempo com ele com relutância. E precisamente porque ele sabia disso, a confusão e o coração acelerado de Amane não mostravam sinais de se acalmar.
“Tenho algum motivo para recusar um passeio com você, Amane-kun? Você raramente me convida para sair, então fico feliz, sabe?”
“Eu quase nunca convidei garotas para sair comigo antes. Sempre fico nervoso pensando que vou ser rejeitado.”
Após uma pausa significativa, “… Entendo.” Mahiru respondeu.
"Eu sinto que você casualmente riu de mim."
Para Amane, que nunca teve um relacionamento romântico antes, muito menos convidou uma garota para sair com ele depois de atingir a puberdade, convidar uma garota do calibre de Mahiru seria naturalmente uma tarefa árdua para ele. Ele já havia hesitado bastante quando a convidou para passar o Natal, mas desta vez, tendo percebido seus sentimentos por ela, Amane estava ainda mais nervoso do que antes.
Ele sentiu como se os lábios de Mahiru tivessem se aberto em um tipo diferente de sorriso, então Amane focou seu olhar nela. No entanto, seu comportamento parecia o mesmo de sempre, com uma expressão infinitamente serena e gentil – ela mantinha um sorriso desprovido de segundas intenções.
“Meu Deus, o que te deu essa ideia?” provocou Mahiru. “Está tudo na sua cabeça, Amane-kun. Tudo na sua cabeça.”
"É mesmo?"
[Yoru: É mesmo, é?]
“Sim, mesmo”, ela insistiu. “…Então bem, vou me preparar agora. Tenho certeza de que você também gostaria de se preparar.”
"Bem, sim. Eu vou."
Por ‘preparação’, ela provavelmente estava se referindo ao disfarce que Amane usava quando saíam juntos. Claro, como ele estava em casa durante um dia de folga, Amane não havia usado nenhum produto para pentear o cabelo, e além disso, ele ainda estava com o cabelo de cama, usando um moletom solto e visivelmente desgastado.
Não importa como ele cortasse, não havia como ele sair com Mahiru em trajes tão desleixados e, se fossem vistos juntos naquele estado, Amane tinha certeza de que morreria de vergonha. Além disso, ele tinha que fazer preparativos com antecedência para que não pudesse ser identificado, mesmo que fossem vistos juntos, então ele não poderia simplesmente sair de casa despreparado.
Mahiru entendeu isso e, com um encorajador “Até logo”, ela se levantou do sofá em direção à porta da frente. Estranhamente, Amane sentiu-se como se tivesse sido deixado na poeira, mas como não tinha palavras para impedi-la, tudo o que pôde fazer foi observá-la partir, parecendo um pouco tonto enquanto ela fazia isso.
✧ ₊ ✦ ₊ ✧
Pouco mais de uma hora depois, Mahiru voltou ao apartamento de Amane, aparentemente tendo terminado os preparativos. Ela aparentemente havia se esforçado para trocar de roupa para o passeio, agora vestindo uma jaqueta jeans e uma saia flare, que quando combinadas criavam um visual equilibrado que não era muito feminino, mas ainda incorporava um ar de feminilidade e casualidade.
Seu cabelo também estava com um estilo diferente, não mais simplesmente solto nas costas. Mahiru estilizou-o meio para cima com tranças, aumentando ainda mais seu comportamento empertigado e adequado. No geral, ela parecia elegante e cativante, apesar de escolher seu traje para ser fácil de se movimentar.
Amane também tinha se arrumado para sair de casa e usava roupas que combinavam, mas a ideia de ficar ao lado dela era um pouco assustadora, e ele podia sentir uma leve dor crescendo em seu estômago. Quando Mahiru voltou o olhar para ele, ele suspeitou que deveria dar sua opinião, então olhou diretamente para ela, agora se sentindo um pouco envergonhado.
“Essa roupa combina super bem com você – você fica linda com ela. Estou surpreso que você tenha conseguido se preparar tão rápido.”
“Muito obrigada,” Mahiru expressou seu agradecimento. “Você também está maravilhoso, Amane-kun.”
“Bem, obrigado por isso. Eu tenho que fazer isso para ficar ao seu lado, Mahiru.”
“Ara – apesar de eu não me importar com essas coisas?”
“Mas eu me importo, e você será quem ficará em apuros se as pessoas descobrirem.”
Ciente de sua aparência monótona, Amane ficou preocupado com a possibilidade de algum possível colega da escola vê-lo, em seu traje habitual, ao lado de Mahiru, um anjo conhecido por seu talento e beleza. Se isso acontecesse, nem Amane nem Mahiru escapariam impunes. Especialmente Amane, na verdade.
Ele não tinha dúvidas de que isso resultaria em ciúmes e suspeitas indesejáveis, e poderia até colocar a reputação de Mahiru em risco. Então, tanto quanto possível, Amane queria evitar cometer erros que pudessem expô-los. Se ele pudesse evitar tais riscos através do esforço, então ele não pouparia nada disso.
Embora, estranhamente, Mahiru parecesse estar aproveitando. Percebendo isso, Amane olhou para ela com leve descrença enquanto colocava os olhos em sua aparência mais uma vez. Embora ele pudesse dizer sem sombra de dúvida que ela ficava adorável com esse traje, e que combinava muito bem com ela, era, no geral, uma roupa bastante leve para usar naquela época. Estava começando a ficar mais quente agora que a primavera havia chegado, mas dizer que os sinais do inverno haviam desaparecido completamente seria falso. Ela pode muito bem sentir frio se o vento soprar um pouco forte demais.
“Mahiru, certamente combina com você, mas você ficará bem no frio?”
“Estou vestindo uma camada interna de roupa projetada para proteger contra o frio, então devo ficar bem.” Com uma mão cobrindo a boca, Mahiru deu uma risadinha elegante. “Você pode ser tão preocupado às vezes, Amane-kun.”
Amane retribuiu um pequeno sorriso antes de olhar para o telefone.
Claro, os planos deles para ver as sakuras podem ter sido repentinos, mas ele não poderia simplesmente seguir em frente e partir sem qualquer tipo de plano em mente. Durante o tempo que Mahiru lhe deu para se preparar, ele encontrou um local não muito longe de seu apartamento e, depois de verificar o quão proeminente era a multidão nas redes sociais, Amane decidiu que esse seria o destino.
Embora ele imaginasse que não estaria muito lotado e que o lugar parecia de fácil acesso, ele não teria certeza até que eles realmente chegassem, o que fez seu estômago revirar de ansiedade.
“Há uma chance de nossos colegas da escola também esterem admirando as cerejeiras (sakuras) por perto, então vamos pegar o trem um pouco. Pode ser?"
"Sim. Vou deixar isso para você, Amane-kun.”
Claramente animada com o passeio, a alegria de Mahiru apareceu em seu rosto. Aliviado com isso, Amane repassou mentalmente o cronograma várias vezes em sua mente.
“Vamos pegar algo para comer no caminho”, sugeriu ele. “Mas provavelmente será melhor comprarmos algo leve no entanto, já que não tenho ideia se conseguiremos encontrar um lugar para sentarmos enquanto comemos.”
“Se você tivesse feito planos ontem, eu teria conseguido fazer um bento para a gente…”
“Ugh, sinto muito por isso. É tudo porque aquele programa de TV despertou meu interesse que acabou assim…”
“Não há nada de essencialmente errado em tomar decisões rápidas, e além disso, estou feliz que você tenha me convidado para sair assim.”
“…Fico feliz em ouvir isso. Vamos indo então.”
Tendo recebido o selo de aprovação de Mahiru, Amane fez questão de não corar enquanto pegava suavemente a bolsa que ela segurava. Ela olhou para ele surpresa, como se nunca tivesse pretendido que ele carregasse aquilo para ela. Mas Amane sentiu que era certo que ele fizesse isso. Ele ouviu um barulho notável enquanto sacudia a sacola, mas se absteve de bisbilhotar seu conteúdo.
Depois de um tempo de tentativas contínuas de recuperar sua bolsa, Mahiru finalmente cedeu quando Amane disse: “Deixe-me carregá-la pelo menos enquanto estivermos fora”, e ela deu uma cabeçada em seu braço com um leve beicinho. Tendo desistido, ela agarrou a bainha da jaqueta de Amane.
Esse gesto dela foi tão cativante que ele encontrou os cantos de seus lábios se curvando em um sorriso. Mas sabendo que se ela percebesse, Mahiru poderia acusá-lo com um “Você está zombando de mim, certo?” e ficar ainda mais de mau humor, Amane rapidamente se recompôs. Com ela ao seu lado, eles saíram do apartamento.
✧ ₊ ✦ ₊ ✧
Depois de comprar comida no caminho, eles pegaram o trem e chegaram ao destino pouco mais de uma hora depois. Muitas pessoas já haviam chegado antes deles, o que era de se esperar.
As árvores de sakura estavam em plena floração e era feriado, então certamente havia muitas pessoas querendo vê-las. Afinal, Amane e Mahiru eram excelentes exemplos disso.
“Como pensei, há muitas pessoas aqui”, observou Amane.
“No entanto, é completamente diferente do que vimos na TV”, respondeu Mahiru.
"Bem, claro. Pelo menos em comparação com as cidades maiores. Aqueles lugares estão superlotados, para dizer o mínimo.”
“Não acho que isso vai acabar como o que vimos na TV, considerando quantos moram aqui. Fico feliz que haja o número certo de pessoas, se não ainda um pouco demais.”
Apesar dos comentários sobre as pessoas, não estava tão lotado como tinham visto na TV. O suficiente para anotar o número de pessoas, mas nada mais – um pouco cheio, certamente, mas não completamente lotado. Desnecessário será dizer que os melhores lugares já estavam ocupados, mas olhando mais longe, havia alguns mais vazios com menos ocupantes.
Para Amane e Mahiru, tudo o que precisavam era de um lugar onde pudessem respirar enquanto apreciavam a vista espetacular. Com um pouco de pesquisa, certamente encontrariam um local adequado.
“Há muito espaço, com certeza. Um terreno de tamanho decente como esse é ótimo para observar sakuras”, Amane disse.
Mahiru deu uma risadinha. “Isso é verdade… me pergunto se há algum lugar onde possamos relaxar.”
“Se pudermos, gostaria de evitar lugares que possam ter bêbados.”
“… Se não pudermos evitar isso, então acredito que você vai me salvar, Amane-kun.”
“Bem, ficarei o mais próximo possível de você. Com o quão linda você é, temos que ficar de olho em qualquer homem estranho tentando se aproximar de você.”
Mesmo durante o passeio no outro dia, Mahiru foi incomodada por um bêbado que estava causando problemas. Naturalmente, Amane não poderia cometer o mesmo erro duas vezes. Ela estava aqui porque Amane a convidou de repente para sair, então ele pretendia assumir a responsabilidade de ficar ao lado dela e protegê-la.
[Del: Apenas para contextualizar, o tal passeio é a história bônus do volume 2, enquanto esse evento do bêbado é retratado na última short story do volume 2, essa estando presente no livreto do volume 5.5.]
Enquanto ele olhava para Mahiru, ser tão linda não é só luz do sol e arco-íris, hein... Amane chegou a uma dolorosa conclusão. No entanto, a própria Mahiru parecia um pouco surpresa, com o corpo congelado no lugar.
Ao ver seu rosto, Amane se arrependeu de tê-la lembrado do incidente anterior, mas logo Mahiru saiu do torpor e agarrou a bainha da jaqueta dele com ainda mais força.
Agora que acabei deixando-a desconfortável, preciso me controlar. Amane olhou ao redor, procurando um lugar onde pudessem se sentar sem serem incomodados por visitantes barulhentos. Não muito depois, ele avistou um banco livre enquanto caminhava, um que não ficava muito longe da entrada da área.
É verdade que era apenas um banco pequeno, adequado para duas pessoas, mas estava convenientemente desocupado – como se a última pessoa tivesse acabado de sair. Amane, colocando-o em vista, gentilmente escoltou Mahiru até lá.
“Hum, Amane-kun, agora pouco, você—”
“A-aquela lugar está livre. Deveríamos ir até lá?”
“…Sim, parece bom.” O rosto de Mahiru endureceu quando Amane interrompeu sua frase no meio enquanto ela falava. Mas mesmo quando ele perguntou o que ela iria dizer, ela simplesmente respondeu que não era “nada”.
Ela não lhe deu uma resposta definitiva, mesmo com a cabeça dele inclinada para o lado, então Amane, embora perturbado, acompanhou-a até o banco vazio e tirou um grande lenço da bolsa.
Desculpe pelo que estou prestes a fazer... Pétalas caíram das árvores de sakura e decoraram o banco, e Amane as afastou com uma pontada de culpa. Ele então estendeu o tecido para garantir um espaço para Mahiru se sentar.
Ao fazer isso, Mahiru simplesmente murmurou: “Ah, certo. Isso é muito típico de você, Amane-kun”, enquanto ela o observava fazer isso, sua expressão rígida de antes desapareceu quando ela disse isso. Mas depois de agradecê-lo humildemente, ela se acomodou no banco.
Vendo isso, Amane também se sentou ao lado dela e lentamente ergueu o olhar para cima. O banco que escolheram ficava um pouco afastado das cerejeiras, mas próximo o suficiente para que pudessem apreciar a vista. Na verdade, era a distância perfeita para ver as cerejeiras em plena floração enquanto essas lançavam suas pétalas ao vento.
Mahiru, como se fosse influenciada por Amane, também contemplou as árvores sakura ao seu lado. Seus lábios relaxaram naturalmente e ela soltou um suspiro suave. Amane ficou aliviado ao perceber que ela não parecia desgostar das próprias sakura. Ele se deleitava suave e aveludado sol da primavera, que, embora modesto, lhe oferecia uma agradável sensação de calor.
Amane não pôde deixar de apertar os olhos. “Mm, hoje está até que quente, perfeito para sair. Mas você está bem, Mahiru? Não está sentindo frio?”
“De forma alguma, tanto a temperatura quanto o sol são confortáveis”, Mahiru observou. “É bem agradável, não acha? A alegria da primavera.”
"Verdade. Mas deixe-me saber se você sentir frio, certo?”
“E o que você fará se eu disser estou com frio?”
"Eu tenho minha jaqueta pronta, como pode ver." Amane não estava sentindo muito frio, então ele não hesitaria em emprestar sua jaqueta a Mahiru se ela sentisse algum frio.
Era natural que Amane quisesse fazê-la se sentir o mais confortável possível, visto que foi ele quem a convidou para sair. Mahiru não pareceu convencida com sua resposta, fazendo com que ela olhasse para ele em protesto com uma expressão duvidosa.
“Não consigo entender por que você se sujeitaria ao frio assim…”
“É porque as meninas têm mais dificuldade com frio. Não se preocupe comigo — sou resiliente.”
"...Eu ainda não estou convencida."
“Qual é…”
“Mas não está realmente frio, então não há necessidade de você se preocupar. Olha”, Mahiru insistiu, pegando a mão de Amane para provar que ela estava bem. “Está quente ao toque, certo?”
Seus dedos pequenos e delicados roçaram suavemente a palma de Amane e eram tão delgados que pareciam prestes a quebrar. Para grande surpresa de Amane, sua mão estava mais quente do que o normal – exatamente como ela havia declarado. Como ele esperava que eles estivessem com frio por andarem lá fora, Amane não pôde deixar de encará-la em resposta.
“…Ah, você está certa. Normalmente você está com mais frio do que eu, mas você parace mais quente do que o normal hoje.”
“É por isso que eu disse que estou bem”, ela respondeu. “… Além disso, eu tenho você como meu aquecedor de mão, certo, Amane-kun?”
“Ah, então é assim que você está jogando? Bem, se você sentir frio, ficarei feliz em te ajudar.”
“…Então, se eu não sentir frio, presumo que você não vai me emprestar sua mão?”
“Eu irei quando acompanhá-la, é claro.”
“Então, pedirei sua ajuda no caminho para casa.”
"Como desejar." Amane respondeu de uma maneira excessivamente respeitosa, exagerando intencionalmente sua resposta enquanto mordia discretamente a parte interna da bochecha.
Entendo que não somos mais estranhos em dar as mãos, mas ela não percebeu que está praticamente me dizendo que quer dar as mãos de boa vontade?
Amane disse sim que atuaria como seu acompanhante, mas não esperava que Mahiru solicitasse tal coisa por sua própria vontade. Como ele deveria se sentir? Envergonhado? Feliz? Em pânico? Incapaz de rotular as emoções que giravam dentro dele, Amane não conseguiu fazer nada, exceto franzir os lábios.
“Você está fazendo disso um show. Nossa.” Felizmente inconsciente da turbulência interna de Amane, Mahiru riu enquanto continuava a tocar a mão dele.
As pontas dos dedos finos e macios fizeram cócegas nos dedos atados de Amane, traçando-os como se estivesse saboreando seu toque. A sensação da pele dela – que era tão diferente da dele – brincava com os sentidos dele, fazendo-o experimentar uma estranha mistura de frustração e constrangimento.
“Ah — Is-isso me lembra.” Achando a situação mais embaraçosa do que simplesmente dar as mãos, Amane falou com uma voz alegre nos esforços para escapar. “Devíamos comer o dango que compramos antes.” Então, ele pegou as sacolas que haviam colocado ao lado.
[Del: Dango é “o lanchinho de rua do japão”, aquelas bolinhas no espeto geralmente coloridas nos animes. É um doce feito de farinha de arroz, sendo geralmente servido em um molho agridoce.]
Mahiru observou-o por um momento antes de suspirar suavemente. "…Certo."
"O que?" Amane percebeu sua resposta branda.
"Nada." Apesar de sua resposta, a voz de Mahiru estava imbuída de indícios de insatisfação e reclamação. Mas Amane ainda estava grato por ela ter cedido. Embora fosse apenas uma conjectura da parte dele, Amane suspeitava que Mahiru estava começando a vê-lo como alguém em quem ela podia confiar, alguém por quem ela poderia se deixar mimar.
Desde o dia em que ele soube do lado fraco dela, Mahiru começou a retrair as paredes que havia erguido entre eles, aceitando-o sem sentir a necessidade de impor suas próprias barreiras. Ela começou a confiar nele em um nível mais profundo, até assumindo uma atitude mimada perto dele. O contato físico deles também aumentou de nível.
Amane interpretou isso como uma prova de que ela estava começando a abrir seu coração para ele.
Afinal, Mahiru, que raramente tocava nos outros e preferia mantê-los a um braço de distância, o estava tocando.
É claro, saber disso deixava Amane feliz. Mas ainda era difícil suportar quando a pessoa que ele amava o tocava com tanta liberdade. Pensando que Mahiru estava se tornando menos cautelosa com ele e, portanto, agiria tão inocentemente na frente dele, Amane sentiu vontade de se contorcer de agonia.
Era precisamente porque Mahiru — muito provavelmente — não estava consciente disso, que ela tendia a tocá-lo de vez em quando. No entanto, a razão de Amane começaria a vacilar se tal contacto continuasse, por isso ele preferia evitar contacto físico excessivo por enquanto.
Mahiru, que parecia um pouco infeliz, não disse mais nada e colocou a bolsa no colo. “Eu trouxe chá quente e xícaras, então vamos beber juntos. Dango e chá são melhor servidos juntos.”
“Uou, você realmente veio preparada. Embora eu tenha tido a sensação de que havia algum tipo de bebida ali.
“Por que você acha que eu queria algum tempo para me preparar…?”
“Desculpe, desculpe”, Amane se desculpou mais uma vez. Para ele, esse tempo foi gasto principalmente se estilizando de uma maneira com a qual ainda não havia se acostumado. Mas Mahiru, que normalmente precisaria de mais tempo para se preparar, se trocou rapidamente e fez os preparativos cuidadosamente para aumentar a satisfação ao verem as árvores de cerejeira.
Ao expressar sua gratidão pela consideração e gentileza de Mahiru, Amane aceitou o copo de papel que ela havia servido para ele e lentamente o aproximou de sua boca. Ele respirou fundo depois de sentir seu calor reconfortante e seu nostálgico sabor antes de pegar o dango que comprou e dar uma mordida.
O dango, com sua textura moderadamente macia, doce e suave, tinha um certo luxo, oferecendo um sabor refinado e satisfatório, visivelmente diferente dos habituais de três palitos e cem ienes.
[Del: Hum, tipo bolo de chocolate, qualquer um consegue comprar massa pronta em pó e fazer seguindo a receita, é bom, mas não se compara àquele bolo molhadinho com calda e recheio (gelado ainda por cima) feito em uma boa confeitaria.]
“...... Mm, delicioso.” Mahiru também parecia estar gostando deles, suas bochechas suavizavam-se enquanto ela dava uma mordida.
“Sim, é ótimo. Já fazia algum tempo que estava de olho naquela loja, mas nunca encontrei uma oportunidade de ir. Estou feliz por termos passado por lá hoje.”
Mahiru deu uma risadinha. “Se isso se tornou uma nova descoberta para você, então estou feliz.”
Enquanto Amane observava Mahiru mastigando alegremente seu dango de formato fofo, ele percebeu que seu sutil descontentamento de antes havia praticamente desaparecido, um sorriso satisfeito apareceu em seu lugar. Ele então desviou seu olhar para as árvores de sakura a distância, que soltavam grandes pétalas de longe.
Agora em plena floração, aquelas cerejeiras estavam encharcadas de luz solar, com traços suaves de seus raios derramando-se fracamente pelas aberturas. A visão de suas pequenas pétalas dançando no céu azul ligeiramente nebuloso era, para eles, incrivelmente calmante para os sentidos. Era uma cena que poderia ser classificada como ordinária e fantástica.
Além disso, o clamor das pessoas ecoando ao redor parecia estranhamente distante, fazendo com que parecessem estar em um mundo só deles. Foi realmente uma sensação estranha.
"Isso... é legal."
Tendo ouvido os murmúrios de Amane, Mahiru virou-se para encará-lo. "O que é?"
“Hmm… É meio difícil de descrever”, respondeu Amane. “Mas é essa sensação de… paz, talvez. Tipo, aproveitar o sol quente em um dia agradável e claro, relaxar pacificamente enquanto está rodeado de beleza – é bom poder passar um tempo assim. Fazer barulho enquanto observo as sakuras não é minha praia, então acho que ficar sentado aqui, calmamente conversando um com o outro como estamos, é, bem relaxante.”
Amane nunca gostou de fazer muito barulho. Claro, ele podia desfrutar de eventos animados, mas acima de tudo, preferia passar o tempo no seu próprio ritmo, com calma. Honestamente, posso imaginar meu futuro eu passando os dias sentado no engawa de sua casa, tomando sol, com o gato no colo, tomando um pouco de chá, Amane pensou vagamente consigo mesmo.
[Del: Com um gato no colo, e quem sabe com uma gata também, né?]
Assim, ele gostava de passar momentos tranquilos e pacíficos com alguém com quem gostava de estar. Afinal, o tempo lento e caloroso compartilhado entre os dois era algo que ele valorizava como algo verdadeiramente precioso. Esses momentos lhe proporcionavam uma sensação de fofura, não muito diferente de quando você dormia, mas carregava uma sensação definitiva de realização. E isso — era, definitivamente, felicidade.
“Você não gosta de passar tempo assim, Mahiru?” Amane perguntou.
"…De jeito nenhum. Contemplar pacificamente as flores juntos como estamos agora é bastante reconfortante.”
"Fico feliz em ouvir isso."
“Ter tempo para relaxar assim é maravilhoso. Você não acha?”
“Definitivamente,” Amane assentiu pensativamente, bebendo mais de seu chá. “Isso é uma benção.”
Fazendo o mesmo, Mahiru exibiu um sorriso calmo antes de tomar um gole do seu. O calor que penetrou em seus corpos provavelmente não era apenas do chá.
[Del: Boiolei, desculpa.]
“…Devo dizer”, acrescentou Mahiru. “Acabei de perceber que eu sou uma pessoa simples.”
Seus corpos estavam imersos em uma felicidade gentil, não aquela que os deixava sobrecarregados, mas que permeava suavemente cada canto de seus seres. Mas então, a atenção de Amane se voltou para Mahiru enquanto ela murmurava algo baixinho.
“Por que a súbita autodepreciação?”
"Não é isso… Honestamente, não tenho certeza se devo me considerar superficial, simples ou honesta demais, mas, nesse ritmo, acho que posso gostar da primavera.”
Amane não pôde deixar de rir de Mahiru, que lutava com as palavras como se fosse algo difícil de dizer. “Ah, isso não é uma coisa boa?”
“U-Uma ‘coisa boa’?”
"É claro. Afinal, quanto mais coisas você gosta, mais prazer você tira da vida. Além disso, você terá ainda mais oportunidades de si enriquecer fazendo coisas de que gosta. Sorria e o mundo sorrirá com você, como dizem.”
“A-A razão é o problema,” Mahiru começou a explicar. “O simples fato de vivenciar algo positivo conseguiu me livrar das lembranças ruins. Estou chocada comigo mesma… Isso me fez perceber o quão simples eu realmente sou.”
“Se você conseguiu substituir suas memórias ou sentimentos ruins no final, não está tudo bem? Trivial ou não, se algo pequeno se tornou o gatilho para você mudar de ideia, Mahiru, então isso é uma vitória. Melhor ainda, você economiza energia em excesso ao longo prazo.”
“Nossa (Geez), Amane-kun…”
Embora houvesse indícios de reprovação no discurso dela, não havia nenhum traço de raiva ou rigidez em sua voz. Em vez disso, ela falou num tom gentil e brincalhão. Amane também relaxou sua expressão, sabendo que ela só poderia pronunciar essas palavras porque estava calma e à vontade.
…Isso é um sinal de que ela está curada?
As feridas de Mahiru podem não ter cicatrizado completamente, mas Amane ainda queria acreditar que a dor não assombrava mais sua mente. Observando Mahiru, com seu sempre brilhante, porém ainda relaxado sorriso, ele definitivamente podia sentir que ela estava aqui, aceitando tudo e sorrindo.
A frágil Mahiru, que parecia que iria desaparecer a qualquer momento, não estava mais aqui.
“… Tem algum problema?” Mahiru perguntou.
“Não, é só que... Outro dia você parecia tão frágil, como se fosse desaparecer. Mas agora, parece que você está aqui de verdade.”
"Sim. Eu estou aqui e bem diante de seus olhos.”
"Sim, isso é bom. Um grande alívio.”
Precisamente porque a Mahiru que ele viu naquele dia parecia tão frágil que poderia se despedaçar e desaparecer, Amane entendeu que a atual Mahiru tinha um coração forte.
“… Peço desculpas se te preocupei tanto.”
“Não, é só que, sabe… Não é só mentalmente, certo? Você também parece fisicamente pálida. Você até prefere cores pastéis em vez das primárias ao escolher suas roupas. É por isso que, quando você está... parada ali tão quieta, talvez eu possa dizer? Você parece tão frágil, quase como se pudesse se misturar ao ambiente e desaparecer.”
“E quanto a minha eu atual?” Com um tom levemente travesso na voz, Mahiru perguntou, indicando claramente que não havia mais necessidade de se preocupar.
“A Mahiru que vejo hoje parece viva e estranhamente mais animada do que o normal, então, em vez de se misturar com as sakuras, você está realmente se destacando.”
“E-eu realmente pareço tão animada...?”
Aparentemente, Mahiru pensou que ela estava agindo como normalmente faria, então ela repetidamente tocou a bochecha dela com as mãos com pressa antes de inadvertidamente levantar a voz. "Eh?"
Ficarei feliz se Mahiru achou este passeio agradável, mesmo que só um pouco, Amane esperava sinceramente enquanto ele estava sentado ao lado dela.
“Claro que sim, parece que você está se divertindo. Estou feliz que você tenha gostado.”
“P-porque… você me convidou, Amane-kun…”
"Isso te deixou tão feliz?"
“B-bem, sim, deixou. Isso é um problema?”
Diante de sua resposta um pouco teimosa, mas mal-humorada, Amane não pôde deixar de rir, ao que Mahiru respondeu dando um tapa de brincadeira em sua coxa. Era um claro sinal de que a distância entre eles estava diminuindo e que as paredes entre eles começavam a desmoronar, o que, naturalmente, deixara Amane um pouco envergonhado.
Depois de chegar a essa conclusão, Amane respondeu à pergunta. “Nah, não é um problema. Na verdade, saber disso me deixa feliz. Sinceramente, eu estava meio preocupado se você gostaria ou não, dado o que aconteceu outro dia.”
“Até certo ponto, já aceitei meus sentimentos em relação a isso. …Você não precisa se preocupar, Amane-kun, porque graças a você, encontrei mais coisas que amo.”
"Isso é ótimo. Se você está feliz, eu também estou feliz.” Ouvir que era graças a ele o deixou tímido, mas sabendo que Mahiru passou a confiar nele e a se abrir com ele, Amane também se sentiu orgulhoso.
Se suas ações tivessem aliviado Mahiru de seus sentimentos amargos, pelo menos um pouco, então isso era o suficiente para ele. Amane estava satisfeito só de vê-la sorrir e se divertir. Ele se sentiu em paz sabendo que a mulher que amava estava realizada e em paz, e isso trouxe um sorriso ao seu rosto. Ele estava perfeitamente consciente de quão profundamente ele havia se apaixonado por ela. Subsequentemente, Amane não percebeu que simplesmente vê-la sorrindo alegremente podia lhe trazer tanta satisfação. O velho ele nunca teria sabido.
Enquanto apertava os olhos, sentindo-se ao mesmo tempo alegre e calmo, ele deixou seus sentimentos conflitantes brincarem em seu rosto com um sorriso gentil. No meio tempo, Mahiru o observava com um olhar sereno.
A sugestão de calor em seus olhos foi inesperada.
“Algo aconteceu?” Amane perguntou.
“…Não, nada. Eu estava meramente reafirmando seus pontos positivos”, Mahiru respondeu.
“Não tenho certeza do que você quer dizer, mas vou considerar isso um elogio.”
“De fato, estou elogiando você. Mas eu acho que esse é um mau hábito seu.”
“Você quer dizer que eu não deveria deixar isso subir à minha cabeça, certo? Eu entendo."
“Não é isso, mas se você não entende o que quero dizer, então não acho que você precise – por enquanto, pelo menos.”
“Então é uma daquelas coisas que precisam ser melhoradas de agora em diante?” Amane, sem entender muito bem, expressou sua confusão, fazendo com que Mahiru soltasse uma risada silenciosa e divertida.
“… Não se trata tanto de você melhorar, mas sim de eu precisar trabalhar mais.”
Amane suspirou. "…É assim mesmo?"
“Sim, então, por favor, não se preocupe com isso.” Mahiru sorriu, decidindo não dizer mais nada.
Assim, Amane, sabendo que ela não responderia a perguntas, evitou prosseguir no assunto e mostrou uma postura de compreensão. "Certo."
Amane sabia por experiência própria que a busca persistente por respostas só levaria Mahiru a se esquivar da pergunta e a erguer um muro entre eles, então ele imaginou que seria melhor para ambos se ele aceitasse a decisão de Mahiru. Afinal, se ela quisesse falar, faria isso quando estivesse pronta. E se ela não quisesse, tudo bem também.
Amane levou suas palavras a sério, esperando que algum dia ela o deixasse ouvi-las. Ele voltou seu olhar para Mahiru, que ainda estava extasiada pelas flores de cerejeira. Sentindo seu olhar, ela respondeu com um sorriso tímido.
“Vejo que você está olhando para cá. O que foi?" Mahiru perguntou, mas um sorriso adorável logo apareceu em seu rosto. “Estranho Amane-kun,” ela acrescentou. Mahiru era, sem dúvida, em alguns aspectos, muito parecida com uma flor, e havia algo sobre sua existência que era muitas vezes mais encantador do que as próprias árvores de sakura. Não seria exagero dizer que sua imagem, embelezada pelas mesmas cerejeiras, era muito mais impressionante do que qualquer outra coisa.
[Del: “Parecida com uma flor”, sabe, existe um ramo da psicologia que estuda as pessoas categorizando-as como flores, tais como Orquídea ou Dente-de-leão.]
Mas, claro, dizer isso abertamente a convidaria a rir dele novamente, e Amane compreensivelmente achou difícil expressar seus pensamentos como eram, então optou por mantê-los para si mesmo. Em vez disso, ele respondeu de forma honesta e simples. “Só estou admirando a vista.” Um leve rubor coloriu as bochechas de Mahiru enquanto ela o repreendia de brincadeira: “Especifique! Você deve especificar o que está admirando.”
Amane havia deixado o assunto propositalmente ambíguo e ele não tinha certeza de qual caminho Mahiru havia tomado. Mas a julgar pelo leve rubor em suas bochechas, ela parecia ter entendido ambos os significados. Quanto a qual desses significados ele quis dizer, Amane deixou Mahiru decidir. Ele desviou seu olhar da corada Mahiru para as pétalas fazendo sua curta jornada através da brisa, caindo da árvore em um terreno desconhecido.
Ele observou enquanto as pétalas delicadas encontravam seu fim fugaz, liberando um suspiro suave como resultado. Ao mesmo tempo, Mahiru, ao lado dele, tocou suavemente as pontas dos dedos dele com os dela. Suavemente, Amane afastou, pensando que não era a intenção dela, mas então sentiu uma pitada de decepção emanando dela, o que o deixou perplexo. Quando ele moveu a mão de volta para onde estava, Mahiru brilhou mais uma vez em um sorriso satisfeito.
[Del: Incrível, fofo, divertido e, obviamente, diabético.]
As pontas dos dedos de Mahiru estavam mais quentes do que quando ele as tocara antes, e isso, com toda a probabilidade, não era apenas produto de sua imaginação. Amane sentiu um calor se espalhar dentro dele ao ver a expressão de alívio de Mahiru, mas não deixou isso transparecer em seu rosto.
“…Vamos ver as sakuras juntos de novo no próximo ano, podemos?” ela sugeriu.
“Sim, vamos.”
“No próximo ano, prepararei para você um bento adequado, cheio de todas as suas comidas favoritas, Amane-kun”, acrescentou Mahiru atrevidamente. “Eu com certeza vou tirar você do chão.” (“Sweep you off your feet”)
“Se vai, então você não deveria ter me avisado com antecedência, certo?”
Mahiru fez uma pausa. “…Por favor, esqueça tudo o que acabei de dizer.”
“Não quero.”
"Malvado."
Com um encolher de ombros brincalhão, Amane disse: “Você foi simplesmente descuidada, Mahiru!” e Mahiru, fingindo insatisfação, bateu na coxa dele de brincadeira, como se o repreendesse.
Esse gesto dela parecia um tanto afetuoso, mas isso se devia apenas à interpretação egoísta de Amane. No entanto, estava claro que Mahiru só o havia tocado por causa da confiança que depositava nele, então Amane decidiu manter essa percepção conveniente de suas ações.
“… Da próxima vez, planejaremos nosso passeio com mais cuidado”, Mahiru afirmou com entusiasmo. “Será a minha vez de surpreender você.”
Estranhamente, Amane sentiu uma sensação indescritível de constrangimento e conforto com a declaração entusiástica de Mahiru. Seus lábios se curvaram em um sorriso gentil, que Mahiru percebeu e lançou-lhe um olhar penetrante. "Por que você está sorrindo?"
"Eu não estou. Você está imaginando coisas.”
“Tenho a sensação de que eu não estou imaginando nada. Eu vi você fazer um sorriso caloroso.”
“Você apenas pensa que foi um sorriso caloroso, Mahiru. Era normal, sabe? Um normal.”
"Então você admite que estava sorrindo."
“Droga.”
“Nossa.” Mahiru, que desta vez o repreendeu claramente, olhou para Amane com os olhos semicerrados. Ao ver a expressão que ele mostrou, os olhos dela se arregalaram de surpresa.
O que estava refletindo em seus olhos caramelo? Amane, com a impressão de que ele tinha a mesma expressão habitual, inclinou a cabeça em confusão, enquanto Mahiru continuava a encará-lo intensamente antes de desviar o olhar. Ela tinha um leve rubor nas bochechas, o que, do ponto de vista de Amane, fazia com que ela parecesse ter algo a dizer. No entanto, talvez sem intenção de contar a ele, os lábios geralmente macios e flexíveis de Mahiru estavam firmemente pressionados.
“Mahiru?” Apesar de chamar o nome dela, nenhuma resposta escapou dos lábios de Mahiru.
Em vez disso, ela murmurou algo baixinho e depois desviou o olhar para as árvores de cerejeira. A cor em suas bochechas era muito mais profunda do que a das flores de cerejeira, mas Amane engoliu o comentário, suspeitando que ela poderia parar de falar com ele por um tempo se ele apontasse isso.
E assim, sem se voltar para ele, Mahiru semicerrou os olhos para a forte luz do sol e as pétalas caindo. Seu olhar, doce mas ligeiramente amargo, acariciou as pétalas enquanto elas continuavam a cair. Enquanto ela admirava silenciosamente a cena diante dela, uma expressão de adoração apareceu em seu rosto, como se ela achasse cativante a dispersão fugaz de pétalas.
Pouco depois, enquanto também olhava para a cena diante dele, Amane sentiu os dedos delgados de Mahiru entrelaçando-se com os seus. “Mal posso esperar pela chegada da próxima primavera”, ela murmurou.
Ao ouvir sua voz delicada e derretida, semelhante a um sussurro intrincadamente tecido de açúcar, Amane indiferentemente segurou seus dedos delicados, "Sim, eu também não", e concordou silenciosamente.
Notas dos Tradutor/Revisores:
- DelValle: E esse aqui é o primeiro capítulo exclusivo do primeiro volume do Blue-Ray leitorada, e bem, como sempre, ohh, mas que maravilha. A partir de certo pondo eu comecei a narrar o texto em voz alta, misturando as frases em português e as em inglês, que experiencia hein companheiros! Delicinha de narrativa!
E bem, sabia que não tem Sakuras só em parque do Japão, né? No Brasil, também há parques repletos de árvores de Sakuras e o desabrochar costuma acontecer entre julho a setembro dependendo da região do país, por isso se tiver interesse em visitar um parque de Sakuras para um Hanami, recomendo fazer uma pesquisa de antemão. Enfim, alguns parques:
- Parque do Carmo (São Paulo)
- Centro Cultural Campestre BSGI (Itapevi)
- Centro Esportivo Kokushikan Daigaku (São Roque)
- Parque da Cerejeira (Campos do Jordão)
- Lagomunicipal de Garça (Garça)
- Jardim botânico de Curitiba (Curitiba)
- Parque do Lago (Guarapuava)
- Parque Sakura (Santa Catarina)
(https://coisasdojapao.com/2017/06/sakura-no-brasil-saiba-onde-e-quando-encontrar/)