Nitro: As Pegadas do Herói Brasileira

Autor(a): Lucas Aguiar Ferreira


Volume 1 – Arco 1

Capitulo 8: Não seja mais um fardo!

Luna estava inconsciente sobre uma cama pequena, coberta por um lençol velho e desgastado. Ao lado dela, uma mulher de pele clara e olhos puxados, vestida com um elegante hanfu, cuidava dela com delicadeza. Chamava-se Yanling.

Com movimentos suaves, Yanling colocou um pano úmido sobre a testa da menina, em seguida retirou de suas vestes um frasco azul em forma de losango.

 Dele, verteu um líquido verde que escorreu lentamente pelo tecido, impregnando-o com uma essência misteriosa.

Depois de alguns minutos, Luna abriu os olhos, assustada. Tentou se levantar, mas foi impedida pela mão firme de Yanling, que segurou seu ombro.

— Sossega, garota! — disse Yanling, com a voz firme. — Foi extraída muita energia vital do seu corpo! Se o garotinho que te salvou tivesse demorado mais alguns minutos, você estaria morta.

As palavras dela trouxeram à mente de Luna a imagem do amigo, paralisado de medo diante de um monstro de verdade pela primeira vez.

 O desespero tomou conta dela. Tentou novamente se levantar, mas Yaling pressionou seus ombros com ambas as mãos, forçando-a a permanecer deitada.

— Eu disse pra você ficar deitada, garota! — insistiu Yaling, agora com um tom severo.

Luna ignorou as palavras, o pânico dominando-a. Começou a gritar o nome do amigo enquanto as lágrimas corriam pelo rosto.

— Dante... Dante! Eu preciso salvar o meu amigo!... Dante... Dante!

A paciência de Yaling se esgotou.

Com um movimento rápido, ela desferiu um tapa firme no rosto de Luna. O som ecoou pela sala. Luna congelou, os gritos cessando. Lentamente, levou a mão ao rosto, enquanto os soluços diminuíam.

Sem forças para resistir, ela se deitou novamente na cama, os olhos arregalados e a respiração ainda ofegante.

— Pronto, vejo que já está calma o suficiente para que eu possa explicar o que aconteceu! Seu amigo deve estar bem. Afinal, meu esposo cuidou de matar o monstro. Então, tente se aquietar!

Colocando os cabelos brancos para trás com a mão esquerda, Luna mantinha um semblante paralisado. Derrotar um monstro daquele nível era um feito extraordinário.

A senhora está mentindo para me acalmar, não está?

— Mas é claro que não — respondeu a mulher, com uma expressão fria. — Se o monstro tivesse despedaçado o seu amigo, eu teria contado, descrevendo até mesmo o estado em que ele ficou. Afinal, a morte é, para mim, algo tão natural quanto beber água.

Luna se arrepiou com as palavras de Yaling. Era como se o ar ao seu redor tivesse ficado mais pesado, dificultando até mesmo o ato de respirar.

Seus olhos, arregalados, não conseguiam se desviar da mulher à sua frente. Era um misto de fascínio e terror, como se olhar para Yaling fosse a única forma de evitar o pior.

O medo de morrer a paralisava, transformando cada segundo em uma eternidade.

— A senhora vai me matar?

— Vontade não me faltou depois que você deu aquele chilique — respondeu Yanling com tranquilidade, enquanto admirava suas unhas como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. — Eu até considerei injetar uma toxina em você, só para deixá-la em um estado vegetal até sua energia vital voltar ao normal.

Luna sentiu como se uma foice estivesse envolvendo seu pescoço . Sua respiração ficou presa na garganta enquanto um suor frio escorria por sua têmpora. —Essa mulher é maluca! Parece que eu caí nas garras de um monstro ainda mais perigoso — pensava, o pânico apertando seu peito como uma mão invisível.

Colocando o dedo indicador sobre o pano, Yaling libera uma energia rosada que se mistura com o líquido do tecido, expandindo-se como uma névoa verde que envolve todo o corpo da menina.

— Arte Secreta do Clã de Gólgota: Revitalização Corporal! — proclamou Yaling, seus olhos fixos e determinados em Luna.

Luna sentiu seu sangue fluir mais rápido, espalhando calor por todo o corpo. Uma leve sensação de aumento de temperatura percorreu suas veias, aquecendo sua pele gelada e deixando-a mais saudável do que antes.

Sentando-se na cama, Luna começou a apalpar o rosto, o pescoço, os braços e até os seios, sem sentir qualquer dor.

— A senhora é uma alienígena? Nunca vi nenhum humano fazer algo tão sobrenatural!

— Não subestime os humanos, pequena Lunariana! — respondeu Yaling com um tom firme, mas gentil. — Se nos dedicarmos aos nossos treinamentos, somos capazes de realizar qualquer coisa.

Após uma breve pausa, Yaling a encarou seriamente. — Agora, me diga: até quando você será uma menina frágil que precisa ser protegida?

Luna sentiu como se uma lança imaginária atravessasse seu peito. A lembrança do rosto amedrontado de seu amigo e a facilidade com que o monstro a subjugara a fizeram abaixar a cabeça, tomada pela vergonha.

Yaling, percebendo sua dor, colocou a mão gentilmente sobre sua cabeça e, com um tom carinhoso, disse:

— Não tenha vergonha de ser fraca. Tenha vergonha de continuar assim. Se você quiser, meu marido pode te ajudar a se tornar forte.

Aquelas palavras fizeram Luna refletir sobre a possibilidade de treinar com o homem que derrotara aquele monstro tão facilmente.

— Bem, quando decidir, já sabe onde nos encontrar! — completou Yaling, esboçando um leve sorriso. — Agora vá. Há alguém esperando por você lá fora.

Yaling ajudou Luna a se levantar e a conduziu até a saída de sua casa. De pé na calçada, aguardando em silêncio, estava o tio de Luna.

Ele usava um longo casaco preto com capuz, que ocultava quase todo o rosto, exceto os olhos vermelhos intensos que brilhavam como chamas na penumbra.

Luna caminhou hesitante em sua direção, com a cabeça baixa e os braços encolhidos, como se carregasse o peso do mundo. Ao alcançá-lo, ergueu a mão direita e tocou levemente o casaco dele.

— Me perdoe, tio — murmurou, a voz embargada. — Eu sou mesmo um fardo muito pesado para o senhor...

Antes que pudesse dizer mais, o tio de Luna surpreendeu-a, inclinando-se para pegá-la no colo. O gesto a deixou imediatamente constrangida.

— Tio, eu já consigo andar! — protestou, tentando se desvencilhar.

Ele a segurou ainda mais firme, sua voz grave e carregada de emoção.

— Não. Você nunca foi um fardo, Luna — declarou, com um peso de culpa que parecia ameaçar esmagar o ar ao redor. — O único fardo aqui sou eu, um guardião incompetente! Se algo tivesse acontecido com você... não sei o que seria de mim. Talvez eu destruísse este mundo.

As palavras dele a atingiram como uma tempestade, deixando-a sem reação. O rosto de Luna corou intensamente enquanto comparava aquela declaração com as atitudes de seu amigo Dante. Algo em seu peito se agitou, uma necessidade urgente de se tornar mais forte. Mas, por ora, manteve-se calada, apenas sentindo o calor protetor dos braços de seu tio.

Virando as costas para Yaling, o homem falou com um tom sério, mas sem abandonar sua habitual presença marcante:

— Agradeço por terem cuidado da minha sobrinha sapeca. — Ele fez uma pausa breve, antes de acrescentar: — Diga ao Ye que espero reencontrá-lo no torneio de artes marciais juvenis durante as férias escolares.

— Minha filha está ansiosa pela revanche contra aquela "gorila" de cabelo verde! — respondeu Yaling, com um leve sorriso.

O homem soltou uma risada contida, mas sua expressão manteve-se severa.

— Essa gorila tem me dado muito trabalho ultimamente. Mas já providenciei um zoológico adequado para ela.

Yaling arqueou uma sobrancelha, provocativa:

— Um homem tão incrível e ainda assim incapaz de controlar seus próprios “animais”!

Ele não perdeu tempo e rebateu, a voz afiada como uma lâmina:

— Ye também é um homem incrível, mas até agora não conseguiu corrigir os péssimos hábitos de sua esposa.

Luna ficou boquiaberta com a resposta ríspida do tio, comparando-o em pensamento com seu amigo Dante.

— Nossa, o tio tem a resposta na ponta da língua igualzinho o Dante... — pensou, tentando esconder um sorriso nervoso.

O homem virou-se para Yaling, os olhos vermelhos cintilando em um brilho quase ameaçador.

— Da próxima vez que cuidar de algum paciente, certifique-se de guardar essas suas lâminas em forma de unhas!

Yaling apertou os punhos, mas manteve um sorriso falso em seu rosto.

— Parece que você continua sendo observador... Não é à toa que é...

Ele ergueu a mão, interrompendo-a com firmeza:

— Pare. Não me faça desarquivar suas fichas.

Yaling inclinou a cabeça, em falsa obediência, e respondeu com um tom irônico:

— Sim, senhor.

Com um flash vermelho, o homem desapareceu junto com Luna, deixando Yaling parada na calçada. Ela observou o espaço vazio onde estavam, um sorriso de deboche brincando em seus lábios.

— Você recaiu muito para quem já foi um modelo de boa conduta... — murmurou, antes de se virar e entrar novamente em sua casa.

                                                            [...]

Dingo, correndo com todas as suas forças, chegou até uma praça onde dezenas de pessoas seguravam pedras nas mãos, ameaçando uma pequena marcianinha, careca de pele verde. Ela usava um vestido e sapatinhos rosa, e tinha o tamanho de uma criança de quatro anos.

Cerrando os punhos, Dingo correu para proteger sua irmã, posicionando-se na frente dela. Desesperada, a menina agarrou o braço do irmão, chorando intensamente.

— Irmãozinho, eles querem me machucar com essas pedras!

Dingo sentiu seu coração arder, como se chamas de um incêndio ameaçassem consumi-lo por completo. Franziu a testa, cerrou os dentes e gritou:

— Vocês não têm vergonha? Seu bando de demônios! Como podem arrastar uma criança inocente até aqui e ainda querer apedrejá-la? Pessoas como vocês merecem o inferno!

Uma velha ruiva, de óculos grossos e vestindo um traje roxo com estampa de bolinhas brancas, vociferou com ódio e preconceito:

— Demônios são vocês, seres de outro mundo! Vocês matam humanos cruelmente e ainda têm a audácia de se fazer de inocentes!

Dingo rebateu, agora tomado por uma fúria crescente:

— Cala a boca, Bolo Fofo! Acaso os humanos são culpados pelos crimes cometidos por outros humanos? Então por que vocês acham que nós, marcianos, somos responsáveis pelo que outros do nosso povo fizeram?

Um homem de pele clara, corpo robusto, chapéu preto, camisa azul e bermuda preta, gritou com ainda mais raiva:

— Vocês, marcianos, são monstros cruéis! Deviam ter sido extintos há muito tempo!

Dingo, sem se intimidar, respondeu com firmeza:

— Se é assim, os humanos, que matam os da própria espécie todos os dias, também deveriam ser extintos, não acha?

O homem careca, de pele alva, usando óculos de sol, blusa azul e calça, gritou com a voz carregada de ódio:

— Morte aos marcianos!

Ele pegou uma pedra e a arremessou com força. O impacto foi direto na testa da pequena marciana, abrindo uma ferida que escorreu sangue verde.

Dingo congelou por um momento, sentindo algo que nunca havia experimentado: uma vontade de matar. Mas antes que pudesse reagir, uma dor aguda e um medo paralisante tomaram conta de seu corpo, fazendo-o cair de joelhos.

De repente, uma intuição o forçou a levantar o olhar. No topo de um prédio próximo, lá estava ele. O marciano adulto daquele dia.

Seus olhos, arregalados e injetados de fúria, eram cercados por veias que pulsavam como se fossem explodir.

Suas mãos, tão cerradas que sangravam, revelavam a promessa de uma violência ainda mais terrível do que antes.

O pânico tomou conta de Dingo. As lembranças daquele dia voltaram como um raio, mostrando imagens que ele tentava esquecer. Seu suor escorria em excesso, e seus pensamentos se atropelavam:

"Ele vai matar todos. Minha irmã vai ver isso. Eu preciso agir!"

Mas suas pernas tremiam incontrolavelmente, recusando-se a obedecer.

— Não consigo... Não consigo! O que eu faço?

Desespero, medo e responsabilidade o consumiam enquanto o marciano descia do prédio, trazendo consigo a certeza de uma nova carnificina. De repente, a sensação sufocante desapareceu. Dingo não sentia mais a agonia que o havia paralisado, mas seu corpo ainda estava fraco, incapaz de se mover após o nível extremo de estresse.

— Ora, ora... Um bando de adultos abusando de crianças indefesas. — A voz firme veio de um homem idoso que acabava de surgir na praça.

O Mestre Ye estava ali, segurando seu leque diante da boca, com um chapéu de palha cobrindo a cabeça e trajando um kimono com uma capa verde esvoaçante.

— Saia daqui, velhinho. — murmurou Dingo, ainda preso às imagens do marciano. — O senhor pode acabar morto.

Ye estreitou os olhos, abaixando o leque apenas o suficiente para revelar sua expressão de irritação.

— Velho é seu pai, garoto! — retrucou ele, antes de olhar ao redor. — O que faz com um bebezinho aqui no meio de tanta confusão?

— Eles arrastaram minha irmã pra cá. Queriam apedrejá-la! — Dingo apontou com dificuldade para a menina, que tinha uma pequena ferida na testa.

Ye abaixou o leque lentamente, seus olhos brilhando com determinação, e caminhou até a criança. Ele se ajoelhou, tirando um pano limpo do bolso direito.

— Vamos dar um jeito nisso. O tio vai limpar essa sujeirinha, está bem? — disse Ye, sua voz serena, enquanto passava o pano devagar pela testa da menina.

No instante em que ele retirou o pano, a ferida havia desaparecido. A menina tocou o local com as mãos e abriu um sorriso de alegria.

— Não dói mais! Obrigada, tio do leque!

Sorrindo, Ye alisou carinhosamente a cabeça dela.

— Meu nome é Ye, garotinha.

Mas o momento de ternura foi interrompido por uma velha de rosto enrugado e vestido desgastado, que avançou com raiva.

— Seu intrometido! Vai nos atrapalhar de fazer justiça, mendigo imundo?

Ye se levantou, guardando o pano no bolso, e removeu o chapéu de palha. Seus olhos, cheios de vitalidade e determinação, encararam a multidão.

— Justiça? — Sua voz soou como um trovão. — Se vocês tocarem nessas crianças novamente, farei o vento da justiça lançá-los às profundezas do abismo.

Enquanto falava, uma aura verde brilhou ao seu redor. Um vento poderoso soprou na praça, obrigando as pessoas a recuar. O medo dominava seus rostos, enquanto o Mestre Ye permanecia imóvel, como um monumento à justiça.

Dingo, com os olhos marejados, segurou as lágrimas enquanto agradecia:

— Senhor, muito obrigado por salvar a minha irmã! Se o senhor não tivesse aparecido... eu não saberia o que fazer!

Ye o encarou por um momento, seu leque apontado diretamente para o garoto. Seu tom era sério, quase duro:

— E quem salvaria você? Ou a sua irmã? Pense bem, garoto. Se quer mudar sua realidade, saber onde me encontrar é o primeiro passo.

Com isso, o Mestre Ye deu as costas e começou a caminhar, o som de seus passos diminuindo enquanto desaparecia na distância.

Ainda abalado, Dingo olhou para o alto, na direção do prédio onde o marciano adulto estivera momentos antes. Ele já não estava lá.

As palavras do Mestre ecoaram em sua mente, trazendo à tona lembranças de suas experiências mais sombrias e despertando algo dentro dele: um desejo ardente de se tornar forte.

Ele foi tirado de seus pensamentos pela voz suave da irmã:

— Irmãozinho, vamos embora!

Dingo abaixou o olhar para Ruth e suspirou, forçando um sorriso.

— Sim, mas não conte nada para a mamãe, tá bom?

Ela assentiu com uma expressão inocente:

— Certo!

Com cuidado, Dingo a pegou no colo. Mesmo exausto, ele carregou a irmã enquanto voltavam para casa, um novo propósito começando a crescer em seu coração.

 

 

 

 

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