Nisōiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume V – Arco 15

Capítulo 143: De Uma Batalha a Outra

No acampamento militar nos arredores de Kagutsuchi, os mirins ausentes de Doa foram chamados pelo alarme. A madrugada fria castigava os jovens que saíam de suas tendas terminando de vestir-se: 

— Estou congelando, droga parece que o sol não vai sair! 

— Não adianta reclamar Emi — Nakama passava por ela — para onde vamos deve estar ainda mais frio. Sem reclamar.

— Acalma os ânimos, cabeção — disse Yachi pegando na mão de seu irmão — isso não tem nada a ver com a nossa partida ainda. 

— A confusão tá tão grande por lá, Usagi? — colocava uma bota Effei — digo, Aiko está machucada. Não podiam esperar um pouco antes de chamar a gente?

— A coisa é muito pior — Usagi respondeu de dentro de uma das tendas.

Apesar da discussão no caminho, Aiko surgiu de sua cabana ao lado de Usagi, apoiada em um pedaços de madeira colados entre si como uma muleta:

— Eu estou bem. Vou usar isso só por um tempo. Obrigada pela ajuda, Usagi. 

— A batalha de onde viemos em Doa, é só o começo — Usagi continuou a explicar — Seremos chamados imediatamente.

— Só ouvimos rumores nessa última semana. Isso pode… — a fala de Kento foi interrompida pelos portões se abrindo. 

Grandes carroças estacionaram logo na entrada. Os mirins recém formados foram liberados para receber um grupo separado que estacionou do lado de dentro das paliçadas.

Quando desceram do veículo, Emi logo saltou sobre as duas primeiras que se fizeram notar.

— Masori, Umi! Não me soltem, tá muito frio — agarrava o pescoço das duas em um abraço triplo. 

— Bom ver que você não tá de castigo para variar — ria Masori.

— E o Yanaho? — se aproximou Usagi e Aiko — ele veio?

O garoto foi o último a sair, carregando sua capa vermelha na mão inteiramente enfaixada:

— Como está Ren? 

— Entregamos ele aos médicos — Aiko apontou para as tendas mais distantes — deve sair hoje ao nascer o Sol. 

— Pelo menos isso — passava pela pequena multidão sem dizer mais nada.

—  Yukirama, Umi — se surpreendia Effei — voltaram para ficar?

— Pensei até que tivessem saído dessa pra melhor — brincou Nakama. 

— Não foi por falta de tentativas — tomou a frente Yukirama.

— Isso tudo já é por causa dos Shiro? Antes de sair de Doa, ouvimos os comandantes discutindo sobre isso — olhou ao redor, Tsuneo — Eu nunca vi tantos Senshis aqui. 

Yanaho parou de caminhar.

— Pois é, seremos enviados em breve — Kento explicava — Eu só não imaginei que vocês viriam com a gente.

— Território Shiro? — se surpreendeu Yanaho. 

— É verdade, você não estava conosco antes da saída — questionava Tsuneo — Droga, e eu achando que fossemos ao menos esperar antes de encarar tudo de novo!

— Tomio nos avisou que o retorno será apenas para trocar equipamentos e alocar esforços para os outros frontes — comentou Jin — eu esperava pelo menos poder fazer uma visita ao... 

Tsuneo empurrou os outros mirins, procurando uma mesa próxima para se sentar. Com as mãos na cabeça ele falava para si mesmo:

— Droga, droga, droga! Eu só quero… descansar. 

— Eu tô pronto — disse Kazuya, puxando uma lâmina falhada da bainha — Só queria trocar minha espada.

Um gesto rápido de Yachi apontando para o ferreiro local mandou Kazuya direto para lá. 

— Então… — Emi quebrou o silêncio entre os mirins — E a tal votação de que tanto falaram essa semana?

— Os anciãos contaram os votos quando chegamos ontem — explicou Aiko — eles ganharam. 

— Parece que o Rei e Supremo não tem mais controle total do exército — concluiu Kento. 

— Isso é um absurdo — disse Yanaho — aquele tal de Naohito acha que pode resolver tudo. 

— Eu não sei o que ele pode resolver — deu de ombros Masori — mas o que aconteceu em Doa, Nokyokai e até no Deserto, não foi benéfico ao nosso Reino. Essas alianças estão nos expondo muito. 

— Teria sido pior sem os Heishis para nos ajudar em Doa. — respondeu Yukirama encarando Masori — Umi e Aiko são testemunhas disso, Doku nos livrou de uma enrascada por lá. Nokyokai teve um custo, mas antes os azuis perderem território do que nós. Saímos com vantagem apesar das mortes

— Nos tirar de uma enrascada para por em outra adianta pouco — provocou Umi. 

— Espera, quem é Doku mesmo? — perguntou Emi. 

Os olhos afiados de Masori foram para além dos ombros de seu companheiro, alcançando pessoas comuns chegando por trás das tendas do acampamento, ela apontava com os olhos arregalados:

— Aquela não é sua mãe? 

O garoto virou-se imediatamente, encarando o rosto sereno de sua mãe à distância, engoliu seco antes de prosseguir com passos curtos até ela, sem nem ao menos olhar para trás. 

— É verdade, me lembrei — dizia Aiko se aproximando de Umi — apesar de estarmos sob alerta, alguns familiares insistiram em vir quando souberam da volta.

 

— E os seus não vieram? Está machucada ainda por cima — questionou Umi. 

 

— Bem… não. É complicado — tentava apoiar o pé no chão — prometi pra mim mesma que só iria voltar para lá como uma Senshi

— Somos duas — sorria Umi, encostando em seu ombro.

— Duas? Como assim?

— Só vou voltar, quando meu trabalho tiver acaba… 

— Umi, preciso conversar com você — Jin o chamou pelas costas — podemos ir juntos ver seu pai — tirava uma carta do bolso — Senhor Masaki me concedeu essa permissão, ele e Iori são grandes amigos. 

— Ouviu o que falei agora a pouco? Vai você — rejeitou a carta — eu não quero. 

— O que?! — gritou Jin seguindo ela — Uma coisa é se afastar de mim na batalha, mas do seu pai? Senhor Masaki pulou um dia de cuidado médico para nos dar essa permissão! 

— Se os Kuro estão no território Shiro, isso quer dizer que também terá Súditos. Sabe o que isso significa? Aquele monstro vai estar lá. Eu tenho que estar lá.

— Você não tem que estar em lugar nenhum além de perto da sua família — segurou no ombro dela — tenho certeza que ele gostaria de te ter por perto. 

— Minha visita não vai tirar meu pai daquele transe — afastou os braços do meio irmão — encontrar aquele desgraçado pode! Isso é tudo que preciso saber.

— Você não tem solução, quer saber? — Jin bateu o pé e deu as costas — Vai lá achar aquele monstro. É só isso que te importa mesmo. 

— E você fica aí, fazendo nada. É tudo que sempre soube fazer.

Tsuneo acompanhou a discussão entre os dois irmãos à distância, seguindo Jin com os olhos e depois com os pés de volta a sua tenda.

— Não vai visitar o seu pai?

— Vou retornar para a mobilização ainda hoje. 

— Você acha que eu… sei lá, talvez pudesse ir ver minha família também. 

Jin parava seu passo voltando ao seu amigo com o rosto enraivecido:

— Você quer ver sua família ou quer fugir?

— Eu quero… eu quero me provar — desabafava, agarrando suas vestes — provar que posso ser tão habilidoso quanto meu irmão! Mas… toda vez que estou nas batalhas, não sei, parece que vou morrer a qualquer momento. E pode ser que essa seja a última vez que vou ver todos eles.

— Iori para mim sempre pareceu intocável — afastou o amigo — alguém que eu nunca seria capaz de agradar. Mas… depois de Nokyokai, eu percebi que ele era tão imperfeito como eu. 

— Eu nunca vi meu irmão perder. Não sei se isso me faria gostar menos dele.

— É ao contrário. Cada batalha independente de quem seja, pode ser a última. Mesmo que você tenha a habilidade do seu irmão, ou seja desastrado como eu, ainda assim estará perto da morte — virou de costas novamente — Será que eu posso gostar mais do meu pai desse jeito do que antes?

— Você até que tá fazendo alguma coisa por ele. Eu só tô aqui, com medo do que está vindo. O que minha família iria pensar?

— Acho que nós dois somos uma decepção.

Jin se despediu rapidamente, indo para os portões. Quando o filho adotivo de Iori chegou ao hospital, deu um passo para trás antes de entrar no leito de seu pai. Respirando fundo, ele chegou perto, os olhos de Iori estavam abertos porém sem nenhuma luz neles.

— Você me pediu para protegê-la, mas… eu nem sei se Umi quer ser protegida. Ela só escuta você. E eu não sou nada como você, queria fugir, escapar, ficar bem aqui. Só que não dá, né? Mesmo não querendo, preciso voltar para a luta. 

De repente, Iori estendia os dois braços jogando-os um de um lado para o outro irregularmente. Jin se espantava com o gesto, mas antes que pudesse fazer algo, ouviu passos atrás dele. Uma jovem enfermeira tomava à sua frente, carregando um forte cheiro de lavanda. 

— Muito bem, se acalme Senhor Iori — ela segurava seus braços, mantendo eles estendidos por alguns segundos, antes de baixá-los cuidadosamente — isso, isso mesmo. 

— E-eu, falei algo errado? — perguntou Jin se afastando. 

— Não, ele tem essas reações de forma espontânea — a enfermeira olhou o garoto dos pés à cabeça — você deve ser... 

— F-Filho dele — coçou a cabeça — Meu nome é Jin.

— Coitado, você tá exausto. Deve até ter esquecido como parar — retirava um medicamento do bolso, colocando na boca de Iori — principalmente com essa guerra agora. 

— Não é todos nós que querem só lutar e lutar — respondeu Jin. 

— Certo, e para onde você vai depois daqui? — pegava uma seringa. 

— Não é justo — apontava Jin. 

— Claro que é — pegava o braço de Iori — você escolheu esse caminho, precisa voltar para a luta como você mesmo disse antes de eu entrar.

— Estava me bisbilhotando? — suas bochechas ficaram rosadas. 

— Estava de passagem — ria ao tempo que injetava no paciente — Liga não, seu segredo está seguro comigo. Assim, a menos que você queira uma desculpa médica para ficar de fora da próxima batalha.

— N-Não! Nada disso — balançou a cabeça — melhor eu ir.

O corpo de Iori relaxava, enquanto Jin parava na porta para dar uma olhada na enfermeira. Nunca havia visto ela antes. Antes que pudesse falar algo, ela se virou:

— Sou Rina, enfermeira assistente— Jin continuou parado — Não tem um lugar para ir?

— Tenho… eh — disparou até a saída — tchau!

Para dentro das muralhas de Kagutsuchi, Yasukasa passava por baixo da ponte em frente à sua casa através de uma canoa. Encapuzada para evitar ser reconhecida, à distância parecia que ela se movia graças ao remo em seus braços, porém abaixo da superfície, a terra e a areia debaixo das suas rasas águas faziam o trabalho ao seu comando. Chegando na pequena doca, apesar da janela de sua casa estar com as cortinas fechadas, um dos criados a recebeu com uma reverência e uma carta selada. 

Rompendo o selo ainda dentro da canoa ela leu, logo saltando para fora do transporte.

— Avise Riki para preparar uma carruagem, imediatamente — ordenou Yasukasa — precisamos visitar o Rei Chaul. 

A Matriarca subiu rapidamente para sua residência para se trocar. Ela terminava de vestir-se com com uma túnica marrom e um colar que exibia um pingente em formato de coração, com uma estrela no centro, quando ouviu na porta do seu quarto:

— Está de saída?

— Eu vou. Como está Hoshi, mãe? Dependendo, posso voltar mais cedo. 

— Você sabe que sua irmã está melhor, ela está lendo na cama.

— Ainda na cama — suspirou Yasukasa — Como ela acordou?

— Deixei ela ter um pouco de privacidade. Ela não comentou nada sobre aquele cara… 

— Então deixa que eu mesmo vejo — saiu de supetão do próprio quarto. 

Passando rapidamente pelos corredores, Yasukasa se dirigiu a um quarto reservado. Hoshizora estava no escuro, com as pernas esticadas, roendo as unhas de uma mão, enquanto usava a outra para segurar o livro.

— Hoshi? 

— Estou bem — respondeu brevemente. 

— Ótimo — se sentou ao lado na cama — como foi de sono?

— Igual a de ontem — mantinha os olhos nas páginas — assim como todos os dias.

— Tem certeza? Você não disse nada sobre ter tido pesadelo com… aquilo — notava as olheiras profundas da irmã.

— Eu não tive. 

— Muito bem — se levantava — eu preciso dar uma saída. Vim aqui só para te dizer que não vou demorar — passou a mão no cabelo dela — tudo voltará a ser como era, Hoshi. 

Hoshizora apenas balançou a cabeça ainda lendo. Sua irmã se encaminhou até a porta, quando finalmente a princesa olhou para ela:

— Minha irmã, tenha cuidado. 

A matriarca acenou com um sorriso no rosto, mas ao fechar a porta Hoshizora fechou o livro, afundando seu rosto no travesseiro. 

Na entrada da casa, Riki já esperava pela irmã mais velha das filhas de Osíris:

— Eu conto as minhas novidades primeiro ou você as suas? 

— A sua é boa ou ruim? — Yasukasa subiu no cavalo.

— Péssima — estalou as rédeas — e a sua? 

— Depende — colocava seu capuz — o Conselho avisou que a campanha inicial de Oda e os Principais foi um sucesso. Cidades foram recuperadas e a Oásis não está mais em estado constante de sítio. Pela primeira vez nesta guerra, a aliança recuperou território do inimigo. 

— E por que isso seria ruim?! Espera, deixe-me adivinhar: orgulho ferido? Relaxa, essa ocupação é temporária. No final, seremos nós que vamos recuperar o deserto. 

— Não, não é isso — estendeu seus olhos para o topo dos castelo de Chaul no horizonte — o Conselho também relatou que nenhum Súdito foi avistado. Algo me diz que isso pode indicar uma mudança de prioridade dos Kuro

— Engraçado, isso tem tudo a ver com a minha notícia — ria de ironia Riki — o cerco de Doa que começou semana passada, soube dele? Eles voltaram com suspeitas de uma presença inimiga em território Shiro

— Minha suspeita tava certa — franzia as sobrancelhas — Eles não queriam o deserto, e sim cercar os Aka

— Pode piorar. Aparentemente os Aka estão mudando de direção — freava o animal, próximo aos portões — parece que nós estrangeiros não somos mais bem-vindos aqui como antes. 

— Chaul e Ryoma não são do tipo que muda de opinião da noite pro dia.

— É aí que tá. Não depende deles. Tem um figurão visitando o lugar — Riki apontou para entrada com os ombros — Algo me diz que você vai adorar vê-lo.

— Isso vai ser um problema para resolver quando ele chegar — ela descia da carruagem — por enquanto, precisamos uns dos outros. Não deve ser difícil fazer esse homem entender isso. 

Chegando nos portões, a Matriarca apenas precisou revelar seu rosto para conseguir autorização para a visita dela e de seu cavaleiro para entrar nos domínios do Rei Chaul.

A casa do rei Chaul recebia uma nova visita de um velho conhecido. Alguns Senshis lhe abriam caminho com reverência, outros sequer o olhavam no rosto. A porta da sala do trono foi aberta com sua bengala, enquanto sua outra mão balançava uma folha com anotações manuscritas:

— A contagem dos votos se encerrou. Seus dias de desmandos acabaram até vencermos esta guerra. 

Chaul sequer estava em seu trono. Junto com Ryoma, eles estudavam um mapa na parede ao lado. O rei se virou para recebê-lo, mas o Supremo agiu como se o convidado não estivesse ali.

— Seja bem-vindo, Naohito — Chaul foi cumprimentá-lo — Os anciãos gostaram das acomodações?

— São velhos, nada está bom o bastante. Meus dias de Senshis estão mais distantes que a morte, mas para mim comida e um teto já são luxos. 

— Eles vão se acostumar. Mudanças levam tempo.

— Eu não tenho paciência para adaptações quando a situação é urgente, não é mesmo, Supremo?

— Soube da sua vitória na Câmara — respondeu Ryoma, ainda sem se virar — Trazer a contagem dos votos foi desnecessário.

— É meu antigo lado de professor falando mais alto. Quis trazer o gabarito do exercício — se aproximou dos mapas na parede, era do território Shiro e outro do deserto Kiiro — E vocês ainda não passaram na prova, ainda estão com a cabeça nos problemas dos outros. Achei válido lembrá-los do que realmente importa.

— Os Kuro estão atuando em várias frentes — disse Chaul — Temos que considerar tudo.

O mapa dos Kiiro tinha sete marcadores vermelhos. Já dos Aka tinha dois. O último estava na mesa ao lado, separado do resto.

— Nada disso, temos que considerar nós mesmos agora — reparou no marcador separado — Masaki ainda está incapacitado?

— Todas as batalhas contra súditos precisam ser feitas em duplas ou trios — explicou Chaul — Ele enfrentou um inimigo de nível semelhante sozinho duas vezes na mesma semana. Ele está sob cuidados intensivos, colocá-lo em batalha agora é um risco.

— Se os anciãos tivessem evacuado quando pedimos, a batalha na fortaleza poderia ter sido evitada — acrescentou Ryoma — e Masaki estaria disponível agora. A votação poderia ter sido realizada em Kagutsuchi.

— E impor os Senshis que viajaram dias para Doa mais uma longa trajetória só para colocar uma cédula numa urna? Sem falar em deixar os cidadãos desprotegidos. Apesar do que aproximar o local da votação dos Senshis debaixo do seu comando é uma estratégia muito sábia. Conheço suas táticas, eu as ensinei — Naohito bateu nas costas de Ryoma — Este velho aqui tem outra ideia.

O ancião tomou dois marcadores do deserto, um outro par nos Aka e os colocou na fronteira com os Shiro:

— Pronto, em vez de lamentar o passado, vamos colocar nossas melhores forças na batalha realmente importante que é defender nosso povo.

— Tomoe e Honda vieram com Masaki desde a vitória em Oásis esperando serem chamados — explicou Chaul — Isso não será problema. Aliás, Tomoe já foi com o time que vai investigar os ecos na estrada para Novo Caminho.

— Oda não vai aceitar tirarmos dois Principais do fronte — retrucou Ryoma — Principalmente agora que eles finalmente ganharam território.

— E quem disse que a última palavra é dele?

Ryoma finalmente se virou para encarar Naohito de frente:

— Você pode até fazer o que quiser aqui, mas quando as consequências chegarem eu não vou limpar sua bagunça — apontou o dedo — não estamos numa sala de aula,  as vidas que se perdem por causa da sua arrogância não voltam.

— E o que aconteceu ali mesmo? — Naohito apontou para a fronteira entre Kiiro e Kuro.

— A última palavra é minha — Chaul entrou no meio deles, pegando um marcador e voltando para o deserto — Pedimos três Principais para lidar com assuntos internos. Já que perdemos um, a ordem será de ceder uma reposição.

— Pelo menos não se esqueceu que é o rei por aqui, Chaul.  

— É alteza para você — andou de volta para seu trono — Essa discussão está encerrada. Os Senshis foram despachados ainda hoje para encontrar o exército imperial na Reserva.

— Esse era outro ponto que eu vim discutir. Essa parceria com os Heishis

— Lá vem você de novo — interrompeu Ryoma — Prefere que lutemos duas guerras em vez de uma?

— Prefiro deixar quem nos despreza por conta própria. Cada um que cuide dos seus problemas. A menos que tenha outro motivo para sua colaboração com quem não vai hesitar por um segundo se tiver uma chance de nos fazer mal.

De repente, a porta se abriu.

— Alteza, Chaul, o que quer que seja seu nome, cumpri meu acordo — Dai se anunciava — Eu espero que honre o seu.

— Estão deixando qualquer um entrar hoje em dia? — Naohito olhou de canto para Chaul.

— Esse não é o melhor momento — Ryoma foi até ele.

— Imagina o meu. Vai fazer já fazem semanas que estou ausente de casa, não sou garoto de recados. 

— Quem é você para fazer essas exigências, Midori? — levantou a voz Naohito — Tem certeza que está no lugar certo, falando com as pessoas que queria?

— Dai é o representante dos Midori atualmente — explicou Ryoma. 

— Deveria me importar com esse velho? — questionou Dai, passando por Naohito sem ao menos olhá-lo.  

— Naohito vai dividir a governança do exército vermelho conosco de agora em diante. As coisas mudaram.

— Era mais fácil ter me falado “não” desde o começo.

— Dai — Chaul chamou por ele — eu sei porque quer voltar. Tem medo de Seth, o súdito do caos com o mesmo iro que você. 

— Nada que me disser vai me fazer lutar por outra nação às custas da minha.

— Nesse quesito nós temos muito em comum — comentou Naohito.

— Eu vou apenas dizer um fato. As forças inimigas, incluindo os súditos, atacarão os Shiro com força total, principalmente em Novo Caminho. Seth com certeza estará lá. 

— Novo Caminho?

— Era a capital do antigo Reino Shiro

— Bom — se encaminhou para a saída — obrigado, por nada.

Fechando a porta atrás de si, Dai deixou as três lideranças dos Aka para trás. Naohito se aproximou pelas costas do Supremo, que ainda encarava a saída cabisbaixo:

— Como eu estava dizendo, prefiro focar em nossos próprios problemas. Não podemos lutar esta guerra pelas outras nações, só por nós.

— Quem são “nós”, senhor? — disse Ryoma, deixando a sala.

A poucos quilômetros para dentro da Reserva Shiro, Onochi passeava por seu pomar de laranjas com uma cesta pendurada no braço quando ouviu os cavalos relincharem após uma brisa sacudir as folhas. Suspirando fundo, ele contou até três e Imichi estava bem na sua frente:

— Por que ainda está aqui?

— Os cavalos se agitaram por sua culpa, já falei para se aproximar devagar daqui. Quando terminar de recolher, eu cuido disso.

— Perguntei por que ainda não foi para a Reserva. 

Onochi colheu a última fileira de laranjas e voltou para casa debaixo do escrutínio do seu irmão, parado na porta:

— Parece que você ainda não entendeu a situação. Eles estão aqui para destruir o que sobrou da nossa família! Isso não… Como você pode ficar aí parado?

— Os Heishis virão me buscar quando tudo estiver pronto — deixou a cesta com as laranjas na mesa e desabou sobre uma poltrona.

— É assim? Só vai agir quando te chamarem? Nesse meio tempo fica aqui cuidando da primeira fazenda que eles vão arruinar quando avançarem.

— Eu sei o que te preocupa e não é a minha fazenda — olhou pela janela, o tempo fechava — Se é o caso, porque não vai logo para Novo Caminho?

— Porque você é importante! Estamos há anos procurando por aquilo, se eles encontrarem essa guerra, o mundo como conhecemos vai acabar!

— E por que eles saberiam de algo que nem nós descobrimos? Pode muito bem ter sido destruído no desastre que… Bem você sabe.

— Eles estão agindo perfeitamente desde o começo da guerra. Os ataques em várias frentes cercaram a região, Doa foi a última manobra para nos distrair enquanto eles ocupavam a nossa casa.

— Não acha que tá exagerando um pouco?

— Eu só vou descobrir a verdade quando me encontrar com o líder deles, o Cônsul Pontifício. Vou derrubar as linhas inimigas, vencer essa batalha e abrir caminho para o território Kuro.

— Duvido que esse homem seja do tipo que consiga dividir a mesma mesa de jantar.

— Essa guerra tem que parar! Eu posso chegar até ele, mas preciso de ajuda.

Onochi suspirou na poltrona.

— Não está esperando pelos Heishis, está? É outra coisa que te mantém aqui.

— Yanaho matou alguém em Doa. Você viu o estado dele.

— Eu ouvi sobre, tem certeza que foi ele foi até a última instância para fazer o que fez? — colocou a mão no queixo. 

— O que está sugerindo? — se levantou da poltrona.

— Ele é seu aprendiz, deve saber mais que eu, pois se não for o caso, temos que corrigi-lo antes que termine como…

— Corrigir? É isso que tem a dizer depois dele quase morrer? Pior, ele foi punido por desacato a um dos anciãos. Por isso não pude trazer ele comigo. 

— Então qual o problema? Os Senshis estão ajudando, com tempo ele vai entender seu erro. 

— Eu já vi essa história antes, irmão. Não quero que termine da mesma forma.

— Ele quase cruzou a linha nos Midori também. Desde que o conheci nas prisões Kiiro, percebi que era desequilibrado.

— Se você não confia em Yanaho, então não confia em mim — apontou Onochi.

— Lá vem você com essa história de confiança de novo — cruzou os braços. 

— Algo aconteceu na nossa ausência, eu senti isso nos dois. Devia tê-lo visto antes disso tudo. 

— Eles eram seus alunos, não meus.

— Esquece, você não vai entender — andou até a varanda.

Sendo seguido por Imichi, se incomodou a ponto de murmurar novamente:

— Esse é o seu problema, sabia? Nesse último ano muita coisa que aconteceu me fez pensar. Eu acho… Que o continente está desse jeito por nossa causa.

— Nossa causa? Está falando sobre nossa ausência?

— Isso foi o menor dos problemas. Olha tudo que fizemos e como terminou. Suzaki está com o inimigo, Aiuchu, que eu nem sabia da existência até ela aparecer grávida na sua porta, e agora o Yanaho. O que aconteceu com aquele garoto dos verdes?

— Deixei Mitensai com Dai em Kagutsuchi. Essa batalha me impede de ter tempo para…

— Tá vendo? Nunca tivemos tempo até antes da guerra. Sempre encontramos pessoas, ajudamos um pouco e partimos para a próxima.

— Eu dei o mesmo espaço para crescimento que você teve, quando te treinei. 

— Não é a mesma coisa e você deveria saber disso.

— Nossos aprendizes precisam de independência. 

— Isso é negligência!

Imichi recuou com a resposta. Onochi prosseguiu:

— Somos assim com os governos, com essa presença crua, ajudando aqui e ali. Aparecemos somente para resolver crises que se estivéssemos ali desde o começo nunca teriam terminado de cozinhar.

— Enquanto formos fiéis a Ordem tudo vai se resolver.

— Não, irmão. A Ordem vai nos guiar quando passarmos a agir em vez de esperar.

Emergindo da floresta, as tropas Heishis se fizeram visíveis da varanda de Onochi. O líder dos guardas do Imperador, o homem de olhos azuis escuro, combinando com a seiva da noite ao redor deles, acenou para os dois irmãos.

— Então eles realmente vieram — suspirou fundo Imichi — desculpe por duvidar de você, irmão.

— Já vou indo — Onochi descia — Se cuida em Novo Caminho.

— Você também.


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.

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