Volume V – Arco 14
Capítulo 133: Nova Ameaça
Era fim de tarde nas terras do rei Chaul. Ao passo que os camponeses se recolhiam de volta para suas casas, os Senshis saíram em patrulha. Kenichi partiu da Vila da Providência para o leste, nos limites do sudeste Aka, junto com mais dois homens rumo às estradas que levam ao deserto.
Antes de escurecer eles encontraram um carvalho, provavelmente séculos de idade, enfeitado com os corpos de velhos conhecidos. Dez no total, dois por galho.
— Era para ser uma ronda matinal — disse um Senshi, cortando o laço do pescoço de um deles — Atrasaram quatro horas, já esperava pelo pior.
— Encontrei meia dúzia na estrada indo para o Sul dois dias atrás — afirmou Kenichi, descendo outros corpos.
— Não há mais dúvidas — o segundo colocava o primeiro corpo na montaria — Estamos prestes a ser atacados.
— Não acha que os Kuro seriam mais diretos? Eles tem o exército para…
— Se eu soubesse o que nossos inimigos querem — Kenichi cerrou os punhos — Esqueça… Isso é defesa e um aviso para que fiquemos longe dessa região e além. Vamos aproveitar que eles estão nos dando tempo para nos preparar.
— Mas as outras terras? Vamos simplesmente…
— Quando foi a última vez que recebemos notícias das vilas camponesas ao Sul? — indagou Kenichi, montando no cavalo.
— Mês passado, senhor. O relatório está atrasado em uma semana.
— Pois bem. Esta é uma guerra, comece a agir como tal. Estarei partindo para Kagutsuchi nesta noite para avisar ao Supremo.
— E quanto a nós? — gritou um deles.
— Não retornem para essas bandas. Reúnam todos os oficiais das redondezas para as demais vilas, e a principal cidade local. Se eles atacarem, ela será o primeiro alvo — estalou as rédeas.
Retornando para seu posto, Kenichi logo trocou seu cavalo por uma carruagem. Daquela vez, não partiria sozinho. Ele estacionou o veículo na porta da casa de Chika.
— Eu explico no caminho — curvou a cabeça para a senhora — Mas você e meu irmão não podem continuar aqui.
— Ele está estressado, Kenichi — olhou para dentro de casa — Não pode esperar até amanhã?
— Sem chance. Por favor, me ajude a carregá-lo.
Yoroho saiu de casa, acompanhado por seu irmão a cada passo até finalmente se sentar na carruagem, Chika ao seu lado. Tudo que levaram fora a roupa do corpo cabia em um pequeno baú debaixo do banco. Já era de noite, quando Kenichi deixou sua vizinhança.
— Para onde estamos indo? — perguntou Yoroho, com olhos fixos na escuridão do lado de fora.
— Seu irmão vai nos levar numa viagem — respondeu Chika — Você vai gostar.
— Uma viagem… — abaixou a cabeça — E para onde estamos indo?
— É um segredo — Chika respondeu, reparando que a carruagem parou de andar.
— A estrada está escura… São os estrangeiros de novo? — suas mãos começaram a tremer — Irmão, nossa vila está sendo atacada? Precisam de mim de novo?
— Do que está falando, Yoroho? Isso foi há anos.
— Yanaho, onde ele está? — sua voz cresceu, ele alcançou a porta para sair — Meu filho pode estar correndo perigo.
— Não — Kenichi desceu da carruagem para impedi-lo — Você fica. Eu mandei ficar… — relinchos vindo à distância o congelou.
Yoroho continuou protestando mesmo com Chika aplacando sua ira, porém os ouvidos de Kenichi estavam mais atentos a possível ameaça que se aproximava naquela noite. Ele deu as costas ao próprio irmão, alcançando a guarda da sua espada só por precaução até que a figura que vinha na sua direção acendeu a tocha nas mãos.
Era um comerciante qualquer. Desconsertado porém aliviado, o titular da região suspirou antes de cumprimentar o comerciante de volta. Após o susto, subiu novamente dirigindo a carruagem:
— Vamos embora daqui.
— Vamos viajar? — repetiu Yoroho — Mas para onde estamos indo?
— Eu te conto no caminho.
A viagem durou aquela noite toda até a manhã, o pai de Yanaho e sua cuidadora eram hospedados pelas redondezas da capital pela manhã. Kenichi, tendo livrado seu irmão de um futuro perigo, prosseguiu ao seu encontro com o Supremo, no qual o esperava na metade daquele dia.
Kenichi chegava na mansão do Supremo, só que desta vez, Ryoma estava acompanhado por mais do que apenas os mensageiros. O próprio Rei Chaul estava de pé ao lado da poltrona de Ryoma, lendo alguns papéis.
— A-Alteza? — Kenichi se curvou — É uma surpresa encontrá-lo.
— Não permita que minha presença atrapalhe seus assuntos com Ryoma.
— Por que veio de tão longe Titular Kenichi? — indagou o Supremo.
— Os Kuro ameaçam nossas terras no Sul.
Ryoma trocou olhares com os mensageiros, os dispensando silenciosamente. Assim que o último cruzou a porta, ele falou:
— É uma resposta à derrota nas montanhas. As tempestades os impedem de avançar sobre território Ao. Estão expandindo onde podem.
— Temo que não seja tão simples, senhor. Conhecendo a força inimiga, já teriam investido contra as outras vilas a essa altura. Isso não é uma invasão e sim uma ocupação estratégica. Estão preparando algo.
— Evacuar os camponeses e atacá-los primeiro seria uma alternativa se não fosse pela convocação — disse Chaul, repousando o papel em suas mãos na mesa.
— Convocação? Agora? Os anciãos perderam a…
— A derrota no deserto preocupou as lideranças mais conservadoras — explicou Chaul, ao passo que Ryoma afastou o papel como se a mera visão o adoecesse — Naohito veio pessoalmente requisitar um representante.
— Supremo — Kenichi reparava no desconforto de Ryoma — Se isso te alivia, podemos transformar essa visita em uma campanha estratégica para…
— Espero receber Imichi esta semana junto com um convidado — respondeu Ryoma — Não vou perder esta oportunidade só para inflar o ego daquele amargurado.
— Então o que faremos com o inimigo? A sede dos anciãos fica no Sul. Mesmo que leve um tempo, eles são capazes de cercá-la em poucos dias.
— Uma campanha militar sem perturbar a normalidade dos trâmites políticos, ao mesmo tempo que defende nossos interesses na Câmara — Chaul levou a mão ao queixo — Com Oda e mais da metade dos Principais em Oásis, existem poucos candidatos ao nível desta operação.
— Os azuis estão muito satisfeitos com nossa contribuição nas montanhas — acrescentou Ryoma — Posso pedir uma retribuição do favor aqui. Senshis cuidam da proteção da Câmara, enquanto Heishis investigam as terras mais perigosas com suporte dos Titulares locais.
— Com todo respeito, Supremo, mas acha mesmo que o Império é digno de nossa confiança? — questionou Kenichi.
— Confio na pessoa que escolhi para encarregar esta missão — levantou Ryoma — eu diria que é um mediador nato.
— Decidiu o nome tão rápido? — Chaul cruzou os braços — Chame os mensageiros de volta, Kenichi. Temos trabalho a fazer.
— Além deles, quero que sinalize a presença do Senshi responsável pelos mirins, Tomio — completou Ryoma.
No entardecer daquele mesmo dia, dois mirins e seu professor atravessaram a área mais tumultuada da capital Kagutsuchi em busca do seu alvo. Sua busca os levou a uma taverna, escondida sob arcadas de pedra. O som da música e das conversas transbordava para a rua.
— Tem certeza que este é o lugar? — hesitou Jin.
— Absoluta — respondeu o professor abrindo a porta.
O trio logo foi recebido pelos berros e cadeiras empurradas em um canto da sala. Um grupo de homens sentados ao redor de uma mesa circular ao redor de cartas, canecas cheias e moedas de prata.
— Você está roubando! Como essa carta estava com você de novo?!
— Isso é só um jogo — o homem acusado apenas olhava as cartas uma a uma em suas mãos — feito para se distrair, não para brigar.
— Não tô gostando nem um pouco de perder para você. Senshi ou não, ninguém rouba meu dinheiro e sai assim.
— Você fala, como se eu precisasse do seu dinheiro — continuou a encarar as cartas — As moedas são só para deixar as coisas mais interessantes.
— Ah é? — exibiu sua espada embainhada na cintura — Então vamos deixar tudo mais interessante. Uma luta de homem pra homem.
Os garotos procuraram em Tomio algum sinal de quem seria o homem que procuravam. Os olhos do professor estavam fixados nos dois discutindo. O mais irritado se levantou, batendo na mesa, provocando o vencedor até que ele decidiu também ficar de pé.
Apesar das tochas, o lugar era fechado e escuro. Cercado pelos outros jogadores da mesa não dava para perceber, mas ao ficar ereto, o homem tinha pouco mais de dois metros de puro músculo mesmo com todo uniforme de Senshi. Ele largou as cartas na mesa, dizendo:
— Eu não sei se você quer isso.
— Olha só ele — os outros homens da mesa riram — Esse tamanho todo só assusta as crianças.
— Minha arma está do lado de fora.
Tomio e os meninos seguiram o homem para o lado de fora, logo atrás dos outros Senshis. Havia uma carruagem estacionada do lado de fora, ocupada por um serviçal que logo reconheceu o homem que vinha na sua direção. Ele abriu a porta para puxando um objeto enorme coberto por um véu vermelho. Ao removê-lo, uma marreta, com o cabo maior até que seu suposto oponente.
— Desculpe. Ela é grande demais para entrar no bar — colocou a arma nos ombros, como se pesasse menos que um graveto — Quer fazer isso aqui mesmo ou num lugar reservado?
Os queixos dos Senshis caíram no chão. O rapaz que o acusou ficou vermelho de vergonha.
— Então você é…
— Masaki Katashi — completou Tomio — o Senshi Principal do Martelo.
— Algum problema? — perguntou ao professor — Queria terminar o jogo primeiro.
— Não, não — o Senshi que o desafiou se protegia com as mãos — Você venceu — se voltou à plateia de homens — Vamos voltar, pessoal. Nada para ver aqui.
O bar voltava a encher. Somente Masaki e aqueles que o procuravam permaneceram na rua.
— O Senshi Supremo requisita sua ilustre presença — Tomio fez uma mesura.
— Eu acabei de voltar do Deserto. Oda me mandou tirar folga.
— Infelizmente, Principal Masaki, eu não venho apenas em nome do Supremo. Houve avanços inimigos em nosso território, claro — apontou para Tsuneo e Jin — mas estes garotos carregam uma mensagem de Nokyokai.
— Eu conheço esse garoto — colocou a arma no chão novamente, se apoiando nela — Você não é o…
— Me chamo Jin Matsumoto… senhor — se curvou — o comandante Iori confiou a mim informações sobre o conflito.
— Jin… Iori… — seus olhos se arregalaram — Claro, o sobrenome… — se voltou para Tomio — Por que Iori não veio pessoalmente?
— Está em coma. A situação é desconhecida para os médicos.
— Isso aconteceu numa batalha contra os Kuro — explicou Tsuneo — mas, mas… o Comandante e nós tínhamos fortes suspeitas de uma sabotagem na operação de Nokyokai por parte dos Heishis.
— Iori já sabia que o pior podia acontecer — tomou a frente Jin — em nossa última conversa, ele revelou que a maior parte do exército azul nas montanhas sequer tinha treinamento. Recusaram reforços, praticamente nos jogaram contra o inimigo enquanto evitavam o conflito.
— Vindo dos azuis eu não me surpreenderia se fosse apenas incompetência.
— Eu ouvi! — Tsuneo respondeu — ouvi os Heishis discutindo sobre uma escavação. O tom da conversa era de usar nosso exército como escudo para conter os inimigos enquanto eles faziam alguma coisa que terminou no último dia. Quando terminaram… os Kuro já tinham descido a montanha. Nunca tivemos chance.
— “Tom” não é evidência. Tem certeza que o Supremo me chamou por isso?
— O Supremo tem outros assuntos — explicou Tomio — Os garotos foram instruídos a buscar somente você. Pessoalmente, eu divido meu receio com eles. É a primeira batalha que os dois comandantes são incapacitados. O segundo foi meu parceiro instrutor, Arata.
— Alguns de nós ainda estão nas montanhas — cerrou os punhos, Jin — não percebe, Senhor Masaki? A qualquer momento os Heishis podem usá-los de novo. Meu pai deve ter tido algum motivo para que essa mensagem chegasse apenas a você!
— Servimos juntos por um tempo — envolveu sua arma no véu de novo — Cuidar do que sobrou dos nossos companheiros faz parte do trabalho, certo? Quem fez isso com ele?
— Era um cara com poderes estranhos. Meu pai parecia enfeitiçado, tinha visões, congelava na batalha — colou os olhos no chão — esse coma parece mais uma dessas visões só que mais forte.
— Sendo um Kuro, é quase certo que seja um daqueles Súditos do Caos — concluiu levando a mão ao queixo — encontramos alguns no deserto.
— Encontrá-lo em um campo de batalha será difícil — perguntou o Professor.
— Eu dou um jeito — abriu a porta da carruagem para guardar o martelo e partir.
— Espera, mas o que você vai fazer então com tudo que contamos? — Jin era segurado por Tomio.
— Você é filho de Yamoto. Por que mudou de sobrenome? — a pergunta de Masaki congelou Jin.
— Só aceitam mirins filhos de Senshis ativos — abaixou a cabeça — Ele ainda é meu pai, mesmo morto, e ele me queria ver um Senshi. Por isso que…
— Eu sei — se aproximou, agachando na sua frente — Iori realmente honra suas amizades, ele sabe muito bem que seu guarda segredo. Por isso essa investigação dos azuis pertence a mim agora, não comentem sobre isso com ninguém. Se isso vazar, podemos gerar uma crise diplomática que não ajuda ninguém nesse momento.
— Mas… — ameaçou Tsuneo.
— Se querem ajudar façam isso como guerreiros de verdade, e se candidatem para a próxima batalha. Quem sabe a gente não se esbarra — entrou no transporte — Querem uma carona para o acampamento de vocês?
— Principal Masaki, e o Supremo? — questionou Tomio.
— Eu passo lá, assim que deixar vocês no acampamento.
Quando retornaram ao acampamento, o trio encontrou os mirins em meio a um jantar. Apesar de haver três mesas dispostas com sopa de legumes para cada um, o grupo havia cercado Masori, cujas mãos seguravam uma carta.
— E então? Quais são as notícias?
A pergunta de um dos mirins caiu em ouvidos surdos. Masori estava mergulhada na carta, quando alguém tocou em seu ombro.
— O que Yukirama disse, Masori? — perguntou Yanaho.
— Eles estão bem — todos suspiraram aliviados — disse também que encontrou informações sobre o que aconteceu em Nokyokai. Pelo visto vocês estavam certos, os Heishis tentaram prejudicar vocês mesmo. Ah, e ele também disse que vai entregar as evidências pessoalmente em breve.
— Em breve? Mas como? — perguntou Usagi — não tem previsão de volta, que eu saiba.
— Acredito que podemos explicar isso — se aproximou Tomio com os demais garotos.
— Conseguiram? — questionou Yachi, indo encontro a Tsuneo.
— Conseguimos… né? — respondeu Tsuneo, olhando para Jin.
— Colocamos um Principal no caso, ele acabou de ser convocado pelo Supremo. Uma nova está por vir — explicou Tomio para os mirins que voltavam aos seus lugares — o apoio Imperial foi requisitado.
— Apoio? — indagou Yanaho — Quer dizer que será em outro lugar?
— Exatamente, será no sudeste. Nossa fronteira com os Shiro e o resto do mundo.
A informação fez Yanaho arregalar os olhos e o restante dos jovens trocarem olhares entre si.
— Agora tudo faz sentido — disse Masori com a carta em mãos — Yukirama deve estar falando desta batalha! Peço sua permissão para ir, Professor.
— Se ele vai estar, então a Umi — pensou Jin.
— Aiko também — concluiu Usagi, contendo o ânimo por um instante — Mesmo assim, alguns devem ficar. Não podemos ir todos só porque queremos rever nossos amigos.
— Jin e Tsuneo são inegociáveis. O restante, a menos que decidam entre si quem fica ou quem vai, serão analisados de acordo com seu estado físico após as batalhas — cruzou os braços, Tomio — a prioridade será dada ao grupo de Nokyokai por estarem mais descansados.
— Aquela região, meu pai… — afirmou Yanaho, cerrando sua mão no pergaminho que segurava — Eu vou nessa batalha professor.
— Professor, eu entendo que quer conservar nossas energias após o deserto — se levantou Usagi — mesmo assim peço permissão para…
— Você não precisa ir — interrompeu Yanaho — Na verdade, acho melhor que a maioria fique. Nem todo mundo precisa se arriscar.
— E por que você precisa no nosso lugar? — Nakama se levantou da mesa.
— Espera aí — Emi surgiu de trás dos alunos com a boca suja de sopa — quer dizer que eu posso não ir?!
Com um breve aceno positivo de Tomio, a mirim jogou os braços para o alto em euforia.
— Tá e daí, ela não quer, eu quero — se aproximou, Nakama — o que faz de mim diferente do…
— Nem pensar — Yachi afastou o irmão de Yanaho — esqueceu o que disse para nossos pais? Prometemos que não iríamos na próxima.
— Mas Yachi…
— Ponto final, Nakama. Dessa vez, não — se voltou para Tomio — Por favor, peço dispensa minha e do meu irmão.
— Eu vou — disse Kazuya, com uma tigela vazia em mãos — faz parte do revezamento. Se faltar agora, vou ter que ir depois mesmo.
— Vocês não entendem. Isso é coisa séria. A maioria aqui pode nem voltar — Yanaho se colocou na frente dos demais.
— E é exatamente por isso que temos que lutar — respondeu Masori, dando um passo à frente junto do mirim — Não é isso, pessoal?
— Isso, ou tudo será em vão — completou Tsuneo.
Com um aceno de todos os mirins, Tomio aceitou o pequeno grupo de voluntários naquela noite e começou os preparativos para a viagem. Em poucos dias, o grupo já estava na estrada para o sudeste, onde as únicas coisas para se ver eram fazendas e camponeses.
Com um mapa na mão, Yanaho questionava o Tomio que conduzia sua carruagem:
— Cidade de Doa. Meu tio falava dela, até ia de vez em quando, mas nunca me deixava ir junto. Isso tem a ver com os anciãos?
— Doa é a Cidade dos Senshis, sede da Câmara dos Titulares e dos casa dos Anciãos. Por causa disso, só convidados e servos podem entrar — explicou Tomio com os olhos na estrada — O lugar é só para política, nada mais.
— Quer saber, acho que nem gostaria de conhecer mesmo — o garoto da capa vermelha olhou pro lado de fora — se quisesse ficar olhando mato nunca teria saído de casa. Nem consigo pensar porque eles escolheram morar logo por aqui.
— Eu diria que a cidade nos escolheu. A Guerra do Sangue exigia muitas campanhas na fronteira com Ao e Midori. Doa se tornou um ponto estratégico. Todos os grandes Senshis passaram a praticamente morar por aqui na época. Virou uma segunda capital.
— Antes fazia sentido porque as montanhas impediam o inimigo de tentar qualquer coisa — pensou Tsuneo encolhido na outra extremidade da carruagem oposta a Yanaho — Mas agora as lideranças estão na boca do inimigo. É um risco muito grande.
A cidade estava movimentada naquele dia, contava com um clima mais gelado do que o habitual do centro do Reino. Os Mirins desembarcaram às portas de uma enorme fortaleza. A entrada exibia um portão era cromado com um metal vermelho que reluzia com a luz do Sol.
“Isso é enorme”, Yanaho admirava o portão e as torres adjacentes.
Os mirins terminaram de formar. Eles foram recebidos um sujeito de altura média, cabelo curto, olhos pretos, levemente mais velho que o restante do corpo de mirins:
— Saudações, mirins. Sejam bem-vindos à Doa. Sou Makoto Shiranui, como militares sugiro que se sintam em casa na cidade mais militarizada de nosso Reino. Vou pedir que me acompanhem para que eu lhes apresentem as dependências de nossa principal fortaleza.
Kagutsuchi estava à vista para o trio que cavalgava há dias pelo continente. Liderando a viagem, Imichi parou no meio da estrada e sacou uma cesta de vime que guardava na sela. Ele cobriu a grama com o pano que tinha ali dentro e tirou uma torta de dentro.
— Meu irmão me fez isso para viagem aos Kiiro. Vocês vão conhecê-lo em breve — tomou um pedaço com o garfo antes de entregá-la aos dois — A torta dele é ótima.
— O Supremo vêm aqui? — Dai perguntou, retirando o capuz — Não queria perder tempo nessa viagem.
— Os Midori conseguem viver um tempinho sem você. E além do mais, essa viagem será o primeiro passo de uma longa e duradoura parceria — apontou para torta na frente de Dai com o garfo — Por enquanto, tente descansar.
— Eu entrei nessa para libertar meu povo — Dai pôs o talher de lado — não cometer os mesmos erros de implorar por migalhas.
— Os Aka estão sobre uma nova administração desde aquela época. E o mais importante, você não tinha a mim.
— O que você acha, Mitensai? — Dai se virou para o terceiro membro do grupo — Se bem que você veio por outros motivos.
— Bem, eu… Agradeço ao Imichi pela oportunidade de finalmente poder treinar. Aliás, vamos encontrar Yanaho? Eu preciso falar com ele!
— Acho difícil, como mirim, ele está bem ocupado na guerra.
— Melhor assim — retrucou Dai — Ele nos ajudou, claro, mas é instável. Você também mencionou algo sobre o Seth estar atrás dele. Essa combinação causou mais mal do que bem da última vez.
— Yanaho é diferente — Mitensai deu um leve empurrão em Dai, antes de se voltar para Imichi em silêncio — não é?
— Yanaho e Suzaki estão envolvidos em algo muito maior do que eu, vocês ou os reinos.
— Falando em Suzaki, lembrei sobre o que mencionou sobre a criança mestiça — Cerrou os punhos — A mãe está aqui, né? — insistiu Mitensai — Como deve ser o filho dele?
— Aiuchu até gostaria de receber visitas — Imichi olhou pro céu — mas, estou falando de outra coisa. Há uma profecia passada entre os Shiro, que detalha o destino das cores, continentes e o próprio futuro. Os dois são peças centrais nela.
— Desculpa por ser um descrente — Dai pegou no garfo, cortando um pedaço da torta para si — Em quinhentos anos ou sei lá quanto tempo, podem ter existido uns mil Yanaho’s ou Suzaki’s. O que faz deles mais importantes que os outros? — Além disso, Suzaki está perdido, você viu com seus próprios olhos.
— Se você é um descrente, nenhum argumento vai te convencer — Imichi recuou na cadeira, cruzando os braços — Tenho meus motivos e evidências para sustentar a hipótese de que esses dois são os escolhidos. Aos meus iniciados — olhou para Mitensai — posso contar mais um pouco.
— Pode parar na propaganda — Dai conteve a risada — Iro é um meio para um fim e só. Minha vida é cuidando do meu povo agora.
— Tudo está conectado à profecia — respondeu Imichi, se levantando — Um dia, vai entender isso.
Ilustradora: Joy (Instagram).
Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.
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