Nisōiro Brasileira

Autor(a): Pedro Caetano


Volume III – Arco 9

Capítulo 73: Destinados

Os olhos de todo o tribunal estavam em Yanaho. Ao seu redor, alguns do Conselho dos Sábios faziam anotações ao passo que outros se apoiavam para ouvir mais de perto. Yasukasa estava reclinada em seu trono, com um olho no réu e outro na defesa. 

Da parte do júri, todos estavam de pé, exceto por Oda sentado no meio deles.

O garoto permaneceu calado por alguns segundos até que Hoshizora acenou para ele com as mãos.

— Está me ouvindo bem? Por que você os deixou fugir?

Yanaho encheu o peito e engoliu seco. Apoiando suas mãos firmes em cima do púlpito respondendo finalmente:

— Tudo começou quando o patriarca e eu caímos dentro da pirâmide, tentando chegar ao topo. A explosão nos machucou pra valer. Ele estava sem forças e me pediu para ajudar a chegar lá. Eu perguntei o porquê disso.

— Por que chegar ao topo?

— Não, o porquê o motivo daquela luta.

Hoshizora observava o Conselho, com as cabeças viradas para outra coisa. Yasukasa tinha seus olhos no garoto, porém ainda com o rosto apoiado nas mãos. 

— Era um morador da Vila da Providência, foi uma das vítimas do ataque Kiiro a dois anos atrás. Planejava traí-lo por isso?

— Nunca. Eu já tinha tomado a decisão de que eu venceria os invasores. 

— Já não foi enviado exatamente para ajudar a vencê-los?

— Depois que eles me venceram na primeira vez, me contaram o porquê de terem feito tudo aquilo. Eles estavam se vingando do patriarca, por ter a casa deles nos…

— Objeção — interrompeu Kenkushi — Acho que já ouvimos o bastante.

— Termine — pediu Yasukasa erguendo a cabeça.

Como se não ouvisse o que estava ao redor, Hoshizora sequer virou-se fitando seus olhos ao julgado: 

— O que fez ajudar o patriarca mesmo com o testemunho dos invasores?

— Estavam descontando sua dor em inocentes, carregando a culpa justificada pelo erro do patriarca. Antes de tudo, ele mesmo me confirmou que a versão dos Kuro era a verdadeira, a partir disso ele me disse que não podia deixar as pessoas pagarem pelo erro dele. Eu acho — balançou a cabeça  — não, eu tenho certeza de que ele era uma pessoa diferente quando fez aquilo.

— A defesa já fez a sua parte — insistia Kenkushi.

— Então você aceitou o pedido de levá-lo ao topo sem questionar — continuava Hoshizora — Mas onde sua disputa com os invasores se encaixa nisso?

— Eram irmãos gêmeos. Um deles tinha tomado a pior parte do ataque final do Osíris. Encontrei ele praticamente morto, nos braços do irmão, que me atacou assim que me viu. No fim, por querer absolver eles da culpa, eu acabei como o único culpado. 

— Basta. Protesto! — gritou Kenkushi — Isso é ultrajante!

Yanaho se levantou do púlpito. Os Kishis levaram as mãos para suas espadas, a tensão fez com que Yasukasa acenasse para seus homens aguardarem as ordens.

— Isso vai continuar para sempre, se eu tivesse matado eles. Alguém de lá poderia voltar para cá para se vingar de mim, depois outra pessoa daqui faria o mesmo — subiu a voz — Nem eles, nem ninguém de lá tem mais culpa para transferir para alguém agora que poupei a vida deles. Agora, quer saber, se vocês não entenderem o que o Osíris queria, vão repetir tudo de novo! Eu estou tentando acabar com a culpa!

Hoshizora deu um passo para trás. O Conselho continuou suas anotações e olhares frios. Por último, Yanaho olhou para Yasukasa, cuja atenção já estava em chamar dois criados no fundo do tribunal

— Eu preferi acreditar num mundo melhor, e não continuar com esse ciclo assassino. Osíris sabia que iria morrer e aceitou isso, ele também queria que isso acabasse! Agora todo mundo que ajudou ele sem saber é culpado também? Vão colocar quem depois de mim nesse tribunal? Isso nunca vai acabar!

—  Eu já ouvi o bastante de vocês três — bateu o martelo, Yasukasa — A defesa pode realizar suas considerações finais.

— Ora, finalmente — resmungou Kenkushi. 

A frieza tanto do júri quanto do conselho estremeceu os pés de Yanaho, que finalmente desabaram no assento com a resposta de Yasukasa.

— Eu espero que — dizia Hoshizora, suspirando — o testemunho do réu, desperte o bom senso dos juízes. As evidências sugerem que o sacrifício de Osíris teve auxílio de outras partes. Digo isso não porque desejo que o réu divida seu lugar com essas pessoas — travou olhos com Yasukasa — e sim porque todos fazemos nossas escolhas, nem sempre pela nossa malícia, mas sim, por nossa humanidade. Assim como meu pai fez a sua, devemos ter respeito por seu legado. 

Os Kishis retornaram o réu para seu poste, acorrentado. O mediador assumia o centro, ao tempo que todos voltavam ao seu lugar com Yanaho sendo preso novamente.

— O veredito será dado através da pesagem dos votos.

O par de servos chamados por Yasukasa chegou aos pés do Conselho. Um carregava uma travessa de ouro, com paralelepípedos grossos, pintados de preto. Já o outro carregava um objeto escondido por um véu com as duas mãos. 

— Os votos são pesos, que serão colocados numa balança. O lado esquerdo, representa os votos para a absolvição do réu. O direito, sua condenação. O voto será secreto, no final, o resultado será revelado.

O primeiro passou por todos distribuindo um peso para cada membro do conselho, que pegava os seus votos indiscriminadamente. Na vez de Yasukasa, ela segurou alguns na mão até que o servo apontou qual era o dela. Depois, o segundo passou em cada púlpito, levantando o véu virado para o lado do conselheiro sem exibir à plateia. Ao depositar seu peso, ele descia o véu e repetia o gesto com o próximo.

Assim que Yasukasa lançou seu voto, de repente, um vento soprou sobre o tribunal. O servo segurou o véu no lugar. 

Um feixe de luz cortou o local soprando poeira, estacionando bem na frente do réu.

A sujeira se dissipou, revelando um chapéu largo de palha, pairando no ar até ser pego por um homem de média estatura, magro e com cabelos negros e lisos com mechas da mesma cor de sua longa capa branca que se estendia até o chão. 

A capa esvoaçante cresceu os olhos de Yanaho que recordava uma memória de um sonho distante:

“Isso é… o homem da capa branca?”

— Cerquem ele agora! — apontou Kenkushi — Diga quem é você?! 

Lanças eram apontadas por todos os lados. Yasukasa ficou de pé, olhando o júri por cima. Somente os Senshis não estavam de pé.

— Por essa você não esperava — disse Oda se jogando para trás. 

— O que Imichi pensa estar fazendo? — sussurrou Ryoma com os olhos no Shiro cercado. 

Imichi colocou o sombreiro em formato triangular para trás, como um capuz, pegando a corrente do prisioneiro com as duas mãos. Quando aplicou força sobre ela, os Kishis estenderam mais ainda suas armas. 

— O que estão esperando? Ataquem! — gritou Kenkushi — Está tentando soltá-lo!

 — Vocês poderiam me dar a chave? — Imichi virou para eles coçando a cabeça — usar meu iro para algo tão banal zoa desagradável.

Kenkushi rosnava até sentir a mão de Yasukasa passar por ele e pelos guardas: 

— Então esse é Imichi, o convidado de honra dos Aka.

Oda apenas inclinou a cabeça para Ryoma, que se levantou tomando o lado do Shiro

— Alteza, se me permite — chegou ao pé do ouvido de Imichi — não foi isso que combinamos. 

— O combinado foi — juntou as mãos — que eu iria resolver isso. 

Das palmas unidas de Imichi, um vento forte afastou os Kishis que o cercavam. Foi então que ele pegou nas correntes que prendiam o pescoço de Yanaho. O metal vibrou e rangeu como unhas num quadro. Todos cobriram seus ouvidos até o forte barulho dos elos se partindo. 

Yanaho já era capaz de levantar o pescoço. Imichi olhou para os guardas, com os ombros levantados.

— Eu disse que seria desagradável.

— Pensei que o povo Shiro apartasse conflitos — Yasukasa retirava sua espada da cintura — Seja você quem for, eu quem mando aqui. 

— Yasu, espera! — Hoshizora tentou alcançá-la, mas parou no bloqueio de Kishis.

— Eu pedi permissão. Esse garoto não vai morrer aqui — deu um passo na direção da princesa. 

— É um pouco tarde para decidir isso — Ryoma pegou em seu pulso, sussurrando — Os votos estão terminando de ser contados.

— Condenado ou não, eu vou tirá-lo daqui.

— Passou do tempo que podia fazer qualquer exigência, Shiro. Quantas vidas poderiam ter sido salvas se tivesse aparecido na invasão?! — gritou Yasukasa. 

— Está certa — abaixou a cabeça e levando o chapéu na altura do peito — Contudo até nossos erros carregam um propósito. E hoje, começarei a pagar por eles. Por isso eu insisto — apontou para Yanaho — esse garoto não pode morrer.

Yanaho revezava seu olhar entre a juíza e seu provável salvador. 

— Vocês Shiro fazem o que querem. Somem quando querem. E quando começamos a andar com as nossas próprias pernas aparecem para nos dizer o que fazer? Cadê o propósito em tudo isso? Por que quer livrar o garoto? 

— Isso não é um assunto para ser discutido aqui…

— Eu quero agora — bateu o pé — É o mínimo que meu pai merece por ter abandonado ele, enviando um covarde no seu lugar!

— Esse covarde é a pessoa mais importante dessa sala! — respondeu Imichi, se interrompendo por um segundo antes de voltar — Muito bem. Do seu jeito então.

Soltando as correntes de Yanaho, Imichi se virou para o juri, levantando a voz.

— Saudações a todos vocês, Dinastia Kiiro e seus submissos. Eu, Imichi, e meu irmão somos representantes dos Shiro, e quero começar lamentando a morte de seu patriarca. Osíris tinha meu respeito, e eu assumo a culpa por minha ausência. O imprevisto tem o dom da surpresa e mediante a isso só nos resta a impotência — desceu um joelho ao chão — sinto muito mesmo.

A aflição no rosto com marcas profundas que partiam de seu nariz, deixava todos ao redor perplexos ao tempo que ele continuava, se levantando: 

— Esse garoto, por outro lado, por mais inacreditável que possa parecer a vocês, é maior do que essa perda, pois ele serve a um propósito maior. Nos confins de meu território natal, existe um templo de nossos antepassados. Em suas paredes está escrita a história, nossa história. Não dos Shiro, mas do continente. Mais do que isso, ao final de esculturas, pinturas e letras, há uma mensagem para o futuro. Melhor, uma profecia.

Imichi trazia na memória uma estátua de dois guerreiros, cruzando espadas. Acima dela, no grand mural a frente, estava escrito: 

Duas espadas se cruzam, o passado não se arrepende, o presente é constante. Todavia, o futuro desvenda a realidade, acorrentada aos desejos e escolhas que, por sua vez, são escravas do destino. Este é o início e o fim. A história irá acabar quando esses dois nomes se encontrarem.”

Cada personagem da estátua, posava em uma base. Imichi deslizou a mão pela poeira de uma delas, revelando um dos nomes, “Yanaho”. Por fim, abaixo das espadas estava escrito: 

A batalha entre os dois decidirá o destino.”

Os Kishis baixaram suas lanças e Yasukasa sua espada. Já Imichi terminava seu relato: 

— A profecia de Nisōiro, como foi chamada pelo templo, prevê que Yanaho Aka vai decidir o destino do mundo que conhecemos. É por isso que ele não morrerá até cumprir com isso.

Kenkushi batia palmas lentamente por trás dos Kishis que abriram caminho para ele:

— Bravo. Ninguém teria tanta coragem de fabricar tamanha mentira. Mas, mesmo que fosse verdade, acha que vamos apenas abaixar a cabeça para os devaneios de seus antepassados? 

— Pensei ter dito: “nossos antepassados”. O povo originário engloba todas as cores. 

— Então é mera coincidência eles construírem essa profecia logo no quintal de sua casa? — respondeu o promotor.

— Era só o que me faltava — Imichi levava as mãos a testa, rindo — Antes de haver as cores primordiais, os seres vivos possuíam iro branco ou negro. É óbvio que as relíquias de nosso passado estarão com as…

— Se Yanaho está destinado como fala — guardava a espada interrompendo — por que não deixar o julgamento prosseguir? Ele não morrerá aqui, correto? — Yasukasa andou de volta para o púlpito — Você vai me explicar isso melhor, após o julgamento.

— Acho que disse o suficiente para não ter que repetir — jogou o cabelo para trás com as mãos.

— Já não causou problemas demais? Se continuar, todo esforço desses anos de reconciliação com eles terão sido em vão — Ryoma puxou-o pelo ombro — só está piorando as coisas.

— Desculpa Supremo, é que não gosto de tornar complexo o que é simples — voltava seu chapéu para a cabeça.

Por baixo da sombra de seu chapéu, Imichi encarou Yanaho, que permaneceu sentado no chão, apesar de liberto das correntes no pescoço. O Shiro sentou-se ao lado dos Aka, quando o julgamento continuou:

— Diante de revelações tão inusitadas, eu me pergunto se o Conselho deseja rever seus votos? Afinal, a votação deveria ser permitida somente após todas as testemunhas falarem.

Alguns membros do Conselho ergueram as mãos, o servo com a balança voltou para atendê-los.

— Princesa, deseja rever seu voto?

— Obrigada, mas nada mudou para mim.

Com a resposta Yanaho crescia os olhos, ao tempo que Hoshizora engolia seco.

Após a balança correr por todos os púlpitos, ela foi trazida para o centro do tribunal, bem na frente do réu. O mediador tomou-a consigo puxando o véu. Os pesos estavam perfeitamente equilibrados por um instante, até que o metal rangeu, tombando os pratos levemente para a esquerda. O júri puxou o ar da sala em uníssono.

— E o veredito é inocente!

Levando as mãos ao peito, Hoshizora respirou aliviada. Yanaho cresceu os olhos para a balança, depois para Imichi, que exibia um sorriso confiante. 

— Eu disse que ele não morreria hoje — cochichou no ouvido de Ryoma. 

— Esse julgamento está encerrado — Yasukasa batia o martelo — Yanaho cumprirá pena na capital, nas celas do palácio até arranjarmos o processo de sua liberdade. Todos estão Dispensados.

Os Kishis continha um pequeno alvoroço do júri ao tempo que Kenkushi se sentava incrédulo, enquanto outro grupo conduzia Yanaho para fora da sala. O jovem tinha somente olhos para Imichi. 

— Estarei lá quando sair, garoto! Até logo! — acenou de longe levantando o tom de voz.

De volta a capital naquela mesma noite, Yasukasa abria a porta para a sala do Conselho dos Sábios. Rodeada pelos homens, naquela sala escura, as poucas velas reluziam em um objeto deixado na mesa ao centro da sala. Era um cetro dourado, com uma jóia escura na ponta.

— Seja bem-vinda, princesa Yasukasa — um homem mais velho, sentado na cadeira de frente para a entrada dizia — Somos tantos que mal deve nos reconhecer. Eu me chamo Rael. 

— Nao há como reconhecer um Conselheiro da primeira geração. Por que fui chamada?

— Não seria exagero da minha parte considerar que os tempos em que vivemos são inusitados — entrelaçou os dedos — Em todos esses anos, um patriarca nunca havia sido morto em um incidente com outra nação.

— Estou ciente. 

— É típico que Conselho e a família Dinástica estejam em pé de guerra, como nas duas gerações anteriores, porém queremos uma relação nova, para esses tempos novos.

— Minha mãe e eu já decidimos — alcançou o cetro na mesa — Eu serei matriarca. 

— Correto. Era o que estávamos imaginando, Osiris dedicou sua vida para que esse momento chegasse, não importa se tardio ou precoce. E é em respeito a isso que queremos que Conselho e Dinastia falassem a mesma língua. 

— A luta entre os diferentes — admirou seu reflexo na jóia — gera um resultado favorável para todos, estou de acordo. 

— Terá nossa confiança, sua posição no julgamento machucou alguns de nós, mas não sua coragem. Esteve contra sua própria irmã, um Shiro, e mesmo frente a um resultado desfavorável, saiu com elegância. 

— Temos coisas mais importantes pela frente — interrompeu Kenkushi — Os vermelhos ainda pensam que mandam por aqui. A interferência doShiro só indica isso.

— Eu não pretendo desfazer nada que meu pai construiu.

— Quero somente o melhor para nosso povo, Matriarca. Por acaso acreditou na conversa do réu? Os Kuro estão vindo. Precisamos atacar agora, já temos a justificativa para declarar guerra!

— A preocupação de Kenkushi foge um pouco das proporções — voltava Rael — Mesmo assim ela ainda reflete uma parte considerável desse conselho. A nossa pergunta é: e agora? Qual a sua próxima jogada, Matriarca?

— Eu desejo… sinalizar os Kuro. Se houvesse tantos contra nós, eles teriam enviado mais do que somente um par de irmãos.

Rael abriu um pequeno sorriso para os conselheiros à sua direita. Kenkushi cruzou os braços na sua cadeira. 

— Como lembrete de nossa colaboração, estamos te presenteando com este cetro Use-o na cerimônia — finalizou Rael — Quase me esqueci. Já decidiu seu cavaleiro?

 — Cavaleiros — respondeu Yasukasa, abrindo a porta — Serão cavaleiros.

Retornando para a capital Kiiro, Imichi se apresentou à guarda da prisão temporária de Yanaho, tirando seu sombreiro de palha. Descendo as escadas, levando a um túnel escuro, o carcereiro parou na frente da única cela ao seu final e bateu nas grades: 

Yanaho virava sua cabeça. Percebendo os olhos brancos refletindo a luz das tochas no corredor, ele ficou de pé num instante.

— Sem gracinhas — comentou o carcereiro, se retirando.

— Estava ansioso para conhecê-lo, Yanaho — curvou a cabeça.

— Onochi falava muito de você — chutava o chão descalço — Pelo menos você apareceu.

— Meu irmão não tem culpa. Seu reino exigiu que pelo menos um Shiro estivesse à disposição do rei Chaul. Fui eu que insisti em vir no lugar dele.

Yanaho se aproximava das grades, onde a luz revelou a profunda cicatriz em sua barriga. 

— Para alguém prestes a ser solto, você está bem caído.

— Estou aqui há semanas, poderia estar morto agora.

— Contudo aqui está você. Remoer o passado não resolve nada, só cria confusão — atravessou as mãos pelas grades até o ombro do garoto. 

— Não é atoa que sempre me dizem que gosto de me meter em confusões — se afastou soltando do braço do Shiro — mas tudo que passei, o julgamento... 

— Realmente não é atoa, inclusive por você ter passado por tudo isso, sempre foi por uma causa.

— A causa que falou no julgamento? Pensei que fosse só uma história.

— Acha que saio entrando em julgamentos por aí inventando historinhas? — cruzou os braços. 

Yanaho ergueu a cabeça, olhando para seu visitante entre os fios de cabelo.

—  A verdade é feita para ser revelada na hora certa — respondeu Imichi ao olhar desaprovador.

— Seria bom saber dessa profecia antes de comprar toda essa ideia — levou a mão à cabeça — sempre pensei que Onochi ter aparecido anos atrás era um mal entendido. 

— Nada foi um mal entendido — pegou uma tocha da parede — Onochi escolheu você. Pode estar desanimado agora, contudo mesmo antes disso tudo, no fundo já sabia que sua vida tem um propósito maior — olhava para chama — eu vou te mostrar melhor isso, quando for liberado.

Yanaho deu as costas e voltou a deitar. Imichi suspirou, guardando a tocha de volta em seu lugar e andou em direção a saída. Foi então que a voz do mirim ecoou pelo corredor.:

— Você disse que eram dois nomes no templo. 

— Sim — parou de andar. 

— O outro… era Suzaki, não era? 

— Você é mesmo aluno do Onochi — repousou o sobreiro na cabeça — Por falar nisso — dava passos adiante — ele pediu para avisar que seu pai está esperando. 

As palavras de Imichi fizeram Yanaho virar o corpo para o teto, arrancando um sorriso de canto do garoto.  

“Quer dizer que um dia estarei no mesmo nível que você. Se isso for real, podemos vencer juntos como nas nossas batalhas”, estendeu a mão. “Talvez não sejamos tão pequenos para mudar as coisas né, Suzaki?”, fechou seu punho. 


Ilustradora: Joy (Instagram).

Revisado por: Matheus Zache e Pedro Caetano.

   

 



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