Volume 1
Capítulo19: Reunião…
A viagem começava a se arrastar, e Lonios já sentia o peso do cansaço. Depois de várias horas correndo de um lado para o outro, supervisionando a carga dos suprimentos, ele finalmente se permitiu descansar.
Sabia que qualquer erro naquela tarefa poderia significar a diferença entre a vida e a morte, especialmente em uma missão tão arriscada quanto aquela.
Agora, deitado na cama desconfortável, usava as mãos como travesseiro, observando as junções das placas de metal no teto e os rebites que as mantinham unidas.
Aproveitava aquele momento para tentar relaxar, mas logo foi interrompido. Alguém bateu na porta, e a voz que se seguiu não deixou margem para dúvidas.
— Sãr Lonios, o Capitão o espera na ponte.
Com um suspiro, Lonios se levantou, lamentando o destino que o aguardava, mas sabia que não poderia negar aquele pedido do seu velho amigo.
Recompôs-se rapidamente e saiu do camarote, batendo a porta sem se preocupar em trancá-la. Não seria roubado logo no primeiro dia de viagem, pensou consigo.
Caminhou apressado até o convés, onde seu camarote ficava estrategicamente próximo da escada em caracol que dava acesso a uma sala panorâmica.
Ali, as janelas de vidro em todas as paredes ofereciam uma visão de trezentos e sessenta graus da nave e do vasto espaço ao redor.
No convés, estava a torre de vigília, na parte posterior da nave, onde os soldados se revezavam na observação do éter. A torre era um mastro de metal com mais uma escada em caracol no seu interior.
Era também onde os balões de estacionamento eram armazenados, enchidos com ar quente, sustentando o peso do gigante metálico no ar.
A torre se erguia como a cauda de um monstro de aço, dando à nave a aparência de um sapo com uma cauda ereta, como Nimbus costumava brincar.
Ao entrar na sala, Lonios se deparou com o capitão, já instalado na cadeira de direção da nave.
O que mais chamou sua atenção, no entanto, foram os equipamentos espalhados pelas paredes.
Relógios de todos os tipos ocupavam o espaço, desde os completamente redondos, com ponteiros e escalas intrincadas, até os de meia-lua, com apenas um ponteiro e alavancas em várias posições.
A complexidade dos instrumentos mostrava que aquele era um dos comandos mais bem equipados em que já estivera.
Agora ficou claro como a nave havia escapado de uma frota inteira de piratas.
— Faltava só você, Sãr Lonios. Espero que não nos deixe esperando na próxima vez. Em uma nave do nível da nossa, não há espaço para regalias — o capitão o repreendeu, claramente satisfeito em fazer isso.
Lonios manteve o silêncio, movendo-se para se colocar ao lado de Elisis.
Sãr Adon, no entanto, não parecia muito feliz com a situação e lançou-lhes um olhar penetrante, quase como uma flecha.
Lonios ignorou novamente, achando que aquilo era apenas ciúmes.
— Como todos estão aqui e tudo está certo, acho que este é o momento de partir. — O capitão, com um gesto, pegou uma pequena caixa com um cordão de metal e falou. — Doutor Henry, qual a situação? Tudo certo?
— Sim, capitão. Todos os sistemas estão operando dentro da normalidade — a resposta veio de uma caixa conectada a um painel na parede.
Lonios se virou para Elisis e, baixinho, comentou:
— Esse Capitão Jones realmente gosta de perguntar se está tudo certo.
Ela sorriu discretamente, tentando esconder o sorriso abaixando a cabeça, mas não conseguiu se segurar e soltou uma risadinha audível.
O capitão, ouvindo o som, se virou abruptamente.
— Algum problema, Sãr Lonios? — perguntou, com um olhar afiado.
— Nenhum problema, capitão. Tudo certo — respondeu Lonios, com uma leve ironia.
Elisis não conseguiu segurar outra risada, e o capitão, sem perder o ritmo, voltou ao seu trabalho.
— Muito bem, vamos continuar. Falo com o senhor em outra ocasião mais oportuna — disse o capitão, voltando a se concentrar na tarefa de comandar a nave.
— Como uma tradição pessoal, em todas as naves onde atuei como capitão, fui sempre o primeiro a pilotar a nave. — Ele falou com firmeza, provavelmente para deixar claro para todos quem estava no comando.
— Que fique bem claro, sou um homem de ação, não de discursos. Mas esta ocasião pede que eu explique o motivo de estar aqui. — Nesse momento, ele se virou para todos na sala, levantando uma das mãos.
— Como todos sabem, o antigo capitão se recusou a comandar essa nave devido à grande periculosidade da missão. Então, para atender a um pedido pessoal do Grande Líder, decidi retomar o comando, após mais de uma década de aposentadoria.
— Não pensem que a aposentadoria me fez menos apto para a função. Durante meus anos de serviço, inclusive aqui na Brand, que, diga-se de passagem, parece um chiqueiro, fui o capitão mais condecorado de Cenferum.
— Nunca perdi uma nave, nem fui sobrepujado por piratas ou monstros do éter. E tudo isso, não porque sou um excelente capitão ou um gênio da navegação, mas porque sou linha dura.
— E, dada a qualidade duvidosa da tripulação designada para aqui, acho que terei que ser ainda mais duro do que nunca — ele olhou diretamente para Lonios, com um sorriso irônico no rosto.
O cavaleiro observou o capitão com olhos faiscando de raiva..
— Então, quero que saibam que tudo será feito exatamente como eu mandar. Ninguém terá autonomia, tudo o que acontecer aqui eu terei de saber e passará pela minha aprovação.
Após isso, o capitão se demorou mais de trinta minutos falando sobre suas diretrizes, regras, leis e feitos.
Em seu discurso, ironizou diversas vezes a presença de uma “ralé de segunda categoria”, fazendo com que Lonios tivesse que se controlar para não socar o velho e lhe ensinar uma lição sobre humildade e confiança no ambiente de trabalho. Por incrível que pareça, ele conseguiu resistir à provocação até o fim do monólogo.
Depois disso, o capitão chamou Lonios para seu camarote.
Ao chegar, Lonios percebeu que o local era ricamente ornamentado e pelo menos três vezes maior do que o seu próprio camarote.
Após alguns segundos de silêncio constrangedor, com o cavaleiro à entrada da porta observando o senhor Jones escrevendo em sua enorme escrivaninha, o capitão finalmente se dignou a falar.
— Ah! O senhor está aqui, Sãr Lonios. Não vi o senhor. — O capitão encenou surpresa. — Tive que documentar no meu diário a reunião de hoje e tudo o que foi abordado.
— Tudo certo, capitão, sem problemas — respondeu Lonios mecanicamente. — Belo camarote, não sabia que havia móveis tão luxuosos em embarcações como essa.
— E não há. O Grande Líder fez a gentileza de construir especialmente para mim esses móveis — disse o capitão, virando-se para o cavaleiro. — Sabe, Sãr Lonios, sou um homem velho e não abro mão dos meus luxos.
— O Grande Líder sabe disso, então ele me fez essa gentileza. Ele também sabe que sou o sucesso dessa expedição e ninguém irá me atrapalhar.
— Claro, capitão, sei disso. O senhor comentou, no mínimo, dez vezes esse fato na reunião de momentos atrás.
— Sãr Lonios, o senhor tem alguma coisa contra mim? — O capitão perguntou.
— Entendo que o senhor deve ter problemas com autoridade, e acredito que isso não seja culpa sua. Deve ser algo bem antigo, vindo de quando foi treinado para ser cavaleiro.
— A natureza dos cavaleiros andarilhos é ser contra a autoridade, talvez por estarem sempre desempregados em busca de missões, algumas delas questionáveis...
— Senhor Jones — interrompeu Lonios. — O meu problema não é com o senhor, nem com falhas no meu treinamento. O problema é que eu não sigo homens em que eu não confio.
— A partir do momento em que o senhor se mostre digno de ser seguido, eu o farei. Irei até o inferno, se for preciso. Mas o senhor não me mostrou nenhuma qualidade que me faça confiar em sua liderança.
— Pelo contrário, o senhor usou sua posição para tentar nos impor que é o único responsável aqui, que é o sucesso dessa expedição. Não funciona assim, capitão. Para ganhar a minha lealdade, é necessário mais do que isso.
— Respeito o seu ponto de vista, Sãr Lonios, mas enquanto o senhor estiver a bordo da minha nave, será assim. Entendido?
— Se é uma ditadura, que seja, capitão. Mas não espere que eu acate todas as suas ordens sem antes avaliar a situação e decidir se é a melhor alternativa.
— Por isso, o senhor tem três cavaleiros a bordo. Estamos aqui não apenas como seguranças e líderes da guarda, mas como seus conselheiros.
— Quem manda aqui sou eu, cavaleiro. E como o senhor insinuou, esta nave não é uma democracia.
— Retire-se da minha presença. Se algum dia eu precisar dos conselhos de um velho sedentário prestes a se aposentar, de uma menina que acabou de entrar na puberdade e da ralé dos cavaleiros vagabundos, eu pedirei.
— O Grande Líder deixou claro que me trouxe aqui para colocar ordem nesta bagunça de cavaleiros andarilhos, velhos senis e crianças.
— Ele colocou os cavaleiros de verdade na nave nova, e me colocou aqui para que tudo dê certo. Quando eu tiver cavaleiros de verdade a bordo, eles serão meus conselheiros.
— Vocês são apenas externalidades negativas que terei que aturar. Está dispensado, Sãr Lonios.
Lonios lutou contra sua raiva e contra a vontade de pular no pescoço daquele velho megalomaníaco.
Respirou fundo, olhou nos olhos do capitão, lembrou-se da promessa feita a Sãr Ahbran e, sem dizer uma palavra, virou-se e saiu.
— Assim que eu gosto, Sãr Lonios, obedientes — o capitão disse às suas costas.
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