Volume 1

Capítulo 18: O capitão…

Durante o embarque, Lonios já começava a se irritar com a tarefa enfadonha que o capitão do navio havia designado a ele, Adon e Elisis. 

Conferir e garantir que todos os mantimentos necessários tivessem sido carregados era uma tarefa repetitiva e monótona. 

Certamente, o capitão queria colocar os cavaleiros em seu devido lugar, mostrando quem estava no comando ali. Era o que eles pensavam. 

O intendente e sua equipe seriam muito mais meticulosos e exatos nessa função, mas como Sãr Adon dissera, se isso era o que o capitão queria, que assim fosse. Eles tinham a obrigação de cumprir.

O que mais perturbava Lonios, no entanto, era o fato de ter deixado Nimbus no castelo após uma briga. 

Nimbus jamais o perdoaria se algo acontecesse nessa viagem e ele ficasse impossibilitado de voltar a ser treinado por ele. 

Ao menos Sãr Araniz havia prometido que treinariam Nimbus, o que já era satisfatório. No entanto, Lonios sabia que a missão era de altíssimo risco. 

Viajar com apenas duas naves pelo éter era praticamente um suicídio. Se encontrassem um monstro do éter grande o suficiente, seria fácil para a criatura destruir as duas naves. 

Mas isso não o preocupava. Eles tinham ele, e essa era a razão pela qual Sãr Ahbran o escolhera para a missão. 

O velho sabia que apenas Lonios poderia salvar uma nave contra um monstro colossal, e ele já havia feito isso antes. Não seria difícil novamente.

Quando tudo estava carregado, o capitão Jones se aproximou. Era um homem idoso, com cerca de sessenta anos, barba e cabelos completamente brancos, embora cobrisse a calvície no topo da cabeça com um chapéu de aba larga. 

Seu corpo era ligeiramente gordo, com uma pequena barriga visível por fora da calça. Suas roupas eram simples: um casaco de couro sobre uma camisa de linho e calças pretas. 

Surpreendentemente, ele carregava uma espada e uma adaga na cintura, mas não de forma tradicional, como seria esperado, e sim atrás da faixa vermelha que ele usava amarrada à cintura.

O mais impressionante para Lonios foi o fato de o capitão carregar armas. Normalmente, os capitães de navios não eram lutadores, mas estrategistas e navegadores excepcionais. Parecia que Jones era diferente.

— Então, tudo certo? Não faltou nada? — perguntou o capitão.

— Sim, senhor. Como ordenado, tudo que estava na lista está dentro da Brand — respondeu Sãr Adon, com a prontidão característica de um cavaleiro bem treinado. Porém, Lonios não responderia da mesma forma.

— Capitão Jones, como a missão está cumprida, peço ao senhor para se retirar — Sãr Adon abordou o capitão com sua cordialidade habitual, claramente refinada ao longo dos anos.

— Se tudo estiver certo, então vocês têm permissão para se retirar. — O capitão virou-se, começando a olhar para fora da nave.

Após saírem, e caminhando alguns metros, Lonios se dirigiu a Adon.

— Ele parece ser do tipo que gosta de mandar.

— Exatamente, Sãr Lonios. Se é isso que ele quer, é isso que ele terá. Afinal, todos sabem que quem realmente manda nessa nave são os cavaleiros. Os capitães têm apenas a missão de guiar a nave até o destino. O resto somos nós que fazemos acontecer. — Sãr Adon sabia como lidar com esse tipo de gente. 

Essa sabedoria vinha de alguém que agora vivia sua última viagem, protegendo uma nave pelo éter. Lonios, por sua vez, sabia que nunca desenvolveria tal tato. Não fazia parte de sua personalidade.

— E você, Sãr Elisis, o que diz sobre isso? Está quieta aí e não fala nada — Lonios perguntou à bela garota, embora já soubesse qual seria sua resposta.

— Essa é a minha primeira viagem como amazona, Sãr Lonios. Não é minha intenção arrumar confusão — respondeu ela, sem olhar para ele, caminhando com as mãos unidas à frente do vestido. 

Era exatamente a resposta que Lonios esperava.

— Não é sua intenção arrumar confusão "ainda", ou você nunca pretende arrumar confusão? — perguntou ele, com um leve sorriso de desafio.

— Isso só o tempo dirá, Sãr Lonios. — Ela agora levantou o olhar para ele, e novamente a resposta foi exatamente a que o astuto cavaleiro esperava.

— Vamos embora daqui. Não estou gostando do rumo dessa conversa. Precisamos de tudo, menos confusões, nessa viagem. Entendido? — Sãr Adon interrompeu a troca de palavras, talvez imaginando o que Lonios estava tentando insinuar.

Lonios não gostou muito da repreensão de Sãr Adon, mas preferiu não dizer nada. 

No primeiro dia da missão, não era uma boa ideia se desentender com ninguém. Evitaria isso. 

Continuou caminhando até seu camarote, mas antes de entrar, notou que Elisis estava sorrindo.

 

Ele parou diante da porta fechada, que ele mesmo havia selado antes de sair para sua tarefa. 

Como todas as outras portas e paredes da nave, ela era de metal robusto e tinha uma grande roda no centro, uma peça essencial para garantir que o cômodo fosse selado caso a fuselagem fosse rompida e o éter começasse a invadir a nave. 

A porta, já desgastada pelo tempo, estava marcada por arranhões e imperfeições, provavelmente causadas por tentativas de arrombamento ou confrontos travados nos corredores. 

Para ele, aquelas marcas eram mais do que simples cicatrizes de batalha; eram um lembrete constante de que uma nave cruzando o éter por longas distâncias era um ambiente traiçoeiro, onde a qualquer momento o perigo poderia surgir, geralmente de formas inesperadas e prejudiciais.

Ao entrar no pequeno cubículo, de não mais que três metros de largura por três de comprimento, ele olhou ao redor, avaliando o espaço apertado e sem graça. 

Era ali que ele teria, no fim das contas, a sua privacidade. O lugar não passava de um refúgio modesto, com uma cama de solteiro fixada na parede, um armário simples e uma escrivaninha, ambos feitos de madeira de qualidade questionável e desconfortável. 

Esses móveis rústicos eram as únicas peças de madeira que decoravam aquele ambiente metálico e frio, que mais parecia ser a barriga de um gigante de aço, implacável e sem alma.

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Capitão

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