Volume 1

Capítulo 21: O poder de uma amazona…

Elisis estava no ginásio de treinamento da nave, mas não por coincidência. Ao descobrir que aquele era o horário em que Valeros costumava treinar, decidiu estar ali também. 

Naquele momento, posicionava-se no estande de arquearia, um túnel estreito e mal iluminado com um alvo ao fundo, a trinta metros de distância. No centro do alvo, um boneco representava uma pessoa distante cerca de quinhentos metros. 

Com precisão impecável, Elisis acertava a terceira flecha consecutiva no centro do boneco. Não estava ali para treinar; sua habilidade com o arco era perfeita. 

O motivo real era Valeros. Ele a intrigava. Enquanto os outros homens da nave sucumbiam à sua presença, Valeros permanecia imune. 

Ela chegou a cogitar que ele fosse homossexual, mas descartou a hipótese ao vê-lo flertando com as cozinheiras mais jovens.

Outra possibilidade surgiu: talvez seu mestre o tivesse instruído a ignorá-la. Mas, assim como a primeira, descartou essa ideia. 

Sãr Adon, apesar do medo evidente, resistia ferozmente a seus encantos, e ela até apreciava isso. Gostava de ser temida. 

Contudo, Valeros era diferente. Parecia impermeável a qualquer tentativa sua, exceto quando ela usava o traje de combate. 

O uniforme, apertado e provocante, atraía olhares de todos, inclusive dele, que às vezes a observava pelas costas. 

Nada fora do comum para ela, já que esse era precisamente o propósito do traje. Ainda assim, outras abordagens suas falhavam, algo que nunca havia enfrentado.

Ela o observava enquanto ele treinava, seus olhos atentos a cada movimento. Sabia que olhar um homem daquela forma era um convite.

Para a maioria deles, era suficiente para tê-los a seus pés, algo que usava tanto por vaidade quanto por necessidade. Vivendo em um mundo de homens, Elisis sabia que o desejo era uma arma poderosa, facilitando sua passagem por ambientes hostis.

Valeros, no entanto, permanecia alheio. Ele empunhava uma arma e simulava combates contra inimigos imaginários. 

Seus golpes eram precisos, rápidos e cirúrgicos, resultado de um treinamento árduo. Seu físico chamava atenção: tórax amplo, braços fortes e abdômen perfeitamente definido. Se não fosse imune a essas emoções, talvez ela própria se sentisse atraída. 

Quando ele terminou os exercícios, dirigiu-se à jarra de água no canto do ginásio. Elisis viu ali uma oportunidade de testá-lo.

— Valeros, você me traz um copo de água? Estou com sede. — Seu pedido, intencionalmente casual, era um experimento. Se ele a servisse prontamente, seria um sinal de que estava sob seu domínio.

Valeros, porém, não se apressou.

— Deixa eu tomar água primeiro, depois eu te levo. — Ele bebeu dois copos cheios antes de se aproximar com o dela. Antes que ela pudesse pegar o copo, ele perguntou:

— O que eu ganho?

A pergunta a desarmou. “O que eu ganho?” A atenção dela deveria ser mais que suficiente.

— Obrigada, Valeros. — Ela pegou o copo, ainda surpresa. Ele sorriu, desarmando-a completamente com sua atitude descontraída.

— Acho que vou indo. Até mais, Sãr Elisis. — Ele virou-se para sair.

— Espere, Valeros. Você pode me ajudar. — Não podia deixá-lo partir. Aquela era uma oportunidade perfeita para quebrar a barreira entre eles.

— Isso é uma ordem, Sãr Elisis?

— Que é isso, Valeros? Somos apenas amigos em treinamento. Não precisa se preocupar com títulos. Pode me chamar só de Elisis. — Ela jogou charme, fitando-o intensamente nos olhos.

— Notei que você é muito bom com armas. Eu, como amazona, não treino com tantas, e gostaria de algumas instruções.

Poucos homens resistiriam a uma mulher vulnerável aprendendo algo novo, especialmente quando isso implicava proximidade física. Era uma estratégia infalível.  

— Considerando sua pontaria — disse ele, apontando para as flechas cravadas no centro do alvo —, não parece que você precise de treinamento. Mas, se quiser, um dia desses podemos marcar algo.

— Pode não parecer, mas tenho bastante dificuldade...

— Hoje não — interrompeu Valeros. — Meu tempo de treino acabou e tenho compromissos. Outro dia, quem sabe, se você marcar com antecedência.

Elisis ficou sem palavras. Ele sustentava o olhar fixo nos olhos dela, sem desviar por um instante sequer. 

Era algo incomum. Homens raramente suportavam esse tipo de contato visual prolongado. E ainda assim, recusava-se a atendê-la prontamente.  

Valeros não era como os outros. Aquilo a intrigava profundamente.

Com o silêncio instalado, ele já começava a se virar para ir embora.

— Tudo bem — disse Elisis, quase sem pensar.

— Até mais, Elisis — respondeu Valeros, sem sequer olhar para trás.  

Ela ficou parada, sem reação, encarando o vazio enquanto processava o que acabara de acontecer.

Foi quando um analista da ponte de comando se aproximou apressado.

— Sãr Elisis, o capitão solicita sua presença na ponte, assim como a dos outros cavaleiros. Parece que há um clandestino a bordo. — Ele se colocou em posição de sentido, aguardando uma resposta.

— Tudo bem, estou indo. Está dispensado.

O analista saiu correndo pelo corredor, provavelmente à procura de Lonios e Adon. 

Elisis ajustou a postura e começou a caminhar em direção à ponte, sem sequer pensar em cobrir a armadura de couro que vestia, provocante e reveladora.  

Enquanto avançava pelos corredores, notava como os tripulantes, tanto homens quanto mulheres, interrompiam suas atividades para observá-la.

Alguns estavam em serviço, outros nos horários de folga, mas todos pareciam hipnotizados por sua presença.

Aquilo a reconfortava. Assim era como as coisas deviam ser, pensou, enquanto caminhava lentamente. Não como aquele lunático do Valeros, que insistia em agir de forma tão desconcertante.

Subindo as escadas e atravessando os corredores, finalmente chegou à ponte de comando. Para sua surpresa, lá estava o escudeiro de Sãr Lonios. Ela mal se lembrava do nome do garoto, mas ele parecia deslocado e inquieto ali.

Antes que pudesse dizer algo, Lonios apareceu por trás, esbarrando nela com força suficiente para quase derrubá-la. 

— Nimbus! O que você está fazendo aqui? — bradou Lonios, dirigindo-se ao escudeiro.

O jovem manteve-se calado, a cabeça baixa, enquanto o capitão aproveitava a oportunidade para alfinetar o cavaleiro.

— Um escudeiro que não sabe seguir ordens... Não surpreende, vindo de um reles cavaleiro andante, que nunca respeita lei alguma.

— Capitão, temos que voltar — rebateu Lonios, ignorando o tom provocativo do comandante da nave.

— Isso está fora de cogitação, Andante. O garoto é seu aprendiz. Você cuida dele. E não pense que ele vai ficar sem fazer nada na minha nave. Ele vai trabalhar como todos os outros por aqui. Ache uma função para ele.  

Lonios apertou os punhos, claramente irritado, mas manteve o controle. Elisis, observando a cena, sentiu-se intrigada com o escudeiro. 

Algo na postura hesitante do garoto e no confronto velado entre Lonios e o capitão a fazia acreditar que havia mais naquela história do que parecia.

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Elisis

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