Volume 1
Capítulo 14: Ensinamentos…
Ainda antes do amanhecer, Sãr Lonios acordou Nimbus, avisando que o dia seria longo e a viagem ainda mais extenuante.
Nimbus estava em um sono profundo e amaldiçoou o fato de ter que acordar no meio da madrugada. Já fazia mais de um mês desde que dormira em uma cama confortável, e aquela era a mais macia que ele já experimentara.
Levantar-se dali parecia uma tortura. Depois de alguns minutos se espreguiçando, finalmente tomou coragem e se levantou. Lonios nem esperou, apenas o chamou e saiu do quarto, provavelmente para organizar os detalhes da viagem.
Nimbus vestiu suas roupas, pegou o cinto com a espada e desceu as escadas lentamente, ainda com os olhos semi-fechados. A mesa estava posta, repleta de opções para o desjejum: pão, frutas, doces, vinho, leite e chá. Nimbus pegou uma maçã e saiu, sem apetite. Desde a noite anterior, a lembrança de Sãr Ahbran tinha roubado sua fome.
— Vamos lá, estamos atrasados — disse Sãr Lonios, assim que Nimbus passou pela porta. Montado em sua égua Tempestade, seu cavalo, o Trovador, estava ao lado, pronto para a jornada.
Com um gesto de cabeça, Lonios deu a ordem e Nimbus montou, seguindo-o. Sair do Palácio foi frustrante. Na última vez, todos estavam a servi-los, abrindo portões e fazendo reverências.
Agora, Nimbus teve de desmontar, abrir o portão e fechá-lo novamente, sob o olhar indiferente dos guardas. A caminhada pela cidade não trouxe grandes problemas, mas depois de alguns metros cavalgando, uma guarnição de soldados se juntou aos dois.
Após algumas palavras, Lonios os colocou em formação, e o grupo seguiu viagem. Nimbus nunca havia visto seu mestre dar ordens a outros além dele mesmo, e parecia tão natural para Lonios que o garoto se perguntou se algum dia conseguiria agir com tamanha confiança.
O grupo avançou pela cidade de Solitude, mas algo chamou a atenção de Nimbus. Na porta de uma taverna, uma mulher de cabelos ruivos e esvoaçantes limpava as longas unhas com uma faca.
Ao ver Lonios, ela sorriu. Quando notou que Nimbus a observava, piscou para ele. Era Violentina, a Retalhadora. Nimbus ficou pálido, as vistas se embaçaram e ele quase desmaiou, mas foi amparado por Lonios, que falou baixinho:
— Calma, não vá desmaiar só porque está na presença de um adversário.
— Mestre, como ela nos encontrou aqui? E se ela decidir nos seguir e atacar durante a noite?
— Ela sempre nos encontrará. Dizem que ela tem esse poder, pois provou do meu sangue. Sempre que ela faz isso, nunca mais perde o rastro da pessoa. Saberá onde estamos e a que distância. E não se preocupe, ela não seria tola o suficiente para atacar uma comitiva do Governo.
— Mas como alguém pode fazer isso apenas provando o sangue? Isso é impossível!
— Nimbus, há muito mais nesse mundo do que você imagina. Existem mulheres que conseguem rastrear alguém com uma simples gota de sangue, guerreiros que ficam maiores e mais fortes durante o combate, adversários que podem prever o futuro e se preparar para tudo o que você tentar. Esses são obstáculos comuns para você, Nimbus, que um dia se tornará cavaleiro. Vai se acostumar com isso.
Nimbus ficou ali, absorvendo as palavras de seu mestre. Ele percebeu que os inimigos não seriam apenas aqueles com espadas e poderes especiais, mas também pessoas como o Grande Líder, cuja ameaça era mais sutil, mas igualmente perigosa.
Depois de ter visto o Grande Líder, Nimbus compreendeu que um confronto contra alguém com tamanha autoridade talvez fosse mais desafiador do que vencer alguém com uma arma em punho. Quando os guardas se distanciaram, ele perguntou:
— Mestre, como enfrentamos alguém como o Grande Líder, que tem tanto poder?
— O Grande Líder é o tipo de ditador que usa filosofias coletivistas para manipular o povo e reunir cada vez mais poder para si. Esse tipo de inimigo você não enfrenta diretamente, se é isso que quer saber.
— Você não vai lá e o mata, porque corre o risco de outro tirano, igual ou pior, assumir o poder. O povo, sem ser conscientizado, é muito suscetível a esses discursos sedutores e acaba entregando sua liberdade nas mãos desses crápulas.
— E como você viu, ditadores sempre têm pessoas como Sãr Ahbran que os protegem, seja porque foram comprados ou enganados, como no caso do meu amigo.
— Então, como enfrentamos alguém assim, se não for dessa maneira?
— Com informação! Você conscientiza o povo, mostra a eles o quão ruim esse tirano é, e o próprio povo se levantará para depor o tirano.
— Mas se fizermos isso, não corremos o risco de um novo tirano assumir?
— Quando você conscientiza o povo, você lhes mostra o que é certo. Ensina novas ideias, apresenta exemplos de lugares onde essas ideias geram uma vida melhor. E torce para que, com essas informações, o povo crie um novo governo.
— Você nunca poderá impor suas ideias sobre as pessoas, só pode mostrar as opções e esperar que eles construam uma política melhor.
— Política melhor?
— Nimbus, vou lhe contar algo importante. Um bom sistema político não centraliza o poder em uma pessoa ou grupo, como ocorre aqui em Cenferum, onde os legisladores são eleitos por inaugurarem obras nos locais de seus eleitores, e não porque suas opiniões são boas para o povo.
— O bom sistema é a criação de grupos democráticos cada vez menores, até chegar ao ponto de um líder eleito democraticamente ser amigo pessoal de cada membro da comunidade que lidera. Trata-se de descentralizar o poder.
— Descentralização?
— Isso mesmo. O ideal seria formar grupos menores de pessoas com interesses comuns, como uma vila ou uma rua com soberania total sobre seu território, sem necessidade de se reportar a ninguém.
— E grupos com interesses semelhantes formariam alianças, criando uma rede de grupos autônomos, aliados por interesses comuns, mas sem que alguém tenha poder sobre todos. É assim em Victórius, o lugar de onde venho.
— Mas por que isso? Por que isso é melhor?
— Vou lhe ensinar mais uma coisa. Quanto maior o poder de um cargo político, mais você atrai os piores elementos da sociedade, que querem usar esse poder para ganhar vantagem sobre os outros.
— As pessoas que são realmente capazes de convencer com argumentos, que ajudam os outros e criam iniciativas sem precisar coagir ninguém, não precisam de um cargo político.
— Mas os canalhas, mentirosos e psicopatas, esses sim, veem o poder do Estado como uma ferramenta para expandir suas ideias a nível continental. Quanto maior o poder do cargo, mais atraente ele será para esses maus elementos. E você viu com seus próprios olhos até onde eles podem chegar.
— É assustador — respondeu Nimbus.
— Tenha em mente uma coisa: os piores dos piores sempre terão uma vantagem sobre os menos piores, porque estão dispostos a fazer qualquer coisa para alcançar o poder.
— Isso sempre foi assim e sempre será. Agora entendeu por que é necessário ter grupos pequenos e autônomos?
— Acho que sim. Grupos pequenos têm menos poder para atrair esses maus elementos, e assim teremos pessoas boas no comando.
— Não, Nimbus, com grupos menores, é mais fácil retirar um tirano do poder.
Lonios piscou para Nimbus.
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