Volume 1
Capítulo 7: Minha Festa
Já fazia um dia que o professor Hiari havia se mandado, ou melhor, viajado para completar a missão dada por Yama. Eu e Hina continuava a treinar sem muito descanso, não tinha mais nada que pudéssemos fazer com o tempo livre, logo às aulas de etiqueta e matemática iriam começar e Hina iria faltar em alguns dos nossos treinos matinais e tardios, mas não era uma opção recusar o que sua mãe, Hana ordenava.
Conjurava Explosão em Chamas enquanto Hina se defendia com sua magia de gelo, esse foi o resumo dos treinos. Quanto mais usássemos as mesmas magias, mais aumentaria nossa fonte de mana, assim como melhoraria o controle da magia.
Estando exaustos, entramos em casa.
Uma grande comoção estourava, mordomos caminhando às pressas para os lados, alguns carregavam jarros com flores, outros com bandejas cobertas e até mudas de roupas. Qual seria o motivo pra tanta pressa?
— Vai ter alguma coisa hoje, Hina? — perguntei olhando os empregados atarefados
— Na-Nada não. Vá tomar banho, você está fedendo — Hina falou apertando sua mão contra o nariz.
Ergui o braço, dando uma rápida fungada, o mal cheiro se espalhou rapidamente em meu nariz tornando debilitado. Segui o que Hina pediu, fui ao meu quarto tomar banho.
— Você está vindo junto por quê?
— Ah, nada não. Só quero ver se realmente vai tomar banho.
— Eu vou tomar, não se preocupe.
Mesmo afirmando, Hina me seguiu até que entrei no banheiro.
— Tá, já que você realmente vai tomar banho, vou esperar lá fora.
Escutei os passos de Hina logo desaparecendo.
Dentro do banheiro, retirei as roupas suadas que tinha vestido, seguindo até o chuveiro e encostando na runa mágica, a água quente jorrou.
Quando sai do banheiro, uma roupa se encontrava em cima da cama com um bilhete perto.
“Vista essa roupa e fique na espera de sua bela companhia! (Se não vestir a roupa, você morre) Parabéns!”
Um bilhete um tanto ameaçador, porém não tinha motivos para não vestir. Um paletó branco com entalhes azuis e uma calça azul escuro e sapatos marrons.
Estava tudo pronto, faltava só minha “bela companhia” aparecer.
Vários minutos passaram até que uma batida surgiu.
*Toc, toc, toc*
Andei até a porta, abrindo-a.
Então era ela…
— Qual a dessa expressão? — Hina emburrada fala.
— Não foi nada. Você que é minha bela companhia?
— Do-do-do quê está falando? Só vim te buscar para irmos até o salão.
— Entendi, então vamos?!
— Uhum!
Os dois lado a lado, caminhamos indo até o salão localizado no andar inferior.
Decorações por todos os lados, vários pessoas que desconhecia e um enorme banquete exposto na mesa. Uma festa. Uma grande festa se formava sem que eu sequer soubesse de sua origem.
— O que é toda essa festa? Você sabia que isso ia acontecer?
De repente uma melodia foi sendo tocada, olhava ao canto esquerdo de onde o banquete ficava exposto, vários musicistas com seus instrumentos.
— Sir Neku, me concede essa dança? — Hina falou curvando enquanto levantou uma ponta do seu vestido e ergueu outra mão em minha direção.
Sir? O que há dessa formalidade?
— Não é bom deixar uma donzela esperando. — uma voz atrás de mim fala
— Sim! — afirmei pegando na mão de Hina
Fui puxado para perto do centro do salão, segurei a mão direita de Hina e ela segurou minha cintura, mas seu rosto se mantinha virado pro lado oposto ao meu impedindo de vê-lo.
— Hina, eh, eu não sei dançar…
— Tá tudo bem! Só seguir o meu ritmo, logo você acostuma.
— Tá bom.
Seu rosto continuava virado, mas não tinha o que fazer.
A música foi tocando, dois passos pra direita, seguido de mais três passos para trás, um para frente, outros dois para esquerda, um para frente, repetindo todo o processo novamente.
— Ei, não precisa ficar tão rígido, não tem problema caso acabe pisando em mim por errar.
— Tá…
Os movimentos seguiam o fluxo que Hina me apresentava, seu corpo se movia lentamente como se o propósito fosse habilmente que conseguisse acompanhar minha falta de experiência com a dança. No entanto, a dificuldade aparente se mostrou, fazendo cometer um passo em falso causando a pior cena possível. Um claro pisão no pé de Hina, um leve desequilíbrio por minha parte.
Acabou. Ferrei tudo!
— Mantenha a calma…
Seu rosto virado não moveu e continuou a conduzir a dança.
Hina…
Respirei fundo, me ajeitei e voltei a acompanhar Hina. Com algum tempo, replicava mesmo que atrasado conseguiria não envergonhá-la mais.
A garota que dançava comigo era alguém forte, determinada e segura dançando lindamente naquele vestido com cores azuis e brancas, até como se ambas as roupas tivessem sido feitas para combinarmos.
Hã? Por quê meu coração acelerou?
Meu coração palpitava mais e mais rápido quanto mais a dança estendia.
A cantoria já amenizava aos poucos dando sinal que o final da música se aproximava.
Encostei a mão em meu peito, suspirei um pouco aliviado que tinha acabado.
— Você dançou bem… apesar de tudo.
Quero dançar mais com ela.
Sabia dos erros que tinha cometido, mas fiquei animado em dançar com ela.
— Obrigado pela dança, Hina. Desculpa por pis…
De repente, antes que pudesse me desculpar, Hina saiu correndo…
Fiquei parado alí, inquieto, sem entender nada do que acabou de acontecer.
Ela realmente odiou tanto assim? Não, ela disse que dancei bem, mas…
— Neku? Ei, tá bem?
— Ah, senhor Yama, me desculpe…
— O que foi? Ficou tão cansado da dança?
— Eh, não é bem isso, Hina correu sem falar nada.
— Ahahaha, era isso? Você pode não ter percebido, mas Hina ficou bem envergonhada enquanto dançavam e isso foi motivo dela manter o rosto virado durante toda a dança de vocês e correr logo em seguida só mostrou que ela não aguentava mais ficar aqui.
— Então eu era o problema.
— Ela não estava envergonhada por dançarem juntos, mas porque era você que estava dançando com ela.
Não entendia o que Yama falava, mas precisava conversar com Hina para esclarecer tudo. Se fosse o verdadeiro problema, iria me ausentar de futuros convites de atividades em público.
— Pela expressão em seu rosto, você precisa escutar da própria Hina. Vá até o jardim, ela deve estar por lá.
— Obrigado, senhor Yama!
No mesmo instante que agradeci, apressei o passo indo até onde Hina poderia está, o jardim.
A escuridão era iluminada pelos vagalumes que voavam ao redor do jardim, o silêncio tomava conta, restando apenas um suspiro forte vindo do fundo do amontoado de flores.
— Hina?
A garota de vestido agachada atrás das flores carmesins.
— N-Ne-Neku??
A súbita surpresa fez com que ela se levantasse rapidamente de onde estava.
— Hina, por quê correu depois da dança?
O rosto de Hina mantinha uma vermelhidão que já havia mostrado outras vezes. Ela respirou fundo e gaguejando falou.
— Eu te-tenho um… pre-presente para você.
Presente? Por qual motivo?
Ela mudou de assunto, mas a curiosidade já fazia parte de mim.
Hina revela o que escondia no bolso do seu vestido. Em suas mãos, um colar com um pingente de pedra rubi negro.
— É pra mim? — perguntei surpreso
— V-Você não gostou do presente? — Ela perguntou mostrando uma insegurança anormal.
— Não, não, eu adorei. Só imagino o quão caro foi para conseguir comprar um.
O rubi negro era um item de alto valor que só podia importar de outro reino.
— Que bom que gostou, hoje é um dia especial para você então o valor que gastei não é nada, hehe.
Já fazia bastante tempo que não pensava nisso, muito menos comemorava, mas a festa que tinha sido feita com tanta abundância era precisamente feita para mim em comemoração ao meu aniversário. E não tinha sequer ideia.
— A propósito Neku, quero dizer mais uma coisa…
— O que foi?
O rosto de pimenta era a única coisa que via no momento, mas fiquei em silêncio esperando sua resposta.
— Então… é… eu, eu esto… eu estava pensando, o professor Hiari podia ter usado a magia dele ao redor do campo de treinamento, assim a nevasca não nos afetaria e também não teríamos ficado de castigo.
Hina desenterrou algo que já fazia um tempo que passou, no entanto ela tinha razão. Quando tivemos a primeira aula de magia, lutamos sem a nevasca nos atingir, mas especificamente no dia que o senhor Yama nos viu, ele estava junto de Hiari na exato horário.
— Você tem razão… você acha que ele…
— Sim, aquele professor desgraçado planejou que ficássemos de castigo, para ficar vadiando pela nossa casa.
— Hahaha, ele conseguiu.
— Pois é, mas Neku, não era isso que queria te falar…
— Não? E o que era?
O silêncio ficou no ambiente, Hina respirou profundamente, suspirou em seguida, seu rosto que deixará de ser vermelho firmou em semblante sereno.
— Neku, na verdade, durante todo esse tempo que você ficou em casa, você acabou se tornando alguém especial para mim… e eu, eu am-am-am-
— Pai!?
Quando percebi o senhor Yama estava atrás mim.
— Atrapalhou!.
— Me desculpe. Aliás, que colar bonito que você tem, Neku. Minha filha realmente pesquisou bastante para encontrar a que mais combinasse com você.
— P-Pai, p-pare de falar sobre essas coisas.
— Certo, mas irei roubar seu Neku por um tempo, você pode me acompanhar por um momento, tenho algo que preciso lhe contar.
— ELE NÃO É MEU!
— Isso não é jeito de falar com seu pai!
— Desculpa, pai…
— Vamos, Neku.
— Claro… mas antes, o que queria dizer Hina?
— NADA! Depois eu falo!
— Tá.
Acompanho o senhor Yama pela mansão, após alguns minutos acabamos saindo.
— Para onde estamos indo, senhor Yama? — perguntei
— Queria que ninguém atrapalhasse e por isso vamos caminhando em direção ao quartel para entregar seu presente, até chegarmos irei contar sobre sua família.
— Minha família?! — falei pasmo
Continuamos caminhando por uma estrada da capital. Estava escuro, mas várias paredes tinham lamparinas que eram abastecidas com o fogo e óleo iluminavam o caminho.
— Quando você era um bebê, você e Aira ficaram sob minha proteção enquanto sua mãe iria para uma guerra. Mas quando por conta de alguns imprevistos sua mãe não me contatou mais. Sua irmã após ter desconfiança de mim, achou que deveria proteger você sozinha e não confiar em mais ninguém e por isso fugiu. Ela se alistou ao exército e mostrou ser uma cavaleira forte perante as garotas de sua idade. Quando soube que era ela, pedi para que desistisse, eu daria um jeito de tirá-la do exército e ambos voltassem para a mansão, mas ela recusou novamente.
— Por que está me contando isso, senhor Yama?
— Porque quero que saiba que pode contar comigo para qualquer coisa. Eu devo isso a sua mãe e sua irmã.
Estava triste com toda a conversa, sentia falta de Aira. Mas eu confiava no senhor Yama, sabia que ele ainda estava procurando por Aira incansavelmente, por isso tinha que ficar mais forte e procurar por mim mesmo e tirar o peso dos ombros dele.
Depois de tanto caminhar, chegamos ao quartel. Estava escuro, com guardas ainda de prontidão.
Adentramos seguindo até uma grande sala, quando o senhor Yama abre a porta, nos deparamos com Zyr que estava sentado em uma cadeira. O senhor Yama ficou surpreso.
— O que está fazendo aqui, Zyr?
— Oi, Yama… e Neku. Parece que esconderam uma coisa bem importante de mim.
— O que faz aqui Zyr? Responda? — Yama falou irritado
— Nada demais, só esperando até que meu plano tenha sucesso.
— O que quer dizer com isso?
Yama mostra um semblante sério novamente enquanto retirava sua espada da bainha.
— Neku se afaste, acredito que ele não irá sair daqui sem lutar.
Zyr mostra tranquilidade com a reação do senhor Yama.
— Antigamente você poderia ser mais forte que eu, mas agora eu tenho isso — Zyr fala mostrando um orbe roxo
— Então você roubou a pétala de Sphin também, não precisarei me conter mais.