Volume 1
Capítulo 3: Estilo da Lua
Era manhã, não tínhamos tomado café da manhã, mas era apenas outro teste de resistência para o treino que logo viria. Tinha que dar o máximo de mim se quisesse ficar mais forte.
Ficamos frente a frente. Aira sacou sua espada. Uma espada longa de dois gumes. Porém eu estava desarmado, o que teria que fazer perante a situação, não sabia. Fiquei apenas calado e olhando para Aira.
— Esse é um estilo que nossa mãe utilizava, não aprendi totalmente, mas sei o suficiente pra que seja útil..
— Er… irmã, onde está nossa mãe? — falei
— Neku. Nossos pais morreram na guerra humano x demônio.
Por mais que soubesse, não sentia tristeza alguma em meu coração, talvez fosse por não ter memórias deles. Mas não deixava de pensar quem eram eles e como morreram.
— Neku, preste atenção! Irei reproduzir as formas desse estilo e logo depois você vai tentar.
A fala de Aira me trouxe de volta a realidade. Após finalizarmos o treino eu teria que perguntar mais sobre eles. Primeiro eu tinha que aprender a dominar o estilo de espada que Aira iria ensinar.
Ela ergueu a espada para frente levantando-a levemente. Suas pernas mantinham distância uma da outra. Logo em seguida ela pressionou as mãos com firmeza na espada girando-a na diagonal, suas pernas dobraram acompanhando os movimentos do manejo de espada. O corte diagonal foi tão lento no início que indicava o sentido que iria seguir, mas no mesmo instante a finalização foi rápida demais para os meus olhos pudessem ver.
A espada ficou parada na finalização do ataque. Em seguida ela guardou a espada na bainha novamente.
Ela entregou a espada ainda na bainha. Aquele movimento parecia ser simples. Erguer a espada e depois golpear na diagonal.
— Sua vez, Neku.
Peguei a espada. Retirei da bainha e a levantei reproduzindo o que Aira tinha feito.
— Você fez errado. Não é para retirar nessa velocidade, tem que ter noção de seu objetivo. Atacar na velocidade e tempo ideal. Suas pernas também estão muito afastadas, junte mais.
O que achei que seria fácil, era na realidade mais difícil do que pensei. Esse estilo de manejo de espada parecia que consistia em ler o oponente e saber o momento ideal de contra ataque. Resumindo não era para ataques diretos e sim para respondê-los.
Com horas tentando aprender a forma certa de sacar e atacar com a espada, acabei apenas a manter o corpo na posição.
O sol já não se mostrava mais. Já estava ficando tarde.
— Vamos fazer uma pausa. Vamos entrar, irei preparar o almoço.
— Cer…to — falei exausto.
O treino foi bem exaustivo. O restante do dia foi de descanso total.
— Neku, acho que você não dará certo para treinar esse estilo.
Ficou explícito que não conseguia acompanhar por tanto tempo os treinos, mas não tinha opção de recusar. Tinha que ficar forte para conseguir proteger Nefti.
— Irmã, irei continuar e conseguir aprender o estilo de espada da mamãe.
Ela soltou um leve suspiro. E voltou a preparar o almoço.
Nos dias seguintes, eu participava do treino de manejar a espada. E quando Aira ia caçar, eu praticava melhorar minha capacidade de resistência e força física.
Com quatro meses, finalmente tinha conseguido aprender a forma do estilo da espada. Nefti continuava sem vir visitar. Andava com Aira pelo vilarejo mais vezes que antes tornando que fosse ser conhecido como: “ irmão da cavaleira Aira”.
Com o foco totalmente em aprender a usar o estilo da espada, acabei deixando de estudar o livro sobre invocação.
— Parabéns, Neku. Você conseguiu finalmente aprender a primeira forma do Estilo da Lua. Agora podemos ir mais além.
Ir mais além? Tem mais pra aprender?
O Estilo da Lua, era um dos três estilos da espada. A primeira forma era apenas um teste para saber se alguém era compatível com aquele estilo, o que significa que a pessoa poderia treinar por anos uma forma e não ser capaz de usar aquele estilo. Mas também poderia ser bom em outro estilo, mas até isso poderia demorar mais já que nenhum dos estilos poderia ser aprendido em dias.
O Estilo da Lua se aproveitava do oponente, contra atacando-o. Sendo um estilo mais defensivo, porém também poderia utilizar o Estilo da Lua para atacar, mas isso levaria mais comprometimento.
Eu era compatível com esse estilo, agora iria aprender os fundamentos. A pose e segurar a espada eram seguidos iguais à primeira forma.
A diferença é que segurar a espada poderia mudar dependendo de quem fosse o oponente.
Os dias de treinos seguintes seriam enfrentando Aira. Ela tinha conseguido comprar uma espada longa para mim. Minha musculatura e resistência já tinha aumentado também, apesar da minha idade já conseguia acompanhar um pouco os movimentos de Aira. Claro que ela estava se segurando no combate, ela poderia me matar facilmente se quisesse.
Com o tempo foi tendo melhoras. Minha habilidade com a espada já era decente digno de um pupilo espadachim.
— Não esperava que fosse se adaptar tão rápido após quatro meses. Pensei que iria desistir em algum momento — Aira falou enquanto limpava sua espada.
— Hehe, claro que não desistiria, eu tenho que ficar o mais forte que puder para proteger Nefti… apesar de ela não ter vindo durante todo esse tempo.
Uma tristeza tomou conta quando lembrei de Nefti.
— Pelo visto você gosta mesmo dela, né?!
— Sim, ela é minha primeira amiga.
— Mas você não sente nada mais profundo por ela?
— Mais profundo que nossa amizade, acho que não…
Não sabia o que ela queria dizer um sentimento mais profundo. Ela estava falando por acaso de amar, Nefti. Fiquei pensativo.
— Acho que você ainda é criança, apesar de ter mais musculatura que as crianças da sua idade e já está treinando com espadas reais e não de madeira. A propósito eu recebi uma carta da capital… — ela olhou para mim quando voltou a falar — terei que voltar amanhã ao quartel.
— Você vai demorar quanto tempo?
Ela colocou a mão sobre minha cabeça acariciando.
— Não sei, mas eu irei finalizar o mais rápido que puder e voltarei pra você.
Não queria que Aira me deixasse sozinho novamente. Contudo não queria que ela ficasse preocupada comigo.
— Só por precaução, caso eu não retorne em uma semana você deve ir até a capital e lá você encontrará um conhecido meu, o grão-mestre Yama, além disso irei deixar um mapa para facilitar sua ida até o quartel.
Esse nome parecia familiar, mas não sabia onde já tinha escutado. Ela já tinha pensado em tudo o que eu deveria fazer caso ela demorasse.
Eu acenei concordando, mas mesmo assim a questionei.
— Precisa mesmo eu ir até a capital, da outra vez você demorou mais de dois meses e mesmo assim não teve problemas. — falei
— O dinheiro que tenho atualmente é pouco, não dá para você sobreviver e não quero ter que pedir ao vilarejo, apesar de tudo não confio neles.
Aira retirou um pingente que ficava na sua blusa e estendeu a mão me entregando.
— Tome. Assim, se alguém no quartel não acreditar em você, basta mostrar esse pingente.
Nos despedimos ainda pela manhã.