Volume 3
Capítulo 23 : A Dama e a Planta
Uma simples mesa preta redonda, ocupada por apenas três pessoas. Todos mantinham o silêncio e rosto fechado. Em um lado um homem lagarto azul batia a ponta do pé no chão repetidamente e roía as garras.
— ... ela não vai vir pelo jeito — na frente do homem uma mulher ciclope com braços cruzados coberta por ataduras quebra o silêncio. — Já é quase a hora da Dama chegar, em outras palavras, ela morreu. Agora pare com esse pé.
— Como... como, como, COMO? ERA A MISSÃO MAIS FÁCIL!
— Na sua cabeça, ela poderia enfrentar um Deus? — a última pessoa, um homem lobo branco perguntava — Deveríamos estar gratos, Lucaias não acabou com todos nós.
— ... oi?
— Incrível como nós perdemos todos os bons em coletar informações — com pata no rosto suspirava, respondia com desprezo no olhar. — Aprenda a pelo menos ler os títulos das manchetes dos principais jornais no dia posterior ao de qualquer trabalho importante, seu idiota.
— Mas isso lá faz sentido?
— As pessoas podem considerar Lucaias um Deus maligno em muitos lugares, mas isso não o faz um. Eu realmente poderia explicar que ele só tem má fama por ser a representação da noite, da lua e da guerra, mas isso não vai mudar sua vida.
— Deixa a filosofia pra lá, qual o sentido dessa merda aparecer?
— Segundo testemunhas um verdadeiro caos estava acontecendo na favela e muitos foram mortos por espinhos sombrios, mas quando o olho dele apareceu todo o sangue derramado parou e a vida de todos foi poupada. Segundo teorias uma besta magica de alto nível deveria ter aparecido e causado as fatalidades.
— Nenhum corpo ou suspeita duma pessoa ter feito isso? Ou algum grupo sendo teorizado como responsável?
— Não, nada disso aconteceu. Foi Deus intervindo e acabou, no máximo um ou outro chutando uma besta magica diferente e culpando-a como a responsável, mas é só.
— Intervenção divina... — uma voz indecifrável vinha da cadeira vazia do chefe — Isso é estranho, não havia um santo daquele... Salazar por perto? Mas no final foi Lucaias o salvador? Os dois Deuses viraram amiguinhos para resolverem o problema um do outro por acaso e não ficamos sabendo disso?
Na cadeira um corpo com a mão numa máscara surge. Altura, largura, formato, cabelo loiro, pele bronzeada, gestos sutis e uma presença majestosa conhecida. Era toda a aparência da Dama a chefe deles aparecendo na sala, sem ter passado pela porta.
— É uma máscara impressionante Dama, não tínhamos nem mesmo reconhecido sua voz com ela equipada.
— Hum... dá para reconhecer o lugar, mas não a voz... certo, deixaremos essa máscara branca para lá, quero o relatório geral.
Todos conversavam apenas com o olhar rapidamente e ignorando a conversa, a ciclope com os olhos fechados começa a falar.
— Caryne está morta, ouve intervenção divina para sua falha, não é possível especificar qual a razão dela ter perdido a cabeça dessa vez, mas sem dúvidas foi alguém da sua família.
— ... apostando no Valete?
— Sim. Contatos para possivelmente interceptar diretamente, contatos na delegacia para controlar as informações e mover os oficias para a região dela. Além disso, havia uma causa sólida e válida para ir lá pessoalmente na cidade.
— Ele faria o que teoricamente? — Coçando o próprio queixo, inclinou a cabeça para perguntar — Desde quando ele está ao menos pensando que eu estava viva?
— Sendo precisa... ele cumpriu com o objetivo de unir as duas principais famílias lá e depois disso estragou nossos planos. Agora a cidade ficou unida por uma facção, interferir vai estar na beira do impossível agora.
— Entendo... nada útil dela no final?
— Qualquer informação conseguida, não existe mais e qualquer acordo foi inútil por completo, pois, o prédio todo foi destruído sem contar as pessoas mortas por aquela idiota. Sinceramente para começarmos essa conversa, se tivesse sido um sucesso qualquer acordo ela não teria lutado sozinha, só se alguém tivesse invadido o local e matado as pessoas presentes antes da luta começar.
Os olhos da Dama fecharam lentamente. Um silencio breve, sem tristeza, raiva ou pena. Talvez um breve momento para respeitar o subordinado ou talvez apenas uma breve reflexão da situação.
— No fim, ela foi só uma arma viva sem controle obcecada por mim. Como vai o controle dos empreendimentos da casa Safira?
— Falha, as coisas até pioraram esses dias com alguém chutando a bunda da Sara para mandá-la caçar mais pessoas.
— Controle dos mercadores da família Rosário?
— O impasse 70/30 virou 65/35 com eles ainda na vantagem.
— Revolta dos elfos?
— Vários líderes morreram, mas embora a raiva gigantesca entre eles, tinha um apóstolo e graças ao Deus deles interferindo, falhamos.
— Influência na família Onix?
— Fechamos com sucesso uma aliança, não houve aumento na demanda deles por pessoas.
— Tráfico de não humanos?
— O dez de espadas e ouro interferiu parando tudo, inclusive ele acabou melhorando no final a relação com o sul, quanto a ele saber algo... por hora, não da para afirmar nada.
— Ataques nas vilas não humanas?
— Sucesso, um número considerável de mortos, mas na questão dano em si é ambíguo o resultado final.
— Explique.
— Eles se jogavam para morrer como se existissem apenas para isso, tanto que ao correr atrás dos outros o número de baixas era quase nulo.
— Pelo visto temos um aliado do outro lado por enquanto. Tudo bem, entendo toda a situação. Quanto a conseguir pessoas da minha família, nada. Era o esperado. Encerramos aqui, peguem o próximo trabalho e cumpram.
— Sim Dama.
Após jogar para cada membro um envelope com o próximo trabalho, a mulher coloca novamente a máscara. Todos começam a abrir seus trabalhos até ouvirem a porta ser aberta. Quando finalmente foi fechada, todos sem comentar qualquer coisa saem em silêncio por onde vieram.
Do outro lado da sala, no corredor vazio a mulher remove a máscara ao perceber a ausência dos outros. Passos lentos, um cabelo loiro bem cuidado, olhos marrons e roupas caras. Um monarca forte, poderoso e constantemente avançando. Tal monarca parou seus passos. Os olhos foram para baixo.
— Ela estaria lá agora. A última pessoa que trabalhou comigo naquela época. Não, tinha o outro idiota também, mas... não consigo odiar o Frederico. Foi por ter visto ele tentando sair desse mundo antes ou foi por alguma outra coisa?
Ao andar novamente, cada passo ecoava no corredor.
— ... foi outra coisa.
Os olhos fecharam.
— Foi por ter visto ele e a Clara juntos, mesmo sendo longe.
Os passos eram os mesmos, mas o eco era maior.
— Eu os vi sendo felizes, mesmo com toda a carnificina daqui...
Abrindo os olhos, na sua esquerda estava um jardim.
— ... não, não foi por isso...
O rosto do seu maior parceiro sorridente passou pela memória.
— ... foi inveja, mas sem ódio. Ele teve algo realmente puro e belo e eu, desejei o mesmo por alguém, mas não tive...
Só haviam plantas venenosas, com espinhos e algumas com magia no jardim.
— Ver algo belo, simples e puro, estragado por toda magia no mundo, foi realmente triste. Não dava para invejar um romance forçado a encerrar tragicamente.
Ao longe a porta do jardim se aproximava.
— Tantos problemas desnecessários, conflitos inúteis, violência excessiva, perigos extremos, monstros, artefatos, bençãos, deuses, maldições, dons...
Chegando perto à porta se abria descendo ao chão.
— A magia impede a alegria das pessoas no final.
Entrando no jardim, uma bola verde voa em sua direção.
— Cria os problemas e no final é a resposta dos mesmos problemas.
Uma pedra saia da ponta do dedo, envolve a bola e a parava no ar.
— A magia é sem dúvidas a fonte dos problemas do mundo, mas a pedra do desejo poderia resolver isso? Nem que seja somente nesse mundo?
Frente ao monólogo, algumas plantas começaram a se enrolar formando um corpo nu simples de uma mulher verde em cima da pequena árvore frutífera ao seu lado. A nova pessoa sorria sarcasticamente e deitava uma parte do corpo no galho tão confortável quanto um sofá luxuoso.
— Nossa... " todos os problemas do mundo são a magia e eu a grande vítima deste mundo sofro tanto com a magia! Aí de mim, a vítima da magia! A única com sabedoria para salvar o mundo! " Não chegou a sua hora para agir como uma adulta? Não existem vítimas do mundo, ele é igualitário para todos, fortes são completamente livres e fracos dependendo da vontade dos fortes.
Levanto uma única sobrancelha e cuspindo no chão, a monarca olha para árvore e a dríade relaxada com nojo.
— Muda idiota, como pode dizer algo tão burro? Sua vida é completamente dependente da magia, dríades como você nunca reconheceriam ou entenderiam o problema do mundo.
Fingindo fazer as unhas com os dedos e balançando suavemente uma das pernas, a resposta veio distraidamente.
— Certo, certo, certo, a adulta aí sem nem se quer um único século de vida completo vem falar comigo, viva a séculos, sobre o sentido da vida e os problemas deste mundo. Tá bom, ok, é sim, eu devo tá errada, quer me ensinar o correto deste mundo professora?
— Graças a magia ferimentos fatais podem ser feitos e desfeitos facilmente. Sabe qual o resultado disso? Vidas sendo tiradas por tudo e qualquer coisas sem dificuldades.
— Um fosforo e álcool e até uma criança mata um adulto facilmente. Qual seu ponto agora?
— Meu ponto é simples. A magia permite sofrimentos em diversas esferas das quais seriam impossíveis serem feitas com uma facilidade extrema, além de resultados que jamais deveriam ser possíveis como crianças podendo matar adultos por nascerem e terem mais mana. Precisa dizer mais? É possível arrancar o braço das pessoas e depois juntar com magia, mas normalmente o corpo humano não permitiria tal cura.
— Então proíba as facas, vai que uma mulher pirada a use pá esfaquear o marido. Ainda não entende o ridículo na sua fala criança? Vamos mudar a perspectiva e pensar nos problemas físicos da vida sem a magia. Como um exemplo extremamente básico vamos repetir a sua própria fala, ok? Com magia nós podemos recolocar o braço das pessoas, então, caso consiga eliminar a magia não seria péssimo para as pessoas quando perderem um braço?
— Não dá para usar uma faca para arrancar e simultaneamente recuperar o braço arrancado com a faca, mas a magia de luz pode fazer as duas coisas tranquilamente. Em outras palavras a mesma faca arranca e recupera o braço.
— Falou certo " a magia de luz " pode fazer isso, para alguém auto denominando adulta e esperta, como pode não entender um conceito tão simples? Tudo depende das pessoas e como elas usam as coisas. Entenda essa verdade... não é a faca a assassina, mas sim a mulher pirada da cabeça usando a faca é a assassina.
— Filosofia barata, desde quando para começar é possível controlar toda a magia do mundo? Desde quando ela é algo feito pelas pessoas? Ela não é. Ela cria desastres naturais completamente impossíveis, permite a vida para criaturas completamente incapazes de sobreviverem sem ela, condena ou garante posição e futuro das pessoas e muitas outras coisas. No fim ela é a fonte dos problemas do mundo e só é parcialmente controlável pelos seres vivos.
— A então vossa senhoria pode criar vida sozinha e não precisa dos Deuses agindo como querem e criando vida, certo?
— E por que eles devem ter o poder para criar vida para começar?
— Uau, vamos entrar em ciclos sem fim resumidos a " é culpa do poder! Todos deveriam ser iguais! Igualdade a todos a força é o melhor caminho! Todo mundo na miséria é a solução! "
— Para um ser secular, te falta muitas coisas e entre elas, a elegância.
— Não dá para discutir com quem só quer considerar o outro errado por simplesmente mostrar e ter um ponto diferente. Isso sim é uma verdadeira prova do meu conhecimento, chamo a lei do " foda-se, se vira aí então. "
— Só finge ser sábia isso sim.
— E eu lá vou desperdiçar mais do meu tempo com alguém emotivo?
— ... emotivo?
Os olhos se arregalavam por um momento. Lentamente vira o olhar para as palavras no verso da máscara.
— Que foi? Estou errada?
— “ Torne-se emoções.”
Com um sorriso irônico no rosto, a mulher a joga para longe.
— Essa máscara é realmente perigosa, mas eu finalmente a entendi.
Estacas feitas por metais e cristais destruíam completamente aquilo.
— Poxa ela era bonitinha, simples, mas bonitinha.
— Transformar uma pessoa em uma emoção a faz imperceptível até ela falar, mas a faz mais emotiva quando volta a forma humana. No fim, até era algo interessante, mas esse efeito colateral vai sem duvidar custar caro no final. Vou precisar procurar outro artefato para me esconder, um ser um problema tão sério.
— Agora as emoções são um problema? O mundo vai acabar com todos virando uma pedra.
Ignorando-a, foi embora do jardim. Sua mente só pensava em como um artefato tão poderoso poderia ter a destruído por perder a calma.
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