Volume 1

Capítulo 4: Professora

Parte 1
 

Três anos de idade.

Há pouco tempo, enfim consegui descobrir os nomes dos meus pais: Paul Greyrat e Zenith Greyrat. Meu nome é Rudeus Greyrat, o filho mais velho dos Greyrats.

Embora me chame Rudeus, meus pais sempre encurtaram o nome um do outro sempre que se chamavam, fazendo o mesmo com o meu, mudando para Rudy. Assim, só descobri o nome completo depois de um longo tempo.

 
Parte 2
 

— Oh, Rudy gosta mesmo de livros. — Como eu estava sempre andando por aí com um livro, Zenith deu uma risada.

Nunca me deram um sermão ou tentaram tomar o livro. Sempre tinha um livro debaixo da axila, mesmo quando estava comendo. No entanto, não leria o manual de magia na frente deles. Não era para esconder meu talento, e sim porque não sabia como a magia era vista neste mundo.

No meu mundo anterior, bruxas foram perseguidas durante a Idade Média. Foi uma época em que quaisquer feiticeiros eram tratados como hereges e queimados.

Existiam livros práticos como este neste mundo, então o uso de magia provavelmente não seria considerado heresia, mas também podia não ser visto de uma maneira positiva. Talvez o entendimento comum fosse de que a magia só podia ser usada depois de se tornar adulto, já que era um ato perigoso que causaria desmaios após o excesso de esforço. Alguns poderiam pensar nisso como um prejuízo para o crescimento.

E com esse pensamento, decidi esconder minha compreensão de magia da minha família. Talvez esse fato já tivesse sido revelado há muito tempo quando lancei feitiços pela janela. Naquele momento não tive escolha, pois queria ver o quão rápido eu poderia atirá-los.

A empregada — acho que o nome dela é Lilia — de vez em quando olhava para mim com uma expressão perigosa, mas meus pais continuavam despreocupados, então achei que ainda estava tudo bem. Se fosse parado agora, achava que não havia o que fazer, mas não desejava perder o período de crescimento.

O talento enferruja se não for cultivado quando for necessário, logo, precisava aproveitar esse período o máximo possível.

 
Parte 3
 

Porém tive que dar um fim a esse treinamento secreto de magia numa certa tarde.

Minha capacidade de mana havia crescido bastante, então comecei a tentar alguns feitiços intermediários, recitando um feitiço de canhão de água com o intuito simples de experimentá-lo.

Tamanho: 1; Velocidade: 0.

Como de costume, só queria fazê-lo encher o barril com água. Só pensei que, no máximo, a água acabaria transbordando. Mas, de modo inesperado, uma quantidade absurda de água foi liberada, abrindo um grande buraco na parede.

Chocado, não consegui pensar no que fazer devido ao susto. Um buraco aberto na parede era a prova indubitável de que usei magia, e não tinha nada que pudesse fazer sobre isso, fazendo-me desistir.

— O que aconteceu?! Uou...

No início, foi Paul quem apareceu correndo, olhando para a parede com sua boca aberta.

— Espere. Ei, o que foi... Rudy, você está bem?

Paul era mesmo um cara legal. Não importava como você olhasse para isso, com certeza fui eu quem causou esta cena, entretanto ele estava preocupado com o meu corpo.

— Monstros...? Mas nesta vizinhança? — Mesmo agora estava murmurando esse tipo de coisa, enquanto olhava ao redor com cautela.

— Minha nossa...

E Zenith o seguiu para dentro da sala, mais calma que pai.

Depois de olhar para a parede em ruínas e as poças de água no chão...

— Oh...?

Seus olhos se aguçaram enquanto olhava para a página do guia de magia onde eu o havia deixado aberto. Depois de olhar para mim e para o livro, se abaixou na minha frente e encarou meus olhos com uma expressão gentil.

Assustador.

Não havia sorriso nos olhos dela, e continuei a focar meus olhos vacilantes nos seus com todas as minhas forças.

Aprendi algo quando eu era um NEET. Quando você faz algo errado, uma atitude teimosa só piora as coisas. Portanto, eu não podia evitar os olhos dela, já que era um momento onde seria necessário uma atitude sincera.

Eu não podia desviar dos olhos da pessoa e tinha que encará-los. Apenas isso me faria parecer mais sincero. Não importava o que ela pensasse, o principal objetivo era esse.

— Rudy, você leu em voz alta o que está escrito neste livro?

— Eu sinto muito.

Acenei com a cabeça e me desculpei.

Quando algo errado foi feito, é melhor apenas pedir desculpas. Afinal, só havia eu aqui, ninguém mais poderia ter feito isso. Se inventasse uma mentira fraca, minha credibilidade diminuiria. Menti tanto quanto quis no passado e, como resultado, me tornei indigno de confiança. Não cometerei o mesmo erro de novo.

— Não, espere, esse é um de nível intermediário...

— Kyaa! Você ouviu isso, querido!? Nosso filho é um gênio!!

As palavras de Paul foram sobrepujadas pelo grito da esposa, que agarrava as mãos do homem e pulava de alegria.

Que enérgica.

Meu pedido de desculpas foi ignorado?

— Não, você, erm, de qualquer forma, eu não ensinei a ele nenhuma palavra!

— Vamos contratar um professor particular agora mesmo!! Esta criança vai se tornar um mago notável no futuro!!

Paul ainda estava perturbado, enquanto Zenith estava superencantada, como se estivesse exuberante com o fato de eu ter usado magia. Talvez estivesse me preocupando muito, pensando que crianças não deveriam usar magia.

Lilia permaneceu calma enquanto limpava o quarto em silêncio. Ela provavelmente sabia que eu estava usando magia há algum tempo ou já tinha a sensação de que estive fazendo isso de alguma forma. Pode ser que não achasse algo ruim, então não levou a sério. Ou só quisesse ver os rostos felizes dos meus pais.

— Ei, querido, vá para Roa amanhã e coloque um anúncio de emprego!! Este talento deve ser treinado de forma correta!!

Zenith estava ficando animada consigo mesma, causando uma confusão sobre gênios e talentos. Eu era considerado um gênio por ser capaz de, de repente, lançar magia? Será que meus pais não estão me mimando demais? Ou usar feitiços mágicos intermediários é considerado incrível? Não pude dizer. Não, talvez fosse, de fato, meus pais me mimando, pois nunca usei magia na frente de Zenith antes.

— Acho que é verdade. — Mas como ela disse essas palavras, talvez já pensasse que eu era um gênio.

Era infundado...

“Ah, não.”

De repente eu lembrei.

Porque sempre estive sozinho. Quando lia, de vez em quando repetia frases de que gostava, e desde que vim a este mundo, murmurava para mim mesmo lendo livros. No começo era japonês, mas depois que aprendi a falar, usei a linguagem desse mundo de modo inconsciente.

E então, quando o fazia: — Rudy, isso é... — Zenith me ensinava os significados dessas palavras. Por causa disso, me lembrei bastante sobre os termos daqui. Bem, vamos deixar isso para lá.

Nunca falei nada a ninguém, mas aprendi as letras deste mundo por conta própria. Meus pais nem me ensinaram a falar. Do ponto de vista deles, parecia que “Nosso filho pode ler palavras que nunca lhe ensinamos e ler em voz alta o conteúdo de um livro. Isso com certeza é coisa de gênio”. Se fosse o meu filho, também acharia que ele era um gênio.

No passado, a mesma coisa aconteceu quando meu irmão mais novo nasceu. Ele cresceu depressa e fez tudo mais rápido do que eu e meu irmão mais velho, como dizer palavras mais cedo ou andar com os próprios pés. Meus pais também estavam otimistas; sempre que seus filhos faziam algo, mesmo que não fosse nada grande, diziam: “Esse garoto é com certeza um gênio!”

Bem, eu era um maldito NEET que largou o ensino médio e minha idade mental era de mais de trinta anos. Sem tanta experiência, seria um miserável deplorável. Isso era dez vezes maior! Dez vezes!

— Querido, arrume um tutor!! Com certeza vamos encontrar um bom professor de magia em Roa!!

Assim, quando encontram alguém com talento, a única coisa que os pais fariam seria conseguir a melhor educação para ele. Em minha vida anterior, meus pais elogiaram o talento de meu irmão mais novo e permitiram que ele aprendesse todo tipo de coisa. Seguindo essa lógica, Zenith sugeriu contratar um mago para ser meu professor particular, mas Paul se opôs a essa ideia.

— Espere, não decidimos que, se fosse um menino, faríamos dele um espadachim?

Garoto, espadachim; garota, maga. Parecia que estava decidido antes de nascer nesse mundo.

— Mas ele pode ativar feitiços intermediários nessa idade!! Se ele começar a treinar agora, vai se tornar um mago incrível!!

— Mas uma promessa é uma promessa, não é?!

— Que promessa?! Você não está sempre quebrando suas promessas?!

— Meus assuntos não têm nada a ver com isso agora, têm?!

E assim, a briga de casal começou naquele momento, com Lilia limpando o quarto com calma.

— Deixem-no aprender magia pela manhã e esgrima à tarde. Não estaria tudo bem assim?

Depois que a briga persistiu por um tempo, Lilia terminou a limpeza, suspirou e sugeriu isso, encerrando a discussão, fazendo meus pais idiotas me submeter a estudar enquanto ignoravam o que o filho queria.

Ah, bom. Acho que tá legal, já que decidi viver com seriedade.

 
Parte 4
 

E por essas razões, nossa casa decidiu contratar um tutor.

Parecia que a renda de um tutor para uma criança nobre era bastante generosa. Paul era um dos poucos cavaleiros nesta área e tinha o status de nobre de classe baixa, então podia oferecer um condizente salário. Mas esta era uma área bem distante da capital, logo, era raro conseguir talentos notáveis aqui, muito menos magos. Seriam capazes de contratar alguém apenas enviando um pedido para a Guilda dos Magos e a Guilda dos Aventureiros?

Mesmo tendo tido tais preocupações, o inesperado foi que encontramos um tutor com rapidez, e essa pessoa chegaria amanhã. A vila não tinha pousada, então a oferta de emprego incluía acomodação também. De acordo com o palpite dos meus pais, deveria ser um aventureiro aposentado. Os jovens não viriam para o campo, e um mago da corte poderia encontrar com facilidade trabalho na capital.

Neste mundo, apenas magos de ranking avançado e acima eram qualificados para se tornarem tutores de magia, então o nível desse aventureiro era, provavelmente, acima do intermediário.

A pessoa que estava chegando devia ser um homem de meia-idade barbudo — indicando ser um sábio — ou um velho que passou sua vida dedicado a pesquisar sobre magia.

— Eu sou Roxy. Estou às suas ordens.

Mas, ao contrário das minhas expectativas, uma jovem com a possível idade semelhante a um aluno da escola secundária apareceu. Ela estava vestida com um robe marrom de mago, seu cabelo azul-claro amarrado em tranças e seu corpo compacto era perfeito. A pele branca, desprovida de qualquer bronzeado, estava acompanhada de olhos meio abertos e sonolentos. Seus lábios tinham aparência seca, e apesar de não usar óculos, passava a imagem de uma garota estudiosa que sempre trabalhava na biblioteca, segurando um saco em uma mão, a outra segurava um cajado que um mago usaria.

E assim, ela se encontrou com nós três nesta casa.

Meus pais ficaram sem palavras quando olharam para ela; previsível. Estava além do que esperávamos. Imaginamos o tutor sendo alguém que viveu muitos anos, mas a pessoa que apareceu era pequena. Para mim, que tinha jogado muitos jogos, uma maga loli não era algo fora do comum.

Loli, olhos entreabertos, indelicada.

Com essas três qualidades, ela era perfeita.

Por favor, seja minha esposa.

— Ah-ah, você é, aquela, professora particular?

— Ah, isso é, mesmo...

Com meus pais gaguejando, eu logo adicionei:

— Pequenininha.

— Não quero ouvir isso de você.

Fui imediatamente refutado por um possível complexo seu a respeito disso, mesmo que não estivesse me referindo aos peitos.

Roxy suspirou.

— Hah. Enfim, quem é o aluno que eu devo ensinar? — Olhou ao redor enquanto perguntava.

— Ah, é este garoto.

Zenith me apresentou em seus braços. Dei uma piscada para a professora com seus olhos arregalados, deixando escapar outro suspiro.

— Haaa. Acho que isso acontece de vez em quando, hein. Pais idiotas que acham que seu filho tem talento depois de crescer um pouco… — murmurou baixinho.

Eu ouvi isso!! Senhorita Roxy!!

Bom, eu não poderia concordar mais.

— O que foi?

— Não é nada. No entanto, acho que esse seu filho não entende o conceito de magia, não é?

— Está tudo bem. Nosso Rudy é muito talentoso!!

Minha mãe disse algo que qualquer pai estúpido diria, fazendo Roxy suspirar mais uma vez.

— Haa, entendi. Vou tentar o meu melhor.

Ela pode ter assumido que era inútil dizer qualquer outra coisa. E com isso, decidiu-se que pela manhã seriam as aulas de Roxy e à tarde os estudos de esgrima com Paul.

 
Parte 5
 

— Bem, vamos começar a partir do livro mágico. Não, antes disso, vamos testar quanta magia pode usar, Rudy.

Para a primeira aula, Roxy me levou para o pátio. As lições de magia eram feitas em grande parte ao ar livre, pois ela também entendia o que aconteceria se magia fosse usada dentro de casa e não quebraria a parede como fiz.

— Vamos para a demonstração. Concedas a proteção da água ao lugar que tu exiges, deixes o seu fluxo cristalino aqui, Bola de Água!

Quando Roxy recitou o feitiço, uma bola de água do tamanho de uma de basquete foi formada em sua mão e voou em direção a uma das árvores em alta velocidade.

Crash!

Os galhos quebraram com facilidade, e a cerca ficou encharcada.

Tamanho: 3; Velocidade: 4. Mais ou menos isso, eu acho.

— Como foi?

— Minha mãe cuidou daquela árvore com tanto cuidado. Acho que ela ficará com raiva.

— Hã?? De verdade?

— Sem dúvidas.

Houve uma vez em que Paul balançou a espada e cortou os galhos. A fúria de Zenith não estava apenas no nível ordinário de terror.

— Isso não é ruim? Tenho que pensar em algo…!

Correu com a face vermelha à árvore e pegou os galhos caídos.

— Uu... Deixe que o poder de Deus seja convertido em uma colheita abundante e confira a quem perdeu a força a oportunidade de ficar de pé mais uma vez, Cura —  recitou outro cântico, deixando os galhos de volta ao que eram antes.

Uau, que incrível. De qualquer forma, preciso elogiá-la.

— Ufa.

— Professora, você sabe como usar a magia da cura?!

— Eh, sim. Não tenho problemas até o nível intermediário.

— Incrível!! Isso é incrível!!

— Não. Se treinar de forma apropriada, qualquer um pode fazer este tipo de coisa.

Mas, embora sua resposta tenha sido um tanto curta, os cantos de seus lábios mostraram o contrário, curvando-se para cima, e seu nariz pareceu se contorcer um pouco de maneira orgulhosa. Eu só gritei “incrível” duas vezes, e já estava tão feliz. Que fácil.

— Muito bem, Rudy. Tente uma vez.

— Tudo bem.

Ergui minha mão...

Oops, não usei o encantamento da Bola de Água por quase um ano, então não me lembro mais dele. Vamos tentar o que Roxy acabou de dizer... erm, erm...

— Erm, como se diz isso mesmo?

— Concedas a proteção da água ao lugar que tu exiges, deixes o seu fluxo cristalino aqui.

Roxy respondeu com indiferença. Talvez isso estivesse dentro das expectativas dela. Mas mesmo que você tenha respondido de forma tão indiferente, não consigo me lembrar de tudo em uma só tentativa.

— Concedas a proteção da água ao lugar que tu exiges... Bola de Água!

De fato não conseguia me lembrar, então apenas o encurtei, fazendo uma bola um pouco menor e mais lenta em comparação com a de Roxy. Se fizesse isso maior do que a dela, ela poderia acabar ficando amuada. Sempre fui muito generoso quando se tratava de garotas mais novas.

A bala de água do tamanho de uma de basquete voou com grande força e um “whoosh!”, derrubando com um estalo alto a árvore.

Roxy olhou para mim com uma cara complicada.

— Você encurtou o encantamento?

— Sim.

Isso é ruim? Pensando bem, o encantamento silencioso não foi registrado no guia de magia. Estive usando de forma bastante casual, mas talvez tenha tocado em um tabu, não é? Ou ela estava irritada porque eram dez anos cedo demais para eu estar usando encantamento silencioso… Sob esse cenário, era melhor refutar dizendo: “Então, sobre isso, quem vai querer usar um cântico tão vergonhoso?”

— Você costuma encurtar seus encantamentos?

— No geral... eu não uso.

Não sabia como responder a essa pergunta, então só disse a verdade, que seria revelada de qualquer maneira quando frequentasse as aulas dela a partir de agora.

— Encantamento silencioso?! — Roxy arregalou os olhos, me encarando com um olhar cético. — ... Entendo. Então você costuma usar o encantamento silencioso. Você se sente cansado?

No entanto, ela logo voltou para sua expressão séria.

— Sim. Estou bem.

— É mesmo? Não tenho nenhuma reclamação sobre o tamanho e a força do feitiço.

— Muitíssimo obrigado.

A professora enfim deu um sorriso; um dos grandes. Murmurou: — ... Parece que há algum valor em ensiná-lo, hein?

Como disse antes, eu posso ouvir o que você acabou de dizer.

— Muito bem, vamos seguir para o próximo feitiço...

Parecia bastante animada, e justo quando está prestes a abrir o manual de magia:

— AHHHH!!!

Um grito surgiu atrás de mim. Era Zenith, que veio ver como estávamos. As bebidas na bandeja que ela estava segurando caíram sobre o chão, suas mãos cobrindo a boca enquanto ela olhava para a árvore quebrada com uma expressão triste, substituída com fúria no instante seguinte.

“Ah, isso é ruim.”

— Senhorita Roxy!! Você poderia, por favor, não tratar nossa casa como um laboratório de experimentos?! — Se aproximou de Roxy como uma tempestade.

— Ehh!! Mas isso foi feito por Rudy...

— Mesmo que Rudy fizesse isso, foi você quem permitiu, não foi?!

Roxy parecia perplexa, chocada, seus olhos brancos e vazios poucos vistos enquanto abaixava a cabeça.

Bem, você não pode jogar a culpa em uma criança de três anos.

— Sim... Você tem razão.

— Espero que isso não aconteça de novo!!!

— Sim. Eu sinto muito, madame...

E assim, Zenith conjurou uma magia de cura para reparar a árvore e voltou para dentro da casa.

— E pensar que cometi um erro tão rápido...

— Professora...

— Haha, eu posso ser demitida amanhã.

Roxy se sentou no chão e começou a desenhar um “”. Não suportava nenhum revés.

Acariciei o ombro da garota, em silêncio.

— Rudy?

Mesmo que tenha acariciado o ombro dela, não soube o que dizer para consolá-la, já que não me comunicava de forma correta com ninguém há quase 20 anos.

Desculpe, não faço ideia do que devo dizer neste momento… Não, se acalme. Pense nisso com cuidado. Como um protagonista em um eroge tentaria consolá-la em tal situação. Humm, tenho certeza que seria algo assim:

— Você não falhou, professora.

— Ru-Rudy...?

— Você está acumulando experiência.

— É-é verdade. Obrigada. — Olhou para mim surpresa.

— Sim. Por favor, continue com a lição.

E assim, do primeiro dia em diante, consegui me dar bem com Roxy.

 
Parte 6
 

À tarde era hora do treinamento com Paul. Não havia espada de madeira que se encaixasse ao tamanho do meu corpo, então o treino era apenas físico. Correr, flexões, abdominais e assim por diante. De qualquer forma, parecia que o seu plano era baseado em me fazer me movimentar primeiro.

Nos dias em que não conseguia me treinar devido ao trabalho, podia-se dizer que o treinamento corporal básico era algo que não podia ser ignorado em nenhum dia. Isso era igual, não importava o mundo. Tentarei o meu melhor.

Como criança, meu corpo físico não aguentava o treinamento durante toda a tarde, então a esgrima terminava em seu início. Por causa disso, gasto minha mana até o jantar.

Os feitiços mágicos consumiam quantidades diferentes de mana dependendo das “mudanças do tamanho”. Por exemplo, se o padrão for “1” para encantamentos silenciosos, mana adicional seria gasta quanto mais eu expandisse o feitiço e aumentasse a velocidade.

A lei da conservação da massa¹ em ação.

Mas, em contraste, por alguma razão, quanto menor eu fizesse o projétil, mais mana teria que usar. De verdade não entendia a lógica. Criar uma única gotícula de água requeria o uso de muita mais mana do que criar uma bola de água do tamanho de um punho.

Fiz essa pergunta que sempre tive a Roxy, mas a única resposta que recebi foi “Isso simplesmente acontece”. Parecia que a resposta ainda não tinha sido encontrada, e continuei sem entender a razão.

Mas este não era um método ruim para o meu treinamento.

Minha capacidade de mana aumentou bastante nos últimos tempos. Se não usasse alguns feitiços grandes, não conseguiria gastar tudo. Se apenas quisesse esgotar meu suprimento de mana, só precisava usar a potência máxima até que ele se esgotasse.

Mas agora era hora de tentar treinar minha destreza. Assim, decidi fazer alguns trabalhos muito delicados, pequenos e refinados. Por exemplo, a criação de uma estátua de gelo, acender uma chama na ponta do meu dedo ou escrever palavras no tabuleiro. Tentei dividir o solo do pátio em partes.. Mesmo coisas como pendurar uma chave na maçaneta.

A Magia da Terra afetava metais e minerais até certo ponto. Mas quanto mais metálico o item era, mais mana tinha que gastar. Imaginei que seria muito difícil mover coisas que eram mais resistentes. Quanto menor o alvo de controle e mais delicado, mais complicado a tarefa era, e quanto mais preciso e eficiente, mais mana tinha que ser gasta.

Jogar uma bola de beisebol com toda a minha força e conduzir devagar um fio através do orifício de uma agulha; a quantidade de mana necessária para essas duas ações era quase a mesma. Além disso, tentei usar vários tipos de magia ao mesmo tempo.

Eu precisava usar uma quantidade pelo menos três vezes maior de mana. Portanto, se usasse dois sistemas diferentes de magia ao mesmo tempo e os lançasse de maneira suave, precisa e rápida, podia esgotar todo o meu estoque de mana com facilidade.

E após continuar tal treinamento todos os dias, acabei incapaz de esgotar toda a minha mana, mesmo depois de lançar feitiços por meio dia ou até mais tempo.

— Acho que isso deve ser suficiente. Meu coração começou a vacilar.

Meus ossos preguiçosos estavam começando a me dizer que isso já devia ser o suficiente, certo? Cada vez, gritei e me repreendi.

Os músculos ficam dormentes se você afrouxar o treinamento. Sem dúvidas, a mana funcionava da mesma maneira, então não poderia deixar de treinar só porque tive um aumento em minha capacidade.

 
Parte 7
 

Enquanto lançava magia no meio da noite, podia ouvir alguns barulhos irritantes. De onde eles estavam vindo? É claro que do quarto de Paul e Zenith trabalhando duro. Talvez em um futuro não tão distante, meu irmão ou irmã mais nova nascesse.

Achava que seria bom ter uma irmãzinha. Não, não, eu não quero um irmão mais novo. A imagem do meu irmão mais novo esmagando o meu computador com um taco de beisebol com toda a sua força surgiu.

Não queria um irmão mais novo.

Uma irmã fofa era melhor.

— Santo Deus...

Na minha vida passada, se ouvisse algo tão irritante, imediatamente bateria na parede e no chão para calá-los, e devido a isso, minha irmã mais velha nunca mais trouxe um cara para casa.

Que nostalgia.

Naquela época, sempre pensei que as pessoas que faziam isso eram a malícia que manchava meu mundo. Sempre achei que aqueles valentões estavam zombando de mim de um lugar distante. Assim, sempre tive alguma raiva dentro de mim que não conseguia extravasar.

Aqueles que me empurraram para um espaço escuro, no entanto, estavam olhando para mim, dizendo: “Por que você ainda está nesse lugar?”

Não havia nada mais humilhante do que isso.

Mas, nos últimos tempos, mudei meu pensamento.

Não tinha certeza se era porque meu corpo se tornou o de uma criança, por conta dos meus pais, ou porque eu mesmo estava trabalhando duro pelo meu futuro. Mas estava prestes a espionar suas ações com uma atitude magnânima e de apoio.

Hmph, eu também sou um adulto...

Podia adivinhar mais ou menos o que estava acontecendo apenas ouvindo os barulhos.

Parecia que Paul era muito bom nisso. Quanto a Zenith, ela caía depois de um tempo, ficando sem fôlego e tudo mais, mas ele dizia algo como “Ainda está cedo demaiiiis!” e continuava atacando, do mesmo jeito de um protagonista de algum jogo erótico de humilhação sexual.

Uma quantidade indescritível de resistência...

Hah, já que sou filho dele, será que também tenho esse tipo de energia?!

Despertar!

Pelas Heroínas!!

Conceda-me o desenvolvimento de um protagonista de eroge!!!

Bem, esse entusiasmo inicial diminuiu há pouco tempo, e eu era capaz de ir com calma em direção ao banheiro enquanto passava por aquele corredor que rangia.

Só para você saber, o rangido parava sempre que eu passava pelo quarto deles. Era interessantíssimo.

Nesse dia, eu caminhei até o vaso sanitário para indicar minha presença.

“Muito bem, devo cumprimentá-los hoje? Papai, mamãe, o que vocês estão fazendo pelados?” Era isso o que eu perguntaria, ansioso para ouvir as desculpas deles. Kukuku...

Com esse pensamento, em silêncio saí do quarto, mas outra convidada já estava lá — a garota de cabelos azuis estava agachada no corredor escuro, espiando o interior do quarto pela fresta da porta. Seu rosto estava corado e ela prendia sua respiração acelerada, mas seus olhos estavam grudados na parte de dentro do cômodo.

Eu podia ver sua mão alcançando suas vestes, fazendo alguns movimentos convidativos, e retornei em silêncio para o meu quarto.

Roxy era uma dama numa idade apropriada.

Fui generoso o suficiente para fingir que não percebi que ela se entregou a esse tipo de atividade.

... Brincadeirinha.

Bem, eu vi algo bom.

 
Parte 8
 

Quatro meses se passaram.

Me tornei capaz de usar todos os feitiços intermediários, assim, comecei a ter aulas noturnas com Roxy. Ah, não havia nada de erótico sendo ensinado durante essas aulas. O conteúdo dos estudos eram sobretudo conhecimentos diversos.

Roxy era uma boa professora, muito adaptável à compreensão dos alunos e não se apegava demais ao currículo. Estava me ensinando progressivamente de acordo com o meu entendimento.

Escolhia uma pergunta do livro didático preparado para me testar, e se eu fosse capaz de acertar, seguiria para a próxima. Se eu não entendesse, ela me ensinaria com paciência, e só isso me fazia sentir que a minha visão do mundo se ampliou.

Na minha vida passada, houve um tempo em que um tutor particular foi contratado, quando meu irmão mais velho estava fazendo seus exames. Houve uma vez quando me senti interessado e escutei a lição. No entanto, não era diferente do ensinado na escola.

As aulas de Roxy eram bem fáceis de entender e interessantes, onde tinha certeza de obter respostas para minhas perguntas. Além disso, era uma professora na idade de uma aluna do ensino médio me ensinando. Esse cenário era o melhor para mim. Se fosse o eu do passado, essa ilusão sozinha me faria me masturbar três vezes.

 
Parte 9
 

— Professora, por que a magia só é usada em combate?

— Na verdade, você não pode dizer que é apenas usada para o combate.

Roxy sempre responderia a qualquer uma das minhas perguntas repentinas com seriedade.

— Hmm, na verdade, por onde devo começar...? Em primeiro lugar, dizemos que a magia veio da antiga raça de orelhas longas, os altos-elfos.

Uau, elfos! Existem de verdade?! Cabelos dourados, roupas verdes, empunhando arcos e sempre ficando amarrados por tentáculos!

“Oops, se acalme.”

Devem ser diferentes dos que eu conheço. Embora como a palavra indicava, tinham orelhas longas.

— Quais são os elfos de orelhas longas?

— Hmm, os elfos de orelhas longas são uma raça que vive no norte do Continente Millis.

De acordo com as palavras de Roxy, há muito tempo, antes que a guerra entre humanos e demônios começasse, o mundo ainda estava em caos, e as guerras surgiam em todos os lugares. Durante esse tempo, a antiga raça dos altos-elfos de orelhas longas conseguiu se comunicar com os espíritos da floresta, manipulando a terra e os ventos para combater os invasores, usando a suposta magia mais antiga do mundo.

— Heh? Isso está registrado na história também?

— É claro. — Roxy acenou com as minhas palavras zombeteiras. — A magia agora é derivada da raça humana imitando a antiga raça dos altos-elfos durante as guerras naquela época e evoluindo-a. Os humanos são muito bons nessas coisas.

— A raça humana é muito boa em tais coisas?

— Sim, a raça humana é sempre aquela que cria coisas novas. A razão por trás da magia ser usada apenas em combate é porque era meio que utilizada só nessas situações. Mesmo que não seja evocada, há coisas ao nosso redor que podemos usar para cumprir nossas vontades.

— As coisas ao nosso redor se referem a?

— Por exemplo, se você precisa de luz, pode usar uma vela ou lanterna, não é?

Entendo, isso era algo muito comum. Comparado ao uso de magia, uma ferramenta era sem dúvidas mais simples, e isso era um pouco lógico. Embora não usasse cânticos, ainda seria mais simplista do que usar uma ferramenta.

— Além disso, nem todo tipo de magia é adequado para o combate. Por exemplo, com a magia de invocação, você pode sumonar uma fera mágica ou espírito.

— Magia de invocação!! Você pode me ensinar isso algum dia?

— Não, nunca a usei. E entre as ferramentas existem itens mágicos também.

“Itens mágicos”. Eu podia imaginar o que eram pelas palavras.

— São?

— Itens que contém efeitos especiais. A parte interna está inscrita com uma formação mágica, de modo que uma pessoa pode usá-la mesmo que não seja um mago. Porém requerem muita mana.

De forma simples, era o que imaginei.

Pensando bem, era uma pena Roxy não poder usar a magia de invocação. Os conceitos de magia de ataque e de cura ainda podiam ser entendidos, mas não tinha ideia de como a magia de invocação funcionava. Fora isso, havia muito vocabulário que apareceu de repente. A guerra humano-demônio, familiares, espíritos...

— Professora, qual a diferença entre feras mágicas e criaturas mágicas?

— Não há muita diferença. Basicamente, criaturas mágicas são criaturas que experimentaram algumas mudanças. E uma vez que aumentassem em número e se tornassem uma raça, após algumas gerações, elas possuiriam uma certa quantidade de inteligência e se tornariam feras mágicas. Mas, mesmo que tivessem inteligência, continuaram sendo chamadas de criaturas mágicas caso atacassem a raça humana. Em retrospecto, em relação às feras mágicas que se tornavam cruéis ao longo das gerações, havia exemplos em que elas voltaram a ser criaturas mágicas.

Resumindo, criaturas mágicas atacam humanos, feras, não. Essa linha de pensamento deveria ser boa o suficiente.

— Ou seja, as raças de demônios evoluíram de criaturas mágicas?

— De modo algum. As raças dos demônios foram nomeadas há muito tempo, durante a guerra.

— É aquela humano-demônio que acabou de ser mencionada?

— Sim. A primeira foi há mais ou menos sete mil anos.

— Faz um bom tempo, então.

A história deste mundo era mesmo longa.

— Isso não é considerado muito longo. Os humanos ainda lutavam até quatrocentos anos atrás. Desde sete mil anos no passado, a raça humana e as raças de demônios continuaram a lutar entre si.

Achei que quatrocentos anos fosse considerado muito tempo, mas na verdade, a guerra persistiu por quase sete milênios. A relação entre essas duas raças era assim tão ruim?

— Hah, entendi. Então em conclusão, o que diferencia os demônios?

— Definir as raças dos demônios é bastante problemático. Se for de fato necessário, “As raças que ficaram do lado dos demônios durante a guerra anterior” deveria ser a forma mais fácil de entender. Claro, existem algumas exceções. Ah, para acrescentar, também sou de uma raça de demônios.

— Oh, entendi.

Um demônio estava aqui como minha professora particular. Significava que agora não havia guerra em curso? A paz é bem melhor, sim.

— Para explicar de forma formal, sou da raça Migurd, da área de Bigoya no continente demoníaco. Seus pais pareciam chocados quando me viram, não?

— Pensei que fosse porque você parecia pequena.

— Eu não sou pequena — retrucou. Parecia levar essa coisa muito a sério.

— Os dois ficaram assim quando viram meu cabelo.

— Cabelo?

Eu achei que era um lindo cabelo azul.

— O boato típico é que quanto mais próximo o cabelo da raça demoníaca está do verde, mais violento e perigoso o indivíduo é. Em especial quando meu cabelo sob uma iluminação diferente parece verde… —  Ela brincou com a franja de um jeito fofo enquanto explicava.

Verde. Era essa a “cor ruim” desse mundo? O cabelo dela era um azul bonito que fazia os olhos dos outros brilharem. Se você visse algum cabelo azul no Japão, devia ser de algum punk ou uma vovó.

Não importava de qual tipo fosse, aquela sensação não natural me fazia sentir nojo, mas o seu não me deixava assim. Podia-se dizer que combinava com as expressões sonolentas dela. Se fosse uma protagonista de eroge, ela com certeza seria muito adequada para ser a primeira conquista.

— Seu cabelo é muito bonito.

— ... Obrigada pelo elogio, mas você deve deixar esse tipo de conversa para uma garota que você gosta.

— Mas eu gosto da professora — falei sem hesitação.

Não sou uma pessoa que hesita. Vou expressar meu amor a todas as garotas bonitas.

— Certo. Se você não mudar de ideia daqui a dez anos, falaremos sobre isso de novo.

— Tudo bem, professora.

Mesmo refletindo de forma leviana, não perdi sua expressão um pouco feliz.

Por mais que eu não soubesse o quanto o treino de um cara bom em jogos eróticos poderia ser usado nesse mundo, não podíamos dizer que seria inútil. Algo como essa frase podia ser um clichê no Japão, mas também pode ser um flerte astuto para uma relação romântica.

Hã-hã, de que diabos eu estou falando? Roxy era fofa, mas a diferença de idade era enorme. O que aconteceria no futuro?

— Voltando ao assunto anterior, “quanto mais brilhante, mais perigoso é”; a superstição completa.

— Ah, é tudo superstição.

— Sim, a raça Superd da área de Babinos é uma raça com cabelos verdes, e eles cometeram muitas atrocidades durante a guerra de quatrocentos anos atrás. É por isso que esse boato existe, então não tem nada a ver com a cor do cabelo.

— Muitas atrocidades?

— Sim. Durante mais de dez anos de guerra, seus crimes fizeram com que ambas as partes sentissem medo e ódio. Eram perigosíssimos, e depois da guerra, foram perseguidos e expulsos do continente demoníaco.

Expulsos após o fim da guerra? Incrível.

— O que eles fizeram para serem tão odiados?

— Bem, isso, eu só posso... olha, eu só ouvi isso na minha infância. Dizem que atacaram um local aliado do lado das raças demoníacas e mataram todas as mulheres e crianças, ou aniquilaram todos os inimigos e depois assinaram seus aliados. Há também histórias sobre como, se você não dormir à noite, um Superd vai te comer e coisas assim.

Shimacchau Ojisan?

— São parecidos com os Superds, então também fomos envolvidos. Seus pais talvez lhe dirão isso mais cedo ou mais tarde...

“Lembre-se disso.”

— Se ver alguém com cabelo esmeralda e uma pedra parecida com rubi em sua testa, não se aproxime. Se não tiver escolha a não ser falar com ele, não irrite-o.

Cabelo esmeralda, pedra de rubi na testa. Esse parecia ser o traço especial dos Superds.

— O que acontece se você irritar um deles?

— Podem matar sua família inteira.

— Cabelo cor de esmeralda e pedra de rubi na testa, é isso?

— Sim, a coisa na testa deles pode ver os movimentos da mana. É o terceiro olho deles.

— Poderia ser que houvesse apenas mulheres na raça Superd?

— Eh? Não? Há homens também.

— Será que a pedra muda para azul depois de fazer alguma coisa?

— Huh? N-não? Pelo menos nunca ouvi falar disso.

“O que diabos você está dizendo?” Roxy inclinou a cabeça, confusa.

Só quis perguntar por motivos pessoais.

— Mas esse tipo de traço é reconhecido com facilidade, não é?

— Sim. Se você os vir, invente uma história como: “Preciso ir embora agora mesmo” e evite-os. Fugir de repente pode os irritar.

Como tentar fugir de algum delinquente só faria com que ele corresse atrás de você. Tive uma experiência dessas.

— Com base nas coisas que você me disse, vai ficar tudo bem se os respeitar?

— Acho que vai ficar tudo bem se você não os insultar abertamente. É que, como há muitas diferenças entre a raça humana e o bom senso das raças dos demônios, você pode deixá-los com raiva por causa de algumas coisas. É melhor não usar observações maliciosas.

Hmm, pareciam ser provocados sem muito esforço. Mas, em vez de dizer que estávamos sendo feridos, era melhor dizer que estávamos com medo. Aquela sensação de “Oh, aquele cara deve ser assustador quando está com raiva, é melhor evitá-lo”, ou coisa assim.

Assustador, assustador.

Não achei que poderia reencarnar se fosse morto mais uma vez.

Melhor passar longe deles o máximo possível. Gravei isso em meu coração.

 
Parte 10
 

As aulas mágicas progrediram sem percalços.

Nos últimos tempos, eu consegui usar todas as magias avançadas sem recitar cânticos. Comparado com o treinamento usual que tive, usar magia avançada era tão fácil quanto limpar o nariz. Na maioria, eram constituídas por feitiços de área de efeito, por isso usá-las era muito restritivo.

Chuva sobre uma grande área... o que faria com isso?

Na verdade, eu tinha esse pensamento, mas Paul me disse que Roxy produziu chuva quando veio para cá e recebeu elogios por isso, ajudando com magia os moradores a resolverem muitos problemas.

“Eu encontrei uma grande pedra quando estava mexendo no solo, por favor, me ajude, Rokaemon!”

“Deixa comigo.”

“Que magia é essa?”

“Ela molha o solo ao redor da rocha, então moverei com a lama usando magia da terra, utilizando uma combinação mágica.”

“Uau, isso é incrível! A rocha está afundando!!!”

“Hmphhhh.”

Algo assim, creio eu.

— Como esperado da professora. Você está ajudando outras pessoas.

— Ajudando os outros? Não, isso é para ganhar uns trocados.

— Você está cobrando?

— É claro.

Que avarenta! Apesar de eu estar pensando isso, parecia normal pros aldeões. Como ninguém mais conseguia fazer isso na aldeia, continuaram elogiando-a.

Dar e receber.

Minha percepção era a errada. O sentimento dos japoneses era de ajudar os outros sem compensação ser obrigatório. Aqui, a norma era cobrar dinheiro por isso, sendo senso comum. Bom, como eu era um NEET que nem falava em ajudar outras pessoas menos afortunadas, fui tratado como uma pessoa conturbada pela minha família.

Hahaha.

 
Parte 11
 

Um belo dia, perguntei se devia chamar a professora de mestra. No final, ela mostrou um olhar de desgosto.

— Não, é capaz que me supere logo. Melhor não me chamar assim.

Me senti um pouco envergonhado quando fui elogiado sobre esse potencial assim.

— Você não chamaria alguém que é mais fraco que você de mestre, chamaria?

— De modo algum.

— Eu odiaria isso. Alguém que é melhor do que eu me chamando de mestra, isso não é embaraçoso?

Esse era o caso?

— É porque você é mais forte que o seu professor que você diz isso?

— Me escute, Rudy. “Mestre”, esse título é alguém que não pode te ensinar mais nada, mas ainda espera coisas de você. Essa existência problemática.

— Mas Roxy não fará isso, fará?

— Talvez faça.

— Mesmo que seja o caso, ainda vou respeitá-la.

Mesmo se ela assumisse uma atitude de me pedir para fazer as coisas, eu ainda sorriria e a respeitaria.

— Não, eu teria inveja do potencial do meu aluno e dizer algo feio, como “mero demônio sujo”, ou algo assim. “Não deveria ir para aquela aldeia”, etc.

Você foi criticada tanto? Pobrezinha. Discriminação é uma coisa ruim, mas a relação superior-subordinado sempre tinha sido assim.

— Está tudo bem, não é nada demais.

— Só porque uma pessoa é um pouco mais velha não quer dizer que está tudo bem!! Uma relação professor-aluno sem uma certa força vai fazer os dois infelizes!!

Fui refutado. Sua relação com o tutor era muito pior do que eu imaginava, pelo jeito. Por conta disso, nunca a chamei de mestra, mas decidi sempre chamá-la assim no meu coração.

Esta garota que ainda conservava uma pequena infantilidade me ensinou muitas coisas que um livro não poderia.


Nota:

 

1 A Lei da Conservação das Massas foi publicada pela primeira vez em 1760, em um ensaio de Mikhail Lomonosov. No entanto, a obra não repercutiu na Europa Ocidental, cabendo ao francês Antoine Lavoisier o papel de tornar mundialmente conhecido o que hoje se chama Lei de Lavoisier. Em qualquer sistema fechado, físico ou químico, nunca se cria nem se elimina matéria, apenas é possível transformá-la de uma forma em outra. Portanto, não se pode criar algo do nada nem transformar algo em nada (Na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma). Logo, tudo que existe provém de matéria preexistente, só que em outra forma, assim como tudo o que se consome apenas perde a forma original, passando a adotar uma outra. Tudo se realiza com a matéria que é proveniente do próprio planeta, apenas havendo a retirada de material do solo, do ar ou da água, o transporte e a utilização desse material para a elaboração do insumo desejado, sua utilização para a população e, por fim, a disposição, na Terra, em outra forma, podendo muitas vezes ser reutilizado.



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