Volume 1
Capítulo 4: Mestra
Eu completei três anos de idade.
Recentemente, descobri o nome dos meus pais. Meu pai era Paul Greyrat e minha mãe Zenith Greyrat. E meu nome era Rudeus Greyrat, o primogênito da família Greyrat.
Meus pais não se referiram um ao outro pelo primeiro nome e me chamavam de "Rudy", então levou um tempo para descobrir quais eram os nossos nomes formais.
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— Céus, Rudy realmente ama esse livro, não ama? — Zenith disse com um sorriso enquanto eu folheava "Um Manual de Magia" com a mão, como costumava fazer.
Meus pais não pareciam incomodados com a maneira como eu sempre carregava o livro por aí. Mesmo quando estava comendo, colocava debaixo do braço. No entanto, fiz questão de nunca lê-lo na frente deles — não porque queria manter meus talentos em segredo, mas porque não tinha certeza de quais eram as visões deste mundo sobre magia. De volta ao meu mundo antigo, por exemplo, a caça às bruxas¹ foi real — você sabe, onde eles queimavam vivos suspeitos de serem magos por heresia.
É claro que, considerando que meu livro de magia era um guia prático, a magia provavelmente não era considerada heresia neste mundo, mas isso não significava que as pessoas ainda não pudessem ter uma visão sombria dele. Talvez a magia fosse algo que você só praticasse quando se tornava adulto. Em todo o caso, os magos corriam o risco de desmaiar se a usassem demais; as pessoas poderiam pensar que isso atrapalharia o crescimento de uma criança.
Com tudo isso em mente, decidi manter minha aptidão mágica em segredo de minha família. Nesse caso, tive que praticar lançar feitiços pela janela, então havia uma chance de que eu fosse descoberto. Porém, não tinha muita escolha quanto a isso. Não se quisesse testar com que rapidez poderia lançar meus feitiços.
Nossa camareira (cujo nome parecia ser Lilia) de vez em quando me mostrava uma expressão severa, mas meus pais continuavam tão indiferentes como sempre, então tinha certeza de que estava seguro. Se as pessoas tentassem me impedir, não lutaria contra isso, mas não queria desperdiçar minha infância enquanto ainda a tinha. Eu precisava flexionar meus talentos agora, antes que eles se firmassem e ficassem rígidos demais. Agora era a hora de aproveitar ao máximo as coisas.
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Então, uma tarde, meu treinamento mágico secreto chegou ao fim.
Minhas reservas mágicas haviam crescido bastante, então passei pelo encantamento de um feitiço de nível Intermediário de maneira bastante casual. O Canhão de Água: Tamanho 1, Velocidade 0. Imaginei que, como sempre, a água se acumularia no meu balde. Talvez ela transbordasse um pouco, mas sem dúvidas não seria muito.
Então, lancei o feitiço... e lancei uma quantidade impressionante de água que abriu um enorme buraco na parede. Fiquei lá, boquiaberto, vendo a água pingar das bordas de madeira daquele buraco. Eu estava muito confuso para pensar no que fazer. Considerando o tamanho do buraco, as pessoas saberiam que ele havia sido feito por meios mágicos.
Não havia nada que eu pudesse fazer para mudar isso agora. Sempre fui rápido em desistir.
Paul foi o primeiro a entrar na sala. — O que aconteceu? — ele gritou. — Uau! — Seu queixo caiu ao ver o buraco na parede. — Que diabos? Espere, Rudy! Você está bem?
Paul era um cara legal. Era óbvio quem tinha feito isso, mas tudo o que importava era que eu estava bem. Ele ficou em guarda, verificando cuidadosamente os arredores. — Havia um monstro? — ele murmurou baixinho. — Não, não por essas partes...
— Ó, meu Deus! —, disse Zenith quando entrou na sala. Ela sempre foi muito mais calma que meu pai. Ela olhou primeiro para a parede quebrada, depois para a piscina de água no chão. — Hã? — Seu olhar disparou para o meu livro de magia e se fixou na página que estava aberta.
Minha mãe alternou seu olhar entre mim e o livro, depois se agachou na minha frente. Ela me olhou nos olhos, sua boca curvada em um sorriso caloroso.
No entanto, o sorriso não alcançou seus olhos. Foi bem assustador.
Eu queria desviar os olhos, mas tentei o máximo possível manter meu olhar fixo no da Zenith. Se aprendi alguma coisa com meu tempo como freelancer sem emprego, foi que ficar petulante e desafiador quando você fez algo ruim só piora a situação. Por isso, eu não ia tirar os olhos dela, não importava o que acontecesse. Neste momento, precisava mostrar sinceridade. E a maneira mais simples de fazer isso era com contato visual — pelo menos você pareceria sincero, independentemente de como se sentisse.
— Rudy, você falou algumas das palavras desse livro em voz alta? — Zenith perguntou.
— Sinto muito — eu respondi com um pequeno aceno de cabeça. Um pedido de desculpas direto era a melhor solução quando se fazia algo errado. Eu era o único que poderia ter feito isso, portanto, mentir só prejudicaria a confiança dos meus pais em mim.
Na minha antiga vida, contei mentira após mentira, até que ninguém mais confiou em mim, então não iria cometer esse erro de novo.
— Desculpa? — Paul perguntou. — Esse foi um feitiço de nível interm-...
— Ó, querido, você ouviu isso!? — Zenith interrompeu, praticamente chiando. — Ó, eu sabia que nosso garoto era um gênio! — Ela fechou as mãos em punhos minúsculos e pulou em êxtase.
Bem, ela com certeza estava de bom humor. Imaginei que isso significava que o pedido de desculpas foi aceito.
Zenith estava claramente emocionada com esse desenvolvimento, mas Paul ainda parecia perdido. — Espere, espere aí — disse ele, olhando para mim — nós ainda nem te ensinamos a ler ou...
— Teremos que contratar um tutor para ele agora mesmo! Ó, ele vai crescer e se tornar um mago incrível, eu sei disso!
A reação de Zenith à minha capacidade de usar magia foi uma alegria mal contida. De forma evidente, meus medos de que as crianças não devessem usar magia eram infundados.
Enquanto isso, Lilia começara a limpar casualmente e sem dizer nada. Ou ela já sabia que eu poderia usar magia, ou tinha suas suspeitas. Como essa habilidade não parecia tão ruim, parecia que ela não se importava tanto. Ou talvez só quisesse ver meus pais felizes.
— Querido, vamos para Roa amanhã e anunciar um emprego para professor particular! — Zenith disse. — Precisamos garantir que Rudy possa aprimorar seus talentos!
Zenith estava sobre a lua, divagando sobre como seu filho era um gênio por demonstrar de repente um talento especial para a magia. Eu não sabia dizer se ela estava apenas sendo uma mãe orgulhosa ou se ser capaz de usar um feitiço de nível Intermediário era tão impressionante assim.
Tinha que ser a primeira opção, certo? Ela não tinha me visto praticando minha magia, então dizer que "apenas sabia" que eu era um gênio significava que ela já havia decidido isso por si mesma, sem qualquer base.
Não, isso não era bem a verdade. Ela tinha algum tipo de intuição. Eu falei muito comigo mesmo. Mesmo quando estava lendo, murmurava palavras ou frases que gostava em voz alta. Desde que vim a este mundo, subvocalizava as coisas enquanto lia; no começo era tudo em japonês, mas depois de aprender a língua local, subconscientemente, comecei a fazer isso.
Quando Zenith me ouviu proferindo palavras, começou a explicar o que elas queriam dizer. Foi assim que aprendi muitos substantivos próprios deste mundo, mas isso não era tão relevante aqui.
Ninguém tinha dito nada enquanto eu aprendia sozinho a língua deste mundo. Ninguém me ensinou as palavras que estava lendo. Da perspectiva dos meus pais, eles estavam vendo seu filho ler quando não havia aprendido, além de falar o conteúdo dos livros em voz alta. É claro que eles pensariam que eu era um gênio.
Quer dizer, se fosse meu filho, era isso o que eu pensaria.
Foi assim na minha vida passada, depois que meu irmão mais novo nasceu. Ele foi mais rápido em crescer — mais rápido em aprender as coisas em comparação com eu ou meus irmãos mais velhos, incluindo falar e andar. Meus pais eram do tipo afobado que dizia descaradamente: — Ó, eu me pergunto se ele é um gênio? —, mesmo quando não era nada tão impressionante.
Tinha que ter em mente que, embora pudesse ter abandonado o ensino médio e não tivesse emprego, também tinha a idade mental de uma pessoa em seus trinta e poucos anos. Eu poderia fazer isso!
— Querido, temos que arranjar um tutor para ele! — Zenith disse. — Tenho certeza de que seremos capazes de encontrar um ótimo instrutor de mágica em Roa! — Ao que parecia, os pais eram sempre iguais, não importava onde você estivesse: Sempre que uma criança mostrava um pouco de talento especial, eles iriam garantir que a criança recebesse a educação especial adequada para seus dons. Na minha antiga vida, meus pais elogiaram meu irmão mais novo por ser um gênio e deram um monte de coisas para aprender.
Paul estava menos entusiasmado com a sugestão de Zenith de me encontrar um professor particular de magia. — Espera aí. Você não prometeu que, se tivéssemos um menino, ele não seria um cavaleiro? — Então, uma garota seria uma maga, mas um garoto seria um cavaleiro? Eles devem ter concordado com isso antes de eu nascer.
— Mas ele já pode usar magia Intermediária nessa idade! — Zenith retrucou. — Com o treinamento adequado, ele seria um mago incrível!
— Uma promessa é uma promessa!
— Não me fale sobre promessas! Você quebra promessas o tempo todo!
— Não estamos falando de mim agora!
E assim meus pais brigaram um pouco, enquanto Lilia continuava calmamente cumprindo seus deveres. A discussão se arrastou um pouco, até que, quando Lilia terminou de limpar, ela disse com um suspiro: — E se ele estudar magia pela manhã e praticar esgrima à tarde?
Essa sugestão acabou com a discussão, e meus pais tolos decidiram o plano de estudo do filho, sem se preocuparem em levar seus sentimentos em consideração.
Bem, tanto faz. Afinal, prometi dar tudo de mim nesta nova vida.
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E então foi decidido que um professor particular deveria ser contratado para mim.
Concluí que a posição de instrutor pessoal de um jovem nobre era bem remunerada. Paul era um dos poucos cavaleiros da região, o que o tornava um nobre de nível relativamente baixo, então me perguntei se ele poderia oferecer uma remuneração atrativa. No entanto, estávamos no meio do nada, na fronteira do reino, e, do lado de fora dessa fronteira, o talento de alto nível (em especial para algo como um mago) era escasso. Se fizermos um pedido para algo como uma Guilda dos Magos ou a Guilda dos Aventureiros, alguém responderia?
Meus pais também pareciam preocupados com essa perspectiva, mas aparentemente encontraram alguém sem demora, porque minhas aulas começariam no dia seguinte.
E como não havia pousada em nossa aldeia, minha professora moraria conosco.
Meus pais tinham certeza de que meu professor seria um aventureiro aposentado, já que os jovens não gostavam de ir para o meio do nada, e não havia escassez de empregos para magos reais na capital. Pelo que entendi, neste mundo, apenas magos de nível Avançado ensinavam artes arcanas. Portanto, quem quer que tenhamos contratado ao menos seria um aventureiro de nível Intermediário ou Avançado, possivelmente mais alto.
Em minha mente, imaginei um sujeito de meia-idade ou idoso com muitos anos de estudo diligente, completo com a longa barba necessária para esses bruxos.
— Eu sou Roxy. Prazer em conhecê-los.
Minhas expectativas foram completamente erradas. A pessoa que apareceu era uma jovem garota, talvez com a idade de uma estudante no fim do ensino fundamental.
Ela estava vestida com um manto marrom de bruxo, seu cabelo azul penteado em tranças, sua postura ereta e composta. Sua pele branca parecia intocada pelo sol, e seus olhos pareciam um pouco sonolentos. Sua expressão não irradiava exatamente sociabilidade e, apesar da falta de óculos, ela parecia o tipo de garota que gostava de se enfiar em uma biblioteca com o nariz em um livro.
Em uma mão, ela carregava uma bolsa e na outra, segurava um cajado condizente com um mago. A família foi cumprimentá-la, minha mãe me carregando nos braços.
— ...
— ...
Meus pais a olharam, sem saber o que dizer. Não era de se admirar, é sério. Não podia ser isso o que eles estavam esperando. Ao contratar alguém para ser um tutor particular, você imaginaria que levaria alguém um pouco mais experiente. E, em vez disso, aqui estava essa coisinha.
Com todos os videogames que joguei, a ideia de uma maga loli não era muito incomum para mim.
Menor de idade. Olhos desdenhosos. Socialmente desconfortável. É isso, esse era um hat-trick.
Ela era perfeita.
Eu queria que ela fosse minha noiva.
— Ó, uh, você... você é a professora particular? — Zenith enfim perguntou.
— Você não é um pouco, uh... — Paul conseguiu falar.
Meus pais ficaram atrapalhados com suas palavras, então decidi ser direto e terminar a frase do meu pai. — Você é pequena.
— Ei, olha só quem está falando! — Roxy retrucou. Ela com certeza parecia sensível ao assunto, e olha que nem falei sobre os seios dela.
Roxy suspirou. — Então, onde está esse meu aluno? — ela perguntou, olhando em volta.
— Ó, esse seria o nosso garoto aqui — Zenith respondeu, me erguendo um pouco nos braços.
Dei uma piscadela atrevida para Roxy. Os olhos dela se arregalaram e ela suspirou mais uma vez. — Ugh, isso acontece às vezes — ela murmurou baixinho — Crianças que mostram sinais de crescimento um pouco rápido e os malditos pais que pensam que ele tem um talento especial.
Ei! Eu escutei isso, Roxy!
Porém, concordava totalmente com ela, mesmo assim...
— Você disse algo? — Paul perguntou.
— Ó, não foi nada — ela respondeu — Só não tenho certeza de que seu filho seria capaz de entender os princípios da magia.
— Ó, não se preocupe — disse Zenith, cheia de orgulho maternal. — Nosso pequeno Rudy aqui é brilhante!
Mais uma vez, Roxy suspirou. — Muito bem então. Suponho que vou ter que fazer o que puder. — Ela parecia já ter decidido que isso seria inútil.
E assim, esse foi o primeiro dia de aulas com Roxy pela manhã e pratica de esgrima com Paul à tarde.
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— Tá, então este livro de magia aqui... na verdade, antes de chegarmos a isso, que tal ver quanta magia você pode usar, Rudy?
Roxy me levou para o quintal para a nossa primeira lição. Eu deduzi que a magia era algo tipicamente praticado do lado de fora. Caramba, eu já tinha aprendido em primeira mão o que poderia acontecer quando você lançava magia dentro de casa. As pessoas não querem sair por aí fazendo buracos nas paredes ou algo assim.
— Primeiro, vou fazer uma demonstração. Que as vastas e abençoadas águas converjam para onde queres e emita uma única corrente pura, Bola de Água! — Enquanto Roxy entoava seu encantamento, uma esfera de água do tamanho de uma bola de basquete se formou na palma da mão. Então, ela disparou em alta velocidade em uma das árvores do nosso quintal.
A Bola de Água quebrou a árvore ao meio como se fosse um mero galho e encharcou a cerca atrás dela. Deve ter sido um Tamanho 3, Velocidade 4, se eu tivesse que adivinhar.
— Bem? — Roxy perguntou. — O que você acha?
— Minha mãe sempre amou aquela árvore e passa muito tempo cuidando dela, então acho que ela ficará com muita raiva.
— Hã? Sério!?
— Sem dúvidas. — Uma vez, quando Paul estava balançando sua espada, acidentalmente cortou um dos galhos da árvore, mas Zenith não ficou tão brava com isso.
— Ó, isso não é bom — Roxy gaguejou, correndo para a árvore em pânico. — Eu tenho que fazer algo a respeito disso.
Com um grunhido, ela levantou o tronco caído de volta no lugar. Então, com o rosto vermelho e tensa com o esforço, ela começou a recitar: — Nngh... Que esse poder divino seja um alimento satisfatório, dando a quem perdeu suas forças o poder para se levantar de novo, Cura!
Lenta, mas de forma certa, o tronco da árvore voltou à sua posição original. Tá legal, tenho que dar o braço a torcer: Isso foi incrível. — Ufa! — Roxy suspirou.
— Você também pode usar Magia de Cura, Senhorita!?
— Hmm? Ó, sim. Qualquer coisa até os feitiços de Nível Intermediário.
— Ó, uau! Isso é incrível!
— Ó, de forma alguma! Com o treinamento adequado, qualquer um pode fazer isso. — O tom de Roxy era um tanto curto, mas os cantos de sua boca suavizaram e seu nariz se mexeu com orgulho.
Sim, ela estava feliz, tudo bem. Só foi preciso alguns elogios. Cara, ela era fácil de agradar.
— Muito bem, Rudy. Agora é sua vez.
— Tá! — Estendi minha mão e...
Porcaria. Fazia quase um ano desde que eu tinha lançado a Bola de Água usando o encantamento, e não conseguia me lembrar como era. No entanto, Roxy acabou de dizer o encantamento. Hmm. Vejamos…
— Um, como é mesmo que fazemos isso?
— Que as vastas e abençoadas águas converjam para onde queres e emita uma única corrente pura... — Roxy falou de forma prosaica. Ela aparentemente percebeu que isso estava dentro das minhas capacidades.
Por isso, disse isso com tanta naturalidade para que eu conseguisse me lembrar depois de ouvi-lo apenas uma vez. — Que as vastas e abençoadas águas... — Comecei, antes de deixar de lembrar o resto, então reduzi o encantamento. Conjurei uma bola de água um pouco menor e um pouco mais lenta que Roxy; afinal, se eu a superasse, ela poderia ficar irritada.
Ei, eu gosto de ser legal com garotas mais novas.
A Bola de Água do tamanho de uma bola de basquete atingiu sua marca com um respingo, a árvore rangeu e quebrou quando caiu. Roxy fixou o olhar nessa visão, sua expressão endurecendo. — Você encurtou seu encantamento, não foi? — ela perguntou.
— É. — Ô-ou. Eu estava em apuros?
É isso mesmo: O livro de magia não dizia nada sobre lançar feitiços sem encantamentos. Fiz isso como se não fosse grande coisa, mas talvez isso fosse algum tabu cultural? Ou talvez ela estivesse com raiva por eu ter conseguido algo que deveria ter exigido muito mais treinamento? Com sorte, ela apenas me advertiria por ser desleixado com o meu encantamento ou algo do tipo.
— Você costuma encurtar seus encantamentos assim? — ela perguntou.
Eu não tinha certeza de como responder a isso e, depois de alguma hesitação, decidi ser honesto. — Eu normalmente, uh... não uso eles inteiros. — Afinal, eu era seu estudante, então ela acabaria descobriria.
— Não os usa!? — Os olhos da Roxy estavam arregalados de choque e descrença quando olhou para mim. No entanto, a garota logo recuperou a compostura. — Ah, sim, agora entendi. Faz sentido. Você está se sentindo cansado agora?
— Um pouco, mas estou bem.
— Entendo. Bem, o tamanho e a força da sua Bola de Água foram excelentes.
— Obrigado.
Por fim, Roxy mostrou um sorriso — um verdadeiro. E então ela murmurou para si mesma: — Talvez valha a pena treinar esse garoto.
Mais uma vez, ainda posso ouvi-la.
— Tudo bem, vamos para o próximo feitiço — Roxy disse de forma animada, folheando o livro de magia um pouco mais.
— Aaaahh! — Atrás de nós, um grito cortou o ar. Zenith tinha saído para ver como as coisas estavam indo, deixou cair a bandeja cheia de bebidas que estava carregando e levou as duas mãos à boca enquanto olhava para a árvore derrubada e mutilada. Tristeza tomou seu rosto.
Um momento depois, essa tristeza foi substituída por uma raiva lívida. Ela caminhou até Roxy, ficando cara a cara com a garota. — Senhorita Roxy, minha nossa! Você poderia, por favor, não usar minhas árvores em seus experimentos?
— Ei! Foi Rudy quem fez isso!
— Se Rudy fez isso, foi porque você deixou!
O branco dos olhos de Roxy cresceu, seu corpo ficou tenso como se um trovão tivesse acabado de explodir. Então ela abaixou a cabeça. Ei, é isso que você ganha por tentar culpar uma criança de três anos. — Não, você está absolutamente correta — ela murmurou.
— Por favor, garanta que isso não aconteça de novo, mocinha!
— Não acontecerá, senhora. Eu sinto muito.
Zenith foi até a árvore e a restaurou à sua antiga beleza com sua Magia de Cura antes de voltar para casa.
— Bem, eu com certeza estraguei tudo muito rapidamente — Roxy meditou.
— Senhorita…
— Hã? Estou supondo que serei demitida amanhã. — Ela se sentou no chão, desenhando pequenos círculos na terra.
Nossa. Ela realmente não aguentava nem o menor dos castigos, sério? Eu fiquei ao lado dela e dei um tapinha em seu ombro, mas não disse nada.
— Rudy?
Eu não tinha certeza do que fazer depois de lhe dar um tapinha no ombro. Eu não tinha começado uma conversa com ninguém em quase vinte anos, então não consegui encontrar as palavras para confortá-la. Para ser honesto, não sabia qual era a coisa certa a dizer nesse tipo de situação.
Não. Eu só precisava me acalmar e pensar. O que diria o protagonista de um simulador de romance adulto para confortar alguém em um momento como este?
Tá legal. Eu tinha certeza que seria algo assim: — Você não falhou aqui, Senhorita.
— Rudy…?
— Você acabou de ganhar um pouco mais de experiência, isso é tudo.
Roxy ficou espantada. — Sim, você está... você está certo. Obrigada.
— Hum-hum. Então, você poderia, por favor, continuar com a nossa lição?
E assim, logo no primeiro dia, formei um pequeno vínculo com Roxy.
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As tardes eram gastas praticando esgrima com Paul.
Não tínhamos uma espada de madeira adequada para uma criança da minha estatura, então nosso foco era o treinamento físico: corrida, flexões, abdominais, esse tipo de coisa. De acordo com Paul, acostumar meu corpo a se mover era a prioridade. Nos dias em que ele estava muito ocupado para treinar comigo, o homem me disse para manter meus fundamentos.
Imaginei que os pais eram assim em todos os mundos. Eu só tinha que sorrir e suportar.
Uma criança não tem força para passar uma tarde inteira se exercitando, então terminamos por volta do meio da tarde. Sendo esse o caso, decidi passar meu tempo entre o treinamento físico e o jantar trabalhando em feitiços.
Ajustar o tamanho de um feitiço aumentava a quantidade de energia mágica necessária para abastecê-lo. Havia a quantidade padrão de energia que um feitiço precisava para ser lançado se você não colocasse nenhum esforço consciente nele quando o encantamento terminasse, e fazendo um feitiço maior do que isso consumia uma quantidade de poder mágico consequentemente maior. Como a lei da conservação da massa.
No entanto, de forma curiosa, fazer um feitiço menor também consumia mais poder mágico. Eu não tinha certeza do princípio em ação aqui, mas criar uma bola de água do tamanho de um punho consumia menos energia mágica do que criar uma do tamanho de uma gota de chuva. Era estranho.
Perguntei à Roxy sobre isso, mas ela só disse: — Sim, é assim que funciona.
Ao que parecia, isso ainda não tinha sido explicado.
Não sabia sobre os mecanismos pelos quais a magia funcionava, mas, por meio da prática, lidar com os métodos não era tão ruim. Minhas reservas mágicas tinham crescido ao ponto de não esgotar a menos que lançasse grandes feitiços. Se meu objetivo fosse apenas usar meu poder mágico, então poderia continuar desencadeando os feitiços mais fortes que tinha até ficar esgotado.
Depois de um tempo, porém, eu queria passar para aplicações reais de magia, então decidi me concentrar em praticar feitiços mais precisos. Eu queria tornar meus efeitos menores, mais reduzidos no escopo, mais complexos: por exemplo, criar esculturas a partir de gelo, fazer minha ponta do dedo brilhar com fogo para escrever em tábuas de madeira, pegar sujeira do quintal e separá-la em seus componentes constituintes, trancar e destrancar portas, e assim por diante.
Remodelar algo que já era resistente e sólido era obviamente mais difícil. Trabalhar para remodelar o metal, por exemplo, custava mais poder mágico. Trabalhar sua magia em algo menor, em algo mais intrincado, ou tentar trabalhar com velocidade e precisão ao mesmo tempo, também consumia muito mais poder. A concentração e o esforço necessário era como tentar jogar uma bola rápida e enfiar um fio no buraco de uma agulha ao mesmo tempo.
Também experimentei usar feitiços de diferentes ramos mágicos ao mesmo tempo. Isso consumia mais de três vezes o gasto mágico do que usar dois feitiços da mesma vertente. Em outras palavras, tentar ser rápido e preciso com dois feitiços de ramos diferentes ao mesmo tempo era uma ótima maneira de explodir todas as suas reservas mágicas ao mesmo tempo.
Meu treinamento continuou assim, dia após dia, até chegar a um ponto em que não podia ver o fundo de onde minhas reservas chegavam, mesmo depois de passar mais da metade do dia usando magia. Tive a sensação de que as construí até níveis suficientes. Em especial para um preguiçoso como eu costumava ser, eu pensei.
Mas fui rápido em me advertir. O corpo fica mole quando se desliga do treinamento físico. Pelo que eu sabia, a magia poderia ser igual, e agora que tinha construído minhas reservas, queria continuar treinando para ter certeza que elas permanecessem assim.
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Uma noite, enquanto praticava magia, ouvi os sons lascivos de uma cama rangendo e gemidos lúgubres vindos de algum lugar. Bem, não "de algum lugar", na verdade, estava vindo do quarto de Paul e Zenith. E caramba, os sons eram vigorosos. Em um futuro não muito distante, eu poderia estar recebendo um irmãozinho ou irmãzinha.
Com sorte uma irmã. Chega de irmãos mais novos para mim. Na minha mente, ainda podia ver o irmão mais novo da minha vida passada desferindo seu taco de beisebol com força total, esmagando meu amado PC em pedaços. Eu não precisava de um irmão mais novo, mas uma irmãzinha seria legal.
— Ó, puxa…
Na minha antiga vida, eu ficava em alerta e batia na parede ou no chão para calar as pessoas sempre que era perturbado por sons como estes. Graças a isso, minha irmã mais velha parou de levar caras para casa. Puxa, isso trouxe de volta várias memórias.
Ao mesmo tempo, sempre pensei que as pessoas que faziam esse tipo de coisa eram pragas no mundo. Isso me lembrou das pessoas que costumavam me intimidar, zombando de mim de uma posição fora do meu alcance, enchendo-me de uma raiva que não tinha como extravasar. Mesmo que o autor fosse de alguma forma trazido para o meu nível, ele ainda olharia para mim e perguntaria: — O que, você ainda está aqui?
Era o pior.
Mas as coisas não eram mais assim. Talvez porque agora era uma criança, ou porque eram meus pais fazendo isso, ou porque estava mais focado no meu futuro, ouvi-los fazendo seus negócios melhorou meu humor. Eu podia dizer mais ou menos o que eles estavam fazendo apenas pelos sons.
Também parecia que Paul era muito bom na cama. Mesmo que Zenith estivesse sem fôlego, ouvi-o dizer: — Ó, eu estou apenas me aquecendo. — E depois voltou à ação. Ele parecia o personagem principal de um simulador de romance adulto bem explícito, virilidade sem limites e tudo mais.
Hmm. Como filho de Paul, será que herdei um pouco dessa proeza sexual? E um dia, meus poderes despertariam, eu encontraria minha heroína, e seguiria meu caminho para a vida sexual perfeita?
Esse tipo de coisa me empolgou no início, mas, nos últimos tempos, tinha perdido a graça, e eu casualmente desceria pelo corredor até o banheiro com o som de ranger ressoando pelas paredes. Além disso, o ranger e gemidos paravam assim que me aproximava do quarto deles, o que era muito divertido.
Hoje foi a mesma coisa. Fui ao banheiro, imaginando se deveria avisá-los que seu filho, agora capaz de andar, estava lá. Talvez desta vez devesse tentar dizer algo. Talvez algo como: — Mããããe? Paaai? O que vocês estão fazendo pelados?
Seria divertido ouvir que desculpas eles inventariam. Heheheh.
Com isso em mente, saí do meu quarto o mais silenciosamente que pude — exceto que alguém já tinha se antecipado. A garota de cabelos azuis estava curvada no corredor escuro, espiando para o quarto através da abertura da porta. Suas bochechas estavam vermelhas brilhantes, e sua respiração tinha encolhido para um ofegar baixo, áspero, seu olhar preso no interior da sala.
Uma de suas mãos estava dentro de suas vestes, movendo-se de forma bastante sugestiva. Eu rastejei de volta para o meu próprio quarto em silêncio. Roxy estava nas garras da adolescência, afinal, e eu tive a decência de fingir que não tinha visto nada.
Ou, bom, foi algo parecido com isso. De qualquer modo, eu definitivamente gostei do que tinha visto.
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Quatro meses depois, consegui lançar feitiços de nível Intermediário. Naquele momento, Roxy começou a me dar aulas à noite.
Ela era uma boa professora. Era exigente em manter um currículo em particular, mas também aumentava o conteúdo de nossas lições baseado em quão bem eu entendia as coisas. Era boa em responder de forma intuitiva ao seu aluno. Ela tinha um livro que atuava como um suplemento para meu Manual, do qual me fazia perguntas. Se acertasse, passaríamos para a próximo e, se não soubesse de algo, a tutora me explicaria de forma muito educada.
Podia não parecer muito, mas pude sentir meu mundo se abrindo.
Na minha antiga vida, nossa família contratou um tutor pessoal quando meu irmão mais velho estava fazendo seus exames de admissão. Uma vez, por capricho, ouvi uma de suas aulas, mas não parecia algo diferente do que era ensinado na escola. Em comparação, as lições de Roxy eram muito mais fáceis de entender e muito mais divertidas. Seu estilo de ensino ressoou comigo, e obteve resultados rápidos.
Claro, não doeu que minha professora fosse uma garota bonita com a idade de uma aluna no fim do ensino fundamental. Foi uma situação incrível. Na minha antiga vida, eu estaria totalmente excitado.
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— Senhorita Roxy, como é possível que haja apenas feitiços para coisas a serem usadas em combate? — Perguntei abruptamente.
— Ó, bem, esse não é realmente o caso, na verdade... — respondeu Roxy. — Vejamos. Qual é a melhor maneira de explicar isso? Tá, primeiro, diz-se que a magia foi criada pelos Altos-Elfos.
Uoa, elfos²!? Aha! Então eles existem!
Eu poderia imaginá-las, com seus cabelos loiros e trajes esverdeados, arcos amarrados em suas costas, tentáculos mantendo-as presas.
Ahãm. Tudo bem, tenho que me acalmar.
Baseado nos caracteres ideográficos usados para escrever a palavra "elfo", parecia que eles tinham orelhas longas.
— Senhorita Roxy, o que são elfos? — Eu perguntei.
— Permita-me explicar. Elfos são uma raça de indivíduos que atualmente vivem na parte norte do Continente Millis.
De acordo com Roxy, muito antes da Grande Guerra Humano-Demônio, quando o mundo foi engolido pela incessante espiral de batalha e caos, os Altos-Elfos, a fim de lutarem contra seus inimigos, suplicaram aos espíritos das florestas para controlar o vento e a terra. E assim, nasceram os primeiros feitiços mágicos.
— Uou, então há toda uma história nisso? — Eu perguntei.
— Claro que há! — Roxy bufou, repreendendo com um aceno. — A magia moderna toma sua forma nos humanos imitando os feitiços que os elfos usavam na batalha e os reformulando. Afinal, os humanos são bons nesse tipo de coisa.
— Somos?
— Ora, são sim. Quase sempre são humanos que pressionam pela inovação. Há apenas feitiços de combate porque as pessoas têm usado principalmente magia em batalha; para qualquer outra coisa, você pode usar algo próximo a mão em vez de confiar na magia — explicou Roxy.
— Algo próximo a mão? O que você quer dizer?
— Bem, por exemplo, se você precisa de uma fonte de luz, pode usar uma vela ou uma lanterna, não é?
Ah, entendi. Então, estávamos nesse tipo de cenário, onde ferramentas e dispositivos eram mais simples de usar do que magia, o que fazia bastante sentido.
Com certeza, o encantamento silencioso seria mais fácil ainda.
— Além disso, — Roxy continuou — nem toda magia é usada para a batalha. Por exemplo, Magia de Invocação permite que você invoque demônios ou espíritos poderosos.
— Magia de Invocação! Você acha que seria capaz de me ensinar isso logo?
— Temo que não. Eu não posso usar — respondeu Roxy —, mas para voltar ao meu ponto anterior, implementos mágicos também existem.
Implementos mágicos? Eu tinha certeza que tinha uma ideia do que ela queria dizer, mas isso ainda era um pouco vago. — Você poderia explicar sobre isso? — Perguntei.
— Implementos mágicos são dispositivos que têm efeitos mágicos especiais. Eles têm um círculo mágico inscrito em algum lugar dentro deles, então mesmo que alguém não seja um mago, ainda pode fazer uso deles. Porém, alguns utilizam grandes quantidades de poder mágico.
Tá, então isso estava muito alinhado com o que estava imaginando. Ainda assim, era uma pena que Roxy não pudesse usar magia de Invocação. Eu entendia os princípios da magia de Ataque e de Cura bem o suficiente, mas não sabia como a magia de Invocação realmente funcionava.
Mas ei, fui apresentado a alguns novos termos que não tinha ouvido antes: Grande Guerra Humano-Demônio, abominações, espíritos. Eu os entendia bem na superfície, mas achei que não faria mal perguntar mais.
— Senhorita Roxy, qual é a diferença entre uma abominação e um monstro?
— Abominações e monstros não são tão diferentes uns dos outros.
Ela explicou que os monstros eram o resultado de mutações repentinas em animais normais. Se tivessem a sorte de crescer em número, estabelecer-se como uma nova espécie e desenvolver o intelecto ao longo das gerações, eles se tornariam abominações.
Mas, ao que parecia, muitas criaturas que possuíam inteligência, mas ainda atacavam humanos, eram chamadas de monstros; houve também casos de abominações que se tornaram mais selvagens e brutais ao longo das gerações, voltando a ser monstros.
Portanto, não havia uma delimitação totalmente concreta entre os dois. Em geral, porém, os monstros atacavam os humanos e as abominações não.
— Então, demônios são apenas versões mais evoluídas de abominações? — Perguntei.
— Não, demônios são completamente diferentes. O nome "demônio" vem de muito tempo atrás, quando as raças de homens e demônios lutavam entre si.
— Essa foi a Grande Guerra Homem-Demônio que você mencionou antes?
— Isso mesmo! — Roxy disse. — O primeiro conflito aconteceu há cerca de sete mil anos.
— Uau, isso foi há tanto tempo que é quase estonteante pensar nisso. — Este mundo evidentemente teve uma longa história.
— Ó, não foi tanto tempo assim. Humanos e demônios ainda estavam em guerra uns com os outros há quatrocentos anos. Tudo começou há sete mil anos, e os dois lados estiveram em conflito desde então.
Quatrocentos anos parecia muito tempo, mas sete mil anos de lutas contínuas? Humanos e demônios não deviam se dar nada bem.
— Ah, certo, entendi — eu disse —, então o que são demônios?
— Bem, é um pouco difícil de definir — disse Roxy. A forma mais simples de colocar isso, segundo ela, era que "demônios" incluía quem lutou ao lado dos demônios no conflito mais recente, mas isso também tinha suas exceções.
— Na realidade, eu mesma sou um demônio — ela disse.
— Ó. Você... você é?
Tinha um demônio como tutora. O que supus que significava que não havia nenhum conflito acontecendo agora. Dar uma chance à paz realmente era o caminho a seguir, hein?
— Isso mesmo!— Roxy disse. — Colocando de forma mais formal, eu sou um dos Migurd, da Região de Biegoya no Continente dos Demônios. Você deve ter notado a surpresa de seus pais quando me viram pela primeira vez, certo, Rudy?
— Achei que era por você ser pequena.
— Eu não sou pequena! — Roxy bufou. Esse era claramente um ponto sensível para ela. — Eles ficaram surpresos com a cor do meu cabelo.
— Seu cabelo? — Pessoalmente, achei um tom de azul muito bonito.
— Eles dizem que, para as raças demoníacas, quanto mais próximo nosso cabelo está do verde, mais selvagens tendemos a ser. Dependendo da iluminação, meu cabelo pode ficar bem verde.
Verde, hum? Então essa era a cor de perigo neste mundo?
O cabelo de Roxy era de uma cor azul celeste impressionante, e ela girou um dedo em sua franja enquanto se explicava. Seus maneirismos eram adoráveis.
No Japão, cabelo azul era o tipo de coisa que eu associava a punks³ ou mulheres mais velhas. Quando via pessoas assim, sempre achei que era algo incomum — mas não havia nada de incomum ou desagradável nos cabelos azuis de Roxy. Aliás, achei que seus olhos um pouco sonolentos ajudavam a completar o quadro. Ela parecia ser a primeira personagem cujo caminho eu tentaria completar em um simulador de romance adulto.
— Acho seu cabelo bonito — eu disse.
— Ó, muitíssimo obrigada. Mas esse é o tipo de coisa que você deve dizer a uma menina que você gosta depois que crescer.
Não perdi minha abertura. — Eu gosto de você, Senhorita! — Eu não pude evitar; dar em cima de garotas bonitas era meu estilo.
— Entendo. Bem, em mais dez ou quinze anos, se seus sentimentos não mudarem, por favor, sinta-se livre para me dizer isso de novo. — Ela me rejeitou muito bem, mas ainda peguei o olhar feliz que cruzou seu rosto.
Eu não tinha certeza do quanto as habilidades que tinha aperfeiçoado jogando simuladores de romance me ajudariam neste mundo, mas a resposta claramente não era "negativa". Piadas e frases que eram manjadas no Japão poderiam muito bem ser maneiras únicas e apaixonadas de conquistar o coração de alguém neste mundo.
Tá, tudo bem, eu não tinha certeza de onde estava tentando chegar. A questão era que Roxy era fofa e sexy eu queria conquistá-la. A diferença considerável de idade entre nós era sem dúvidas um problema. Talvez algo para se pensar no futuro.
— Voltando ao assunto em questão — disse Roxy —, a ideia de que cabelos mais coloridos significam perigo não passa de uma superstição.
— Ó. É mesmo? — Agora me senti bobo por ter levado a sério toda essa coisa de "cor do perigo".
— Sim. Durante a guerra há 400 anos, o Superd, uma raça demoníaca de cabelos verdes da Região de Babynos, entrou em um frenesi brutal. É daí que vem a associação; na realidade, a cor do cabelo de alguém não tem nada a ver com isso.
— Um frenesi brutal, foi o que você disse?
— Exatamente. Após apenas uma década e com a mudança da guerra, eles se tornaram temidos por amigos e inimigos, tornando-se tão violentos quanto desprezados. Eles eram tão perigosos que, após a guerra, a perseguição quase os expulsou do Continente dos Demônios.
Seus próprios aliados os afastaram depois da guerra? Nossa. — As pessoas realmente os odeiam tanto assim? — perguntei.
— Sim.
— O que eles fizeram que foi tão ruim?
— Bem, só posso dizer o que ouvi. Coisas como atacar assentamentos de demônios aliados e massacrar mulheres e crianças, ou eliminar todos os seus inimigos no campo de batalha e, em seguida, fazer o mesmo com seus aliados. Quando era criança, ouvia histórias assim o tempo todo. "Não fique acordada até tarde, ou o Superd virá te devorar!" Esse tipo de coisa.
Quase parecia que ela estava falando sobre o Shimacchau Ojisan, o bicho-papão daquele velho anime.
Roxy continuou: — Os Migurd e os Superd são intimamente relacionados, e ouvi dizer que costumávamos ser tratados da mesma forma que eles. — Ela fez uma pausa para ter certeza que tinha a minha atenção. — Imagino que seus pais provavelmente lhe dirão algo assim em breve, mas se você ver alguém com cabelo verde esmeralda e o que parece ser uma joia vermelha na testa, certifique-se de não chegar perto deles. E se interagir com um é inevitável, o que quer que m faça, certifique-se de não o deixar louco.
Cabelo verde esmeralda e uma joia vermelha na testa? Ela devia estar descrevendo o Superd para mim. — O que vai acontecer se eu deixá-lo louco?
— Você pode causar a morte de toda a sua família.
— Você disse verde esmeralda, com uma joia vermelha na testa, certo?
— Isso mesmo. A coisa em sua testa é seu terceiro olho, o que lhes permite ver o fluxo de magia.
— Todos os Superd são mulheres? — Perguntei.
— Er, não. Há homens, também, como você poderia esperar.
— Se eles fazem algo com a joia em sua cabeça, ela fica azul ou algo assim?
Roxy inclinou a cabeça em perplexidade. — Hum, não? Pelo menos não que eu saiba?
Bem, fiquei feliz por ter perguntado o que queria. — Parece que eles se destacam e são muito fáceis de reconhecer — eu disse.
— Isso mesmo. Se você alguma vez ver um, apenas aja casualmente, como se você tivesse outra coisa para fazer, e dê o fora. Se você fugir de repente, pode acabar os provocando.
Identificar algum valentão e fugir apenas convidava à uma perseguição, hein? É, tive alguma experiência com isso. — Então, se eu tiver que falar com um, devo apenas falar de forma muito educada e ficarei bem?
— Contanto que você não diga nada degradante, não haverá problema; no entanto, existem muitas diferenças entre o que é comumente aceito na cultura humana e na cultura demoníaca, então você pode não saber quais palavras desencadearão uma explosão de raiva. É mais seguro evitar ser sarcástico e esse tipo de coisa.
Hmm. Esses caras devem ter temperamentos incríveis. Roxy havia dito que eles eram vítimas da opressão, mas parecia que esses medos tinham alguma base. Quer dizer, se a raiva deles era assustadora o suficiente para alertar outras pessoas para ficarem longe — caramba.
Se fosse morto, duvidava que teria sorte o suficiente para obter uma terceira chance, então achei melhor fazer tudo o que pudesse para me manter afastado. Esses Superd eram péssimas notícias.
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Quase mais um ano se passou. Minhas aulas de magia estavam avançando depressa. Agora eu poderia usar feitiços de nível Avançado de todos os diferentes ramos da magia.
Tudo sem usar encantamentos, é claro.
Comparada ao treinamento normal, a magia Avançada era como cutucar seu nariz. O que queria dizer era que havia muitos ataques de área e eles pareciam muito estranhos de se usar. Tipo, o que eu faria com a capacidade de fazer chover em uma grande área?
Mas então me lembrei de como, após uma seca prolongada, Roxy fez chover sobre os campos de trigo, para grande alegria dos moradores. Eu estava em casa na época, então isso era tudo que ouvi do Paul.
Evidentemente, Roxy havia lidado com vários pedidos dos moradores da cidade e estava resolvendo seus problemas. Eu quase podia ouvir isso agora:
"Eu estava arando o solo e bati em uma grande pedra enterrada no solo! Me ajude, Roxyemon!"
"Deixe isso comigo!"
"Uau! Que tipo de mágica é essa?"
"Usei magia da água para umedecer o solo ao redor da rocha e depois a usei em conjunto com magia da terra para transformá-la em lama!"
"Uou, isso é incrível! A rocha está afundando!"
"Heeheehee!"
Eu estava supondo que foi (provavelmente) assim que aconteceu.
— Eu sabia que você era o tipo de pessoa que gostava de ajudar as pessoas, Senhorita Roxy! — comentei.
— Não é bem isso. Estou fazendo isso para ganhar dinheiro extra.
— Você é paga para fazer coisas assim?
— É claro.
Meu primeiro instinto foi rotulá-la como gananciosa, mas o povo da cidade parecia aceitar esses termos. Nunca houve ninguém que pudesse fazer esse tipo de coisa por eles antes, e todos apreciaram profundamente Roxy por isso. Achei que era isso que chamávamos de dar e receber.
Eu estive pensando sobre isso da maneira errada. A ideia de ajudar alguém a sair de um apuro sem pedir nada em troca era muito japonesa. Era normal ser compensado por esse tipo de coisa. Fazia sentido.
Claro, sendo o recluso que fui em minha vida passada, não só não ajudei ninguém a sair de uma situação ruim, como me tornei a situação ruim para o resto da minha família.
Hahaha…
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Um dia, do nada, decidi perguntar a Roxy: — Seria melhor se eu te chamasse de "Mestra" em vez de "Senhorita"?
Roxy franziu o rosto sem jeito. — Não, é melhor não. Tenho certeza que você logo me ultrapassará com facilidade.
Eu tinha talento suficiente para ser melhor do que Roxy? Foi o suficiente para me fazer corar.
— Afinal, seria estranho chamar alguém cujos poderes são inferiores aos seus de "Mestre" — acrescentou Roxy.
— Eu não acho isso estranho.
— Bem, seria estranho para mim. Nunca sobreviveria à vergonha de ter alguém que é claramente melhor do que eu se referindo a mim como "Mestra".
Ah. Então era disso que se tratava? — Você está dizendo isso porque ficou mais forte do que seu próprio mestre, Senhorita Roxy?
— Ouça, Rudy, um mestre não é só alguém que tem algo para ensinar, mas ainda se intromete com seus conselhos sobre cada coisa que você faz.
— Você não faria isso, faria, Senhorita Roxy?
— Talvez.
— Mesmo se você fizesse, eu ficaria honrado. — Roxy sempre parecia muito satisfeita consigo mesma sempre que me aconselhava sobre as coisas; eu provavelmente tinha um grande sorriso em meu próprio rosto ao enchê-la de elogios.
— Ó, não. Se ficasse tão ressentida com os talentos do meu próprio aluno, não há como dizer o que poderia deixar escapar.
— Que tipo de coisas?
— Coisas como eu sou um demônio imundo ou como você é apenas um caipira do interior.
Uau, Roxy acabou de dizer isso para mim, é sério? Me senti meio mal por ela. Afinal, ser discriminado não era algo divertido, mas achei que era isso que você ganhava quando havia uma hierarquia em seu relacionamento com alguém.
— Vai ficar tudo bem — eu disse —, apenas aja como se você fosse melhor do que eu!
— Não vou agir de maneira arrogante e superior só porque sou mais velha! Simplesmente não me sinto confortável em ter uma relação mestre-aluno com tamanho desequilíbrio de talento!
Ela recusou minha proposta bem rápido; parecia que meu vínculo com minha mestra havia piorado. Em minha mente, decidi que ainda pensaria nela como minha mestra de qualquer maneira. Afinal, ela era uma garota que ainda tinha alguns traços da juventude e poderia me ensinar de forma apropriada tudo o que não aprendia lendo.
Notas:
1 – Uma caça às bruxas é uma busca por pessoas que foram rotuladas de "bruxas" ou uma busca por evidências de bruxaria, e geralmente envolve um pânico moral ou histeria em massa. O período clássico de caça às bruxas no início da Europa moderna e na América colonial ocorreu no período do início da era moderna ou por volta de 1450 a 1750, abrangendo os levantes da Reforma e da Guerra dos Trinta Anos, resultando em uma estimativa de 35.000 a 100.000 execuções, com a estimativa mais recente em 40.000. As últimas execuções de pessoas condenadas como bruxas na Europa ocorreram no século XVIII. Em outras regiões, como África e Ásia, foram relatadas caçadas contemporâneas na África Subsaariana e Papua Nova Guiné, e a legislação oficial contra a bruxaria ainda é encontrada hoje na Arábia Saudita e em Camarões. Na linguagem atual, "caça às bruxas" metaforicamente significa uma investigação que geralmente é conduzida com muita publicidade, supostamente para descobrir atividades subversivas, deslealdade etc., mas com o real objetivo de intimidar oponentes políticos.
2 – Elfo é uma criatura mística da mitologia nórdica e céltica, que aparece com frequência na literatura medieval europeia. Nesta mitologia os elfos chamam-se Alfs ou Alfr, também chamados de "elfos da luz", Ljosalfr. São descritos como seres belos e luminosos, ou ainda seres divos, mágicos, semelhantes à imagem literária das fadas. De fato, a palavra "Sol" na língua nórdica era Alfrothul, ou seja: "o Raio Élfico"; dizia-se que por isso seus raios seriam fatais. Se dizia na Alta Idade Média que eles eram responsáveis por curar as pessoas, uma dor repentina se invocava o Elfo para a cura. Eram divindades maiores da natureza e da fertilidade. Os elfos são geralmente mostrados como jovens de grande beleza vivendo entre as florestas, sob a terra, em fontes e outros lugares naturais. Foram retratados como seres sensíveis, de longa vida ou imortalidade, com poderes mágicos e grande ligação com a natureza.
3 – Denomina-se cultura punk os estilos dentro da subcultura e tribo urbana que possuem certas características comuns àquelas ditas punk, como por exemplo o princípio de autonomia do faça-você-mesmo, o interesse pela aparência agressiva, a simplicidade, o sarcasmo niilista e a subversão da cultura. Entre os elementos culturais punk estão: o estilo musical, a moda, o design, as artes plásticas, o cinema, a poesia, e também um comportamento social que incluí princípios éticos e políticos, expressões linguísticas, símbolos e outros códigos de comunicação. Surge dentro do contexto de contracultura, como reação à não violência dos hippies e à opressão ocorrida pelo elitismo cultural. O estilo punk pode ser reconhecido pela combinação de alguns elementos considerados típicos (alfinetes, patches, lenços à mostra no bolso traseiro da calça), calças jeans rasgadas, calças pretas justas, jaquetas de couro com rebites e mensagens inscritas nas costas, coturnos, piercings, tênis converse, correntes, corte de cabelo moicano (colorido ou espetado etc.) ou spike (espetado dos lados, atrás e em cima) e, em alguns casos, lápis ou sombra no olho, sendo esta combinação aleatória ou de acordo com combinações comuns à certos subgêneros punk. Ou, ainda, o reconhecimento pode ser pelo uso de uma aparência que seja desleixada, "artesanalmente" adaptada e que carregue alguma sugestão ou similaridade com o punk sem necessariamente utilizar os itens tradicionais do estilo.