Volume 1

Capítulo 3: O Manual de Magia

Depois de quase dois anos de minha reencarnação, finalmente minhas pernas se desenvolveram o suficiente para andar.

E tão importante quanto andar, me enchi de júbilo quando enfim me tornei capaz de falar a língua desse mundo.

 

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Tendo decidido dar uma chance real à minha vida dessa vez, primeiro precisei traçar um plano.

O que faltava em minha vida anterior? Estudo, exercício e técnica, era isso.

Porém, como um bebê, não havia muito o que pudesse fazer; nada além de enterrar o rosto no peito de alguém quando me seguravam. Sempre que fazia isso com a camareira, ela não fazia nenhum esforço para disfarçar o desgosto - claramente não era nenhuma fã de crianças.

Pensando que exercícios eram algo que poderia esperar, comecei a tentar ler livros pela casa. O estudo da linguagem é uma coisa crucial; quase 100% dos japoneses são alfabetizados em seu próprio idioma, mas muitos deles negligenciam o estudo do inglês ou hesitam em interagir com pessoas no exterior. Essa situação era tão acentuada no Japão que a capacidade de falar uma língua estrangeira era considerada uma habilidade valiosíssima. Com isso em mente, decidi fazer do sistema de escrita deste mundo o meu primeiro alvo.

Havia apenas cinco livros em nossa casa. Não sabia se era porque livros eram caros neste mundo ou porque Paul e Zenith não eram leitores ávidos; imaginei que pudesse ser uma combinação dos dois. Como alguém que possuía uma coleção de vários milhares de livros — mesmo que fossem todos light novels — a situação era difícil de resolver.

Ainda assim, cinco livros eram material suficiente para aprender a ler. O idioma deste mundo era próximo do japonês, então pude assimilar com bastante rapidez. Os caracteres escritos eram completamente diferentes, mas a gramática estava próxima do que eu conhecia - o que significava que precisava aprender um vocabulário, algo ao qual já havia sido exposto. Meu pai lia para mim, o que me permitia captar palavras com facilidade. Meu novo eu, sendo melhor em aprender coisas, provavelmente tinha alguma relação com isso.

Depois de aprender os signos que compunham o alfabeto, me arrisquei a desbravar os livros - e descobri que seu conteúdo era muito interessante. Eu nunca me diverti estudando em nenhum momento da minha vida anterior, mas depois de pensar um pouco, percebi que não era tão diferente de procurar novas informações sobre jogos online. Não era tão ruim.

De qualquer forma, me perguntei se meu pai sabia que seu filho bebê conseguia entender as coisas que estava lendo. Quer dizer, eu estava O.K. com a leitura, mas depois de pensar um pouco concluí que um garoto normal da minha idade faria birra ou algo parecido - então foi isso mesmo o que fiz.

Estes eram os cinco livros da nossa casa:

"Vagando pelo Mundo": Um guia de referência para os vários países do mundo e suas características únicas.

"Ecologia e Fraquezas dos Monstros Fittoanos": Um grimório que expunha em detalhes as várias criaturas monstruosas da região de Fittoa, onde viviam e como lidar com elas.

"Um Manual de Magia": Um manual de feitiços de combate para magos, que ia do nível Iniciante a Avançado.

"A Lenda de Perugius": Um conto de fadas sobre um invocador chamado Perugius e seus companheiros, em um épico clássico de lutas contra um demônio para salvar o mundo.

"Os Três Espadachins e o Labirinto": Um conto de ação e aventura em que três espadachins de diferentes estilos se encontram, e em grupo exploram as profundezas do Labirinto do título.

Os dois últimos eram em essência romances de fantasia, mas os outros três compunham um bom material de estudo. Foi "Um Manual de Magia" que particularmente prendeu minha atenção: como alguém que tinha vindo de um mundo sem mágica, a chance de ler a documentação real era meu maior interesse. Na primeira leitura, fui exposto aos fundamentos essenciais da magia.

O primeiro fundamento dizia que a magia surge em três tipos: Magia de Ataque, para combater oponentes; Magia de Cura, para, bem, curar; e Magia de Invocação, para invocar coisas variadas. E isso era tudo. Parecia haver muitas outras coisas que você poderia fazer com a magia, mas, de acordo com o livro, a magia era algo que nasceu e se desenvolveu na batalha e, portanto, seu uso fora dos campos de batalha ou da caça não era comum.

O segundo fundamento dizia que você precisava de poder mágico para usar a magia — ou seja, qualquer um poderia usá-la, desde que tivesse poder mágico. Havia duas maneiras de fazer isso: nascer com o poder, ou recorrer ao poder imbuído em um objeto. Qualquer um serviria. Não havia exemplos específicos, mas tive a impressão de que as pessoas que nasciam com magia eram como seus próprios geradores de energia, enquanto o segundo tipo era como usar brinquedos movidos a pilha.

Nos dias de outrora, dizia o livro, as pessoas usavam amplamente o poder dentro de seus próprios corpos para fazer magia; mas à medida que a pesquisa sobre esse tema progredia, as coisas se tornavam cada vez mais complexas. Pessoas com fortes reservas mágicas conseguiram se virar, mas aqueles que tinham pouco poder não conseguiam lançar feitiços básicos - e assim, os velhos mestres mágicos desenvolveram maneiras de extrair poder de outras coisas além de si mesmos, e canalizá-lo para a magia. Consequentemente, fontes dispensáveis de energia mágica foram desenvolvidas a uma taxa explosiva.

O terceiro fundamento dizia que havia duas maneiras de realizar feitiços: encantamentos e círculos mágicos. Isso não precisava de muita explicação: Enquanto o primeiro se referia à recitação de certas palavras ou mantras, o segundo se referia a padrões místicos escritos. Antigamente, os círculos mágicos eram a principal fonte de poder mágico, mas nos tempos modernos, os encantamentos eram muito mais comuns. Isso porque, usando-se círculos mágicos, mesmo as magias mais inferiores demoravam um ou dois minutos para serem convocadas — não era algo que você poderia usar no calor da batalha. Mas uma vez que você inscrevia um círculo mágico, poderia usá-lo várias vezes.

Os encantamentos começaram a se tornar a norma quando um mágico conseguiu encurtá-los o bastante: o mais simples deles foi reduzido para cerca de cinco segundos e, por esse motivo, tornou-se a maneira padrão de se usar a Magia de Ataque. Para os rituais mais complexos, como a Magia de Invocação, não era possível obter mais eficiência devido aos detalhes intrincados e indispensáveis - e para este tipo de magia, os círculos mágicos continuavam sendo a regra.

O quarto fundamento dizia que a quantidade de poder mágico que alguém possuía era determinada no nascimento. No seu RPG típico, você ganha mais MP à medida em que sobe de nível, mas as coisas não funcionam dessa maneira neste mundo: quase todos aqui estavam presos à situação de nascimento.

Porém, o “quase todos” implicava que algumas pessoas mudavam ao longo do tempo. Comecei a me perguntar em qual grupo eu havia caído.

O livro também dizia que o nível de poder mágico era hereditário. Eu sabia que minha mãe era capaz de usar a Magia de Cura, então talvez fosse O.K. ter algumas expectativas. Ainda assim, estava desconfortável: mesmo que meus pais se destacassem nesse tipo de coisa, não tinha certeza de que meus próprios genes estariam à altura da tarefa.

 

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Como o livro incluía tanto encantamentos quanto feitiços de círculo mágico, decidi que a melhor opção era começar pelo que fosse mais simples. E como não tinha nada com o que desenhar um círculo mágico, optei por começar pelos encantamentos - que além de serem mais populares, a princípio também eram mais fáceis. Pelo que entendi, quanto mais poderoso o feitiço, as invocações envolvidas ficavam mais longas e complexas, até você precisar usar um círculo mágico em conjunto.

Mas se eu estava começando com os encantamentos mais básicos do livro então as coisas deveriam fluir tranquilamente.

O mais experiente dos bruxos, dizia o texto, poderia lançar feitiços sem proferir nenhum encantamento verbal — ou, no mínimo, reduzir o tempo de encantamento de forma drástica. Porém, eu não sabia como o treinamento permitia que as pessoas contornassem a necessidade de enunciar o feitiço. Afinal, a quantidade de poder mágico da pessoa não mudava; não havia aumento de level nem aumento correspondente ao MP máximo. Talvez, com treinamento, a quantidade de MP gasta no feitiço diminuísse? Mas gastar menos MP não poderia tornar o processo mais eficiente, poderia?

Bom, tanto faz. Seja qual fosse o caso, eu só precisava tentar.

Com "Um Manual de Magia" na mão esquerda, estendi a mão direita e comecei a recitar as palavras.

— Que as vastas e abençoadas águas se reúnam onde é meu desejo, e emitam uma única corrente pura - Bola de Água!

Senti um estranho formigamento crescendo em minha mão direita; então, como se algo estivesse sendo puxado através de minha palma, uma esfera de água do tamanho de uma bola de tênis se manifestou no ar.

Gah! — exclamei, agoniado com a sensação causada pelo feitiço. A bola de água, respondendo a minhas reações, se espatifou no chão, e a energia estranha  em minha pele desapareceu.

Parecia que era necessária concentração para manter o fluxo de magia.

"Concentre-se… concentre-se…"

Eu podia sentir a energia se acumulando em minha mão mais uma vez, e isso foi tudo. Assumi uma postura mais ou menos firme e me concentrei na estranha sensação que a magia provocava em minha pele.

“Aqui vamos nós”, pensei.

Mais uma vez estendi a mão direita, formando uma imagem clara na mente para evitar perder a concentração outra vez. Eu não tinha certeza de quanto poder mágico tinha, mas logo concluí que não era capaz de utilizá-lo muitas vezes seguidas.

Meu plano era praticar uma coisa de cada vez até que conseguisse. Eu formava a imagem em minha mente e a reproduzia, de novo e de novo, e tentava com fervor torná-la realidade. Se falhasse, me concentraria nela até que estivesse perfeitamente gravada em minha cabeça.

Era assim que costumava praticar combos em jogos de luta na minha vida anterior; por isso, podia dizer que quase nunca errei um combo durante uma partida. Esperava que minha metodologia, que funcionava tão bem em jogos, se provasse sólida e confiável aqui também.

Inspirando fundo, senti o sangue e a energia fluindo pelo meu corpo, dos dedos dos pés até o topo da cabeça. Me concentrei, canalizando cada fibra de meu ser, até sentir esse sangue repleto de energia se acumular em minha palma direita. Pouco a pouco, com muito, muito cuidado, meus pensamentos se alinharam com as batidas em meu coração.

"Bola de água, bola feita de água, água, umidade, molhada... calcinha molhada..."

Ooops. Essa última foi sem querer. Voltando aos negócios, então...

"Água, água, água, águaáguaágua..."

Hah! — Eu gritei por puro reflexo, sentindo algo disparar por entre meus dedos abertos. Nesse instante, a bola de água surgiu.

Eita, o quê?!

Splash.

Bastou um único momento de choque para minha concentração, cuidadosamente estruturada, se quebrar como um cristal espatifado. E como minha concentração, a bola de água que havia invocado também se espatifou no chão de madeira.

 

 

— Espera. — Eu não tinha gritado uma invocação, tinha? Mas então… por quê? Tudo o que fiz foi me colocar no mesmo espaço mental da última vez que tentei o feitiço. Não era necessário um encantamento em voz alta para fazer magia, não era isso que o livro dizia?

Mil perguntas cruzaram minha mente de uma vez só. Usar magia sem encantamento era mesmo tão fácil? Isso tinha que ser uma habilidade de alto nível, certo?

— Se é assim tão fácil, qual é o sentido de enunciar os encantamentos? — pensei em voz alta. Aqui estava eu, um completo novato, e consegui lançar um feitiço sem dizer uma palavra sequer. Apenas concentrei a energia mágica do meu corpo na frente da minha mente e depois desejei que ela tomasse uma forma.

Isso foi tudo. O que implicava que o encantamento não era necessário. Qualquer um poderia fazer o que eu acabei de fazer.

Hmm. Talvez o encantamento fosse um gatilho de ativação para o feitiço, onde pronunciar as palavras tornava mais fácil visualizar o resultado final e diminuía a concentração necessária para focar a energia mágica. Tinha que ser isso. Mais ou menos como a diferença entre transmissões manuais e automáticas em um carro, onde você ainda podia assumir o controle manual, se assim desejasse.

— O uso de um encantamento permite que efeitos mágicos sejam acionados automaticamente — disse em voz alta, vocalizando um pensamento que acabara de me ocorrer.

Comecei a compreender as reais vantagens dos encantamentos. Primeiro, o enunciado facilitava o ensino. Ao invés de uma explicação complicada sobre sentir o sangue correndo por suas veias, convergindo e tudo mais, lançar um feitiço entoando palavras era mais fácil de explicar e mais fácil de entender. E então, à medida que os estudos progrediam, também se enraizava a ideia de que fórmulas verbais eram necessárias para realizar encantamentos.

A segunda vantagem era a facilidade de uso. A Magia de Ataque, por sua própria natureza, era algo que precisava ser feito no calor da batalha. Era muito mais rápido e fácil repetir uma fórmula decorada do que fechar os olhos e ficar lá cantarolando enquanto tentava sentir o sangue fluindo nas veias. Além disso, no calor do momento, era muito mais fácil gritar algo do que passar por uma série de gestos minuciosos.

— Mas talvez algumas pessoas achem a primeira opção mais fácil...

Folheei o livro, mas não havia nada sobre lançar feitiços sem encantamento. Isso era esquisito. O que eu tinha acabado de fazer nem era tão difícil.

Talvez eu tivesse algum tipo de talento especial, mas duvidava que fosse algo que os outros não pudessem explorar, pensei. Um mago normalmente usava encantamentos desde quando era iniciante até se tornar um mestre. Depois de lançar milhares ou até dezenas de milhares de feitiços, o mago se acostuma ao encantamento; mesmo que tentasse lançar um feitiço sem palavras, não saberia como, pois nunca havia tentado. Portanto, não era algo que normalmente era feito e, portanto, o livro não dizia nada sobre isso.

— É, isso faz sentido! — Afinal, eu também não era comum. Isso era maneiro, não era? Era como ter um truque sorrateiro nas mangas. "Ela acabou de ativar o Catalisador do Crime sem um Oratório¹? Mas esse catalisador geralmente deveria abrir o canal!"

"Ó, agora eu com certeza estou interessado!"

Tá bom, tá bom. Nada de ficar presunçoso; precisava me acalmar e colocar a cabeça no lugar. Meu eu do passado foi pego por esse sentimento, e sabemos como ele acabou: alguém que se achava tão fodão por ser bom com computadores, que acabou se tornando um fracassado, recluso e sem nenhuma habilidade além de jogar dating sims e encontrar pornôs escusos sem vírus.

Precisava manter a sensatez. Contenha-se, eu. O importante aqui era não me considerar melhor do que as outras pessoas: eu era apenas um iniciante, e sabia disso. Um n00b². Eu era como um jogador novato que, por acaso, acertou o alvo em sua primeira tentativa sem querer.

Sorte de iniciante — isso era tudo. Eu precisava me concentrar e focar em estudar, em vez de confundir isso com algum tipo de talento inato.

Muito bem, entendi: primeiro tentaria um feitiço usando o encantamento, depois praticaria decididamente imitando o que sentia sem usar palavras.

— Tá legal, vamos tentar de novo — disse em voz alta, erguendo a mão direita. Meu braço estava um pouco pesado, e meu ombro parecia estar com pesos pendurados. Isso era exaustão. Estava me concentrando demais?

Não, não podia ser isso. Eu era um (autodenominado) mestre de baixo nível em MMO³ que podia ficar sem dormir por seis dias só no grinding. De jeito nenhum esse esforço mental insignificante me drenou tanto.

— Estou sem MP? — exclamei com indignação. Que diabos? Se o poder mágico de uma pessoa era determinado no nascimento, isso significava que eu só tinha MP suficiente para lançar dois feitiços de Bola de Água? Isso parecia baixo demais. Ou talvez, como essa era a minha primeira vez, só tinha menos poder mágico para usar? Não, isso não fazia sentido.

Tentei mais uma vez, só para ter certeza, e acabei desmaiando.

 

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— Honestamente, Rudy — disse minha mãe, exasperada — quando você fica cansado, primeiro precisa ir ao banheiro e depois dormir.

Acordei e descobri que tinha adormecido com o livro na mão, e me molhei no meio do processo. Porcaria. Não podia acreditar que me molharia na minha idade. Isso foi humilhante. Merda. Como eu poderia...

Espere. Eu tinha apenas dois anos, não tinha? Me molhar ainda era perdoável nessa idade, certo?

Então, parecia que meu poder mágico era mesmo muito baixo. Isso acabou com meu humor. Ainda assim, mesmo que tudo que pudesse reunir fossem duas Bolas de Água, supus que o que importava era como usá-las. Talvez devesse me concentrar em fazer a conjuração mais rápido.

Céus.

 

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No dia seguinte, ainda estava me sentindo bem depois de conjurar minha quarta Bola de Água. Foi depois da quinta que comecei a me sentir cansado.

— Que diabos?

Dada a minha experiência no dia anterior, sabia que lançar outra me faria desmaiar, então decidi parar.

Naquele momento, me ocorreu: meu limite agora estava em seis Bolas de Água — duas vezes o resultado do dia anterior. Olhei para o balde que continha cinco feitiços de água e me perguntei por que tinha conseguido fazer o dobro do que havia conseguido ontem. Eu estava mais cansado porque era minha primeira vez? Os feitiços consumiram mais MP porque foi a primeira vez que os conjurei?

Lancei todos os meus feitiços hoje sem enunciar encantamentos, então duvidava que tivesse algo a ver com isso. Não fazia ideia do motivo. Será que minhas habilidades vão aumentar ainda mais amanhã?

 

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No dia seguinte, minha contagem de Bolas de Água aumentou de forma significante. Agora meu limite era onze.

Qual era o segredo? Parecia que quanto mais eu usava o feitiço, mais era capaz de utilizá-lo. Se estivesse certo, seria capaz de chegar a vinte e uma amanhã.

No dia seguinte, só por precaução, lancei apenas cinco magias antes de encerrar o dia.

No dia após esse, porém, consegui chegar a 26. Parecia que meu pensamento estava correto — usar o feitiço com mais frequência me permitia lançá-lo mais vezes.

Mentiram para mim! O que era todo aquele papo sobre as reservas mágicas de uma pessoa sendo definidas no nascimento? As pessoas estavam apenas atribuindo limitações ao talento quando isso, na prática, soava como um monte de baboseiras. Como os adultos se atrevem a dizer às crianças onde estavam seus limites!?

— Acho que não posso aceitar o que este livro diz como algo certo — murmurei. As coisas escritas no grimório pareciam se basear na ideia de que havia limites para o que uma pessoa poderia alcançar.

Ou talvez estivesse se referindo sobre como as coisas funcionavam depois de se tornar um mago completamente realizado? Talvez o livro estivesse dizendo que havia um limite superior no poder mágico que não seria possível ultrapassar com mais esforço e treinamento.

Não. Ainda era muito cedo para chegar a essa conclusão. Por enquanto, isso seria apenas uma hipótese. Talvez fosse como... como se o poder de alguém aumentasse à medida que o corpo evolui, ou algo parecido. E usar magia durante a infância pudesse fazer com que esse limite superior aumentasse com rapidez. O que significava que só eu tinha uma qualidade especial que... não. Eu já disse que não me consideraria especial.

No outro mundo, eles diziam que se exercitar enquanto você cresce permitiria que suas habilidades se desenvolvessem com mais rapidez; por outro lado, depois que você termina de crescer, há um limite para o quanto é possível melhorar, mesmo com esforço intenso e constante. Podemos estar falando de magia neste mundo, mas a realidade de como o corpo humano funciona não poderia ser tão diferente aqui; o princípio, ao menos eu imaginava, ainda era o mesmo.

O que significava que havia apenas uma coisa a fazer: continuar aprimorando minhas habilidades o melhor que pudesse enquanto ainda estava crescendo.

 

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No dia seguinte, decidi que continuaria a levar minha magia ao limite diariamente, o que aumentava o quanto eu poderia usá-la. Como já conseguia recriar a sensação familiar da magia sem esforço, lançar um feitiço sem encantamento era muito fácil. Esperava dominar os Feitiços Iniciantes para cada ramo da magia em pouco tempo.

Por "Feitiços Iniciantes", me referia aos feitiços mais básicos que poderiam ser usados para ataque. Isso incluía feitiços como Bola de Água e Bola de Fogo, além de outros feitiços ainda mais básicos.

Os feitiços foram divididos em sete níveis de dificuldade: Iniciante, Intermediário, Avançado, Santo, Real, Imperial e Divino. Normalmente, os magos com treinamento poderiam usar os Feitiços Avançados da disciplina de magia em que escolheram focar, enquanto feitiços de outras classes eram limitados aos níveis Intermediários. Quando alguém era capaz de lançar feitiços com uma classificação mais alta que Avançado, era reconhecido como um Santo do Fogo ou um Santo da Água ou outro título parecido, dependendo do ramo escolhido.

Magia Santa. Eu meio que esperava ser bom assim um dia. No entanto, meu manual de magia incluía apenas feitiços de fogo, água, vento e terra até o nível Avançado. Onde iria aprender Magia Santa então?

Não — eu não deveria insistir tanto nisso. No RPG Maker, se você começar criando todos os seus monstros mais fortes primeiro, as chances são de que isso será uma experiência frustrante. Você precisa começar com coisas de baixo nível, como slimes.

É claro, não fazia sentido comparar essa experiência mágica com RPG Maker. Eu nunca consegui concluir nada nesse jogo, mesmo quando comecei com slimes.

 

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Os feitiços de água do nível Iniciante listados no tomo eram os seguintes:

 

Bola de Água: lança um projétil esférico de água.

Escudo de Água: faz com que um bico de água entre em erupção, formando uma parede.

Flecha de Água: lança um projétil afiado de água, com cerca de vinte centímetros de comprimento.

Estilhaço de Gelo: ataca um oponente com pedaços de gelo.

Lâmina de Gelo: cria uma espada feita de gelo.

 

Todos eram Feitiços Iniciantes, mas a quantidade de poder mágico que eles exigiam era muito diferente: algo entre duas a vinte vezes mais que o feitiço básico da Bola de Água. Para praticar os fundamentos, me apeguei à magia da água; se tentasse magia do fogo, poderia inadvertidamente tocar fogo na casa.

Falando em magia do fogo, a quantidade de energia mágica que você coloca em um feitiço afeta a temperatura resultante, por isso era lógico que os Feitiços de Gelo Avançados funcionassem da mesma maneira. Mas, apesar de o livro alegar que a Bola de Água e a Flecha de Água deveriam voar pelo ar, por alguma razão, não consegui convencê-los a fazer isso. Não tinha certeza do motivo: estava entendendo errado alguma parte do feitiço?

"Um Manual de Magia" disse algo sobre o tamanho e a velocidade dos feitiços. Talvez, depois de conjurar meu projétil, eu precisasse o imbuir com energia mágica adicional para controlar seu movimento?

Decidi fazer um teste. — Hum? — murmurei, quando minha esfera de água aumentou. — Uoa!

Splash!

Eu a joguei no chão de novo.

Depois disso, experimentei fazer a Bola de Água maior e menor. Tentei criar duas Bolas de Água ao mesmo tempo e tentei mudar os tamanhos separadamente.

Descobri algumas coisas, mas ainda não consegui fazer nenhum dos meus feitiços disparar pelo ar.

Feitiços de fogo e vento continuavam flutuando no ar, pois não estavam sujeitos à gravidade, mas chiavam e desapareciam depois de um tempo. Tentei usar o vento para mover as esferas de chamas pairando, mas tive a impressão de que algo não estava batendo.

Hmm…

 

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Dois meses depois, graças a um erro nos meus estudos, consegui fazer uma Bola de Água voar. Como resultado, até que enfim ficou claro por que os encantamentos eram uma parte essencial do processo.

Todos os encantamentos seguiam um processo semelhante: gênese do feitiço, determinação de tamanho, determinação de velocidade e ativação. O invocador era quem regulava as etapas intermediárias antes de completar o feitiço.

Primeiro, o conjurador invocava a forma do feitiço que ele desejava usar. Em seguida, havia uma janela de tempo em que ele poderia adicionar poder mágico adicional para alterar o tamanho. Terceiro, depois que o tamanho era determinado, havia outra janela para ajustar a velocidade do feitiço. Por fim, o conjurador lançava o feitiço completo de suas mãos.

Era assim que funcionava... ou pelo menos foi assim que entendi. O truque era adicionar poder mágico em estágios distintos após dar início ao feitiço; havia uma ordem específica que precisava ser seguida. A menos que você fizesse algo para ajustar o tamanho do feitiço, não poderia ajustar sua velocidade. Agora entendia porque, ao tentar alterar a velocidade fora da ordem predeterminada, acabei alterando apenas o tamanho da Bola de Água.

Nesse sentido, ao usar um feitiço sem encantamento, o lançador tinha que conduzir todo o processo em sua cabeça. Isso parecia um inconveniente, mas diminuía o tempo necessário para infundir o feitiço com o poder de afetar sua forma e velocidade. Isso permitia que um feitiço fosse realizado alguns segundos mais rápido.

Também me descobri capaz de ajustar o processo de criação do feitiço inicial. Por exemplo, isso não estava listado no livro — mas era possível congelar uma Bola de Água e transformá-la em uma Bola de Gelo, e outros truques do tipo. Se continuasse meus estudos, talvez fosse capaz de usar o Kaiser Phoenix ou algo do tipo. Hehehe.

Muitas possibilidades se apresentavam cada vez que testava as teorias que surgiam em minha imaginação. Isso estava começando a ficar divertido!

Ainda assim, os fundamentos eram importantes. Eu precisava desenvolver meu potencial mágico antes de começar a experimentar.

Então, é — agora havia dois itens no meu regime de treinamento: aumentar minhas reservas mágicas, e tornar a magia sem encantamento uma segunda natureza. Estabelecer metas grandiosas logo de cara só levaria à decepção. O segredo era começar pequeno, e decidi me fiar nesse pensamento.

Tá legal. Era hora de focar e seguir em frente. Todos os dias, a partir desse momento, me trancava no escritório de meu pai e praticava os feitiços do nível Iniciante até estar prestes a desmaiar de exaustão.


Notas

1O oratório é um gênero musical dramático, apresentado em forma de concerto, sem representação cênica, sem cenários e sem figurinos. Geralmente composto para solistas, coro e orquestra, às vezes com um narrador, geralmente trata de um assunto religioso (Bíblia), mas também pode lidar com temas seculares (mitologia ou história). Com a forma bastante próxima à da cantata e à da ópera, o oratório, geralmente, inclui uma abertura, recitativos acompanhados pela orquestra, recitativos secos com o cravo, árias e coros. Embora elementos dialógicos também estivessem presentes na lauda polifônica do final do século XVI, o oratório se origina do madrigal dialógico do início do século XVII.

2 – Newbie, ou noob, também grafado como n00b, é uma palavra inglesa dirigida a um novato em vídeojogos, gíria comum entre os militares norte-americanos designando um que acaba de chegar, ou alguém que assume um novo posto ou função. O termo é amplamente utilizado na Internet, sobretudo em salas ou bate-papos de jogos online para múltiplos jogadores, ou ainda para identificar os que têm conhecimento básico em informática. Também é usado para designar uma pessoa sem experiência ou com menos experiência do que quem chama. Geralmente é considerado como um insulto para uma pessoa sem conhecimento, que não sabe sua principal origem, embora em muitos casos pessoas de mais experiência usem com o propósitos de reforçar sua inexperiência em um campo ou área específica.

3 – Um jogo multijogador maciço online (mais conhecido pela sigla MMO), em inglês Massively multiplayer online game, é um tipo de jogo eletrônico capaz de suportar grandes quantidades de jogadores simultaneamente, conectados através da internet. MMOs permitem que jogadores se ajudem e compitam entre si em grande escala, e algumas vezes tenham uma interação com sentido com pessoas de todo o mundo. Incluem uma variedade de estilos de jogabilidade e representantes de vários gêneros de jogos. Muitos MMOs requerem que os jogadores invistam muito do seu tempo no jogo. Quase todos os MMOs têm uma subscrição mensal, mas alguns podem ser jogados de graça.

4 – RPG Maker é uma série de motores de jogo para desenvolvimento de RPGs eletrônicos, criada pela empresa ASCII e, atualmente desenvolvida pela Enterbrain. A série foi lançada inicialmente no Japão, mais tarde contou com versões lançadas em Hong Kong e Taiwan, e há pouco tempo teve lançada também uma versão oficial em inglês nos Estados Unidos. O RPG Maker permite que os usuários criem seus próprios jogos de RPG e com algumas mudanças no sistema pode criar até outros tipos de jogos. Estes jogos são muitos similares aos populares jogos para Super Nintendo, como Zelda, Chrono Trigger, Breath of Fire e Final Fantasy.



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