Volume 1 – Arco 2
Capítulo 19: O Ódio de Kasaroth(I)
Raiden o observou minuciosamente. O homem, sem dúvidas, era um Emissário, quanto a garota, ele ainda tinha dúvidas.
— Quem são vocês? — perguntou Ella. — O que querem com a gente?
— Não queremos nada com vocês, mas sim com o caçador negro — disse o homem, aproximando-se deles. — Mas já que entraram no nosso caminho, podemos nos divertir um pouquinho.
— Caelus... é lamentável ter que matar primordiais, se eles fossem humanos, até que poderia ser divertido — disse a garota, enrolando uma mecha de cabelo em seu dedo.
Raiden puxou as correntes de suas costas e começou a girar suas lâminas gêmeas, enquanto um sorriso confiante surgia em seu rosto.
— Quem disse que vocês vão nos matar?
A arma de Raiden assemelhava-se a um nunchaku, mas com lâminas de Rubrannium no lugar das bases de madeira. Certamente, era necessária uma excelente coordenação motora para manejá-las.
Sem hesitar, ele lançou uma das lâminas em direção à garota; imbuindo-as com eletricidade em um piscar de olhos. Diferente de Ella, sua proficiência com sua Vontade era tanta que ele não precisava verbalizar o nome das técnicas.
A garota desviou no último instante, sofrendo um corte no rosto. Surpreendendo a todos, Raiden apareceu exatamente onde sua lâmina havia tocado, já desferindo outro ataque contra a garota.
No momento em que sua lâmina estava prestes a decapitar sua cabeça, Caelus segurou suas correntes. Um olhar de ódio estava estampado em seu rosto.
Raiden puxou as correntes, mas elas estavam firmemente presas pelas mãos de Caelus; sua força era inimaginável. Ele eletrocutou as mãos de Caelus com toda sua energia, atordoando-o brevemente.
Raiden chutou o corpo de Caelus para trás, executando um mortal e lançando ferozmente suas lâminas gêmeas contra seu corpo, enquanto elas criavam um poderoso rastro de eletricidade.
As duas lâminas deceparam o busto de Caelus, separando-o de suas pernas.
Tudo isso ocorreu em menos de dez segundos. Os irmãos estavam impressionados com o potencial de um Águia. Eles sorriram de satisfação.
No entanto, as pernas de Caelus caminharam até seu busto e se reconectaram ao corpo.
Intacto, Caelus se levantou, com um olhar mortal dirigido a Raiden.
— É só isso que tem a oferecer?
Raiden se distanciou dele, examinando cada particularidade de suas habilidades.
A garota, atrás de Caelus, fixou seu olhar penetrante em Raiden. O Águia subitamente sentiu um mal-estar avassalador tomar conta de seu corpo.
Em questão de segundos, Raiden caiu ajoelhado no chão, com as mãos em sua cabeça, gritando de dor.
Caelus se preparou para desferir o golpe final, mas foi impedido por Ethan, que rapidamente decepou seu braço.
Ella atirou na cabeça da garota, atordoando-a temporariamente.
Caelus e a garota encostaram-se costas a costas, enquanto o trio de caçadores os encurralava.
— Lyrian, você está bem?
— Estou, esse tiro me pegou de surpresa — respondeu a garota, enquanto sua cabeça se regenerava.
Lyrian começou a rir meigamente para Ella. Repentinamente, diversas cópias de seu corpo apareceram ao redor de Ella. Todas começaram a se mover ao seu redor e a trocar de posição, tornando impossível identificar a verdadeira.
Lentamente, todas as cópias se aproximavam, encurralando Ella. Com sua espada empunhada, ela tentava a todo custo descobrir qual delas era a verdadeira, mas era impossível.
— Solaris Vortex! — Um vórtice de chamas saiu da extensão da sua lâmina, aniquilando quase todas as vinte cópias que se aproximavam.
O vórtice de chamas incinerou todas as cópias, mas o verdadeiro perigo era Lyrian, que estava logo atrás de Ella.
Antes que Ella pudesse reagir, Lyrian gritou intensamente, gerando uma onda sonora calamitosa que estourou seus tímpanos; seu ouvido começou a sangrar imediatamente.
Ella caiu e permaneceu ajoelhada, enquanto recebia o ataque sonoro, perdendo a consciência e, em segundos, ficaria à beira da surdez. Como uma flecha, Ethan decepou a cabeça de Lyrian com um golpe horizontal, salvando sua irmã.
O corpo de Lyrian caiu no chão, aparentemente morto, enquanto Ethan colocava sua irmã desacordada em suas costas. Caelus interrompeu seu duelo com Raiden ao ver sua irmã decapitada.
— Você lutou bem, Lyrian. Nós os subestimamos, são caçadores excepcionais — disse Caelus, franzindo o cenho. — Sorrel, erga-se.
A cabeça decapitada de Lyrian se regenerou em questão de segundos, formando um novo corpo intacto. A garota se levantou normalmente.
No entanto, o corpo morto dela foi envolto por uma névoa do Vazio e, em seguida, se levantou.
O corpo, antes feminino, agora se tornou masculino, surpreendendo a todos com uma nova cabeça.
Era um homem ruivo e magro, assim como Caelus, sem camisa, vestindo apenas uma calça. Seu rosto estava marcado por cicatrizes robustas, mas sua aparência humana ainda se mantinha.
— Lyrian, quem te feriu, irmãzinha? — perguntou Sorrel, ajudando sua irmã a se levantar.
— Mas que merda! — gritou Ethan, repousando sua irmã no chão com cuidado. — Raiden! São várias almas dentro de um mesmo corpo, o que vamos fazer?
— Vocês não podem fazer nada — respondeu Caelus, rispidamente.
Raiden se manteu inexpressivo; a calma de um Águia em situações extremas era admirável.
— Proteja sua irmã até que ela recobre a consciência. Eu cuido deles.
Os três Emissários se organizaram estrategicamente, pareciam até que conseguiam se comunicar telepaticamente.
— Sorrel Pentragon, é você, não é? — Raiden sorriu. — Sempre quis saber o que aconteceu com você.
— Não esperava que fosse se lembrar de mim, Raiden, pupilo do mestre Feng — disse Sorrel, pronunciando o nome com desdém. — Não nos vemos desde o nosso confronto na Academia Secreta de Artes Esotéricas de Xangai, você lembra, não lembra? Você causou minha expulsão.
O ódio e o desdém eram visíveis no rosto de Sorrel, que fez questão de detalhar bem o acontecimento, para que Raiden se lembrasse de cada pormenor.
— Sabe, Raiden, quando fui expulso, eu te odiei por anos, mas hoje eu te perdoo, você merece. — Sorrel sorriu maliciosamente. — Não quero que morra pensando no quanto eu te odeio.
Sorrel se dirigiu a Ethan e Ella, enquanto Lyrian e Caelus avançaram em direção a Raiden.
Raiden ergueu sua mão direita e fechou o punho. Correntes surgiram do céu em várias direções, fincando-se no chão.
— Sabe por que você perdeu o duelo? Porque você é inferior a mim em todos os quesitos. — Raiden sorriu confiantemente.
Como um relâmpago, Raiden se movia por todas as correntes dispostas na arena. Era impossível até mesmo para os Emissários acompanharem sua velocidade.
As lâminas de Raiden voavam pela arena como aves de rapina; mesmo que tentassem, Caelus e Lyrian não eram ágeis o suficiente para desviar. Seus corpos estavam sendo dilacerados incessantemente.
Sorrel se preparou para atacar Ethan, mas percebeu a dificuldade que seus irmãos enfrentavam.
Com um bater de palmas, ele criou uma onda de choque que arrancou as correntes de Raiden do solo. Rapidamente, Caelus agarrou o pescoço de Raiden no ar, enforcando-o brutamente.
— Você é rápido, mais do que eu pensava, seu vermezinho. — Caelus apertou mais forte seu pescoço, quase esmagando-o.
Quando Sorrel voltou a olhar para os irmãos, notou que eles haviam desaparecido.
Era tarde demais para que ele pudesse avisá-los. Num piscar de olhos, as cabeças de Caelus e Lyrian foram decapitadas simultaneamente.
— Ella, rápido, queime os corpos deles! — gritou Ethan.
Quando Ella ergueu a mão, uma explosão veio em sua direção, lançando-a violentamente contra o casebre.
Antes que Raiden e Ethan pudessem reagir, Sorrel ergueu uma explosão ascendente sob os pés de cada um, enquanto gerava tremores por todo o ambiente. Seu poder destrutivo era inigualável.
— Caçadores imundos... Acham que podem tocar nos meus irmãos e saírem ilesos? — gritou Sorrel.
Toda a arena estava coberta por uma névoa de poeira, e o chão, completamente destruído.
Ella se levantou dos escombros do casebre, tossindo, enquanto Raiden emergia debaixo das rochas.
Um pouco tonta, Ella cambaleou para fora dos escombros do casebre, onde viu um homem idêntico a Caelus, mas diferente dele, não possuía a Marca do Eclipse, tampouco tinha uma esfera do Vazio no peito.
Seu cabelo era curto e vermelho, e o corpo inteiro coberto por cicatrizes. Possuía um chifre na direita de sua testa.
Ele estava socando violentamente o rosto de Ethan.
— Vamos boneca, levante-se! — gritava ele.
— Pare, Orion, ele está inconsciente — ordenou Caelus. — Temos que acabar com o Águia e a garota.
Raiden, àquela altura, havia desaparecido da arena; Ella ainda não tinha sido detectada em meio à poeira.
Sorrel bateu palmas, dissipando toda a poeira da arena, revelando a posição de Ella.
Lyrian ainda estava morta no chão, por algum motivo ela não retornou à vida naquele instante.
Ella olhou ao redor procurando por Raiden, pelo que indicava, ele realmente havia desaparecido.
Não havia outro jeito, ela teria que lutar contra os três Emissários, caso contrário, seu irmão seria morto.
Com uma dor intensa, Ella puxou a mochila de suas costas e a jogou no chão. Em seguida, tirou sua jaqueta e colocou sobre a mochila, ficando apenas com uma regata preta.
Os braços de Ella eram relativamente grandes para uma garota, resultado de seu imenso esforço físico ao longo de sua vida.
— Sou só eu, o Águia se foi. Venham pra cima, cuzões. — Ella empunhou sua rapieira, lançando um olhar mortal.
Os três irmãos avançaram simultaneamente contra Ella. Sorrel conjurou uma mão do Vazio que emergiu do chão para esmagá-la. Com um salto, ela desviou do agarrão, mas foi surpreendida por Caelus e Orion atacando seus flancos; eles eram mais rápidos do que ela imaginava.
Com sua espada, Ella bloqueou o ataque à esquerda, mas no ar era praticamente impossível desviar dos dois golpes. Seu flanco direito foi atingido, causando-lhe uma dor excruciante.
Correntes do Vazio surgiram e se agarraram ao braço esquerdo de Ella, prendendo-a no chão. Caelus, como um touro enfurecido, avançou em direção a ela, arremessando-a violentamente contra o chão.
Caelus ergueu seus braços para esmagar a cabeça de Ella, mas rapidamente ela os decepou com sua rapieira. Sem pensar, Caelus cabeceou-a, desnorteando-a brevemente.
Isso abriu brechas para que ele regenerasse seus braços em questão de segundo e agarrasse o braço direito de Ella, que ainda estava livre.
Seus dois braços estavam contidos, mas não suas mãos. Ella não desistia fácil; era extremamente difícil controlá-la.
— Incinerare! — gritou Ella, com fúria.
Uma poderosa labareda surgiu das suas mãos, queimando brutalmente toda a parte esquerda do corpo de Caelus. Ele rapidamente a soltou.
Antes que Ella pudesse escapar, Orion conjurou outra corrente que prendeu seu braço direito. Em seguida, Sorrel caminhou até ela e chutou a rapieira de sua mão para longe.
— Tome cuidado, essa aí é uma fera — disse Caelus para Sorrel, em tom irônico.
O céu começou a trovejar, fortes raios iluminavam todo o ambiente.
— Parece que vai chover — falou Orion, enquanto caminhava até o buraco onde Ethan estava.
— Vamos rápido então, não se esqueçam que estamos atrás do caçador negro, não desses dois — respondeu Caelus.
— Que merda! O irmão dela sumiu.
— Fiquem atentos, o de cabelo branco é muito rápido — exclamou Sorrel, olhando ao redor.
Sorrel se aproximou de Orion, enquanto Caelus se posicionou frente à cabeça de Ella, pronto para esmagá-la.
— Você é forte, mas não o suficiente. — Caelus sorriu sadicamente, levantando a perna.
Um trovão ainda mais intenso ecoou no céu, distraindo Caelus. Nesse pequeno intervalo, Ella ergueu suas pernas e chutou seu queixo, arremessando-o para longe.
Do horizonte, um trovão amarelo despencou do céu, atingindo Orion e Sorrel. Era Raiden, completamente imbuído em eletricidade.
Seu olho estava completamente dourado, enquanto partículas de eletricidade circundavam seu corpo.
Ao mesmo tempo, Ethan surgiu atrás da Caelus, atacando seu pescoço com sua espada. No entanto, a ponta da lâmina ficou presa na lateral de seu pescoço, não executando o corte.
Caelus agarrou as costas de Ethan e o arremessou em direção a Raiden, como se fosse um mero papel.
Raiden decepou a cabeça dos dois irmãos simultaneamente, um ataque preciso e suave, que gerou uma dispersão de eletricidade por toda a arena. Ele a controlou para que não atingisse os Murphy.
Caelus estava sozinho na arena agora, rodeado pelos corpos de seus irmãos mortos. O ódio em sua face era ainda mais evidente.
— Vocês nunca foram fortes como eu, sempre foram um fardo para eu carregar... — exclamou Caelus, enquanto caminhava até o corpo de Lyrian.
Os três se afastavam dele lentamente.
— Lyrian, suas mentiras foderam todos nós... — Caelus esmagou sua cabeça com uma pisada.
Todo o restante de seu corpo explodiu em sangue, retornando ao corpo de Caelus.
Ele então caminhou até o corpo de Sorrel e Orion. Raiden se afastava lentamente.
— Sorrel, sua destruição e fúria me transformaram no que sou. — Caelus novamente esmagou sua cabeça. — E Orion, meu irmão gêmeo... por sua culpa estamos presos nesse corpo!
Caelus finalizou esmagando sua cabeça. Os três irmãos retornaram ao seu corpo
O Emissário caiu no chão, ajoelhado, enquanto vomitava sangue.
Seu corpo passava por uma transformação; seu cabelo se alongou, adquirindo um tom misturado entre loiro, roxo, ruivo e vermelho.
Mais forte e mais alto, seu corpo agora estava coberto com as cicatrizes de Orion, com dois chifres na testa e a esfera do Vazio no peito de Caelus.
Ele se levantou lentamente, enquanto os três caçadores se afastavam dele cautelosamente.
— Separados... vocês são imperfeitos — disse o Emissário, com dificuldade. — Mas juntos a mim, somos Kasaroth, o organismo perfeito!
Kasaroth puxou uma lança da esfera de Vazio do seu peito. Seus longos cabelos de várias cores balançaram pra cima, enquanto um forte vento tomava conta da arena.
Sua presença e força estavam vastamente superiores a quando estavam separados.
Raiden segurou suas correntes com firmeza e engoliu em seco; todos eles estavam feridos pela batalha recente.
A verdadeira batalha apenas começava!