Volume 1
Capítulo III: “Conhecidos”
“As coisas mais perigosas são as que estão próximas de você! Pois quem desconfiaria daqueles que estão ao nosso lado? Quem desconfiaria dos que nos estendem a mão quando precisamos? Tome cuidado, tome muito cuidado com os que dizem ser seus amigos.”
“Lembre-se, eles costumam vender companheiros por trinta moedas de prata, e te traem com um abraço e um beijo.”
***
“Não acredito que ela me convenceu a isso!”
Pensou Charles, ficando ainda mais emburrado. Conduzia ele seu carro por aquela estranha estrada de chão batido, no meio do nada, estrada essa com alguns pontos com lama. Os arredores estavam tomados por árvores e nada além delas.
“Como eu vim parar aqui?”
Charles logo se lembrou de momentos antes quando tentou evitar Jack e apenas seguir seu objetivo, quando:
— Vamos lá conversar com os moradores da casa! — disse ele.
— Só vai perder tempo. — Exclamou Jack. — Eles não moram mais ai! E já peguei o endereço novo, sabe… Posso levar vocês lá, que tal? Não é tão longe ao que parece.
— Até parece que vou deixar você–
— Fechado, vamos! — disse Verônica animada.
Ela segurou o braço de Jack e foi com ele até seu carro. Charles por vez mesmo irritado, se viu obrigado a segui-los. E voltando ao presente, se encontrava ele seguindo um velho conhecido em uma estrada mais que suspeita.
“Merda Verônica. Porque foi me meter nessa situação? Sabe que não deve confiar em estranhos!”
Seu olhar era de alguém muito irritado, Clint percebendo seus resmungos, disse:
— O que está te incomodando tanto, Charles?
— Apenas o jeito inocente de Verônica. Ela não sabe nada sobre ele, e… Olha lá! Está indo com um estranho, os dois sozinhos naquele carro.
— Entendo... Mas você sabe melhor que ninguém, como ela fica quando encontra um rapaz boa pinta. E qual é a dele? Você fez o maior bafafá quando viu ele.
— Não sei o que me deu… Quando dei fé já tinha perdido a cabeça. Aquele biltre! Sempre me tirando do sério.
— Vocês se conhecem, né?
— Sim, mas já faz um bom tempo que não o via! Fomos parceiros no passado… E quero que isso continue no passado.
— Ele deve ter feito algo bem sério para você estar com essa expressão.
— Ele sempre foi um vigarista! Mesmo assim, fui um paspalho quando lhe dei uma chance. Éramos uma boa dupla no começo, compartilhamos experiência e resolvemos vários casos. Tudo parecia correr perfeitamente bem, mas isso por fora dos panos… — Seu olhar ficava mais sério. — Começou com pequenos furtos nas casas que íamos. E terminou com ele roubando um colar valioso para mim, e depois disso desapareceu.
— Que patife!
— Eu fui preso por ser um possível suspeito de ajudar ele nos roubos. Embora, fui solto momentos mais tarde, já que não tinham provas… Nunca mais vi ele desde então, quer dizer, só as notícias que ele vendeu o colar em algum lugar!
— Agora entendo sua indignação, Charles. Temos que contar para a Verônica… Ela não pode ficar confiando nele!
— Ela já é grandinha, Clint, vai ficar bem! E se acontecer algo, irei resolver eu mesmo.
Clint concorda balançando a cabeça. Enquanto isso no carro de Jack, Verônica parecia se divertir conversando com ele, e ele também parecia estar se divertindo:
— Verdade?! Hahahaha! Eu não consigo nem imaginar o Charles conversando com uma mulher. Quem dirá paquerando!
— Pois foi… Quando eu o conheci, Charles, era muito selvagem. — disse a encarando por um momento. — Me lembrei de uma vez em um bar na Califórnia… Ele chegou a contar como conheceu a esposa dele?
— Não. Ele não fala muito sobre o passado e sua família!
— Sei... Bem, vou contar para você então. Mas guarda segredo! Não quero que ele venha atrás de mim depois.
— Minha boca é um túmulo.
— Estávamos em um bar... Bebida boa, pessoal bacana, festa do balacobaco! Já tínhamos bebido umas doze ou treze doses de whisky. — Abriu um sorriso — Estávamos tão bêbados que cantarolava-mos “When You're Smiling” tão alto, que parecia até que estávamos competindo com o rapaz no palco improvisado.
— Hum, do jeito que o Charles canta mal! Já escutei ele cantando no chuveiro, não é algo bom de se ouvir.
— Exatamente. Chegou um momento que o barman ameaçou expulsar a gente do lugar! Aí tivemos de parar, no caso de cantar, por que de beber... Bem, não ia rolar! Foi aí que um dos brotinhos que estava no palco fazendo segunda voz, desceu. Eu já tinha sacado que Charles ficou encarando ela desde que entramos.
— Charles?! Aquele Charles?!
— Ele mesmo, e não só ele, ela também ficou sorrindo quando o viu! Agora imagina a cena: estamos bêbados encostados na parede ao lado do balcão de bebidas. Ela então passa pela gente, cabelo vermelho, lábios com batom preto. Simplesmente a mulher mais linda daquele lugar, sem sombra de dúvidas! Ela passou pela gente e sorriu para ele, só para ele. Então foi até uma das mesas e se sentou em um ponto que pudéssemos vê-la.
— E ele estava esperando o quê? Por que não seguiu ela?
— Eu perguntei a mesma coisa, mas só depois de mais duas doses, ele tomou coragem… ou como eu digo: “O álcool subiu a cabeça.”
Veronica parecia realmente curiosa com a história, embora também estivesse adorando Jack, ela o encarava com um sorriso bobo.
— Ele respirou fundo e foi na direção dela, pelo menos tentou, já que para a gente tudo estava girando, hahaha… Ele saiu esbarrando em todos no salão. Derrubando bandejas no chão, fez uma moça sujar o vestido de vinho. Uma bagunça, uma bagunça!!
— Hahaha, ele conseguiu pelo menos chegar até ela?
— Nem eu acreditei, mas ele chegou sim. Eles ficaram dois minutos se encarando, acho que ela estava esperando ele dizer algo, já ele tava na cara que estava tentando não vomitar, hahaha! — Caiu em gargalhadas. — Então ele se aproximou mais dela, encarando ela com uma expressão assustadora, aquele olhar dele quando tá nervoso!
— Nossa, eu teria gritado!
— E você acha mesmo que ela não gritou? Hahaha, ela ficou aos berros pedindo ajuda.
— O quê?! Ela gritou?!
— Sim, mas a música estava alta demais para alguém escutar ela! — Deu um sorriso brincalhão. — Foi aí que depois de tanto tempo, ele enfim disse: “Moça, você é tão magra que chega a dar pena! De frente você parece que tá de lado, e de lado você desaparece… Está passando fome em casa?”
— Nãooo! Não acredito que ele disse isso.
— E ainda continuou: “Tô disposto a te levar para sair. Então chega de perder tempo e vamos ali comer alguma coisa? Quero te fazer feliz a vida toda, não só por uma noite.” — Parou por um momento. — Hahaha!! Você tinha que ver a cara dela! Nunca vou me esquecer daquele olhar de quem estava com o c* sujo de merda e não tinha como limpar, hahahaha!!
— Hahahah!! Nossa, coitada… Ela deve ter corrido dele depois, né?
— Não, sabe o que é mais inacreditável? — disse encarando ela — Ela aceitou!
— Sério?!
Concordou Jack com a cabeça, mais uma vez caiam os dois em mais gargalhadas. Jack por vez meio absorto em pensamento deixou escapar algo de sua boca:
— Pois é… Quando você acha a pessoa certa, seus erros por mais imperdoáveis que sejam. No fim, se tornam acertos engraçados ou simplesmente algo para esquecer e seguir em frente. Mas se não for a pessoa certa, até o maior dos seus acertos é visto como um erro sem perdão, e se você errar nunca será esquecido.
Eles se encaram por um momento, Verônica parecia pensativa, em sua mente isso que ele disse parecia ecoar e se repetir.
Ela então tomando coragem pergunta:
— Jack… Você tem ou teve essa pessoa “certa”?
— Bem, digamos que sou bom com erros! Ha-Hahaha… — Sorriu ele sem jeito.
— Talvez… Talvez você só precise da pessoa que os veja como acertos engraçados!
Disse ela o dando um adorável sorriso, por um momento Jack se perdeu naquele encanto. Logo voltou a si quando quase perdeu o controle do carro, a viagem continuou em silêncio depois disso, embora tivesse um sentimento rolando no ar.
***
Já chegavam ao seu destino: lugar simples, casa isolada em meio a floresta, na varanda da casa uma moça tricotava alguns cachecóis enquanto cantava uma música de ninar. Escutando ela o som dos carros se aproximando e os avistando, correu às pressas para dentro da casa.
Não demorou muito para um homem sair, encarando o pessoal que estacionava em sua propriedade. E em seguida aqueles dois estranhos que saíram de ambos os carros; Jack e Charles caminharam na direção deles, observando tudo ao redor.
Charles seu olhar ainda não mudará, Jack por vez disse se aproximando do homem:
— Boa tarde. Aqui que moram o senhor Morgan, e a senhorita Estela?
— Sim, isso mesmo. E é senhora Estela para você, rapaz! — disse o Homem mal encarado.
— Ha, sim, perdão… Deixe-me começar novamente! — disse ele o cumprimentando — Me chamo Rubens Barriltt e esse grandão é meu parceiro, Cliff Winchester… Somos do FBI.
“Agora somos parceiros de novo seu merda? Você me dá nojo… nojo!” pensou Charles se segurando para não fazer besteira. Jack por vez puxando um distintivo do bolso, mostrando rapidamente ao homem que não teve tempo de confirmar se o que ele dizia era mesmo verdade.
— Bem, prazer Sr.Barriltt e Sr.Winchester. Mas o que traz uma agência como vocês até aqui?
— Chegou ao conhecimento do meu departamento, que estão acontecendo alguns desaparecimentos na cidade. O último caso sendo com envolvimento do seu filho, certo?
O homem por vez encarou a mulher, ambos pareciam confusos com a visita repentina, embora não poderiam evitar o assunto.
— Sim… Ele sumiu a uns três dias atrás! Não sabia que o FBI cuidava de casos como esse?
— Acredito que você não deva saber muito. E isso é um bom sinal! Já pensou o que fariam se tivessem acesso às informações confidenciais da nossa organização? Por isso somos discretos.
— É, talvez tenha razão…
— Certo! Gostaria de fazer algumas perguntas se não for muito incomodo?
— Há, sim, claro. Venha comigo por favor! — disse o homem abrindo a porta. — Entrem, sintam-se em casa.
— Com licença. — disse Charles adentrando a residência.
Por vez a mulher avistou os outros que ficaram no carro de Charles. Ela então os parou, apontando para o carro disse:
— E quem são aqueles?
— Não se preocupe, senhora. Eles estão encarregados de dar uma olhada nos arredores, temos que ver se tem algo por aí que nos ajude! Vocês não se incomodam, né?
— Não, nenhum pouco. Fiquem à vontade, embora deveriam investigar a antiga casa em que estávamos, lá que meu filho desapareceu! — disse ela entrando.
Charles fez sinal para os demais que saíram do carro em seguida. Assim se separando ali, enquanto ele colhia informações com Jack, os demais foram vasculhar os arredores.
***
Momentos depois, lá estava Charles e Jack sentados no sofá, olhando os arredores e percebendo as mobílias antigas que davam uma aparência mais bela e acolhedora ao ambiente.
Jack por vez ficou sério ao encarar alguns desenhos borrados espalhados ao lado da mesinha de centro na sala., e pegando um o qual chamou sua atenção disse:
— Hum, desenhos do seu filho?
— Não, mas da nossa filha… Ela deve está lá fora brincando no quintal!
— Então vocês têm uma filha também?
— Sim, ela é um amor de pessoa. Também é muito agitada, vive correndo de um lado para o outro, mas criança é assim mesmo!
— Entendo, e ela tem uma mente bem imaginativa, né?
— Há, isso? — disse pegando o desenho de sua mão — É o amigo imaginário dela! Pablo, eu acho. — Entrega o desenho novamente.
— Hmm… entendo…
Jack mostrou o desenho para Charles, que pegando a folha ficou sério também. Um desenho borrado com giz de cera, onde apresentava toda a família: pai, mãe, filha, filho e Pablo.
Pablo parecia um pouco assustador para ser amigo de uma criança, possuindo olhos pintados de vermelho, corpo pintado de preto e asinhas de anjo, além de estar segurando um ursinho de pelúcia.
Os dois se encaram, já entendendo um pouco a situação. Sra.Estela se dirigiu a cozinha comentando que iria preparar um café enquanto seu marido conversava com eles:
— Então… O que gostariam de saber?
— Bem–
— Comece falando sobre o dia em questão! — disse Charles, interrompendo Jack.
— Já fazem três dias que ele está desaparecido… Na noite em questão, eu escutei um som estranho no quarto de cima. Corri até lá, e… Vitória estava chorando enquanto a janela estava aberta!
— Vitória? — Perguntou Jack.
— Sim, minha filha mais nova.
— Eles dividiam o quarto?
— Sim, quando eu cheguei ela estava chorando muito, eu perguntei o que aconteceu, mas… Ela fica dizendo desse amigo imaginário. Coisa de criança, sabe? Acho que ela ainda está em choque sobre o que aconteceu, embora eu ache que ela está apenas escondendo o fato do irmão ter fugido!
— E porquê você acha que ele fugiu? — Perguntou Charles.
— Tivemos uma discussão e eu… Bem, eu tive que matar o nosso cachorro! Ele foi atacado por lobos, e… Não tinha como ajudar, tivemos que sacrificar! Realmente uma pena, ele era um bom animal.
— Lamento por sua perda. — disse Jack.
— Não precisa lamentar, era apenas um animal! Mas sim, era um bom animal. Por isso quis tirar o sofrimento dele, e James ficou triste, muito triste. E quando soube que tinha sido eu o responsável… Bem, ele ficou bem irritado, disse até que ia fugir e tudo mais. Os moradores disseram que viram ele pela última vez seguindo o caminho da igreja abandonada!
— Essa… igreja abandonada. Seria aquela que sofreu um incêndio anos atrás? — Perguntou Charles.
— Sim, essa mesmo! Alguns mendigos vivem por lá agora, pelo menos é o que o pessoal diz.
— Sei… Então Sr.Morgan, você e sua esposa vivem aqui com mais alguém além de seus dois filhos? — Perguntou Charles, se encostando no sofá.
— Não, é apenas a gente mesmo. Gostamos de ter nos mudado para cá, ficamos perto do lago, e… Eu costumo sair para caçar, meio que um hobby meu!
— Também caço as vezes. E sou bom no que faço!
— Sério? Costuma usar rifle?
— As vezes sim, mas digamos que sou melhor com armas de pequeno porte.
“Ele está se vangloriando na maior cara de pal, na minha frente, é isso mesmo?” pensou Jack consigo enquanto os encarava.
— Café? — Falou Estela saindo da cozinha.
Jack foi o primeiro a pegar uma xícara, começando assim a beber. Bebia às pressas, no que resultou em uma queimadura em sua língua, Charles por vez sorriu do gritinho que ele dera.
Enquanto isso do lado de fora da casa. Clint, Verônica, Rigor e Igor observavam os arredores em duplas de dois.
Clint e Verônica escutaram algumas risadas vindas do fundo do quintal, assim as seguindo. Já os gêmeos continuam em outra direção, adentrando mais a floresta nas imediações.
As risadas vinham de perto da cerca de madeira, ao se aproximarem avistaram uma garotinha a qual parecia conversar com alguém, embora, não conseguiam ver muito bem.
Caminhando mais um pouco, contornaram a cerca de madeira. Foi quando enfim chegaram até a garotinha estranha, tava ela de costas para eles, conversando sozinha enquanto encarava o nada.
— Sim, hahaha. Ele é um bobão mesmo… Sabia que eu gosto de girassóis? Me lembram do garotinho triste que aparece nos meus sonhos… Acho que ele tá muito triste, será por quê?