Parte 1
Capítulo 12: Cultistas de Lilith Pt.3
A máscara de serpente partida horizontalmente em duas e caída na neve, o velho com um raso corte também horizontal no nariz.
O seu parceiro no chão caído, agonizando, com uma mão trêmula no peito e a outra mão levantada e tremendo, clamando para que o velho o resgatasse e o tirasse daquele inferno.
E por fim, o velho em pé, próximo ao parceiro, perto de sua mão, mas ainda assim olhando fixamente para aquela que o havia acertado, incrédulo do que havia acontecido, mas ainda confiante.
A corrente no chão, ao lado do velho, começou a se arrastar lentamente até o remetente.
O parceiro gemia e chamava o seu nome, mas o velho se mantinha estático e encarando fixamente o inimigo, ainda na defensiva.
Por que… por que eu não consegui sentir a fonte de Prana dela?! Como eu fui pego de surpresa? Ela pode ser um monstro, mas eu ainda sentia aquela energia antes. Pensou o velho enquanto uma de suor escorria em sua têmpora.
A cultista de manto roxo então quebrou o silêncio:
— Parece que eu estava certa. Essa pele escura como canela, esse ponto vermelho na testa, esse cabelo e sobrancelhas intrinsecamente brancos, essas íris vermelhas. Você é mesmo um Aavatjano.
Como? Como ela ainda está viva? Eu podia jurar que ela estava no chão sem sequer respirar. — Pensou o velho, ainda a encarando fixamente, quando olhou para o lado e viu seu parceiro agonizando:
— Por favor… Sensei…! Me… me ajude!
Outro pingo de suor escorreu pra têmpora do velho, toda a sua preocupação e nervosismo era mascarada pelo seu rosto sereno e cansado. Ele estava dividido entre ajudar o seu parceiro e ser acertado por outro ataque ou avançar para a cultista e o deixar morrer.
Isso não pode estar doendo tanto assim, foi apenas uma perfuração no peito, e nem foi tão fundo assim, eu não estou entendendo. — Ele pensou.
Tum Tum
Que?! — Pensou o velho, pressionando o peito com a mão e cambaleando para trás. A cultista vendo aquilo, apenas sorriu e pôs à se vangloriar de seu feito:
— Você está sentindo…? Você me subestimou, velho decrépito. Mas agora que foi cortado pela lâmina da minha corrente, está envenenado e com seu destino SELADO!
— Me… me desculpa… mas… nós, Aavatjanos… Não acreditamos em conceitos tão confortáveis e medíocres como isso de “Destino” — Disse o velho, rapidamente passando a mão no rosto para tirar o suor, a encharcando e avançando abruptamente para cima da cultista.
A cultista se surpreendeu e se irritou ao mesmo tempo, puxando suas correntes rapidamente para si.
— Você não aprendeu NADA?! — Ela questionou, balançando a corrente rapidamente em sua frente para gerar uma barreira e impedir que o velho a alcançasse.
— Você é tola?! Me envenenando, apenas me deu mais motivos para acabar logo com isso! — Disse ele, chutando um punhado de neve no chão em direção à cultista.
A neve adentrou a corrente giratória, sendo triturada e reduzida à pequenas partículas geladas que logo a cegaram devido à enorme quantidade que havia sido jogada. Ela rapidamente esfregou a mão nua em seus olhos, mas quando finalmente removeu a sujeira, viu que o velho já não estava mais em seu campo de visão.
— Liberar. — Foi o que a cultista ouviu, antes de se virar rapidamente para trás.
Uma enorme enxurrada de esferas flamejantes voava em sua direção, não focadas na cultista, mas passando em grande quantidade como se fosse uma enorme parede prestes a esmagar.
A cultista então puxou sua corrente, e a balançando abruptamente para todos os lados, fez a ponta colidir com diversas das esferas, as impedindo de a acertarem, mas queimando a ponta de sua lança no processo.
Assim que a chuva flamejante lateral passou, balançou novamente a corrente no ar para fazer com que toda aquela fumaça se dissipasse, e quando se dissipou, viu de longe o velho extremamente concentrado fazendo um Mudra, um gesto com as mãos, enquanto uma enorme aura esbranquiçada o envolvia.
A cultista recuou com a corrente em sua frente, se preparando para o pior. A aura do velho começou a se tornar mais agressiva, se expandindo, contraindo, condensando, expandindo, contraindo, condensando, e assim se se repetindo.
Apesar de toda a brutalidade da situação, a única coisa que aconteceu havia sido o encolhimento total da aura, se concentrando completamente no corte do nariz, o revestindo.
Então, com extrema brutalidade e alguns segundos de espera, o corte do nariz havia expelido para fora uma pequena — mas letal — quantidade de veneno, verde por natureza e avermelhado por causa do sangue.
— Ufa! Bem melhor assim! — Disse o velho, suspirando aliviado. — Só precisava de tempo para pelo menos conseguir te ameaçar com a minha aura! Haha!
A cultista ficou incrédula, mas ao mesmo tempo furiosa com a inutilidade de seu ataque surpresa. Deus dentes podres rangiam e se ferravam, sua pele flácida se enrijecia de ódio, e sem pensar nem uma vez, saltou em direção ao velho.
O velho apenas disse:
— Oh, então você desistiu de parecer intelectual? — E então chutou abruptamente a neve envenenada no chão para o alto, batendo contra o rosto da cultista, que se cegou e despencou diretamente na neve.
— Oh não… não… não… não!!! — Exclamou a cultista, desesperada, se ajoelhando no chão enquanto esfregava agressivamente os olhos, apenas empurrando mais ainda o veneno para dentro da córnea. O velho, aliviado, a vendo no chão, apenas se aproximou por trás, começando a lhe questionar.
— Por que seu manto é roxo? O que você tem que as outras vadias não tinham?! Hein?!
A cultista nada respondeu, continuando a esfregar os olhos, quando começou a cuspir sangue na neve, mas ao invés de apontar a doença, logo começou a clamar e pedir perdão ao nome de Lilith, se prostrando no chão, quando finalmente amoleceu no chão, com metade da face submergida na neve, apática.
O velho apenas se cansou, e virou suas costas para poder voltar a dar atenção ao parceiro agonizando no chão.
VUP
Um objeto cujo som era o de algo cortando os ventos, o mesmo som que o velho havia escutado antes de ter seu nariz cortado, mas ele não seria pego dessa vez.
Se virou rapidamente para trás, se afastou do caminho do objeto, e com um movimento brusco e preciso, ergueu seu braço rapidamente e agarrou o objeto, o impacto havia sido tão forte que mesmo agarrando o objeto, sentiu alguns de seus ossos ligeiramente se deslocarem.
Era a corrente da cultista, jogada novamente contra ele na esperança de que a ponta cega e derretida fizesse alguma coisa com seu corpo. Sério e sereno. o velho apenas disse:
— Novamente isso, novamente não consegui sentir a sua prana, prana essa que eu sentia vindo de você quando a vi pela primeira vez. Na verdade… eu não sinto nada vindo de você.
A íris da cultista, ajoelhada e lentamente se levantando, não eram mais amarelos, agora brilhavam sob uma chama azul, uma chama azul que revelava tudo com clareza ao velho.
— Então você fez um juramento, é? Além de um pacto, fez um Juramento de Devoção à ela, e é por isso que você é mais forte que as outras, certo?
— E… e isso importa? — Ela questionou, suspirando profundamente.
— Agora tudo está mais claro… parece que você QUEBROU o pacto, exatamente naquele momento quando você começou a vomitar sangue após desprezar meu sangue, indiretamente recusando um… sacrifício à Lilith.
A cultista se mantinha em pé, errante, fraca, com os olhos queimando com uma chama azul de uma determinação sombria, mas ainda assim, impotente. O velho então continuou sua linha de raciocínio.
— Parece que… sua alma já está no Inferno, sofrendo por ter quebrado o acordo, mas… seu corpo ainda vive por causa do juramento que você não quebrou, porque você SABE que não o quebrou. Seu corpo apaga, mas revive por causa da sua vontade.
A cultista, suspirando e salivando sangue novamente, com a mandíbula quase caindo, começou a dizer:
— Isso é… idiota…! Juramentos não trazem… ninguém dos mortos… — Disse ela, suspirando profundamente entre cada palavra.
— A resposta está nos seus olhos. A força do seu juramento transcende o pacto feito com Lilith, seu corpo se recusa a morrer, não até cumprir o seu objetivo, acontece que… seu objetivo de servir Lilith… nunca irá acabar.
As bochechas e testa da cultista começavam a suar, um enorme calor crescia em seu interior, logo, o suor havia se tornado gotas genuínas de carne, carne derretendo e escorrendo pelo seu rosto.
— Aonde… aonde você quer chegar com isso… desgraçado… — Disse ela, começando a derreter pelo troco conforme a chama aumentava cada vez mais em seu interior.
— Estou dizendo para, QUEBRAR esse juramento. Seu corpo está sentindo uma enorme queimação, isso é a sua determinação, mas seu corpo não está acostumado à aguentar isso sem uma alma… você irá apenas derreter até a morte.
Ele repetiu:
— Quebre esse pacto! Quebre-o e se reduza logo ao pó! Se poupe dessa dor patética!
A cultista, com um sorriso que se desmanchava em derretimento e carne liquefeita, apenas berrou:
— Não! Eu… não vou…
Ela derretia mais.
— Não vou…!
Seu rosto se desmanchava até se tornar irreconhecível e pingava no chão.
— Não posso…!
Suas pernas derretiam e a faziam afundar em sua própria carne liquefeita
— Não… p-posso…!
— Não… — Ela disse, conforme sua forma física era reduzida à uma enorme massa liquefeita e sem identidade no chão, esquentando e evaporando toda a neve ao redor.
A corrente, antes esticada e presa na mão do velho, agora caia lentamente no chão, então o velho apenas a jogou por cima da pilha de carne liquefeita, rapidamente se retirando para socorrer seu parceiro.
— Ishaan! — Gritou o velho, se ajoelhando no chão para verificar o estado do parceiro.l, retirando sua máscara.
Ishaan estava com um enorme buraco no meio do peito que borbulhava sangue esverdeado, sua boca, aberta, tinha linhas de sangue que acabavam no chão. Sua pele estava pálida e fria. Seus olhos estavam semiabertos, encarando o nada, mas com um pequeno e frágil brilho que refletia na íris, ainda dando esperança ao velho.
Canalizar. — O velho pensou, fazendo um gesto com as mãos e liberando uma imensa aura branca em sua volta.
Liberar. — O velho pensou, aplicando a mão sobre o peito de Ishaan, liberando uma energia que o queimava por dentro, estancando o sangramento e fazendo o sangue começar a descer em seu peito.
— COF COF! — O velho tossiu, que por causa da preocupação perdia a concentração sobre a sua canalização de Prana.
A preocupação, o frio, tudo aquilo desconcentrava até o mais sábio monge védico. Com aquela Prana, o sangramento já havia se estancado, mas o veneno ainda se diluía fortemente em seu sangue.
Foi então, quando o velho teve uma ideia extrema.
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