Volume -5
Capítulo 1: Clavis Occulta
Naquela noite, naquele “lugar”, havia um enorme castelo feito de rochas perfeitamente retangulares, mas ao mesmo tempo, completamente destruído e acabado. O céu estava vermelho e as nuvens ocultavam o que quer que estivesse causando esse vermelhidão claro no céu, escurecendo aquilo que já era perturbador, causando uma escuridão tremenda e transformando o escarlate em carmesim.
No chão, em meio às gramíneas do campo, dezenas, mas DEZENAS de cadáveres mutilados, roxos, brutalmente amassados e com Rigor Mortis, completamente rígidos como pedra, não por magia ou algo do tipo, mas pela brutalidade e frieza de suas mortes, com alguns mortos até tendo partes do crânio arrancadas e membros faltando, mas quase todas igualmente armaduradas.
As principais criaturas a estarem mortas no chão eram todas seres da raça élfica e humana, caídos sempre em pares e longes de outras duplas, como se um conflito tivesse se iniciado entre os dois grupos, mas que “algo” tivesse matado todos indiscriminadamente.
Entre os cadáveres no chão, os que mais se destacavam eram os de uma maga de manto laranja e cabelos loiros, mas completamente sujos por terra que entravam por seus ouvidos.
Ela se mantinha estirada no chão, olhando fixamente para cima com seus olhos azuis, mas completamente claros e sem vida, como se aguardasse algo que nunca viria
Outro cadáver que se destacava era o de um homem adulto com traços bestiais, como excesso de pelos lupinos e um nariz que beirava o canino. Estava afundado na terra e deitado sobre um braço quebrado, com o outro braço se estirando para longe, como se tivesse tentado fugir de algo, pulando de cima do castelo e se agarrando à alguma chance de sobrevivência, mas morrendo brutalmente em cima de seus próprios ossos.
Haviam muito mais outros cadáveres que se destacavam por ali, como um elfo moderadamente maior que os outros da espécie, além de ser o único da espécie a vestir uma armadura dourada e reluzente, mas ainda assim, completamente desfigurado e mutilado no chão, quase que totalmente irreconhecível, a não ser pelos seus longos cabelos loiros que se misturavam entre o sangue coagulado e as partes de seu cérebro no chão.
De repente, mesmo por trás das nuvens sombrias, a cor carmesim do céu voltou a ser escalarte. O céu voltou a arder em vermelho vibrante, sendo seguido de uma enorme trovejada que iluminou mais ainda o céu, chegando à um ponto de talvez cegar qualquer criatura viva que ousasse encarar a enorme claridade do CÉU.
KRASH.
Em meio à enorme claridade do céu, uma silhueta humanoide preta se mostrou estável e firme sob o alto da torre do castelo em ruínas, encarando fixamente a paisagem em silêncio, como se estivesse mais buscando e caçando alguém, do que realmente apreciando o horizonte avermelhado.
Após o fim dos trovões, uma densa chuva avermelhada começou a cair sobre a terra, não era possível saber se aquilo era sangue ou apenas a água da chuva com sua cor alterada devido à luz vermelha vinda do céu.
Mas sendo sangue ou água, ela não possuía as propriedades físicas de nenhum dos dois. Ao cair, ela perfurava a terra, as pedras, os corpos, e tudo que era possível, deixando tudo irreconhecível.
Era um verdadeiro inferno sonoro, com sons grotescos de estalos surdos de costelas sendo quebradas, pedras se colidindo contra mais pedras e o próprio som da chuva, que era a única coisa capaz de se ouvir pro todo o horizonte.
Mas para o homem no alto da torre, aquilo não era nada, o líquido da chuva batia no alto de sua cabeça lisa e raspada, apenas com cabelos nas laterais preservados, e descia lentamente pelo seu corpo em forma de gotas inofensivas.
Além de sua calvície, o homem também possuía um par de chifres ósseos frontais, cheios de ranhuras e serrilhados, como se tivesse sido esculpidos com rocha vulcânica. Também possuía um bigode handlebar, liso e exagerado, mas combinando com toda a sua vestimenta elegante e fina, quase como se em meio à todo o caos, a criatura ainda sentisse a necessidade de se manter elegante.
Em meio à toda a poluição sonora do ambiente, a criatura humanoide continuou imóvel, encarando fixamente os campos e florestas que se estendiam abaixo de seus olhos, enquanto seu rosto e roupa continuavam a se molhar com o líquido carmesim da chuva.
Em pouco tempo, as pedras da torre aonde o homem estava em pé, começaram a desabar por causa da chuva, e o mesmo, ao invés de se amedrontar, usou uma das pedras caindo de impulso para dar um pulo enorme para frente, buscando alcançar o alto da enorme muralha que cercava o castelo.
Chegando perto de colidir com o piso do alto da muralha, para evitar uma queda feia, à poucos metros do chão, a criatura abriu as suas enormes asas de couro, que rasgaram suas costas e toda a parte de trás de suas elegantes roupas, mas pelo menos, permitindo que o mesmo pousasse sem sofrer muitos danos, ficando de joelhos no chão, ainda assim demonstrando enorme irritação pelos danos em sua vestimenta.
Ainda de joelhos no chão, a criatura farejou o ambiente, o cheiro daquela chuva era completamente pútrido e de aspecto oleoso, manchando e marcando tudo com um enorme cheiro podre e enjoativo, que podia fazer qualquer pessoa vomitar por sequer pensar no cheiro de tal líquido, mas para a criatura, aquilo era como uma chuva qualquer.
Seu faro não pôde detectar nenhuma forma de vida nas proximidades, MAS, foi capaz de detectar uma ausência de cheiro da chuva em uma área pequena, mas específica, especificamente da largura de um corpo humano, em cima da muralha também, e com base no fato que essa ausência de cheiro “se movia”, a criatura pôde deduzir que era aquilo que ela estava procurando.
De joelhos, a criatura nem esperou se levantar, usou logo o chão de impulso para correr em frente, percorrendo centenas de metros da muralha em segundos até chegar naquilo que ela tanto queria.
Perto de seu destino, o homem viu uma outra entidade humana, de costas e encapuzada, não correndo, mas andando em frente. O homem sequer esperou que ela se virasse para trás, e já cresceu suas unhas em formas grandes e afiadas enquanto ainda corria, direcionando seu ataque para um dos braços, assim acertando um corte fatal no cotovelo do homem e parando de correr bruscamente logo em frente do homem, que havia parado de caminhar.
Assim que o som do corte se foi no ar, o apunhalador soltou uma risada sincera, e sem olhar para trás, apenas disse
— Ha, sem som de carne e ossos caindo bruscamente no chão? Eu devo ter me enganado… isso cortaria o braço de qualquer humano. — Disse ele, virando para trás. — Mas… você não é um humano também, não é? — questionou, sorrindo e olhando fixamente para o encapuzado, dessa vez cara à cara.
O encapuzado vestia uma máscara, uma máscara com um enorme símbolo estranho e peculiar no meio da face , uma espécie de “roda”, mas ainda que peculiar, o homem reconheceu rapidamente o que era.
O mascarado nada disse, apenas olhando para o outro homem, mas a natureza – ou o que havia sobrado dela – disse por ele, pois após o fim da pergunta do homem, um enorme raio avermelhado caiu logo ao lado do mascarado, iluminando um lado da máscara e um de seus olhos, olhos castanhos, nada muito peculiar para alguém que conseguia caminhar sobre uma chuva capaz de destruir até rochas.
O homem se deixou levar pela cor dos olhos do homem, que logo zombou dele e começou a dizer coisas de eventos passados.
— Oh… ui! Ele é mesmo… TÃO misterioso!! Hahaha! — Disse o homem, gargalhando e com a mão na barriga — Você tem sorte, humanos sempre costumam julgar mais o tom da fala do que a própria fala, e com esse seu jeitinho todo… misterioso! Uiii!… — disse o homem, fazendo diversas caricaturas de medo — Você deve ter uma presença bem marcante entre eles!!!
— Mas… bem… tirando o fato que, todos os habitantes desse lugar estão mortos, e em breve… o mundo inteiro será escravizados pela minha espécie, bem, eu sei perfeitamente o quão falho e MEDÍOCRE você é. — exclamou o homem, apontando para o mascarado e não conseguindo conter o riso.
Nada o mascarado disse, apenas dando uma breve avaliada no ambiente além dos muros do castelo. O homem esnobe então, com um estalar de dedos, levantou um trono de ossos negros e enrijecidos — quase do mesmo material que os seus chifres negros, e se sentou, apoiando o cotovelo sobre o braço do trono e a mão na bochecha, enquanto observava as unhas da sua outra mão e se preparava para falar.
— Então, o que você fará agora? Como forma de apreciação por ter me dado todo esse poder, eu o deixarei ter mais um movimento. Então, o que você fará agora? Vamos, me entretenha!” — questionou o homem, saindo de um sorriso para uma expressão de dúvida genuína.
Assim que a pergunta havia sido feita, como se fosse mágica, parou de chover aquele líquido oleoso naquele exato momento. O homem na cadeira sentiu uma energia sinistra emanando do homem mascarado, que havia puxado um livro completamente arcaico e estranho por debaixo de seu manto. E ao ver o livro, algo arrepiou o misterioso homem no trono por inteiro.
— Clavis… Clavis Occulta? Eu sabia que você não era nenhum arcanista, isso… isso é mais exótico do que eu esperava! — Disse o homem, em um enorme misto de emoções, entre o nervosismo e a intriga. — Mas espera… se você não é nenhum arcanista, ou feiticeiro… ou bruxo… ou seja lá o que for, então que tipo de magia é essa?!” — questionou o homem, dessa vez pendendo mais para o lado do nervosismo que intriga.
O mascarado segurou o livro com as duas mãos, e após murmurar uma série de palavras absurdamente alienígenas, um feixe de luz acizentado encobriu o livro. O mascarado abriu o livro, e não era mais apenas um livro comum. Ao invés dele ser aberto normalmente, agora as extremidades da capa do livro se abriam como duas portas, revelando um desenho que era basicamente um anel perfeito com 9 moldes em formatos de jóia dentro e um molde maior no meio do anel.
Então, o mascarado deslizou uma jóia azul e brilhante por debaixo de sua manga, e a colocou em um dos moldes, sendo em um molde “aleatório” na parte do anel. O homem no trono voltou a se tornar curioso, e apenas observou, julgando ser algo bem abaixo de seu próprio poder.
Com a jóia dentro de um dos moldes, o livro se manteve aberto ainda, como se estivesse conscientemente aguardando por mais, e após alguns segundos sem este pedido ser atendido, ele se contentou apenas com uma jóia, se fechando e liberando um líquido negro e viscoso que cobriu o livro por inteiro.
Alguns segundos depois, o líquido se desprendeu do livro e caiu no chão, gerando uma poça de pus negro, e transformando o que antes era um livro, em uma dura tábua de material rochoso irregular com saliências afiadas e até cortantes.
Pela primeira vez, o mascarado falou:
— Para você, tudo é um enorme teatro feito sob medida para entreter você, não é? Pois bem, agora eu lhe entregarei o paroxismo! — disse o mascarado, batendo a tábua rochosa contra o seu joelho, rasgando sua calça e causando um enorme sangramento em seu joelho, mas danificando a tábua. O homem no trono apenas assistiu.
Um enorme feixe de cores começou a brilhar por dentro das rachaduras da tábua. Todas as cores se convergiram em apenas um enorme clarão branco e aquilo causou uma explosão ensurdecedora, jogando tanto o mascarado quanto o homem no trono para o chão, longe daquilo que era a tábua.
O homem esnobe, com a cara no chão, voltou à realidade enquanto ouvia um enorme zumbido em seu ouvido. Ele tentou se levantar, trêmulo, mas sua visão ainda estava bem embaçada, e ao serrilhar os olhos, as únicas coisas que conseguia ver era um enorme portal azul e luminoso levitando no ar e o homem mascarado, com uma aparência completamente deplorável.
A explosão havia feito sua manta ser severamente destruída, sobrando apenas alguns trapos ensanguentados com seu próprio sangue, mas o mesmo não se importava, segurando um braço ensanguentado, com o outro braço e com uma perna manca, ele se arrastava até o portal feito um zumbi.
A visão do homem caído estava péssima, mas ele podia jurar enxergar que por baixo da manta, em seu corpo, havia algo “indescritível perturbador” até mesmo para os seus padrões diabólicos. O homem caído, tentando lidar com a dor da explosão, estendeu sua mão para frente, e com a voz trêmula, questionou:
- Uhh… um Portal… para… o-onde? Todo este universo… todos os Planos de Existência… tudo está sob o meu domínio!
O mascarado parou sua arrastada até o portal, e olhando para o homem caído, apenas disse:
— Neste universo não. Apenas nessa Linha do Tempo. — e assim se seguiu caminhando.
— Linha do tempo…? Crono…Cronoverso?! Você não… não vai… — disse o homem no chão com uma expressão de “medo”. — …também dar ao meu “eu” daquela linha do tempo um universo para governar! Não é?! — disse o homem caído, desmascarando o medo e mostrando um enorme sorriso cínico no rosto.
— É o que veremos, Edmund Hölle. — Disse o mascarado, adentrando o portal, que logo em seguida evaporou e sumiu no ar, sumindo com a luz azul e fazendo tudo voltar a ser avermelhado.
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