Volume 1 – Arco 1

Capítulo 1: Bem ou Mal

Volume 1 - Profanos de Grimorn

 

O Céu, escurecido pelo luar que transparecia em frente a um sol avermelhado, que irradiava em um eclipse belo e mortal. As nuvens negras cobriam parte do céu do submundo, o que resultava em vários crepúsculos vermelhos descendo das nuvens até a grama acinzentada. As árvores secas, sem folhas, se pareciam com grandes garfos, porém, com suas pontas tortas e envergadas.

— Por acaso você está com medo?! — gritou um cavaleiro da linha de frente de um exército, para um dos arqueiros que aparentava hesitar em avançar. — Por acaso você teme a morte?!

— Não… não senhor!

— Por acaso algum de vocês aqui teme a morte?! — berrou, para o batalhão inteiro escutar.

— Não senhor!! — bradaram, todos juntos.

— Então por que este homem hesita em avançar?!

— Ele não é um de nós! Ele teme a morte, senhor! — gritou um dos cavaleiros.

Os “cavalos” eram criaturas parecidas com esqueletos, corpo ósseo e um vácuo infinito nos olhos, que apenas exibia um único ponto de fúria. Uma chama amarelada que refletia o poder de suas almas. Os pelos das cabeças dos cavalos entravam em constante combustão quanto mais ficavam zangados.

— Nós não nascemos para a morte, nós vivemos no meio dela! Lutamos na morte, não porque nossas vidas são mais importantes. Encaramos a morte no olho, pois ela faz parte de nós!! Ela nunca foi um destino, e sim a nossa pior arma. — No meio do discurso, o capitão sacou sua espada das costas. A lâmina carmesim era marcada por símbolos ilegíveis. — Se este homem não tem disposição para enfrentá-la, então traremos a morte até ele!

Os guerreiros ugiram, suas faces refletindo malícia e satisfação. O homem hesitante se estremeceu por completo, paralizado, com seu destino travado. Os cavaleiros avançaram, e o primeiro cravou sua lança no peito do pobre homem. Foi derrubado de seu cavalo. A sequência de galopes que se seguiu foram abafados pelos cascos de cavalos que esmagavam o corpo já ensanguentado do guerreiro falecido, que por puro azar, temia a morte.

Ao alto de uma colina, o exército inimigo aguardava a espreita dos cavaleiros. Como lobos famintos que tomavam o território do penhasco, uivando para o eclipse sedento por sangue.

— Soldados de Stygianthal se aproximando… — disse o comandante do segundo exército. Era um renomado mago com o rosto completamente enfaixado, com apenas seus olhos esverdeados como esmeralda sendo visíveis. Era como olhar para uma múmia de capa e chapéu. — Preparem as relíquias de artilharia. Recalibrem bem a potência, alterem o fogo para a terceira elevação, posição B… Aguardem o meu sinal.

Segundos de tensão se seguiram, o eclipse sendo lentamente ocultado pelas nuvens negras no céu. Os crepúsculos vermelhos iluminaram o alto da montanha, e suas localizações foram acidentalmente reveladas.

— A luz nos revelará! Antes que nos percebam, agora, fogo!

Com o sinal do mago, um pontilhado de mais de cem fagulhas de chamas verdes se acendeu pela extensão do pico. Dezenas de flechas banhadas em fogo, magias derivadas de livros amaldiçoados ou conjuradas por relíquias espirituais. Os ataques sobrevoaram e adentraram as nuvens negras, e do puro nada, uma chuva de chamas verdes despencou das nuvens nas cabeças da tropa de Stygianthal.

— Preparem-se! Os ataques vieram da montanha! — berrou o guerreiro, alertando seu exército. Todos ergueram seus escudos de marfim banhados em almas decompostas, que repeliam magia negra. As chamas escorreram no ar como se não pudessem atravessar uma grande barreira circular, transparente.

— Por que continua se ocultando no alto, hein?! — vociferou o cavaleiro comandante. — Venha para a guerra! Desça e nos enfrente com suas armas!! VENHA, ZARGOTH!

Zargoth Nihilus, era o nome do mago desolador, líder do exército inimigo.

— Porco barulhento… — murmurou Zargoth, mirando sua magia no cavaleiro ao pé do pico.

— Capitão Nihilus, estão nos desafiando! Vamos apenas ignorar?!

De repente, um tremor desestabilizou todos que estavam de pé. Um tremor tão escandaloso que quase fez os soldados do pico rolarem morro abaixo, e os cavaleiros caírem de seus cavalos.

— Não vai ser preciso — respondeu o mago, com o tom de voz estranhamente tranquilo demais. — Temos um enxerido querendo se aparecer.

— Desgraça! Alguém quer se intrometer na nossa briga! Nossa guerra!! — bradou o guerreiro, tentando manter-se firme no cavalo, mesmo com a espada ornamentada em mãos.

Uma grande rachadura amarelada rompeu o chão, se alastrando pelas florestas sombrias e pelas rochas do penhasco. Algo grande estava prestes a emergir da terra, algo que faria todos os soldados de qualquer exército ajoelharem-se perante a morte que Stygianthal tanto dizia encarar.

Uma cabeça branca, gigantesca e cascuda, emergiu do chão. Seu corpo extenso e colossal era branco, porém sua cabeça se parecia com a de um dragão. Com uma grande crista entre os olhos, semelhante à cerra de uma faca.

— Aquela coisa é colossal! — gritou um dos cavaleiros do exército de Stygianthal.

— Como alguém é capaz! — o comandante estava à beira da loucura. — Capaz de invocar a hidra de quatro cabeças em pleno nada?!

— Uma hidra de quatro cabeças… Interessante — disse Zargoth, satisfeito.

A cabeça cascuda da cobra-dragão se dividiu em quatro cabeças individuais, desconectando-se das quatro e abrindo um grande espaço no centro da cobra. Naquele espaço, havia um buraco, onde estava o invocador da besta de quatro cabeças.

— Lúcifer em pessoa… — A tropa do mago ficou atordoada com o nome.

Lúcifer tinha cabelos loiros e olhos azuis. Um homem belo, único, provido de iluminação celestial. Porém, carregava uma ambição capaz de engolir todos ao seu redor.

Uma carruagem passava próxima à zona de conflitos, onde a hidra apareceu. Pelo seu tamanho colossal, ela era visível mesmo ao longe. Os guardas que montavam nos cavalos que levavam a carruagem deixaram seus postos, e correram para a floresta. Uma bela princesa era carregada na carruagem, e quando ela olhou a visão de fora, ficou atônita.

Um pequeno garotinho acompanhava a carroça por fora, estava preso no último vagão, mas se libertou quando os guardas fugiram para a floresta. Ele observou a criatura adiante com terror, como se sua vida acabasse ali, mesmo estando distante da besta.

Uma grande bola de fogo verde vinha na direção da carruagem, e iria acertá-la em cheio. O ataque foi desviado pela hidra e lançado ao longe, bem no local onde a princesa e a criança estavam. O pequeno garotinho chorou, encolhido, esperando aguardando o fim. Porém, nunca teve um fim. Um feixe de luz roxo atravessou a bola de fogo no ar, dissipando-a. O pequeno garoto ergueu o olhar adiante e presenciou um jovem com uma capa negra de bruxo. Em seu pescoço, um medalhão dourado e em seu dedo, um anel prateado com uma pérola roxa como ametista. Seus olhos também eram roxos, e seu rosto era belo e juvenil.

O jovem que os salvou pareceu ignorar tanto a criança quanto a carruagem com a princesa, que apenas o observava, com olhos arregalados. O jovem ficou de frente para a grande hidra adiante, mesmo distante. Ele não parecia temer a criatura.

— Saiam da frente! — a voz do jovem ecoou por todo o cenário adiante, com uma magia para amplificar sua fala. — Móying destruirá todos no caminho!

— Essa voz… — murmurou o mago, contemplando a hidra diante de seus olhos. — É o único príncipe de Morkholt… Outro desgraçado para nos entreter.

— O que o príncipe de Morkholt está fazendo aqui?! — berrou o guerreiro, que não parava de gritar a cada palavra que saía de sua boca. — Aquele desgraçado portador do anel!

O jovem príncipe ergueu sua mão com o anel adiante, como se estivesse segurando um manípulo de fantoche. A pedra roxa de seu anel emanou uma aura sombria, que botava ainda mais medo nas pessoas à volta do que confortava.

— Pare! — gritou o pequenino ao lado do jovem. — Você não é um herói? Por que vai matá-los?!

— Herói? Não sou um herói. Não existem heróis no submundo, garoto.

— Então… por que me salvou?

A expressão do jovem ficou um pouco mais séria, seus olhos fixados no anel em sua mão que emanava sem parar uma aura sombria.

— Bem ou mal… essas coisas não existem. Não há soldado no mundo que mereça passar pelo que passam por lutas sem sentido, sem vitória. Não existem heróis… mas existem vilões.

— E quem… são os vilões?

— Qualquer velho sedentário que passa a vida sentado em um trono.

— Aqueles malucos que gostam de colocar ouro na cabeça…?

O jovem príncipe sorriu com a forma que o pequeno se referia às coroas.

— Esses mesmos. Quando você crescer, velhos como esses mudarão sua visão.

O pequeno garotinho pareceu um pouco mais contente, relaxado. Mas ainda havia uma coisa que ele queria saber.

— Mas… se você não é herói, nem vilão… o que você é?

— Sou Soren Ravenwood — disse o jovem, abrindo um sorriso aconchegante para o pequeno ao seu lado. — E sou apenas mais um humano comum.

Ao longe, no buraco entre as quatro cabeças da hidra, Lúcifer olhava feio para o brilho roxo entre as árvores ao longe. Ele reconhecia aquele poder, aquela maldição que fazia seu sangue ferver como se estivesse em um caldeirão.

— Aquele jovem… Ravenwood…

— Soren Ravenwood… — murmurou o pequeno garotinho. — Então! O meu nome, é Pierre!

Soren sorriu para o pequeno Pierre, e então voltou o foco para a hidra. Desenhou com a maldição do anel um círculo flutuante no ar, que logo ascendeu com vários símbolos demoníacos dentro dele.

— Então vamos começar! — berrou, avisando que seu ataque viria em breve. — Venha, Móying!

Um grande dragão negro irrompeu da passagem de símbolos que Soren conjurou. O dragão não tinha braços ou pernas, e sim um corpo extenso como o de uma cobra, com uma cabeça de dragão na ponta. Um dragão chinês. Ele seguiu adiante em direção a hidra, que tentou efetuar algum ataque mas não foi sagaz. O dragão abocanhou o corpo da cobra e voou para o alto com ela, as duas bestas desapareceram entre as nuvens, levando todas as árvores no caminho e deixando um extenso rastro na terra.

Lúcifer não se segurou e acabou caindo de cima da cobra, de bruços na terra. O jovem príncipe vinha caminhando logo atrás de Lúcifer, e os dois exércitos pararam para observar. Lúcifer se ergueu do chão, tirando um pequeno amuleto de seu bolso. Eram três anéis que rodavam em uma base, em volta de uma pequena esfera amarela radiante no meio.

Trouxe uma mão ao amuleto, e com um puxão retirou parte da magia acumulada nele como se fosse um pano. Soren se preparou, sem nenhuma preocupação no olhar, mesmo olhando para Lúcifer diretamente. O infame usou a magia puxada do amuleto para formar um arco divino em suas mãos, com uma flecha esbranquiçada na ponta da linha dourada. O poder de Lúcifer era, de fato, algo angelical.

— Mostre sua arma, Ravenwood! Vamos duelar. Um tiro, uma vitória.

Soren não disse mais nada, cruzou o ar com a mão que carregava o anel, um poder arroxeado saiu e então se reuniu fora da relíquia, formando uma pequena criatura voadora que também segurava um arco em mãos, apontado para Lúcifer.

— Esse moleque conseguiu estressar logo a Lúcifer… — comentou o mago comandante, suas tropas pararam para observar o conflito.

— Uma competição de nível de poder entre o príncipe de Morkholt e o portador da luz, Lúcifer?

— Ele deve ser maluco de tentar um confronto direto com o Morkholt sozinho!

— Lúcifer… sempre foi maluco.

A flecha branca do infame decolou em direção a Soren, que permaneceu inabalável. Um círculo de fogo arroxeado se ergueu de uma vez só à volta de Soren, como um campo de defesa anti-magia. A flecha de Lúcifer tentou adentrar nas chamas com fúria, não cessando seu poder mesmo em contato com uma barreira de dissipação.

— Continue, Lúcifer. Não fará efeito algum.

Soren, o príncipe de Morkholt, era conhecido por desafiar qualquer um independente do nível de poder ou nobreza. Nunca seguia as regras de reinos e nem abaixava a cabeça para imperadores. E todos o odiavam por apenas um motivo: O anel Morkholt era o artefato amaldiçoado mais poderoso já visto antes.

— Vai se arrepender dessas palavras!

As nuvens acima de Soren se iluminaram, perdendo sua coloração negra e adotando um tom dourado como os de Lúcifer. Trovões bravejaram nos céus, e um feixe branco despencou sobre o círculo de fogo do príncipe. Ele foi engolido pela luz do feixe.

— Vejam a dimensão desse ataque! Como isso é possível?! — exclamou um soldado, sentindo-se impotente.

Enquanto a luz continuava a consumir o corpo de Soren, a pequena criatura criada por ele, que carregava um arco roxo, atirou uma única flecha na direção de Lúcifer e se dissipou. Ele pôde ver o ataque vindo como um raio, e saiu do caminho. A proporção era pequena, mas se tivesse acertado, seria fatal. O caminho traçado pela flecha continuou, perfurando terra, pedras, até o centro de tudo.

— Uma única flecha não vai me derrubar…

Mas era uma distração; Lúcifer inconscientemente perdeu estabilidade em seu ataque de luz, que logo, foi partido por um grande prisma que saiu do centro do feixe branco lançado acima de Soren. O prisma roxo subiu até o céu e repeliu as nuvens, um buraco foi aberto no céu, revelando o eclipse. O sol carmesim cobria a pequena lua, como um olho vermelho com uma grande pupila no céu. O sol tomou uma coloração roxa, e o grande olho representado pelo eclipse olhou profundamente para Lúcifer, como se fosse uma criatura celestial.

— Eu já sei que não vai, mas veremos como você lida com isso. — Soren, por ser um adolescente ainda muito jovem, sempre foi muito exibido.

Um olho roxo representado pelo eclipse, arregalado, pupila fixada no seu alvo. A magia amaldiçoada irradiou do sol e da lua, a combinação capaz de destruir até o último número do infinito. Uma cortina de iluminação cobriu o corpo de Lúcifer, correntes arroxeadas seguraram seus pulsos e torso, ele estava prestes a ser selado.

— O que é isso?! O que ele está fazendo?! — perguntou o pequeno garotinho, correndo até o local do embate junto da princesa.

— O verdadeiro poder arcano… ninguém sabe o que é ou de onde vem, mas uma coisa é certa: Fica muito mais poderoso quando se mescla em um eclipse.

A iluminação do olho celeste adornou a área em volta de Lúcifer, deixando-o completamente imóvel. A luz brilhava cada vez mais forte, mas nada parecia acontecer.

— Não aconteceu nada?! — gritou o cavaleiro berrante, que com curiosidade, se aproximou demais do local.

— Ele é forte demais — começou Soren. — Não posso baní-lo daqui… o amuleto dele se recusa a partir.

— Deveria parar de tentar resolver os assuntos da sua maneira, Ravenwood — disse o mago Zargoth, caminhando de longe sem o seu exército, assim como o cavaleiro. — Banir Lúcifer do submundo é um feito surreal demais, até para você.

— Não tente impor regras sobre mim, Zargoth. No final ele é como todos vocês, ratos de esgoto… Mas diferente de vocês, ele tem poder para mudar alguma coisa nesse lugar… — Soren abriu seu medalhão que envolvia seu pescoço, e dentro dele, havia a foto de uma bela e jovem mulher. Um ente querido que se foi há muito tempo. — Por isso, eu odeio todos vocês… Se vou baní-lo, farei isso por mim.

— E como pretende fazer isso por conta própria, então?

— Me banirei junto a ele — disse, sem preocupações no olhar. Seu orgulho e confiança fazia com que a lógica se ofuscasse. Soren achava que realmente poderia fazer qualquer coisa, e sairia ileso.

— Se fizer isso, perderá suas memórias e retornará ao mundo dos humanos… duvido que o anel te aceitaria como seu portador depois de uma decisão dessas — alertou a princesa, próxima o suficiente para poder ser ouvida.

Soren pareceu ignorá-la, sequer a respondeu. Se aproximou lentamente da cortina de luz emitida pelo olho, onde Lúcifer estava imóvel no centro.

— Você não poderá levar o medalhão… é um amuleto amaldiçoado. O que fará a respeito dele? — perguntou Zargoth, com interesse no medalhão do príncipe.

Soren arrancou o medalhão de seu pescoço e atirou para o alto. O grande dragão chinês invocado para afugentar a hidra retornou das nuvens, e engoliu o medalhão no ar como se fosse um petisco.

— Móying não desaparecerá até que eu retorne. Ele guardará o medalhão. — Zargoth ficou um tanto zangado com a decisão do príncipe. — Para banir Lúcifer, desaparecerei… mas vocês sabem que eu vou voltar. Aproveitem o tempo sem mim. Em cem anos retornarei para buscar o medalhão.

— Acha que cem anos é suficiente para recuperar suas memórias depois de um banimento?

Soren também não respondeu, estava se preparando para os últimos momentos em um lugar caótico e obscuro como o submundo.

— Se você retornar… — o guerreiro berrante ergueu sua lâmina, desafiando o príncipe. — Eu vou te matar. Suponho que não vai conseguir usar o anel tão cedo.

— Fique à vontade para tentar, D. Balrik.

Um pouco antes de Soren partir para a luz e deixar o submundo junto de Lúcifer, o pequeno Pierre o observou uma última vez, um pouco triste pelos acontecimentos.

— Por que eles querem te matar? Você não era um príncipe? — perguntou, com uma voz melancólica.

Já dentro da luz do olho celestial, Soren olhou com um sorriso para Pierre.

— Eu ainda sou o mais forte, Pierre. Ninguém é capaz de me matar. Esses bostas apenas tem inveja de quem tem poder celestial.

A luz irradiou do céu, destruindo as pedras do chão abaixo e pulverizando a poeira que subia. O poder de dois banimentos ao mesmo tempo era suficiente para superar a resistência do amuleto de Lúcifer. Soren se aproximou dele, que estava acorrentado enquanto viajavam para o mundo dos humanos pela luz roxa.

— Dizem que o anel de Morkholt só aceita um hospedeiro, enquanto vivo… não sabia que ele era capaz de banir almas do submundo — disse Lúcifer, aceitando lentamente sua derrota.

— Acho que você não entendeu como ele funciona. Morkholt não é o nome do anel… — Soren sorriu. — É o verdadeiro nome da realidade que vocês chamam de submundo.

Os olhos de Lúcifer se arregalaram, como se aquela fosse uma grande revelação, mas para Soren era algo de se impressionar que alguém não soubesse.

— Está me dizendo que… o submundo inteiro…

— Sim. O anel só pode deixar o submundo junto comigo, porque ele é o próprio submundo comprimido em uma relíquia amaldiçoada.

Lúcifer olhou para baixo, com desdém. O feixe roxo ainda os carregava, e ele sentia suas memórias vagamente deixarem seu ser. O mesmo acontecia na mente de Soren.

— Eu nunca fui páreo… um príncipe que porta o submundo em um dedo… Você chega a ser ridículo. E agora, estamos indo juntos para o mundo dos humanos… que pesadelo. Mas o que você quer com isso? Desafiando líderes, colocando todos os reinos contra ti, e agora banindo a mim…

A visão dos dois foram ficando cada vez mais embaçadas pela luz, mostrando que a transição foi completa. Suas faces já não eram mais visíveis, e a maior parte de suas memórias foram completamente escurecidas pela magia do anel.

— Quero derrubar os monarcas do topo de seus impérios. Se me escolheram para herdar o poder capaz de destruir… então eu quero destruir os maiores, e fazer com que os povos sejam livres para cantar e dançar juntos sem abaixar a cabeça para soberano nenhum. Quero fazê-los caírem aos meus pés e gritarem por piedade… fazê-los gritarem da mesma forma… que fizeram a Ella. E você é como todos eles, Lúcifer. Por isso, eu também odeio você. Apenas aguardei a hora em que emergisse das sombras para que eu…

Mas Lúcifer não podia mais ouvir, já havia sido engolido há um tempo. Para Soren, foram-se várias horas adornado pela luz, sem ninguém à sua volta, o puro vazio. Até que de repente, com sua mente completamente limpa de qualquer resquício de memória, de onde veio, ou de onde estaria ou quem ele era, apenas acordou em uma cama comum em um quarto. Uma mulher de cabelos brancos se apressou para vê-lo de perto, curiosa.

— Você está bem? Te encontrei dormindo no balcão do bar lá embaixo.

— Bar…? — perguntou, coçando os olhos, como se tivesse dormido por décadas.

— Estranhei quando vi um garoto tão jovem, embriagado em um bar daquela forma ao ponto de desmaiar — disse a mulher, como se estivesse dando um sermão. — Quantos anos você tem afinal?!

— Eu… eu não me lembro.

— Arh! Que beleza, perdeu as memórias! — A mulher levou uma mão à testa, decepcionada. — Se lembra seu nome pelo menos?

O jovem ficou sentado na cama, sua mente vaga, sua visão um pouco distorcida. A única coisa que lhe parecia familiar era o anel prateado em seu dedo.

— Sim… — disse o jovem, esforçando-se muito para lembrar de qualquer coisa. — O meu nome… é Soren.

Notas:

Aviso: Todas as ilustrações utilizadas na novel foram geradas por IA. Perdoe-nos se algo lhe causar desconforto visual.

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