Volume 1

Capítulo 8: Uma Calorosa Boas-Vindas

Fazia um tempo que não vinha para este lugar. Na realidade, estou até surpreso. Depois do desastre que foi aquela entrevista, não imaginava que iria voltar nunca mais.

Toda esta região de Shinjuku possui o tamanho de uma cidade inteira. E tudo isso é da família Kuroda. Uma vizinhança de alta-classe, com vários imóveis supervalorizados. Nunca imaginaria viver em um lugar assim.

Na realidade, falando do meu trabalho como mordomo, só começo na segunda-feira. Só que, por algum motivo, aquela mulher pediu que eu me mudasse completamente para sua casa a partir deste fim de semana.

Isso me deixou um pouco irritado, já que meu pai havia voltado para a casa essa semana e não posso contar apenas com Saki para cuidar dele. Apesar disso, o velho disse que eu devia concordar com este pedido.

Talvez faça algum sentido realizar toda a mudança no fim de semana, já que a partir de segunda estarei trabalhando, mas achei que não teria problema se trouxesse minhas coisas pouco a pouco, já que, pelo que parece, não falta nada de importante naquela mansão.

Suspirei e olhei para Lyra, que estava sentada ao meu lado no banco de trás do carro. A garota parecia estar olhando pela janela, um pouco curiosa sobre tudo que via. Acho que faz sentido, já que não tive muitas oportunidades para mostrar a cidade para ela.

Eventualmente, chegamos em nosso destino. A grande mansão onde moravam os Kurodas. Ou apenas um deles. Na última vez que apareci, não parecia que alguém vivia naquela casa além daquela garota esnobe.

E foi com essa cara esnobe que fomos recebidos assim que saímos do carro. Dessa vez, ela não havia vindo nos buscar. Afirmando ter alguns preparativos a realizar, contratou um motorista particular para nos levar até a casa.

— Então, tiveram uma boa viagem? — Vestida com seu sorriso inexpressivo de sempre, perguntou de forma educada.

— Bom, dessa vez viemos com alguém que realmente sabe dirigir, né? — ironizei com um sorriso para mostrar que não seria enganado pelas suas supostas boas maneiras.

Pensei que, orgulhosa do jeito que era, ficaria um pouco irritada com a minha provocação, mas, como sempre, fui recebido com um sorriso e um gesto de aceitação. Que sem graça, será que ela nunca muda a expressão?

Havíamos chegado um pouco tarde, já pelo começo da noite, então o primeiro lugar para onde Kuroda nos guiou foi nossos quartos. Ao chegar no meu, lembrei do perrengue que passei para limpar essa desgraça e me surpreendi ao ver que estava brilhando. Como se alguém tivesse passado aqui de novo depois.

Será que foi ela que limpou? Não… Acho muito difícil essa riquinha mimada colocar a mão na massa para algo. Isso dá a entender que não sou o único empregado dessa casa, mas se esse for o caso, como nunca vi mais ninguém aqui?

Mas, sério… Como esse quarto é pequeno! De alguma forma, mesmo sendo de uma residência de alta qualidade dessas, consegue ser menor que o meu que fica na parte de cima de um restaurante de baixa classe! Me pergunto porque construíram desse jeito…

Com isso, fico um pouco preocupado com quão confortável a Lyra vai ficar. Tudo bem que ela é do tipo que não reclama de nada, mas esse monstro não tem o direito de se aproveitar disso para colocá-la em uma condição ruim.

Então, com esses pensamentos em mente, organizei minhas coisas no quarto novo e fui bisbilhotar as duas garotas para ver qual era o quarto que Kuroda havia presenteado para minha mais nova filha.

Assim que entrei, fiquei boquiaberto. Que cama enorme e mais bem arrumada! Os armários pareciam caber umas centenas de roupas que a Lyra nem tinha e tudo era tão bonito. Parecia o quarto perfeito para qualquer garota se gabar.

Eh, Akazawa, o que você tá fazendo invadindo o quarto de uma garota desse jeito? — Kuroda disparou com suas provocações típicas. — Que depravado!

— Até parece! Eu só tava me garantindo que você não ia dar um quarto ruim para a Lyra. — Cruzei os braços e me recusei a olhar em seus olhos. — Do jeito que você é, capaz de mandar ela dormir no sótão.

A loira já estava deitada na cama, com toda sua bagagem espalhada pelo grande espaço daquele cômodo. Estava rolando para um lado e para o outro, como se estivesse aproveitando a maciez do colchão.

Até que, em um determinado momento, parou e ficou nos observando fixamente, enquanto discutimos. Parecia querer dizer alguma coisa, mas não estava com vontade de interromper. Percebendo isso, parei de reclamar e falei:

— Algum problema, Lyra?

— É que eu tô com fome. É o Akazawa que vai fazer a comida hoje? 

Ainda é meio cedo para o jantar, mas é verdade que nem visitei a cozinha ainda. Talvez fosse a hora de dar uma olhada no que vou ter à minha disposição enquanto estiver aqui e, de repente, pedir alguns ingredientes.

— Não, não vai ser necessário hoje. — Kuroda interrompeu meus pensamentos. — Akazawa ainda não começou a trabalhar aqui, então não vou fazer ele cozinhar.

Levantei as sobrancelhas, meio surpreso. Mesmo que ela tenha razão sobre ainda não ter chegado o dia combinado, é meio estranho ela nos tratar como hóspedes. Me pergunto o que está passando nessa sua cabecinha.

Não que eu tivesse nenhum problema em cozinhar para as duas. Para ser sincero, ficar tanto tempo sem praticar me estressa um pouco. Seria uma boa oportunidade para ver se o paladar de Kuroda é tão aguçado como a Presidente me disse.

Mas, não sou do tipo de negar hospitalidade das pessoas, então não irei trabalhar hoje. Apesar de que… se não sou eu quem vai cozinhar, quem vai? Não parece ter mais ninguém nessa casa além de nós três.

— É você que vai cozinhar? — Olhei para Kuroda. Não era uma escolha estranha, já que essa garota parecia saber fazer quase qualquer coisa.

Naaaah… — Alongou sua negação de forma dramática. — Como é a primeira vez de vocês aqui, quis fazer algo especial.

Bom, acho que se ela tivesse cozinhado para a gente teria sido algo bem especial, mas com certeza isso seria bem normal vindo dela. Por isso, comecei a ficar preocupado com o que viria a seguir.

Fomos guiados até a parte debaixo da mansão. Por algum motivo, precisávamos pegar um elevador para chegar lá. Era, tipo, uma boa descida até chegar no nosso destino. Olhando por fora, era impossível imaginar que tinha algo assim lá.

Quando entramos, fiquei impressionado. A sala era super espaçosa e tinha todo tipo de coisa. Uma TV enorme com alguns aparelhos conectados, uma mesa de sinuca no centro e alguns fliperamas. Quem diabos tem isso hoje em dia?

Tinha algumas prateleiras decorando o lugar, algumas tinham livros, outras eram ocupadas com louças de diversos tipos, mas o que mais me surpreendeu foi a que estava no fundo. Por que diabos uma garota que nem alcançou a maioridade tinha esse número ridículo de bebidas?

Apesar de bastante surpreso, fiquei quieto por um momento e decidi perguntar sobre algo que poderia passar despercebido. Tinham algumas caixas no chão, quase fora de lugar na organização da sala. Elas estavam muito bem lacradas.

— O que é que você guarda nessas caixas? 

— Você não precisa saber. — Pela primeira vez, Kuroda respondeu secamente.

— Você sabe que eu posso abrir elas bem fácil, né? — ironizei com um sorriso.

Olhando para mim com seu sorriso de sempre, sua expressão mudou para uma meio melancólica, e uma fraca risada pôde ser ouvida. A garota rica arrancou um fio inteiro do meu cabelo, fazendo com que eu gemesse de dor.

Sem se importar com meus protestos, Kuroda lançou esse pedaço de mim em direção a uma das caixas protegidas por um lacre. E o que aconteceu depois, bom… Me fez ficar arrepiado.

Bzzt!

Na minha frente, tal como aconteceu com as pessoas que tentaram tocar no seu carro, o meu fio de cabelo foi totalmente desintegrado pela eletricidade. Instintivamente toquei minha cabeça, tentando me proteger. Que porra foi essa?

— Você tá louca!? E se alguém toca na caixa por acidente? — Fiquei totalmente indignado com a falta de cuidado dessa maldita.

— Agora você já sabe, né? — Com o mesmo sorriso assustador e melancólico, ela completou.

Cerrei os dentes, com meu corpo tremendo de tanta raiva. Mas ao mesmo tempo, o que tem nessas caixas pra justificar essa mudança toda de comportamento? Sendo bem sincero, não tô nem um pouco afim de descobrir. Deixa ela lá…

Como se nada tivesse acontecido, a próxima ação de Kuroda foi pular em uma das poltronas e se aconchegar. Parecia que não se importava nem um pouco com o susto do cacete que tinha acabado de me dar.

E então, sua expressão voltou ao normal. Aquele seu sorriso elegante, de quem esconde algo, apareceu novamente. Que mulher complicada… Como alguém consegue mudar de personalidade como muda de roupa?

— Certo! Vocês sabem por que estamos aqui hoje? — Olhou para nós dois com antecipação.

— Para comer! — Lyra foi mais rápida em responder que eu.

— Correto! — Kuroda apontou na direção da loira com animação. — Mas não é só isso!

Revirei os olhos. Esse papinho todo tava me enchendo o saco pra caralho. Por que essa idiota não pode simplesmente ir direto ao ponto para variar? Mas já que não vamos progredir se eu não disser nada…

Oh, grande anfiltriã Ikkitousen Kuroda, o que estamos fazendo em um lugar tão incrível quanto esse? Eu não consigo imaginar! — pronunciei da maneira mais sarcástica possível.

A burguesa fudida pareceu satisfeita com a minha resposta e então tirou um pequeno controle remoto do bolso e ligou a televisão gigante na nossa frente. As imagens que apareceram me deixaram em tanto choque que eu tossi.

Que porra é essa? Aquele ali na tela era eu… Uma foto minha de quando expulsei um cliente bêbado na porrada. Como diabos… como ela tem isso? Não faz sentido nenhum! Quem sequer bateu uma foto disso?

— Certo, como podem ver, esse aqui na frente de vocês é Akazawa Jundou. — A garota se posicionou na frente da TV para iniciar sua explicação.

— Como você conseguiu essa foto, sua… — Fui me aproximando dela para tirar satisfação, mas com um movimento de suas mãos meu corpo foi impulsionado direto para a poltrona.

— Se vocês prestarem atenção aqui nesse ponto… — Utilizando uma caneta de laser, ela apontou para o meio das calças do Akazawa da foto. — É possível perceber que Akazawa não está animado.

Por que você apontou para esse lugar para indicar que não estou animado!? Não seria mais fácil mostrar a porra do meu rosto!? Eu tô claramente muito puto ali!

Kuroda foi passando o slideshow mostrando mais fotos minhas onde estava irritado, sempre apontando para o meio das minhas calças para chegar à mesma conclusão: Akazawa Jundou não estava satisfeito.

Eventualmente, a apresentação acabou. Acabou comigo super envergonhado, a Lyra desinteressada e uma megera mais animada do que as donas de casa no dia de promoção do mercado.

— Tá! Eu estou irritado nessas fotos! Como diabos conseguiu elas? E o que você quer com isso? — Aumentei minha voz pra tentar ameaçá-la.

— Meu ouvido é sensível. Eu tô te ouvindo! — E assim, fui completamente calado. — Enfiiiiiim, o que quero dizer é que você tá sempre irritado, Akazawa! Sério… Você já sorriu alguma vez?

— Eu já sorri muitas vezes! — refutei a afirmação ridícula dela. — Teve aquela vez quando eu… hmmm… também teve aquela… — Droga, não consigo me lembrar de nenhuma!

— Foi o que eu disse! — Vitoriosa, Kuroda pegou na minha mão e me levantou da poltrona, forçando com que meu olhar se focasse nela. — E é por isso que estamos aqui. Para fazer o Akazawa feliz pelo menos uma vez na vida dele.

Lyra, que já estava ouvindo a exposição faz um tempo, levantou a mão, como uma criança no fundamental que gostaria de perguntar algo para a professora. 

— Pode falar, Lyra! — A professora apontou para a aluna, permitindo que fizesse sua pergunta.

— Se a felicidade do Akazawa está diretamente relacionada ao punhal que ele esconde nas calças, por que você não tenta tirar sua roupa? Quando eu fiz isso, ele se revelou.

Nesse momento, o mundo parou. Enquanto a minha chefe filha da puta se segurava para não rir, a única coisa que eu podia fazer era olhar de uma forma aterrorizada. Como diabos… Como diabos alguém consegue ser tão sem-noção?

É sério que ela realmente acreditou em todo esse papinho da Kuroda até agora? Eu realmente preciso educar essa garota antes que acabe rolando umas consequências desastrosas.

— Errado, Lyra. — Fez sinal de “não” com o dedo indicador. — Hoje não iremos usar métodos tão apelativos para conquistar a felicidade do Akazawa.

Ela disse “hoje”. Me pergunto se pretende fazer isso algum dia. Seria algo certamente interessante de se ver. Não que fosse funcionar, é claro! Já falei! Não tenho o menor interesse no corpo de uma desgraçada dessas!

Mas, óbvio, não era esse o plano. A garota de jaleco colocou uma poltrona na frente da televisão, apagando a tela onde minhas fotos antes estavam. Então, pediu educadamente para que me sentasse.

Não fazia ideia do que estava planejando, mas não parecia algo bom. Só que, no final das contas, já que tô aqui e o objetivo é me deixar feliz, não custa nada ver que tipo de coisa demoníaca ela estava pensando.

— Quando Akazawa Jundou era apenas um pequenino e fofo garoto, ele era capaz de sorrir. — Kuroda narrou, como se estivesse contando uma história de drama. — Então… traremos esse tempo bom de volta!

A tela da televisão se acendeu de novo para revelar algo que eu não esperaria ver de novo. A tela inicial de um jogo de video-game. Estilizado em 16-bits, era um jogo bem retrô. Dava para ver o cenário de uma fazenda clássica, com foco nos porquinhos pulando no chiqueiro.

Esse foi o primeiro jogo que joguei, quando ainda era um garotinho de 10 anos. “Porky Pig! Jump! Jump!” era o nome dessa obra de arte. Quase ninguém jogava isso na realidade, pois era cheio de bugs e tinha outras opções melhores para jogos de plataforma retrô.

Mesmo assim, me diverti para caramba aprendendo a abusar de todas as falhas para conseguir um tempo melhor. Infelizmente, nunca chegou perto de speedrunners famosos na internet.

— Como você sabia…? — Apesar de um pouco surpreso, era fácil imaginar como ela tinha descoberto isso.

— Ei, Akazawa. Eu estou me perguntando… Será que você consegue zerar o jogo no seu tempo antigo? — questionou, em um tom desafiador.

— Duvido muito… Já faz tanto tempo que não jogo isso. Nem sei se lembro de tudo. — Apesar de não acreditar muito na minha capacidade, tive uma vontade enorme de tentar.

Kuroda acenou com a cabeça e voltou seu olhar para Lyra. A alienígena parecia estar bem desanimada, como se tivesse sido deixada de lado. Isso não passou despercebido pela anfitriã, que foi até ela.

Mas no momento que se aproximaram, um ronco mais alto que um motor de carro soou da loira. Percebendo que ela estava com a fome de um leão e podia morder nossos braços a qualquer momento, a dona da casa soltou um suspiro.

— Bom, enquanto você se acostuma com os controles, Akazawa, eu vou dar para a Lyra alguma coisa para comer. — Ao dizer isso, apertou um botão diferente do controle remoto.

— Sim, faz isso. Coitada… — comentei, com um certo tom de pena na minha voz.

Logo após essa frase, pude ouvir o som das rodas de um carrinho de brinquedo passeando pelo piso. Para a minha surpresa, não era nada disso, mas um pequeno robôzinho, movido à rodas, que carregava uma bandeja enorme com algumas caixas de pizza.

O mais impressionante é que seus membros eram elásticos, de forma que, mesmo sendo bem pequeno, foi capaz de posicionar o conteúdo que carregava em uma mesa bem mais alta.

— Certo. Como eu sabia que a Lyra viria hoje, pedi algo bem especial para ela. — Kuroda abriu as caixas de pizza. — Pizza de fast-food, da mais gordurosa possível! 

— Isso lá é especial? — Com os olhos meio descrentes, continuei jogando. 

 — Sim! Porque, olha só, a Lyra está acostumada com dietas cheias de proteína, e muitas calorias. Só que ela não está acostumada com coisas como gorduras e doces. Se eu der algo muito calórico para ela cheio de gordura e açúcar, vai ser a coisa mais deliciosa que ela já comeu.

Ao ouvir isso, tive memórias ruins daquele dia que a nossa querida loirinha comeu pelo menos um quilo de sorvete em menos de uma hora. Estava com medo daquilo se repetir de novo, então a cortei.

— Não é uma boa ideia, não… Lembra do que aconteceu da última vez? 

— É, mas ei! Hoje é dia de festa! Deixa ela aproveitar. — A dona da casa pegou um pedaço de pizza e colocou na mão de Lyra. — Vamos! Coma! Coma! 

A alienígena deu uma mordida, mas ao invés de ficar maluca como antes, apenas relaxou os músculos do seu rosto, como se tivesse comido algo muito gostoso e continuou mastigando. Me pergunto se aquela situação de antes fez com que ela se acostumasse.

Parecendo satisfeita, foi para o canto, nos deixando sozinhos e levou toda a pizza junto para continuar comendo. Deu para perceber que isso realmente havia deixado-a animada, então não me incomodei.

Nesse mesmo momento, percebi que Kuroda colocou outro controle no console e sentou em uma poltrona ao meu lado. Seu sorriso parecia mais proeminente do que o comum, acho que havia planejado alguma coisa.

— Certo, você aprendeu de novo o que tinha desaprendido, já? — Olhou com antecipação. 

— Acho que tô de boas agora. Por quê?

— Nós vamos disputar, Akazawa! Quero ver se você consegue fazer um tempo melhor que eu.

Um desafio contra ela? Não sei muito o quanto essa garota deve ter jogado esse jogo de porquinhos pulando na fazenda, mas se o jogo está aqui, não faz sentido não ter sido jogado nunca, certo?

Será que o objetivo dela é me humilhar completamente na minha memória mais querida da infância? Aí rir da minha cara como uma sádica? Esse é o plano dessa desgraçada? Eu não posso cair…

Mas errado! Não vou me dar por vencido. Se ela quer tentar me derrotar, pode vir. Porque vou provar que nem a cabeça mais genial pode derrotar anos de experiência e prática! Você não perde por esperar, Ikkitousen Kuroda!

— Eu vou te destruir! — exclamei, com sangue nos olhos.

Hmmmm… Que safadinho! — ironizou, com um risinho meio erótico.

— Não desse jeito! — Fiquei todo vermelho ao ouvir uma coisa dessas.

— Essa é uma boa expressão…

Ao perceber que estava ficando animado, a garota me puxou de novo da poltrona, me trazendo para o centro da sala. Minha expressão continuava envergonhada, mas sendo arrastado por ela, fiquei ainda mais irritado.

— Ei, Lyra! Eu sei que você tá comendo, mas vem cá! — chamou, sem se importar com a minha reação.

A garota loira, ainda comendo sua pizza, se virou para os dois lados, de maneira inexpressiva, e então se voltou novamente para nós dois. Apesar de não estar entendendo, não se importou em parar de comer e apenas se aproximou de nós.

Com uma de suas mãos, Kuroda me puxava para ela, mas com a outra, catou seu robôzinho do chão e o lançou para a nossa frente. E então, aquela máquina me surpreendeu novamente. Se desfez das suas rodas e criou uma hélice no topo de sua cabeça.

Voando mais ou menos na nossa altura, o robôzinho revelou uma espécie de terceiro olho na parte onde deveria ficar sua barriga. O que diabos era isso? Assustador… Mas a dona da casa já parecia estar acostumada com isso.

— Certo! Antes do Akazawa me destruir do jeitinho que ele quer… — falou em um tom provocativo. — Quero algo para recordar as boas-vindas de vocês nessa casa, então… digam xis!

— Espera um pouco, eu ainda não tô pronto! — Aumentei o tom de voz, porque não queria que tirassem uma foto minha irritado de novo.

Mas o flash da câmera soou pelo menos umas dez vezes, tirando algumas fotos desastrosas, onde a única sorrindo era a Kuroda, pois eu estava confuso, e Lyra não parava de comer nem que algo aparecesse para matá-la.


— Desgraçada! — Ao ver a foto, fiquei irritado. — Eu disse que não tava pronto. E que história é essa de fazer chifrinho em mim!? 

Mas a maldita não tava nem prestando atenção em mim, pois olhava para a foto com uma expressão diferente. Seu sorriso, ao contrário da maioria das vezes, parecia mais adorável.

No momento em que vi isso, até recuei um pouco, mas, mesmo assim, fui incapaz de perder a marra, questionando a garota mais uma vez:

— Ei! Você tá me ouvindo!? — Coloquei minha mão no ombro dela, puxando-a para que olhasse para mim. 

— Estou sim, Akazawa. — De uma maneira inesperadamente gentil, me respondeu. — Vamos começar a nos divertir agora…? 

Um suspiro saiu de mim, assim que ouvi isso. Estava surpreso, talvez? Nunca havia visto essa garota realmente feliz. Seus sorrisos sempre eram os mais falsos possíveis. Suas ações, as mais toscas de todas. Então por quê?

Mesmo que não entendesse, no final das contas, minha vontade de ficar irritado foi totalmente derretida por isso. Assim, só pude responder, de uma forma contida:

— Pode ser…



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