Volume 1

Capítulo 12: Uma Jornada Inesperada

Roooonc!

O rugido de um leão foi produzido, fazendo com que eu acordasse. O pior de tudo é que esse barulho vem de mim. Ainda não entendo direito.

Meus músculos pareciam cansados como nunca antes, mas conseguia sentir o quão bem nutridos estavam com a comida de ontem.

Bom, nada que não possa ser resolvido com um alongamento. Por isso, levantei e estiquei minhas pernas e braços. Esse quarto tem muito espaço pra esse tipo de coisa.

Rooooooonc!

Esse som de novo… Por que é que quanto mais como a comida daqui, com mais fome fico? E aquele sabor era como nada que provei antes.

Quando coloquei aquilo para dentro, senti uma energia anormal preenchendo meu corpo. Como é possível que um círculo pequeno daqueles me dê mais sustância que carne de lagarto gigante?

Com uma nutrição dessas, serei capaz de me tornar a criatura mais forte do universo. Não é hora de perder tempo! Preciso comer mais e ver o que posso fazer com esse novo poder!

Empurrei a porta, pronta para começar minha jornada, e percebi que não fazia a menor ideia de onde estava. 

Mas é como meu pai sempre disse: se não existe um caminho, faça você mesma. Já morei em um palácio, uma casinha dessas não é nada demais!

Ok, retiro o que disse. Já andei uma hora por esse lugar e ainda não achei a sala de jantar. Isso é mais difícil de navegar do que o Labirinto de Nalifeimol. Como vou sair daqui? Como vou…

Ah, bom dia. Tá tudo bem aí? — Aquela menina, a Ikki, apareceu na minha frente e começou a perguntar coisas. — Eu só queria te perguntar por que você tá andando em círculos. 

— Em círculos? Eu percorri a casa toda e não achei o lugar onde se come. 

A garota gentil decidiu me salvar e me guiou pela casa, revelando caminhos que não pareciam existir antes. Não fazia sentido nenhum! Era como se a casa se comportasse de maneira diferente na presença dela.

Chegamos na sala de jantar, e fiquei surpresa que não tinha nada na mesa. No palácio, toda vez que eu ia comer, a mesa já estava totalmente cheia de tudo que você podia imaginar: pernas de lagarto gigante, um peixe inteiro assado por 10 minutos seguidos e, até mesmo, um prato de raek que ia até o teto de tantos grãos empilhados.

— Cadê a comida? Cadê a carne? — Olhei para todos os lados, pensando que talvez ela tinha escondido a comida embaixo da mesa pra fazer uma piada, mas não!

— Lyra, você acordou muito tarde. Já limpamos a mesa do café faz um bom tempo — respondeu Ikki, que mexia em um aparelho eletrônico pequenino.

— Eu preciso comer, ouve só isso. — Dei um tapa na minha barriga, que novamente produziu aquele som estrondoso. — Viu? Esse é o som que revela que, se você não me alimentar agora, eu vou passar mal.

Ela riu. Riu na minha cara. O que é tão engraçado? Eu estou falando apenas a verdade, não? Mas fiquei aliviada que sua resposta ao pedido foi positiva, porque foi direto para a cozinha preparar algo.

Como tinha medo de algo acontecer no meio do caminho, e minha comida não chegar, acompanhei a mulher, que parecia frágil, para protegê-la de qualquer perigo que pudesse afetá-la em sua jornada.

Mas logo percebi que minha preocupação não fazia sentido. Seus movimentos na confecção do alimento perfeito para mim eram mais rápidos que a estocada da espada de um dos guardas do palácio.

— Como vocês cozinheiros da Terra conseguem ser tão rápidos assim? O Akazawa também é assim quando corta cebolas. — Lembrei da primeira vez que ele tinha feito algo pra mim. — Apesar de que ele chora de pena das cebolas.

— Ele não chora por pena das cebolas. — Ikki deu uma risada e respondeu de prontidão à minha próxima pergunta. — É que as cebolas produzem um gás que irrita os olhos. Por isso, caem lágrimas deles.

— Isso é tipo um veneno. Então, por que não usam cebolas para a produção de bombas de gás irritante? Seria bem menos custoso. — Resolvi um dos maiores problemas do armamento moderno.

De novo, Ikki deu uma risada. Não entendi por que minha solução para um problema sério seria engraçada, mas permiti que ela continuasse, já que parecia feliz com isso.

A próxima coisa que vi na minha frente foi um prato grande de comida. Aquele alimento me parecia um pouco diferente. Vi vegetais, alguns elementos vermelhos que pareciam carne e um amarelo que parecia lava. Isso é seguro?

— O que é isso? 

Interessada pela minha questão, a garota se debruçou na mesa e começou a explicar, de maneira rápida:

— Isso aqui é um sanduíche. Aqui na Terra, é um prato muito versátil, que pode ser alterado pelo desejo do cozinheiro. A única regra é que tem dois pães e algum tipo de recheio no meio deles.

Pão. De acordo com o que sei, é uma massa feita de maneira bem semelhante ao macarrão que Akazawa usa em sua tigela de lámen. A diferença é que, nesse caso, é assada ao invés de fervida.

Apesar de alguns ingredientes serem difíceis de identificar, a carne também parecia muito com o que Akazawa havia me servido. Pensei em perguntar o que era aquela lava amarela, mas testar por conta própria seria mais interessante. 

Dei uma mordida na comida e soltei não apenas um “Hmmm!”, mas um “Hmmmmmmmmmmmmmmm!”, porque aquilo tava tão bom que merecia um reconhecimento da minha parte.

Mais do que isso, conseguia sentir minha força crescendo cada vez mais. Comi, comi e comi, até limpar o prato. Ikki me olhou como se estivesse orgulhosa dos seus feitos. Tem que estar mesmo!

— E aí? Melhor do que a comida do Akazawa —questionou ela com malícia no olhar.

— Não. A comida do Akazawa é melhor — respondi enquanto limpava minha boca com a toalha da mesa.

As bochechas dela se encheram com a minha resposta. Impressionante! Não sabia que o corpo humano era capaz disso. Ao mesmo tempo, senti uma pequena hostilidade. Me pergunto se esse é um aviso de ataque.

Por isso, mantive meus instintos em cheque. Agora que a garota frágil havia se provado muito habilidosa, não era bom estar despreparada para o que poderia acontecer caso usasse sua faca contra mim.

— Por que tá tão armada? — Sorriu falsamente. — Eu só fiquei meio chateada que não consegui superar o Akazawa.

— Bom, ele é um cozinheiro de verdade — comentei por cima, sem entender sua surpresa. — É que nem você achar que pode me vencer em uma luta.

Sem resposta,  Ikki apenas pegou o meu prato da mesa e levou para uma máquina esquisita, que estava encostada em um cantinho da sala de jantar. 

Por mais que não possa me vencer em uma luta, não iria querer matar uma aliada do Akazawa, então preciso tomar cuidado com essa sua hostilidade.

Falando nele, não o vi faz um tempo aqui, e minha intuição não dizia coisas boas. Fui descuidada em dormir tanto, já que protegê-lo é meu dever até que possa pagar minha dívida.

— Falando nisso, cadê o Akazawa? — Fiz essa pergunta para a pessoa mais suspeita da sala. — Onde colocou ele?

Ah, eu esqueci ele no congelador quando tava fazendo um teste. Agora ele deve estar congelado, mas relaxa! Daqui a 1 milhão de anos ele terá viajado para o futuro!

Peguei a faca da mesa e, em um momento, estava apontando para o pescoço da maldita. Para conseguir o que precisava, ameacei em um bom tom: 

— É bom você tirar ele de lá… 

Ikki empurrou a faca para o lado com seu dedo. Pensei em cortar o membro, mas não fazia ideia do que ela tinha em mente.

— Eu só tô brincando. O Akazawa foi passear pela cidade. 

— Onde? — Segurei a arma com firmeza.

— San’ya… — Um tom sinistro veio de sua voz.

Não consegui compreender o que foi dito, pois não sou daqui. Mas a forma de falar indicava que esse lugar não era nada interessante de se visitar. Pra onde… pra onde mandaram o único homem que eu precisava proteger?

— Bom, se você quer seguir ele, estarei te passando todas as informações da cidade em… agora. 

Uma dor de cabeça enorme me atingiu. Coloquei minhas mãos ao redor do meu crânio tentando conter, mas de nada adiantou, pois passou sozinho.

Após a enxaqueca sumir, senti que tinha ficado mais esperta. Sabia passo a passo como chegar até San’ya, além de informações básicas do local.

Me afastei de Ikki, porque estava claro que ela tinha mexido na minha mente. Queria atacar, mas todos instintos diziam que precisava fugir.

— O que você fez? — Mesmo com medo, mantive a postura de guerreira.

— Você disse que queria saber onde Akazawa estava. Te mostrei. — A aura de perigo continuava se mostrando nessa mulher.

Deixei escapar um suspiro. Eu estou assustada? Isso não faz sentido… Se quiser, posso partir ela no meio nesse exato momento. Então por que é que não estou atacando?

Isso é porque não consigo entender. Não é medo, e sim, cautela. Se você não reconhece uma habilidade, é importante descobrir os efeitos antes de brincar com seu oponente.

Além disso, prometi que não iria atacá-la agora. Mesmo que meus instintos digam que ela é hostil, Akazawa me disse para pensar se vale a pena lutar. Considerando que Ikki passou todas as informações que eu precisava, imagino que não deseje me atacar.

— Desbloqueei a saída para você — murmurou, em um tom seco. — Voltarei para meus aposentos agora. Não me incomode se não for importante. Bom, não que você vá me achar…

Vi uma luz rosa aparecendo no lugar do corpo dessa mulher e então… não estava mais lá. Simplesmente sumiu. Fez puft. E então, percebi que meu corpo havia se afastado do local do teleporte.

— Que sensação é essa…?

Certo. Agora estou fora de casa e já andei um bocado até sair do condomínio. Akazawa me disse que as ruas de Tóquio eram como uma selva, e consigo entender porque. É bastante difícil passar por todos esses animais de quatro patas no meio do caminho.

Ele disse que, sempre que visse um carro se aproximando, devia esperar quietinha até que ele passasse. E foi isso que fiz. Esperei… esperei… esperei e…

— Ei, mocinha. Com licença. — Um cara velho, mas não careca, apareceu.

Hm. O que foi? Precisa de ajuda para atravessar a rua? — questionei, pois Akazawa sempre ajudava uma velhinha careca a atravessar a rua.

— N-não… não é isso. — Ficou com medo da minha gentileza. — É que eu já passei por aqui quatro vezes e você ainda tá no mesmo lugar… Por acaso está esperando alguém?

Olhei para os lados, vendo que havia muitos carros parados a até dez quilômetros do meu raio de visão. Pareciam estar esperando algo. Provavelmente que cruzasse a rua para que pudessem me atacar.

— Me disseram que eu não podia atravessar a rua se visse carros. E aqueles carros estão ali. — Apontei para as bestas selvagens.

Am… Mas aqueles carros ali estão esperando a sinaleira abrir. Eles não vão correr por um bom tempo. Você pode atravessar.

Aquilo abriu minha mente. Ele disse que os carros não iam andar por um tempo, o que significa que posso atravessar. Então…

— Quer dizer que se eu puder atravessar mais rápido antes que os carros venham, posso passar? — Tentei confirmar minha dúvida.

— É… sim. Tipo, se os carros estão parados você pode…

Isso era tudo que precisava saber. Aquelas coisas não correm tão rápido quanto eu, o que significa que nunca iriam me atingir. Então, só preciso cruzar sem deixar me acertarem. Ainda bem que esse senhor me avisou.

Observei minhas mãos. Fazia um tempo que não utilizava isso para nada. Me pergunto se calejei. Concentrei minha energia nos meus amplificadores e…

Zuuuuuum!

Barreira Sônica ativada nos pés. Isso vai diminuir a fricção. Posso correr mais rápido sem nenhum castigo.

Boooooooom!

Passando com a minha velocidade máxima, desviei de todos os veículos que vinham no meu caminho. Alguns perderam a compostura e acabaram se chocando. Bom, parece que são tão idiotas quanto animais mesmo.

As informações na minha cabeça dizem para pegar um trem com o intuito de viajar até San’ya. Mas, de acordo com meus conhecimentos, para entrar nessa coisa preciso de dinheiro.

— Só vou acelerar até chegar ao destino… — Materializei a direção apontada pela minha mente e segui.

Com tanto peso que o caminho até a cidade ocupou na minha mente, esqueci de tentar descobrir questões importantes sobre o local. É bom saber o que vou encontrar lá.

Vamos ver… A cidade de San’ya é conhecida por ter 0% de população humana. O único tipo de criatura que você vai encontrar lá é… 

— Mercurianos? 



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