Volume 1
Capítulo 23 - Choro do bebê
Assim que todos voltaram para a caverna, Chang controlou melhor sua dor de cabeça cerrando os dentes e se sentou para Cultivar, ela devia sentir Zyou antes que eles precisassem usar ele, e isso deveria ser o mais rápido possível.
Fanji e Taki concordaram com a ação e cada um deles levou um, Lily e Martin, para treinar, eles deveriam acelerar isso.
Sobre Fernando e Ana? Isso teria que ser deixado para depois, eles não tinham mais tempo, na verdade, talvez eles não tivessem tempo nem mesmo para o básico.
— Fernando, Ana, eu sinto muito… mas vocês vão ter que esperar— disse Fanji irritado, ele mesmo tinha planejado cuidar deles mesmo que gastasse muito tempo, ambos eram tipos de pessoas que ele gostaria de ter como amigos, mas eles não tinham tempo agora.
— Eu juro que farei tudo que eu puder para ajudar vocês, mas isso vai ter que esperar… e por favor, não façam barulho — Ele então chamou Martin para perto e murmurou ao garoto — Se você se distrair novamente, eu vou te dar uma surra.
Martin tremeu por um momento, mas entendeu que agora ele não podia mais errar, a situação não permitiria um erro. Claro, ele desejar e conseguir fazer eram coisas diferentes.
Taki tinha uma ideia, mas ele não tinha certeza disso e se estivesse errado as consequências seriam desastrosas, então decidiu manter a boca fechada até ter uma hipótese mais firme.
Levando Lily para ajudar ela, eles deixaram Fernando e Ana junto dos três pequenos e do bebê. O grupo não era uma combinação muito boa, pois eles não poderiam fazer muito, uma vez que levar qualquer um dos menores seria super arriscado.
Por sorte o pequeno trio ainda estava com dor de cabeça e pareciam muito parados, como se tivessem levado uma surra e desejassem dormir novamente.
Quando o primeiro dos três caiu no chão, os outros dois logo o seguiram e desmaiaram em uma pilha, dormindo profundamente.
— Bem… e agora? — questionou Ana, eles entenderam a situação e por isso aceitaram as coisas como estavam indo, além de que eles já não tinham esperança de qualquer forma.
— Não tenho ideia… quer tentar esconder a caverna? — a toca do crocodilo não poderia ser chamada de uma caverna de verdade, mesmo assim isso era na opinião de alguém especializado, para as crianças, um buraco na parede pode muito bem ser uma caverna.
A ideia de Fernando era de tentar tapar a entrada com folhas e lama, para que assim fosse mais difícil achar o pequeno grupo. Ana gostou da ideia e eles decidiram fazer isso.
Porém, antes que dessem uma passo em direção ao seu plano, eles viram que o bebê estava com uma expressão amarga, como se fosse chorar a qualquer momento. Talvez fosse por causa da dor de cabeça que todos sentiram antes, seria normal o bebê chorar nessa situação, ou por outro motivo, o ponto era que ele estava armando o choro.
Rapidamente o casal pegou o bebê e o tirou dali, Fanji havia pedido que eles fizessem silêncio por um motivo, o choro do bebê certamente quebraria o silêncio e a concentração de Martin.
Fernando pegou o bebê no colo e saiu da caverna o mais rápido que pode, no mínimo ele tentaria tirar o bebê de dentro da caverna para não quebrar a concentração dos outros.
Como Taki tinha verificado os arredores há poucos minutos, eles se sentiam seguros o bastante para fazer barulho lá fora, pois levaria ao menos algumas horas até que alguém se aproximasse do pântano, então, pelo momento, eles deveriam estar seguros.
Sem perder tempo o bebê começou a chorar alto, tanto que atrapalhou um pouco as pessoas no esconderijo, mas não foi o suficiente para Martin, Lily ou Chang se distraírem, no máximo Fanji e Taki ouviram o choro.
O casal desejava que o bebê parasse de chorar, mesmo que no momento fosse relativamente seguro, quem poderia prometer o mesmo se o choro continuasse?
Fernando começou a fazer caretas, como tinha feito antes para acalmar as crianças, mas só parecia ter piorado tudo, pois o choro estava ficando mais alto.
— Isso não pode ser por conta da dor de cabeça — disse Ana pensando um pouco no assunto, o bebê começou a chorar, mas isso foi depois de tudo aquilo… — Será que ele está com mais fome?
Ana então tentou dar mais comida a ele, mas não funcionou, e mesmo depois de alguma forma conseguirem se alimentar mais um pouco, o bebê vomitou logo depois…
Então eles tentaram uma série de coisas, primeiro Ana tentou acalmar o bebê o balançando em seu colo, mas isso não adiantou. Fernando tentou dar alguns tapinhas nas costas dele para ver se acontecia algo, ele tinha visto isso uma vez e parecia dar certo.
Infelizmente tudo continuou igual, eles então tentaram cantar algo para o bebê, mas por talvez eles não fossem os melhores cantando, ou simplesmente a ideia não era tão boa assim.
Fernando então pensou em algo e levou o bebê para longe de Ana antes de verificar se ele tinha alguma assadura ou coisas assim. Porém, ainda não encontrou o motivo.
Eles simplesmente não sabiam o que fazer, foi então que ambos ouviram algo bem baixinho.
— Isso… muito, isso doí muito…
Eles imediatamente congelaram no lugar, eles não conheciam essa voz, isso significava que mais alguém estava ali. No mesmo instante eles começaram a olhar seus arredores, mas não viam ninguém por perto.
Isso não fazia sentido, eles tinham claramente escutado algo, caso contrário os dois não teriam reagido da mesma forma, e sim só um deles teria reagido.
A voz logo foi ouvida novamente, na mesma intensidade de antes, baixa e quase imperceptível.
— Maldito… maldito homem malvado… isso doí.
A voz se repetiu, porém, diferente de antes, ela se referia a uma pessoa agora, e claramente parecia que a pessoa que falava odiava alguém, a voz parecia cheia de ódio, mas também um tanto infantil…
Isso não é algo muito estranho, uma vez que todos os presentes deveriam ter menos de quinze anos de idade, os participantes seriam somente crianças e adolescentes, eles tinham até um bebê com eles… “Espere, um bebê?”
Fernando teve um pensamento e arregalou seus olhos contemplando a possibilidade, Ana olhou para a expressão de Fernando e chegou em uma conclusão semelhante, era uma possibilidade, e por mais irreal que parecesse, era algo possível.
Uma vez que pessoas podem destruir alguns pedaços da parede sem tocar nela, não seria possível da mesma forma um bebê conseguir falar?
A possibilidade não parecia impossível, no entanto, seria mesmo possível? E mais, quem seria o homem malvado dito pela voz se o dono fosse o bebê, Fernando? Ele causou alguma dor ao bebê de alguma forma?
Pelo que ele se lembrava, não houve nada que pudesse machucar de alguma forma o pequeno bebê que estava em seus braços, pelo contrário, ele e Ana cuidaram muito bem do pequeno, mas se fosse a voz do bebê, quem seria essa pessoa?
— Você não acha que… — disse ela olhando para o bebê antes de voltar a olhar seu noivo — a voz é dele, certo?
— Eu iria te perguntar isso agora — comentou Fernando, sentido-se um tanto louco por aceitar a ideia como uma possibilidade real.
— Certo, eu desisto. Fernando, eu estou louca, por favor me tire desse lugar e vamos voltar para casa! — disse ela batendo o pé no chão e sacudindo os braços como se desejasse aliviar a raiva, mas a ação não adiantou muito e sua raiva não parecia passar.
Quando coisas ruins apareciam, elas sempre vinham junto de outras dez, isso parecia verdade para Ana, que só desejava viver sua vida sem problemas ou complicações, mas agora está indo de um lado para o outro sem saber como estavam seus pais, sua família ou se sequer ela teria a chance de os ver novamente.
Fernando também quis reclamar, pois a situação parecia sempre piorar quando eles estavam começando a melhorar.
Independente dos desejos de ambos, eles tinham que seguir em frente se desejassem ter a mínima chance de sair desse lugar insano.
Sentindo-se estúpido por pensar em fazer isso, mas se entregando ao destino, Fernando pegou o bebê no colo e perguntou: — Por acaso a voz que eu escutei é a sua?
Ana olhou para Fernando com uma expressão estranha. A ideia era bizarra para começo de conversa, e a fala de Fernando parecia ter tornado tudo ainda mais estranho.
Sem resposta, Ana pegou o bebê do colo de Fernando e disse, olhando para os olhos azuis do bebê que ainda chorava: — Ei, foi você quem falou agorinha? Que história é essa de um homem malvado? O que está te fazendo chorar?
Fernando olhou para sua noiva com tanta estranheza quanto ela o encarou há alguns segundos atrás.
O bebê continuou chorando, o que era horrível para eles, pois poderia denunciar sua posição, e isso seria fatal. Sem conseguir pensar em melhores alternativas, o jovem casal tentou balançar o pequeno bebê no colo e fazer alguns barulhos que as pessoas fazem perto de bebês quando queriam que eles sorrissem.
Infelizmente, não adiantou de nada, então ambos começaram a fazer uma série de truques. Encenações engraçadas, mais caretas, cócegas no bebê, qualquer brincadeira infantil que algum deles pensou que funcionaria... eles até tentaram fingir tropeçar para ver se conseguiam algo.
Porém, nada estava se provando eficaz, e isso os preocupava muito, quase desesperados com tudo isso. Devido ao evento que tinha acabado de ser anunciado, uma caça, e sem sombra de dúvidas, seu pequeno grupo era uma presa fácil.
Pelo nome, "caça ao divino", as forças da luz, ou melhor, os aliados dos anjos foram designados como alvos. Humanos inclusos nisso. Portanto, o choro do bebê era uma ameaça potencialmente fatal, mas... o que eles podiam fazer se o bebê continuasse a chorar?
Foi então que a mesma voz abafada e baixa soou novamente, mas desta vez ela parecia bem mais irritada. — Seu... malvado, homem malvado... eu te odeio... um dos dois, faça alguma coisa... já.
Fernando olhou para sua noiva, que estava o encarando de volta. A voz era mesmo do bebê? Nesse ponto, parecia ser mais provável... seriam eles os 'dois' referidos na frase? Se sim, o que eles deveriam fazer? Já tentaram quase tudo.
Fernando logo inicia uma linha de raciocínio. "Não é comida, não conseguimos fazer ele sorrir com coisas normais, então poderia ser dor? Se for dor... talvez eu consiga fazer algo para aliviar a dor? Febre não é, isso eu já confirmei, mas eu posso aliviar a dor."
Com esse pensamento, ele deixou o bebê com Ana e saiu correndo para o pântano dizendo: — Já volto, tive uma ideia!
Sem decepcionar, o pântano estava cheio de ervas estranhas. Na primeira vez que ele passou por aqui, enquanto caminhavam para o ninho do crocodilo, antes de Fanji e Taki o derrotar, já era tarde e a luz estava baixa, dificultando sua visão.
Naquele momento, Fernando não percebeu, mas eles tinham passado por diversos tipos de ervas. O pântano era rico em ervas, e o jovem era alguém que poderia ser considerado um bom conhecedor delas.
“Flores azuis com um caule amarelo, eu estou procurando uma erva que possa servir como analgésico, a erva Flor-da-noite deve ser o bastante.”
A erva era relativamente comum e seus efeitos eram fracos, o ideal para um corpo pequeno como o de um bebê. Usada normalmente como relaxante para guerreiros feridos, a flor azul tinha efeitos que entorpecem o corpo, servindo como um analgésico geral.
Não é o ideal, com uma junção de algumas ervas ele poderia muito bem-fazer um remédio eficaz, mas agora ele não tinha tempo de procurar tantas ervas, muito menos um caldeirão para cozinhar elas e preparar o remédio.
Sentindo que a ideia deveria funcionar, Fernando se animou e acelerou sua busca… verdade seja dita, ele não poderia acelerar sua busca, mas ainda assim ele conseguiu fazer seu melhor com a recente adquirida esperança, isso enquanto ouvia os sons do choro no fundo, de sua busca.
“Eu preciso achar isso logo.”