Mestre das Palavras Douradas Japonesa

Tradução: Rodizipa

Revisão: Themis


Volume 1

Capítulo 2: Colegas de Classe

Algumas dúvidas surgiram. Ele percebeu que o seu nível era 1. Se esse era um mundo com um sistema parecido com o de RPGs, era natural, já que ele ainda não tinha lutado.

Mas... por que seu MP era tão alto? Seria algum beneficio de ser um Viajante de Mundos com uma grande taxa de poder mágico, como informado há pouco?

Além disso relembrou, "HP se refere a resistência, MP era poder mágico, EXP experiência, PROX indica os pontos de experiência necessários para o próximo nível. ATK, DEF, AGL, HIT e INT respectivamente simbolizam ataque, defesa, agilidade, chance de acerto e inteligência. Essas são expressões usadas em jogos..."

Hiiro se surpreendeu com sua alta agilidade, mas ainda mais surpreso com o título:

"Observador Inocente"

Era a indicação clara de que ele foi arrastado com os quatro Heróis. Em outras palavras, Hiiro não era um Herói, mas uma pessoa comum. Apesar de curioso sobre sua mágica, poderou sobre como explicar a situação.

Enquanto pensava, Rudolph perguntou a eles: — Então? Em "Títulos" deve constar "Herói".

— Si-sim, está aqui! Diz Herói aqui! Uau- Incrível, eu realmente sou um Herói! — Taishi foi o primeiro a responder com a voz excitada. — E você, Chika?

— Também tenho, Taishi! — Quem respondeu a pergunta do garoto foi Suzumiya Chika. Ela era uma garota popular e comunicativa. A sua atitude aberta e direta em lidar com as pessoas conquistou os outros. O seu cabelo curto era descolorido como o de Taishi, bem claro. Era pouco dotada no quesito peitos, mas o seu corpo esbelto de atleta nata era muito atrativo.

— Bom! E vocês, Shuri, Shinobu? — indagou, chamando as outras duas garotas.

Minamoto Shuri era linda. Tinha um longo cabelo preto e, diferente de Chika, o seu corpo voluptuoso atraía olhares masculinos. Pertencia ao clube do chá, e era vista com certa frequência usando um kimono. O seu jeito de olhar e uma pinta logo abaixo do olho estavam inclusos nos seus pontos charmosos.

A outra garota, Akamori Shinobu, brilhava de curiosidade. Ativa no Clube do Jornal, planejava encontrar emprego na área no futuro. Também era muito falante e inteligente, o que levava muitos a pedirem a sua ajuda nas avaliações. O seu cabelo levemente ondulado pousava sobre os seus ombros, e, em seus olhos de gato, uma determinação felina podia ser vista. Além disso, ela era de Kansai.

O que as três tinham em comum? Eram atrativas e membras do harém de Taishi, sempre perto dele. Como as duas últimas também tinham o título de Herói, os olhos se focaram em Hiiro.

— E você? — Taishi perguntou.

— Não. — respondeu com uma única palavra, que causou um alvoroço.

— Então que tipo de título você tem?

Era perturbadora a forma como eles encaravam, mas Hiiro respondeu com honestidade: — "Observador Inocente"...

Com essas palavras, os quatro colegas de classe mudaram de atitude. Apertaram os lábios, sem saber o que dizer. Lilith olhou para baixo, hesitando em responder. O garoto suspirou enquanto olhava para ela antes de falar no seu lugar: — Eu sou só uma pessoa normal. Alguém que estava no lugar errado na hora errada, por isso vim com eles, certo?

— Uh-hum... — Lilith murmurou.

— Ei, pera aí! Okamura, que tom é esse? — Chika gritou apontando o dedo para o colega.

Hiiro a ignorou e continuou, citando os fatos sem animosidade: — Inicialmente quatro pessoas deveriam ser invocadas, e eles estão aqui. Eu sou a anomalia aqui, pra falar a verdade. O que vocês farão a respeito disso? — Embora suas palavras não fossem hostis, Lilith empalideceu com a culpa de tê-lo invocado por engano. — E não sou só eu. Esses caras também foram arrastados pra cá por que vocês quiseram. E nossas famílias? Tenho certeza que estão preocupadas com a gente.

A expressão de Lilith ficou ainda pior.

— Você está certo. Só podemos pedir o seu perdão nesse assunto. — O rei ofereceu suas desculpas. Hiiro pensou que ele iria inventar alguma defesa, mas Rudolph estava consciente das suas ações. — Mas não tínhamos outra escolha.

— Para ser honesto, não me importo com as suas circunstâncias. — Hiiro foi incisivo, deixando todos sem palavras por alguns intantes. — E eu não tenho conexão alguma com esses quatro.

Taishi ergueu o tom: — Ei, Okamura! Não somos colegas de classe?!

— Sim, mas só por causa da decisão escola.

— Isso está indo longe demais... — Shiro tentou apaziguar os ânimos.

— Sim, estamos finalmente juntos...  — Shinobu acrescentou, antes de ser interrompida por Hiiro.

— Vocês dizem isso, mas nunca troquei uma palavra sequer com vocês nos quatro meses que estivemos na mesma classe.

Isso era um fato. Hiiro gostava de ficar sozinho, então não tinha proximidade com colega algum, quem dirá esses quatro. Dormir, comer, ler. Essa era a sua rotina. O quarteto se calou com as palavras dele. Como dito, eles não se falavam, mesmo estando na mesma turma. Além disso, o grupo escolheu não se aproximar e conversar com ele.

— Ok, como eu estava dizendo, não tenho ligação com esses quatro. Vocês querem os Heróis, né? Então eu sou inútil pra vocês.

Rudolph ficou perplexo, então Hiiro continuou: — Já que eles são os tão poderosos Heróis, podem dar um jeito de lutar contra os Evila, certo? Mas eu sou um Zé Ninguém. Vocês não me enviariam para lutar contra essas criaturas perigosas. Ou enviariam?...

— Então deixe-me te perguntar... O que você deseja? — falou o rei depois de um suspiro.

— Voltar para casa.

— Os documentos falam que o Senhor dos Demônios sabe a magia que vos levará para vosso lar. — As palavras de Rudolph ressoaram pelo lugar e a expressão de Lilith voltou a ficar feia. Vendo isso, Hiiro fechou os olhos em silêncio.

— Então temos que derrotar esse cara o mais rápido possível!

"Que idiota..." Hiiro pensou. "Mesmo se o Senhor do Demônios soubesse essa magia por que você iria derrotá-lo?" Ele estava descontente com as palavras de Taishi.

— Si-sim! Além disso, nosso país é maravilhoso, você vão gostar dele. Sem falar que vocês são quase que da família agora. — Vendo o rei tentando persuadi-lo desesperadamente, Hiiro moveu os ombros.

— Estou preocupada com minha família... — Chika murmurou e os outros concordaram.

Um sábio deu um passo a frente e tranquilizou-os: — Não há necessidade disso... Para falar a verdade, vocês foram esquecidos.

— Esquecidos? — Foi uma informação chocante.

— Não se preocupem. — O homem continuou. — Há forças que trabalham para manter as coisas coerentes no seu mundo. Assim que vocês voltarem, as coisas voltarão ao normal.

"Que mentira..." Hiiro chegou à conclusão observando a atitude do sábio. "Tudo o que ele disse... mentiras descaradas. Ele tá falando isso só pra nos convencer, nada é verdade. Pelo menos nenhuma das palavras deles. E isso sobre ser esquecido... tsk. Tenho minhas dúvidas sobre isso também..." 

O rapaz olhou para os outros, se perguntando se mais alguém chegou a essa conclusão. Taishi certamente não. Chika também. Apenas Shuri e Shinobu franziram a testa com a história.

"Bem, não faz diferença pra mim o que eles decidirem. Eu... eu posso fazer o que quiser."

Okamura Hiito cresceu em um orfanato. Foi deixado lá ainda jovem, depois que os seus pais morreram em um acidente. Lá ele fez alguns amigos, mas, acima de tudo, leu. Lia todos os dias; os livros eram mais amigos dele que os humanos. Claro, ainda tinha alguns parentes, mas não tinha alguém para quem voltar no mundo real; então ele não se importava de ter que ficar mais um pouco nesse lugar.

Lilith, sabendo que não havia caminho de volta, cobriu o rosto por um tempo. Ela parecia se sentir culpada pela mentira.

Taishi e as garotas conversaram entre si, entendendo que não tinham como voltar, pelo menos por um tempo.

— Como Okamura disse, vocês nos conjuraram aqui por seu desejo egoísta. Eu acho que isso foi muito rude da parte de vocês. — falou ele.

— Mas... — O rei começou a se explicar.

— Nós vamos fazer isso! — interrompeu o garoto.

— Vocês vão? — Rudolph levantou a voz.

— Nós sempre quisemos explorar um mundo assim — explicou Chika. — A gente joga uns RPGs online, sabe? Seria legal colocar tudo aquilo na prática, nós nos encontrávamos com frequência pra jogar. Decidir onde seria a aventura... Vai ser ainda melhor na vida real.

— E-então vocês vão aceitar? — O rei estava animado.

— Sim, mas em troca... — Shinobu interrompeu. — Vi nos status que somos LVL 1. Ou seja, somos iniciantes.

— Está certo. — confirmou Rudolph.

A garota continuou: — Não podemos lutar contra o Senhor dos Demônios assim. Então queremos que vocês nos ensinem a lutar.

— Não se preocupe. Sobre isso...

Nesse momento, uma pessoa de armadura se mostrou e interrompeu o monarca: — Eu assumirei a partir desse ponto, Herói. Meu nome é Vale Kimble, e foi confiada a mim a tarefa de ensiná-los a lutar.

— Esse é o Capitão da Segunda Divisão do nosso exército. — apresentou Rudolph.

Era um homem impressionante, com um rosto que emanava nobreza. Com um olhar superficial no seu corpo podia-se ver o quão treinado era. Com o curto cabelo verde, os seus olhos emitiam grande força de vontade.

Sem grande surpresa, as mulheres o encararam. Apenas Chika olhou inexpressiva e desinteressada.

— Em outras palavras é ele quem vai nos treinar?

— Sim. — respondeu o rei. — Vamos aproveitar que as fronteiras estão pacíficas. Quero que vocês fiquem fortes antes que elas fiquem turbulentas novamente.

— E onde iremos morar?

— Preparamos quartos no castelo. Lilith irá mostrá-los em breve.

A discussão continuou e o grupo de Taishi parecia decidido em lutar. Nesse ponto, Hiiro ergueu a mão: — Desculpa interromper, mas eu vou agir por conta própria. — Ele calou todos novamente com suas palavras. — Eu não tenho obrigação, razão ou causa alguma para lutar por esse país. Nem sou um Herói como eles. Então por que eu ficaria aqui?

Rudolph respondeu: — Mhm... Mas...

— Desculpe, mas eu não sou sensível como esses quatro. — interrompeu o garoto. — Já que estou aqui, vou fazer o que quiser. Vocês não se importariam, certo?

O monarca parecia preocupado. Hiiro não era um Herói, mas uma pessoa comum. Não parecia forte. Cabelo preto, olhos escuros, cerca de 1 e 80 de altura, não muito musculoso. O seu único ponto de charme se devia aos óculos: em questão de aparência era inferior a Taishi. Com um corpo desses era difícil imaginá-lo lutando.

Mas o fato era que eles o invocaram. Abandonar ele sem nada seria um absurdo.

— Me desculpe por tudo. Tem algo que possamos fazer por ti? — perguntou o rei com tato.

— Nada.

— Nada? — Rudolph ficou surpreso.

— Sim. Mas não guardo rancor. Esse mundo deve ter uns livros interessantes, então estou satisfeito. — Hiiro também era um garoto, claro que admirava aventuras. Não precisava ser grandes como as de um protagonista de um livro, ele estaria satisfeito em apenas viajar pelo mundo. — Bem, não tenho mais nada a fazer aqui. Tchau pra vocês.

Dizendo isso, estava prestes a deixar a sala do trono, mas Taishi o agarrou pelo braço antes: — Ei, você ainda se considera um homem, mesmo de pois de agir desse jeito?

Hiiro o encarou, confuso.

— Eles estão abaixando a cabeça deles aqui! Você não sente vontade de ajudar? — continuou o outro, ainda segurando o braço do colega.

— Não.

— Por quê?!

— Por que eu não sou nenhum Herói. Ou o quê, vai me usar de isca?

— I-isca? — Taishi soltou o aperto e liberou Hiiro.

— Esquece esse cara, Taishi. — falou Chika. —  Né, duas?

— Ehh... eu... — Shuri desviou o olhar, enquanto Shinobu encarou o rapaz.

— Concordo com ele. Digo, isso tudo pode até parecer um jogo, mas é real. Em outras palavras, estamos arriscando nossas vidas aqui. E nós quatro... Nós somos os Heróis, então vamos ficar fortes. Mas é diferente pro Okamurachi. Ele é só um cara normal, se coloquem no lugar dele...

As palavras da garota calaram os outros três. Ela tinha argumentos válidos: isso não era um jogo. Pessoas morreram tentando invocá-los; era uma situação séria.

— Certo. Vamos fazer isso por conta própria! — exclamou Taishi.

Hiiro se virou para a porta e se preparou para sair, mas antes que pudesse se retirar, ouviu um chamado vindo de Lilith: — Uh-Uhm!

Ele parou e olhou sobre o ombro.

— Me desculpe! — suplicou a princesa.

— Não se preocupe. — respondeu.

E, assim, deixou o local. 



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