Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 8 – Arco 3

Capítulo 75: Procurando a verdade.

Shiori



— Eu… acho que ela está mentindo. — disse Hideki.

Estava falando com o Hideki sobre tudo o que aconteceu, afinal de contas… ele foi a única pessoa que ainda continuou comigo.

— Tipo… não consigo imaginar a tia falando isso… — ele suspira fundo… — Acho que seria impossível tentar mudar sua mente agora.

— Eu quero… correr atrás dela.

— Eu sei.

— Você vem comigo?

— Eu já respondi, não? Vou a qualquer lugar que você vá.

Estava com medo do que iria acontecer comigo, mas o que Hideki disse é verdade. Mamãe simplesmente não iria dizer essas coisas e ir embora, tinha muito mais por trás de tudo isso, percebi apenas quando ele falou isso. 

Mamãe é uma pessoa simples, procura o máximo não afetar os outros com suas escolhas, e se isso chega perto de acontecer, ela imediatamente começa a se afastar da pessoa. Eu sabia disso, e ainda por cima, sabia agora que ela era uma deusa, tal memória que não deveria estar na minha mente.

Os dias se passavam e quanto mais pensava nesse assunto, pior ficava a minha vida. Hideki fazia minhas refeições e me ajudava de alguma forma, mesmo que às vezes parecesse extremamente chato. Eu queria procurar pela mamãe, mas não sabia por onde começar… e esse era meu dia inteiro.

Pensar e nunca chegar a uma conclusão.

Os dias tristes voltaram piores do que nunca, não consegui pensar em nada e saber disso me frustrava imensamente, todos os meus erros estavam na minha mente… e o pior de todos que me culpava ao extremo.

“Meu nascimento é culpa minha.”

Nada mudava isso da minha mente, mamãe sofria o dobro simplesmente para me dar uma vida teoricamente boa, ela tentou seu máximo e não consegui aproveitar tudo o queria, afinal de contas, pensei que seria para todo o sempre.

Hideki ao ver nessa situação apoia a cabeça no meu ombro…

— O-O que é isso…

— Consegue ver?

— O que?

— Você não está sozinha…

— …

— Não importa o quão errado seja seu próprio pensamento, o quão ruim seja… eu estarei aqui para te ajudar, não importa o que aconteça. Então por favor… não tente procurar pela resposta sozinha. Me deixa totalmente desanimado tentar chamar sua atenção com algo que já sabe…

— Eu… eu não posso… — tentei responder.

Quis chorar por tudo dar errado, mas não conseguia. Ter alguém na presença dos meus soluços me fazia parar completamente, não queria que alguém visse algo tão feio como eu chorando, especificamente quando essa pessoa é ele.

Meus olhos se encheram de lágrimas, mas aos poucos iam se esvaziando, até Hideki me abraçar e eu sentir o calor de seu corpo.

— Neste momento não estou te vendo, pode chorar a vontade.

Me segurei o máximo que podia, mas naquele momento… naquele maldito momento, tudo o que eu precisava era de um ombro para chorar, um conforto, só consegui achar esse lugar por conta da única pessoa que esteve comigo todo esse tempo, Hideki.

Meus olhos se encheram de lágrimas e comecei a chorar. Esse dia terminou comigo chorando nos braços do Hideki, e ele me colocando para dormir.

Nos dias seguintes tudo foi andando aos poucos, começamos a sair a procura da mamãe e com isso encontramos a Lola que também tinha ido embora, ela estava cuidando agora de um castelo enorme no meio da cidade.

— O que estão fazendo por aqui? — pergunta Lola.

— Estamos procurando a mamãe… — respondo.

O rosto que ela faz é confuso, mas olhava diretamente para o Hideki.

— Certo… talvez eu vá ajudar vocês.

Lola nos levou para dentro do castelo… e em minha visão, me lembra um lugar que já fui uma vez na vida, uma academia. Todo o drama que passamos por lá na verdade é o lugar que Lola morava. Quem sabe se ela não era a real diretora… não, ela não era, eu estou pensando em muita merda.

O lugar era extremamente lindo e estava impecável na limpeza, algo que normalmente não era visto por aqui, não havia ninguém naquele lugar sem ser a Lola, e tudo estava perfeitamente bem… como se fosse novo. Ela nos leva para um quarto gigante e assim se prepara para falar algo que talvez fosse chocar a gente para todo o sempre.

— Olha… talvez vocês nunca mais vão vê-la.

Ela disse como se fosse nada, mas no geral… dava para perceber que Lola se preparou muito para falar algo do tipo.

— Ela… está em um lugar que é… impossível de ir, pelo menos para pessoas como vocês…

A notícia parecia vir diretamente do coração de Lola, mas isso não importava pra mim, eu queria realmente ver a mamãe novamente, e como o Hideki me disse, queria tanto saber o que ela queria falar pra mim de verdade, não era isso o que estava na sua mente, eu sabia disso…

Mas…

— Por favor, Lola… eu quero ver a mamãe, eu quero… poder conversar com ela uma última vez… eu sei que você consegue me ajudar nisso!

Minha reação, e tudo o que estava fazendo, simplesmente quebrou as barreiras da Lola.

— Ah… como uma pessoa que te viu crescer, é realmente impossível negar algo, ainda mais quando se trata da sua mãe…

Lola se aproxima e toca as nossas testas.

— Peço pra Deus que o caminho dos dois seja iluminado…

O silêncio era o que deixava todo o lugar extremamente desconfortável.

— Eu vou ajudar vocês a chegar onde querem, mas isso é só por um tempo, depois deixarei por vocês mesmos.

— Mas, por que isso? — Hideki perguntou.

— Não aguentaria ver o que pode acontecer com vocês.

Lola me olha e diz:

— Ela está em uma luta que não pode ganhar, isso porque Solveig queria tanto poder viver com você, Shiori…

— Mas ela pode…

— Não pode. Deuses não podem ter filhos, isso se deve pelo motivo de que o poder especial dos deuses poderia passar para outra pessoa e assim criar uma legião infinita de deuses, por isso não podem ter filhos. Solveig está lutando justamente por conta dela ter uma filha e querer salvá-la a todo custo. Saiba de uma coisa, Shiori…

— O que?

— A Solveig não quer que você saiba disso, ela não quer que você saiba que ela é na verdade uma deusa, por isso… tente de qualquer forma ficar longe dela e seguir seus passos, quando tudo parecer bem você poderá perguntar pra ela o que realmente aconteceu.

— Mas…

— Sem mais, não há motivos para você ir para esse lugar ruim, então por favor… me prometa que não vai tornar a luta dela em algo inútil.

Lola se levanta e vira de costas para as duas crianças que estavam na frente dela, talvez os pensamentos que estivessem rodeando sua cabeça fossem imensuráveis. Trair a sua companheira e realizar o sonho de uma criança, ou trair essa criança e deixar que se resolvam depois… talvez esses pensamentos tivessem por alí.

Ela andou até a porta de seu castelo, quieta e triste com tudo que tinha visto. Uma família inteira se desfez na sua frente, e Lola queria ajudar a se reconstruir de alguma forma, talvez ela tenha percebido que isso só aconteceria por conta da filha que não larga a própria mãe…

Já do lado de fora do castelo, Lola olhou atentamente as duas crianças que estavam com ela, um sentimento de dor tinha afetado seu coração, era possível dizer apenas com a cara que estava fazendo…

— Olha, talvez não tenha volta.

Fui a primeira a dar um passo pra frente.

— Não tem problema, se eu pelo menos conseguir falar com a mamãe… está tudo bem.

— E você, Hideki?…

— Não tem problema também…

Lola respirou fundo, e conjurou um portal na frente de todos, aquilo que parecia apenas ser uma ficção tinha se mostrado na minha frente, o que parecia ser impossível… na verdade existia. Do outro lado do portal tinha uma cidade devastada, prédios pegando fogo, casas abandonadas, pessoas inocentes morrendo… e tudo isso na frente de uma pequena criança que apenas queria ver sua mãe novamente.

Vendo agora, percebi o quanto isso poderia realmente dar errado, em outras palavras, tudo poderia acabar aqui… mas a que custo eu fiz tudo isso, apenas para ver a mamãe novamente? Não sei se isso seria justificativa o suficiente para correr atrás de alguém.

Dei um passo pra perto do portal.

— Espere, Shiori. — disse Lola.

— Oi?

Ela se aproxima e coloca um colar em volta do meu pescoço.

— Isso era pra ser dado a você a muitos anos, mas só agora consegui te entregar adequadamente.

— O que é isso?

— Apenas um amuleto, quando estiver correndo um perigo, sofrendo alguma coisa, pode contar com isso que tudo poderá se resolver em questão de segundos.

O colar tinha um coração com uma foto dentro, mas era impossível de abrir o coração, ou talvez eu fosse fraca demais.

— E pra você, Hideki… apenas fique perto da Shiori.

— Eu serei a pessoa que irá protegê-la.

— Confio em você, garoto.

E assim as duas crianças entram no portal, o local passa de um ar fresco, para um ar quente e de fogo por todo lado, o cheiro que era de rosas passa a ser terrível e quase impossível de ficar por ali, talvez por conta do fogo… mas o pior de tudo isso era ver tudo o que estava na minha frente. Pessoas lutando pela vida, tentando sobreviver no que estava acontecendo… 

— Temos que encontrar a mamãe por aqui.

Por alguma razão nada do que estava acontecendo parecia me importar naquele momento, apenas uma pessoa estava na minha mente e era isso que realmente me importava. Corremos em meio aos escombros da cidade, as ruas estavam infestadas de pessoas correndo pelas suas vidas, então decidimos correr por outros cantos.

Não havia adrenalina, apenas algo no coração que dizia desesperadamente para correr em direção daquilo que queremos, e é isso o que estava me movendo. Paramos de frente a uma avenida e ela estava totalmente travada por conta de todas as pessoas, acima de todas elas havia alguém voando… uma pessoa com longos cabelos laranjas que parecia a mamãe, com fogo, plasma ou qualquer coisa do tipo, a pessoa impede ataques que estava indo diretamente a população.

— ENTÃO O QUE TE MOVE É APENAS UMA PESSOA? — disse uma voz misteriosa.

Corremos em direção a um prédio que havia ali perto, era um prédio grande, mas que em sua parte já estava completamente destruído, talvez agora sim era a adrenalina que estava movendo meu corpo, pois naquela hora… percebi quem era a pessoa que estava voando.

— Tia Solveig… — disse Hideki.

Com a confirmação, percebendo que não estou louca, corremos até o prédio e desesperadamente subimos pelas escadas até tentar se aproximar um pouco do que parecia ser a mamãe. Mas após um tempo se tornava impossível completar essa ação, tudo isso por conta de uma barreira que impedia a nossa entrada… ela tinha feito isso para proteger as pessoas que estavam tentando fugir.

— TEMOS QUE ACHAR UM JEITO DE ENTRAR…. AGORA! — digo. 

Meu desespero era por realmente ter certeza que era a mamãe. Por anos passei procurando aquilo que era realmente importante pra mim, e quando encontro… ela está sofrendo com uma luta, eu sei que era fraca, mas queria ajuda-la de alguma forma, não importa como, nem se for apoio emocional… queria, de algum jeito…

— Shi-Shiori?!!

Ela tinha me percebido. E com essa pequena distração, uma espada acerta o ombro da mamãe.

— Você fica fraca quando está tentando proteger alguém… deusa do sol.

Uma pessoa aparece na frente da mamãe, fincando uma pesada no ombro dela.

— Até mesmo tentando proteger alguém consigo te derrotar como se fosse nada, Gehenna…

Mamãe afasta a pessoa com sua espada e assim me olha atentamente.

Aquele olhar dizia para me afastar, era como se ela quisesse falar tantas e tantas coisas, mas não conseguia pelo fato que tinha que cuidar da luta dela, e ao mesmo tempo de uma criança… para acabar com as coisas de forma rápida, mamãe apenas levanta sua espada…

— Ao sol eu digo. Faça essa alma queimar no seu fogo, mais do que ela queimaria no inferno.

Uma luz forte domina o local, como se tudo aquilo fosse derreter… e assim…



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