Volume 5 – Arco 3
Capítulo 44: A carta.
Maki
Sarah e eu iríamos lutar… por muito tempo.
A minha vida passou a ser um inferno por muitos anos, Sarah sempre vinha lutar comigo a todo momento… não queria fazer isso, olhar para ela me trazia um sentimento agonizante, não queria continuar aquelas lutas… mas mesmo assim fazia de tudo para simplesmente conseguir fugir.
Aquele lugar me trazia um sentimento ruim, mas não podia sair de lá… de acordo com a Solveig, Shiori poderia vir a qualquer momento, e eu deveria estar lá para dar uma boa recepção. Mas Sarah não iria me permitir.
Um dia desses eu recebi uma visita estranha… era Solveig, quando olhei pela janela… não conseguia acreditar, meus olhos começaram a chorar de uma forma automática e em questão de um piscar de olhos… eu abri a porta e assim pulei nos braços dela.
Poderia ser uma pessoa falsa que nesse momento iria conseguir me matar, meu coração nesse momento literalmente voltou a vida, abraça-la e sentir esse calor novamente… me fez se sentir viva novamente, era como se todas as cores do mundo voltasse a ser tão vibrantes, por mais que meus olhos não conseguiam ver direito.
Naquele momento… minha vida pulou para algo bom, algo que poderia ser aceitável viver em tanta escuridão. Uma luz no fim do túnel deu um sinal… e apenas segurei como se tudo tivesse terrivelmente errado.
— Faz muito tempo… né? — diz Solveig.
Sua voz calma e totalmente carinhosa me afeta novamente, aquele sentimento de poder olhar para frente e ver a pessoa que mais me importa… era gratificante.
— Eu estava… com muitas saudades…
Suas roupas eram diferentes, na verdade… tudo estava diferente, eu só sabia que era ela pelo fato do meu coração bater mais rápido e gritar o nome dessa mulher quando apareceu na minha frente, era como uma reação imediata.
— Você vai ficar aqui comigo… para sempre?
Era uma pergunta extremamente egoísta, mas assim como ela disse… está tudo bem com isso, obviamente eu queria que ela ficasse, mas seu sorriso preocupado e seu olhar quase sem vida me deu uma resposta antes mesmo dela falar algo… no momento em que vi aquele rosto… percebi uma coisa.
Ela estava extremamente abalada, como se todo seu plano tivesse ido pra baixo, não… pior do que isso, como se toda a sua vida tivesse ido pra baixo. Era como se a qualquer momento ela fosse chorar, eu percebia isso… e exatamente por perceber esse sentimento extremo que meu corpo simplesmente trava.
Era como se o medo tivesse tomado conta de mim, e pior do que tudo… alguns segundos depois ela respira extremamente fundo e dá dois tapas no rosto, era como se ela estivesse me falando para não se preocupar, mas aquilo era totalmente impossível, o sentimento ruim de ver Solveig praticamente chorar… era terrível.
Eu não sabia o que se passava na sua cabeça, mas queria entender… queria saber muito o que estava acontecendo, sabia que se perguntasse sobre, não teria a resposta que estava procurando, era como se… não achasse nada na verdade.
— Desculpe… não irei ficar aqui para sempre…
A sua resposta era fria, mas não de propósito, era como se estivesse desesperada para fazer alguma coisa, ela queria muito só correr para fazer isso… mas não permitia tal ação.
— Eu preciso… fazer uma coisa, e você pode me… ajudar, Maki? Sei que é bem estranho chegar aqui do nada e pedir coisas, mas por favor… eu preciso disso… é pelo bem da Shiori.
No momento em que o nome dela é citado… eu finalmente caí na real. A mesma coisa de sempre… me via como uma segunda opção, e isso me deixava extremamente triste. Não era sua filha de sangue, mas te via como uma mãe mais do que de sangue… de espírito, queria estar no topo da sua vida… para que assim você nunca saia daqui. Para que fique pra sempre comigo.
— C-Certo… do que precisa?
Mas mesmo assim não conseguia negar, por mais que queria gritar:
“NÃO, NÃO QUERO, POR QUE TUDO ISSO DO NADA?”
Não conseguia, meu coração criava um nó na minha garganta e simplesmente não permitia continuar… mas se era pelo bem da Shiori, o que poderia ser? Ela me dá uma missão extremamente impossível que é cuidar de uma garota que nem conheço direito, e que… deixa pra lá.
Preciso parar de pensar em coisas totalmente desnecessárias, afinal de contas… eu sou somente uma pessoa que fica de lado independente do que aconteça, qual será o nome desse sentimento que estou sentindo? Será que é algo… explicável pelo ser humano? Eles sempre tentam falar sobre tudo e explicar tudo… será que isso o que estou sentindo tem alguma explicação, seja científica ou não?
— Eu preciso… fazer uma carta pra Shiori… vem cá… me siga.
Solveig me leva para o outro lado da montanha, um lugar que não poderia ver… lá tinha uma cidade abandonada, lugares que nunca explorei quando menor pelo motivo de que não era permitida, Solveig me dizia que aqui era um lugar terrível e cheio de pesadelos que poderiam me matar.
Mas… nesse momento, estava adentrando nesse lugar, assim afirmando que era tudo mentira, uma parede se cria, talvez seja uma do meu coração, impedindo que outras pessoas consigam entrar. Não tinha o colocado em 7 chaves, era ainda fácil me conquistar, mas o que me trazia o sentimento ruim… era ter que dar adeus, ou um… tchau.
O sentimento ruim de ver uma pessoa partir era como ser esfaqueada mais de mil vezes. Vi a minha melhor amiga morrer na minha frente… a pessoa que considerava um pai simplesmente ir embora como se nada tivesse acontecido… e o pior de todos. A pessoa que era mãe… foi embora e voltou pedindo ajuda para fazer algo a sua filha, e essa “filha” não era eu.
Entrando na cidade… o ar frio cerca meu corpo, naquele momento eu deveria ter entendido que era um aviso da solidão, eu sabia que era terrível ficar sozinha, tanto que por anos… tive que lutar contra uma melhor amiga falsa, e não conseguia fazer nada contra… era mesmo… uma pessoa terrível.
Solveig entrava em uma casa que parecia ser a principal… aquele lugar… era estranho.
Havia muitas fotos nas paredes, era como se tudo estivesse recheado delas… fotos de uma criança parecida com Solveig…
— Não mexa nelas, por favor… aqui é um lugar extremamente importante.
— O… Ok.
— Maki…
Solveig se aproxima de mim e assim segura minhas mãos.
— Por favor… eu preciso escrever essa carta, eu não sou boa nisso… na verdade nunca fui boa em escrever… eu preciso guiá-la por um caminho bom!
Os olhos de Solveig demonstravam preocupação e o pior de tudo… desespero.
Ela praticamente estava me pedindo para dar um assunto para uma carta de apoio ao que Shiori está passando.
— Mas… escrever algo para uma pessoa que não conheço… é extremamente difícil…
Quando falei isso, observei seus olhos perderem brilho, e nesse momento eu praticamente inverti a minha frase, o seu brilho voltou… com isso, em uma mesa ao lado de uma cama, pegamos folhas e uma caneta e assim começamos a escrever.
Fazer uma carta é algo simples, escrever com todo o sentimento do coração e dizer tudo o que quer… talvez… uma carta seja a melhor forma de se expressar, porque é como se você pudesse falar qualquer coisa sem ter um limite dentro do seu coração, na verdade… você não tem um limite, é só você e o papel, ele irá te escutar primeiro, mas não dará um feedback sobre o que você escreveu, na verdade ele só vai ficar quieto como se nada tivesse acontecendo, e assim… você fará o resto.
Naquele momento é como se você pudesse simplesmente jogar tudo pro céu e falar todas as coisas que quisesse, talvez eu devesse fazer isso, talvez eu devesse escrever uma carta para Solveig, quem sabe assim ela irá entender a forma que me sinto, quem sabe ela finalmente poderá saber como o meu coração está quebrado com tudo o que está acontecendo.
Escrevo cartas para mim mesma, como se estivesse falando sozinha, e respondo essas cartas, assim pelo menos eu poderia entender um pouco do meu próprio coração… que está em pedaços. Mas mesmo escrevendo tanto e tanto como fiz… é impossível. O que está aqui dentro de mim nunca poderá ser entendido por mim mesma.
Solveig atenta com o papel… escrevia intensamente, suas palavras eram belas e poderiam aquecer o coração de qualquer um… eu percebi isso só vendo algumas coisas escritas, não queria atrapalhar com gramática ou coisas assim… seria terrível fazer isso.
Mas eu vi uma coisa, ela sempre está dedicada a dar sua vida pela filha.
Ei… Solveig, se eu estivesse no lugar dela, você faria o mesmo? Você… entregaria toda sua vida dessa forma? Eu posso confiar que você iria simplesmente me olhar e se entregar da mesma forma que você faz com ela? Impossível, né? Afinal de contas… eu nem sou humana, nem sou uma pessoa que você pode chamar de filha.
Por que me preocupo tanto com esse sentimento? Tanto com essa relação unilateral? Eu percebo que cada vez que observo… ela está mais distante de mim, talvez eu deveria mudar, talvez eu devesse deixar de lado tudo isso, mas como? Como eu vou deixar de lado todo esse sentimento que está no meu coração?
Solveig… me diga… por favor, como eu posso simplesmente ignorar tudo e viver como se nada tivesse acontecido? Você quer que eu siga um caminho extenso, mas como? Como vou seguir o que você quer? Proteger alguém… por que não abre os olhos? Como eu irei proteger uma pessoa se nem consigo me proteger?
Por que eu devo ficar calada e aceitar tudo o que você faz? Eu não quero isso… quero ser viva, quero ter meu sentimento. Quero poder falar tudo o que quero… mas infelizmente não consigo.
Meu coração não deixa e isso me deixa extremamente triste, é como se tivesse que aceitar tudo quieta. Por… que?
— EU ACHO QUE TERMINEI!!!
Quando escutei isso… é como se tivesse voltado a realidade.
— Pode ler… por favor… — implora Solveig.
Ao escutar o pedido… como que uma obrigação ao fazer isso… eu li a carta.
Seu conteúdo era perfeito e simplesmente demonstrava todo o sentimento de uma mãe… aquilo quase me fez chorar, mas não poderia fazer isso… teria que segurar todo esse sentimento terrível que estava dentro de mim, uma carta tão especial para a filha dela me dava ciúmes.
— Está… muito boa.
— SÉRIO???? NOSSA, MUITO OBRIGADA!
— Mas eu… não fiz nada.
— CLARO QUE FEZ!
Solveig me abraça e assim…
— Maki, por favor… quando ver Shiori… traga ela para ler essa carta, se eu mandar pra ela é como se fosse queimada… então por favor, mande pra ela…
Ela continuava falando… mas a minha mente estava em outro lugar, não conseguia falar nada, não conseguia fazer nada. A carta me dava um sentimento ruim, e pior de tudo… o momento foi tão curto que como se tivesse visto o futuro, eu sabia que ela iria embora depois disso.
Esse momento foi extremamente pequeno, mas te ver novamente me deu uma alegria e uma tristeza… todo esse sentimento iria ser jogado pra fora… quando você aparecesse na minha frente de costas novamente.
Quando pisco meus olhos… estou na porta de casa… observando você andar de costas até um portal. Naquele momento eu queria gritar, falando para não ir embora, mas meu coração se sentia… traído. Era como se tudo o que eu quisesse nunca se tornasse realidade. A vontade de te ter por perto simplesmente foi embora no momento em que te vi andar até o portal.
Meses se passaram e eu revi esse portal ser criado na frente da minha casa, corri para observar… mas estava tudo escuro, como se o céu azul tivesse ido embora. Não sinto medo, pois você aparecerá e me trará a luz novamente…
Era o que eu imaginava.
Um garoto de cabelo roxo, juntamente a uma garota de mesma cor de cabelo… estava com uma garota de cabelos alaranjados nos braços…
— Você… se chama Maki? Por favor… nos ajude! — pede o garoto.
Sim… eu sabia que naquele momento… minha vida tinha começado novamente, mas… naquele mesmo inferno.