Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 5 – Arco 3

Capítulo 43: As amigas se encontram.

Maki



Ficarei sozinha… por muito tempo.

— Não ficou tão ruim… né?

Enquanto falo isso… observo a casa que acabei de arrumar. Alguns meses se passaram desde que Solveig foi embora, e eu tento achar uma forma de ficar… mais divertido. Obviamente é extremamente difícil fazer isso. Todas as coisas que fazia, acabavam lembrando tudo que aprendi com ela, e isso dava… nela.

É como se estivesse dentro de mim…

Como pensei, a solidão não é tão ruim quanto imaginava… ela é até pior.

Ouvi dizer que existe um reino perto, talvez eu devesse ir lá…

— Na verdade acho que não é muito bom… e se só tiver pessoas ruins? — digo.

Que confusão… a minha cabeça não sabe para onde ir…

Ouvi dizer que existe uma academia de batalha aqui perto, será que eu consigo entrar?

— Acho melhor não… vai que acontece algo ruim.

Os meus dias são monótonos, acontecem sempre a mesma coisa, eu cuido da horta que fiz com Solveig, me alimento, cuido de mim… e assim fico olhando o pôr do sol, ele é lindo demais.

Esses dias onde só ficava do lado de fora, observando a natureza rodar envolta de mim… eram os melhores dias, raramente fazia algo diferente disso, era interessante ver como tudo mudava… mesmo quando eu ficava parada… óbvio, não sou o centro do universo, sei que tudo vai acontecer independente do que eu faça.

Não era frustrante… na verdade eu não sei que sentimento era esse, a estranheza de querer fazer alguma coisa, mas na verdade não conseguir. Não há ninguém por perto onde eu possa pelo menos conversar um pouco… passo todos esses dias falando comigo mesma, aceitando o que há dentro da minha mente.

Até que em algum momento eu não liguei e andei até o reino que estava aqui perto, ele era lindo… mas parecia um pouco antigo, foi assim que eu descobri que era um lugar que havia parado no tempo, eles não queriam a tecnologia que havia nos outros lugares… isso me lembrava de casa.

Olhar aquelas casas que apagavam as luzes sozinhas, e os bares que tinham festas até de noite com instrumentos musicais tocando a todo momento… as pessoas que lentamente andavam para casa… aquele sentimento de estar de volta… era incrível, mas ao mesmo tempo, era triste.

Sabia melhor do que qualquer pessoa que ficar ali não era uma boa ideia, o lugar não é assustador, não é ruim… mas aquele sentimento amargo que era deixado na minha garganta… poderia se tornar pior, aos poucos eu começo a tentar sair do reino.

Um vento forte e gelado passa pelo meu corpo, a recepção calorosa das pessoas eram coisas magníficas, parecia que estava jogando tudo isso fora… eu entendo que eles querem turistas e pessoas que fiquem ali por mais tempo, mas não posso ficar… não posso ter o luxo de ganhar coisas dos outros, tenho que ficar da forma que estava.

E se Shiori já apareceu dentro da minha casa… e nada pode ser feito?

Quando saí do reino… esse vento parou e o que ficou… foi o frio.

Memórias felizes que tive com Sarah passaram na minha mente, eu queria entender o porquê dela ter ido embora… mas nunca consegui uma resposta. Minha cabeça ficava triste só de observar o que estava acontecendo. Mesmo de longe… eu estava vendo a cidade perder a luz por conta da noite, mas não era porque todos vão dormir… aquela noite… algo bonito aconteceu.

Uma chuva de meteoros…

Era possível ver todas as pessoas do reino saírem para observar o que estava acontecendo, todos se encontravam do lado de fora do reino… observando aquele céu que estava perfeito.

Guardas ficavam do lado de fora, envolta do povo inteiro, parece que estão tentando proteger todos, mas era impossível focar em algo quando um fenômeno tão lindo está acontecendo.

— Vem cá princesa… vem cá! 

— C-Calma…

Vejo a princesa desse reino… e uma amiga ruiva.

Meus olhos se abrem mais, aquilo que acabei de ver… me lembrava uma amiga de muito tempo atrás.

— Princesa Emily, o que está fazendo?

— E-Eu… foi tudo culpa da Any, ela estava me puxando por aí!

— Tenha mais cuidado da próxima vez!

Um guarda falava isso… era assustador.

Antes que lágrimas saíssem do meu rosto ao ver cenas de amizade tão incríveis que me lembrava o passado… eu corri, comecei a correr do reino, da multidão… de tudo…

Não queria continuar nisso para todo o sempre, não queria viver sozinha… estar na solidão em meio a tanta escuridão… é algo terrível.

Não tinha forças para continuar seguindo em frente… deitava no sofá e olhava para o alto… e ficava assim por um bom tempo no dia.

Tentava dormir mas era impossível até então, o sono não vinha, olhar as horas passar sem fazer nada era tão agoniante.

Até que em um dia…

Escutei a porta batendo, rapidamente fui atender… mas não era quem estava esperando que fosse, como sabia disso…? Era simples, na minha frente estava…

— S–Sarah?

Tentei tocar na pessoa, enxugar os olhos… me beliscar, mas nada… nada acontecia, aquela pessoa estava realmente na minha frente.

— Sarah… você…

Era como se tivesse visto um fantasma, não… talvez até pior do que isso, a minha cabeça estava um caos e pensava cada coisa em questão de segundos, não tinha como imaginar que isso iria acontecer. Lembrava com toda a clareza do mundo o que tinha acontecido quando você morreu na minha frente, e um tempo depois… Sarah aparece na minha frente como se nada tivesse acontecido?

Em nenhum momento ela falou algo desde que chegou até aqui…

— Maki… a quanto tempo… não é?

— Sarah… o que aconteceu?

Ela me abraça, aquele calor… naquele momento eu percebi… algo está errado, mas aparentemente foi tarde demais.

O calor se concentrava na minha barriga, meu corpo aos poucos esfriava… e escutava um líquido caindo no chão.

Quando olhei pra baixo… vi uma espada enfiada na minha barriga, aquilo… doeu… e muito.

Atrás da Sarah apareceu uma mulher, ela usava um vestido preto e sua pele era muito branca, das costas dela saíam lâminas grandes…

— Isso realmente deu certo? — disse aquela mulher.

— Sa… rah…

Quando caí no chão… meu corpo se rendeu, não tinha como me mexer, a dor era imensa… mas não conseguia gritar ou expressão isso, na verdade fiquei calada, tentei respirar fundo… mas era difícil até demais, coloquei uma mão na barriga e assim tentei conjurar uma magia de cura, de uma forma que elas não vissem o que estava acontecendo, eu consegui… mas iria demorar demais até me curar.

— É só fazer uma pessoa que é igual alguém do seu passado que fica assim? — disse a mulher.

— O que Solveig te ensinou para ser tão fraca independente do que aconteça, em?

Quando observei direito a mulher, ela estava com um rosto triste, se aproximou de mim e assim me segurou pelo cabelo.

— Ei ei ei ei… eu não gosto quando alguém me ignora, ME RESPONDA SUA IDIOTA.

Nesse momento… ela chutou minha barriga.

Todo aquele grito que tentei esconder… saiu tudo de uma vez.

A dor era imensa, o meu corpo formigava… e tremia muito, eu sentia algo que era indescritível.

— ISSO, GRITE, É A MELHOR RESPOSTA QUE UMA VAGABUNDA COMO VOCÊ PODE DAR!

Cerrei os dentes e segurei o grito.

— O que… você quer… comigo?

— Tenho que matar tudo o que aquela deusa criou, ah… que pena… já está dando minha hora. Então seu nome é Sarah, né…? Ok, Sarah, a partir de hoje você tem uma missão, está vendo essa garota que está na sua frente?

— Sim.

— Sua missão é matá-la! Algo simples! Vamos, siga em frente e mate essa pessoa, eu irei sair, até mais para vocês, tenho coisas importantes para resolver!

— QUEM… quem é você?

— Eu? Claro! Não me apresentei direito, meu nome é Akumo, sou a deusa da escuridão! E estou aqui para acabar com tudo o que a Solveig criou! Aquela criança acha mesmo que tudo vai ficar bem dessa forma? Não não não… não é assim. Enfim, até nunca mais… senhorita Maki, ou melhor… nos vemos no inferno.

Sarah se aproximava de mim… não tinha algo que pudesse fazer naquele momento… pense, Maki… do que você é capaz de fazer nesse momento? Só tem poucos segundos para chegar a uma conclusão.

CLARO, É ISSO!

Estendo meu outro braço em direção a Sarah.

— VENHA!

Uma espada voa em direção a Sarah, mas não para atacá-la, ela estava vindo para que eu consiga usá-la.Sarah se esquiva e uso esse pouco tempo para fugir, ela estava distraída… agora só posso correr.

Usar as minhas pernas machucam muito… meu corpo praticamente está agindo por conta própria, não tenho muitas escolhas a não ser seguir isso…

Mas por que estou lutando tanto para viver? Não seria melhor se tudo acabasse por aqui? Afinal de contas, não tenho mais objetivos para seguir em frente… e proteger Shiori? Infelizmente não quero ser aquela que protegerá uma sucessora do poder do sol, quero proteger Solveig, mas nem sei mais onde ela está.

PARE! A minha cabeça está pensando em muitas coisas ao mesmo tempo, não posso deixar que continue assim, tenho que fazer da minha forma, vamos, você conhece a floresta, corra por ela e tente fazer de tudo para deixar Sarah para trás.

Eu poderia lutar e tentar matá-la, mas não consigo, ela não é a Sarah… mas essa aparência não me permite atacá-la. Uma espada voa em minha direção, mas me jogo pro lado e entro em um arbusto. Sarah passa correndo na minha frente, talvez ela não estivesse totalmente pronta… 

Mas na verdade ela estava tentando me enganar, uma lâmina voa em minha direção, mas consigo me esquivar. Assim volto a correr.

Uma mão estava na minha barriga e outra estava segurando uma espada, ainda tentava curar aquele ferimento que foi feito… mas era complicado até demais… assim me deparo com a ponta de uma montanha… não tem mais como seguir em frente, era extremamente alto para pular. Na frente havia uma fábrica que estava abandonada…

Atrás de mim aparece Sarah, ela… estava com os olhos brilhando de felicidade, naquele momento percebi que realmente não era a Sarah… precisava fazer algo para sobreviver, não quero que usem o corpo da minha amiga para coisas terríveis dessa forma, vamos… pense… pense… você consegue chegar em uma conclusão por mais estranha que seja.

Já sei.

Estendo a minha espada em direção a Sarah…

Irei usar algo que nunca pude, algo que não deveria usar, pois talvez entrarei em contato com Júpiter mais uma vez.

— CHAMAREI A TODOS, O EXÉRCITO DE JÚPITER.

Um portal se abre atrás de mim… e de lá… milhares de pessoas começam a correr em direção a Sarah, aproveito esse momento para me afastar e começar a correr, ir para o mais longe possível.

Não queria mais nada, apenas correr… nem mais olhar para a Sarah queria, então o que me restava… era apenas sair daquele lugar. Atrás de mim escuto explosões… tudo de ruim, mas tinha que ignorar isso… e continuar seguindo em frente, o caminho era longo… mas precisava A TODO CUSTO…

 

3 horas depois.

 

Depois de três horas correndo eu finalmente paro e me deito no chão… não era mais possível ver nada do que estava acontecendo, continuei com a mão na minha barriga tentando curar aquele ferimento.

Escutei o barulho do vento… até perceber que estava tudo extremamente estranho, continuei respirando fundo… mas óbvio que nem aqui estaria em paz.

Escuto passos longos vindo em minha direção.

— Não esperava te encontrar aqui… Maki.

Essa voz grossa… era totalmente reconhecível, era Riki.

Tentei olhar pra ele… mas não conseguia me mexer o suficiente, mas Riki entra no meu campo de visão e assim vê a minha situação…

— Deixa que eu te ajudo.

Riki me cura e assim me levanta, para ficar frente a frente com ele.

— Riki… você também…

Estava com medo de que ele fosse alguém que iria fazer o mesmo… não queria isso… então entro em posição de combate.

— Calma, calma. Não estou aqui para te matar, observei a sua situação… só quero te dar um presente.

Meu coração se acalma…

— Riki… não vá embora.

— Desculpe Maki, mas não posso continuar aqui por muito tempo, tenho muitos afazeres.

— Mas…

— Eu sei, calma, tenho que fazer algo com você também!

Ele se aproxima e assim toca o centro do meu peito.

— Peço desculpas pela mão boba, mas tenho algo para fazer.

Ele fecha os olhos e assim começa a mexer a boca como se estivesse falando alguma coisa, mas não escuto nada. Meu corpo se sente estranho e assim ele para e me olha.

— Agora… você será capaz de se defender, só puxar algo do seu peito que estará tudo bem.

Ele começa a tentar sair.

— Calma… Riki… por que isso do nada?

— Por que? Porque você é minha terceira filha, e quero te ver bem protegida até o final… sempre que precisar se proteger… pode puxar algo do seu peito, dará certo.

Ele começa a andar em direção a um portal que é criado na frente dele.

— Desculpe Maki, mas infelizmente terei que te deixar sozinha mais uma vez, tenho que seguir a minha vida… tente fazer a mesma coisa.

Ele entra no portal… e assim me ajoelho…

Seguir em frente? Isso é totalmente impossível…

Mas… o que foi que aconteceu?

O que eu menos esperava… era que isso iria acontecer dia após dia… mês após mês…

Sarah e eu iríamos lutar… por muito tempo.

 



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