Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 5 – Arco 3

Capítulo 41: O inferno.

Maki



Você está…

Me aproximo do lado de fora da casa, Solveig estava lá de frente com Riki.

— Riki… qual é o seu plano? Pra que tentar fazer isso?

Eu não conseguia ver a expressão que eles estavam fazendo… porque nesse momento percebi que não era pra estar ali, me escondi rapidamente e assim continuei ouvindo a conversa dos dois.

— É a nossa única escolha… é a única que temos para matar os outros.

— Por que ainda luta pensando nisso? Não entra na sua mente que é impossível?

— Mas não podemos simplesmente desistir como se nada fosse mudar!

— Eu entendo o que você quer dizer… mas…

— Não tem “mas”, você vem comigo ou não?

— Óbvio que não! Não entrei aqui para lutar com pessoas desse porte.

— Mesmo você sendo mais forte?

— Mesmo eu sendo mais forte ou mais fraca, não quero lutar, você sabe disso.

— Por favor, Solveig…

— NÃO!

— Então eu terei que apelar.

Escuto passos na grama se afastando.

— Onde você pensa que vai? — pergunta Solveig.

— Talvez resolver essas coisas por mim mesmo, aproveite e cuide bem da Maki… ela vai precisar.

— Está insinuando que…

— Talvez eu realmente esteja falando que irei atacar aqui a qualquer momento.

Pelo tom de voz da Solveig, era realmente perceptível que estava tudo um caos.

— Solveig… eu achei que éramos companheiros.

— Se você não entrar nessa luta desnecessária…

— Desnecessária…? É uma luta para poder controlar o mundo.

— Mesmo que você já faça isso?

— Ha. Você acha mesmo que a Akumo vai deixar tudo assim como se nada fosse acontecer? Ela… já está correndo atrás das famílias dos deuses. Inclusive… de Shiori.

— O que…

— Se me dá licença…

— ESPERA, EXPLICA DIREITO ESSA PORRA AÍ.

O grito de Solveig era extremamente alto. A nossa casa era muito distante da cidade, mas o grito dela foi tão alto ao ponto de parecer que dava para se ouvir de lá.

Ela respirava intensamente, era indescritível o que estava acontecendo ali, eu sabia que não poderia aparecer nem se quisesse. A tensão do momento era gigante.

— É exatamente isso o que você ouviu… se não fizer as coisas da forma que deveria, quem vai morrer não será você. E sim a sua filha.

— Eu falei pra você não mexer com a Shiori…

— Não sou eu quem está fazendo isso.

— Riki…

Com uma voz trêmula… Solveig chama Riki, ela parecia estar espumando de raiva, eu sentia o lugar ficar cada vez mais quente, chegando ao ponto de começar a suar, estava estranho demais esse momento.

— Decida-se… Solveig.

— O que você está dizendo.

— Você irá vir… ou vai deixar a sua filha morrer?

Solveig começou a rir lentamente.

— Então você realmente me colocou dentro de um casulo.

— Me diga. O que vai ser.

A escolha que a Solveig tinha que dar era extremamente complicado, eu não sei o quanto Shiori é importante pra ela, mas sei que uma mãe se importa mais com a filha do que com qualquer coisa… aquilo que você coloca no mundo começa a ser mais importante, talvez não só porque saiu de você… mas sim porque é algo que você criou e cultivou.

Eu não sei o que se passa na mente de Solveig…

— Maki, você está aí. Apareça. — diz Solveig.

Como ela sabia que eu estava por aqui? Rapidamente eu apareço ao lado dela, assim eu pude finalmente ver a cena que se encontrava, Solveig estava com um olhar assassino e que botava medo em qualquer um que tentasse entrar no seu caminho, Riki estava sério e pleno… como se tudo estivesse da forma que ele planejou.

— Você sempre busca estragar aquilo que deu certo com os outros e com você não… né… Riki?

— Está falando que a sua família deu certo? Não me faça rir. Onde que uma mãe que abandonou a filha pode dar certo?

— E você… o que fez? Quando vai contar a verdade por trás do Hideki, em?

— Aquela coisa? Um dia ele vai pagar pelo o que fez.

— Você só me faz rir.

— Você vem comigo?

— Ha, e eu lá tenho outra opção?

— O que vai fazer com ela?

Riki apontava seu dedo para mim, ele nem me chamava pelo nome, nem me olhava, apenas estava apontando o dedo.

— Vou levá-la comigo.

— Então você vai cuidar dela sozinha.

— Você é realmente a pior pessoa do mundo…

— Estamos no mesmo barco, ambos abandonamos nossa família e deixamos para trás todo aquele sonho feio de criança.

— A diferença é que eu não fiz isso só para me vingar de algo que nunca aconteceu.

Um portal se cria atrás de Riki, e ele entra… Solveig se ajoelha e assim começa a socar o chão, gritando de raiva.

— EU SABIA!

Ela estava extremamente irritada com o que estava acontecendo, seus olhos se fechavam e assim ela começava a pegar fogo. Não se importava com o que estava à sua volta… não se importava com as memórias que criamos juntas ao longo desses anos.

Eu não sabia o que fazer… na verdade, não tinha o que fazer.

Qualquer coisa que falasse iria soar como ruim… não tinha como confortar uma pessoa que estava passando pelos piores momentos da vida, não consigo fazer o que ela consegue.

A fraca presença da felicidade de Solveig, algo que se via no dia a dia de forma incrível… era assustadora. Raramente eu a via brava, e quando a via dessa forma era sempre com coisas mais simples… e que qualquer mãe faria.

Sem pensar duas vezes… apenas entrelaço meus braços nela, o que seria isso mesmo? Ah sim… um abraço.

Não sabia o porquê, mas queria poder proteger a Solveig, talvez pelo o que ela já fez comigo… mas o pior de tudo isso… não queria vê-la nesse estado terrível.

Ela chorava… alto e cada vez tentava gritar o mais alto possível, parecia que a sua vida tinha desabado… ela se segurava em mim e me abraçava extremamente forte, seu calor era gigante.. mas mesmo assim queria estar ali, não por mim… mas por ela.

Não entendia direito os sentimentos humanos, mas sabia que uma pessoa que estava em uma situação terrível necessitava de alguém ao seu lado, falo isso porque já senti tristeza… já senti raiva. Esses sentimentos terríveis e que invadem o nosso coração, fazem as coisas ruins.

Eu não queria ser salva, desde o começo… queria poder salvar alguém, mas desde o início… eu quem fui salva, queria pelo menos poder colocar todo esse sentimento pra frente.

O que está acontecendo com a minha cabeça? Quando comecei a abraçar Solveig, meus pensamentos começaram a ser rápidos… e tudo o que estava na minha mente começou a ser solto de uma vez só.

Uma plena escuridão domina meu coração… e a minha vida… Solveig assim me olha.

— Vamos… você vem comigo.

Seu choro havia acabado e eu nem tinha percebido… ela estava com um rosto pleno… totalmente sério. Assim ela começa a me puxar para dentro do portal… antes de chegar ali…vozes começam a ecoar na minha mente, pessoas que em algum momento já passaram pela minha vida… mas dessa vez estavam mortas.

Sim… estávamos indo para o inferno.

— Solveig…

— Não temos tempo, eu irei te explicar as coisas depois.

— Ah… ok.

Tinha que esperar… infelizmente, meu coração estava estranho, eu sentia o medo de ter que aceitar um futuro que pode ser terrível.

Entrando no portal… um calor iminente atravessa meu corpo, mas não machuca… as paredes eram roxas com branco e tinha uma estrutura medieval… a mesma que se tinha em Júpiter.

Um corredor estava na nossa frente… o piso era de vidro e abaixo da gente existia lava…

As paredes que faziam o corredor se mexiam, rodando em nossa volta, isso causava uma certa tontura…

— Solveig…

— Estamos no inferno.

Solveig não soltava a minha mão… ela segurava tão forte que chegava ao ponto de doer muito, parecia que falar com ela não iria mudar alguma coisa… o caminho era barulhento e perturbador, aquele estereótipo de inferno que via nos livros de literatura em Júpiter… eram exatamente como esse aqui… um lugar barulhento, perturbador, e o pior de tudo… um lugar que sempre irá piorar.

Saindo do corredor… me deparo com uma área circular, onde no centro tinha uma mesa também circular com algumas pessoas envolta.

Atrás de cada pessoa existia uma porta… e ao norte estava Riki.

Ao sul se sentava Solveig, ao leste… Mier, ao oeste… Krig. Ao nordeste… estava vazio, era um trono de ouro…

Ao noroeste estava vazio também… o resto das cadeiras também. Parece que alguns não chegaram ainda.

— Eu cheguei, o que vocês querem? — pergunta Solveig.

— Vamos começar a nossa estratégia para a segunda guerra dos deuses. — responde Riki.

 

5 Horas depois.

 

A reunião foi complexa… e assim eu e Solveig estávamos do lado de fora… na terra, observando o céu estrelado. Aquela conversa dava início a um plano maligno de Riki, onde ele queria ter pleno controle sobre o mundo, algo que ele estava perdendo… o pior de tudo, ele disse que um garoto sofrerá mais do que qualquer humano… e que ninguém pode matá-lo até o próprio Riki conversar com o garoto.

O inferno era caótico… e sair de lá dava a impressão de que renasci, um lugar quieto… onde só se escutava o vento e a respiração da pessoa que estava do meu lado.

Aquele plano… será que em algum momento eu vou entrar nisso? Quero dizer… agora eu sei o que eles vão fazer, não sei lutar… não sei olhar para uma espada e segurá-la de forma normal. 

— Desculpa puxar uma criança para esse caminho. — diz Solveig.

Ela estava acordada e olhava atentamente para o céu, não queria saber a minha resposta… só queria entender qual tipo de reação eu iria ter, afinal… ela parece estar um pouco triste com suas próprias escolhas.

— Eu… acho que está tudo bem.

— Não… não está. É erro meu tentar puxar pessoas que nem tem algo haver com meus problemas. Talvez… eu tivesse que deixá-la aqui na terra e ir para aquele inferno sozinha.

Ela parecia que não iria aguentar entrar lá… parece que entrou tantas e tantas vezes que nem consegue mais olhar para aquelas cores.

— Não… está tudo bem, Solveig! Sério mesmo… eles estão usando a sua filha como refém…

— Eu sei, e por conta disso eu tenho um plano em mente.

— O que você vai fazer?

— Vou me juntar a eles, e assim… poderei finalmente passar o poder da deusa do sol para a Shiori, ela vai poder entender a verdade com tanto poder em mãos.

— Mas ela não vai conseguir aprender tudo isso…

— Por isso você existe.

Solveig se levanta e assim estende sua mão para me ajudar, o vento bate em seus cabelos, os jogando para o lado e seu rosto foca intensamente em mim.

— Maki, você quer me ajudar a proteger a minha filha?

Algo tinha acontecido naquele momento… não sabia ao certo o que era, mas um sentimento bom desceu pela minha garganta, algo que raramente senti na minha vida, eu sabia que se recusasse aquilo, a minha vida caíria intensamente, e se aceitasse… tudo seria extremamente difícil.

Não sabia dizer se na verdade valeria a pena entender o que estava acontecendo em toda essa tal guerra no final das contas, só queria saber de proteger uma pessoa… e ela era… Solveig. Pra mim essa pessoa era mais do que qualquer coisa, era uma mãe… algo além disso.

Os sentimentos que eu sentia eram todos verdadeiros… e sempre estavam no meu coração independente do que seria falado. o que sentia pela Solveig era como que um conchego… e agora… sabendo o que ela quer fazer, sei que posso perdê-la a qualquer momento, mas… mais do que tudo isso, após todos os acontecimentos… eu terei que guiar uma garota pelo um caminho que nem eu posso fazer.

— Eu… aceito.

Tinha que aceitar, não poderia negar qualquer coisa vinda dessa pessoa, afinal de contas… ela, mais do que qualquer pessoa, sabia o que estava fazendo e sabia o que eu estava sentindo…

— Certo… eu irei te treinar.

A partir de hoje… um dia a dia extremamente pesado começa, não sabia quando iria acabar, só sabia que iria sentir… tudo… cair aos pedaços.

 



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