Volume 5 – Arco 3
Capítulo 40: O motivo da vida.
Maki
— Bem-vinda a terra. — diz Riki.
Depois das boas vindas… eu poderia me sentir em uma vida normal, poderia aceitar o fato de recomeçar do zero, dessa vez não como uma princesa, e sim como alguém normal. O meu dia a dia foi extremamente tranquilo… acordava, tomava café que era feito pela Solveig, aprendi muitas coisas sobre os humanos e a terra, e seguia o dia fazendo coisas que gostava de fazer… desenhar.
E à noite… era o momento mais perfeito possível, Solveig e eu ficávamos na grama observando o céu estrelado.
— De Júpiter era… muito difícil ver esse céu.
Por conta da névoa envolta do planeta, era difícil ver o céu estrelado, aqui na terra é a coisa mais fácil de se fazer…
— Ei… Solveig…
— Oi?
— Você… tem uma filha?
Olho para Solveig que estava com os olhos fechados, apenas escutando o som da natureza.
— Sim… eu tenho.
— Onde ela está?
— Por que quer saber disso?
— Eu quero… uma amiga.
— Oh… Entendo! Ahahaha, ela provavelmente não seria sua amiga tão fácil assim.
— Ué… por que?
— Shiori já tem um amigo que não larga por nada.
— Eu não quero roubá-la…
— Mesmo assim, eu sei que ela não vai dar uma de pessoa fácil. Além que…
Ela para de falar e uma expressão triste fica no seu rosto, era visível que ela queria falar alguma coisa… mas estava com medo, ou estava deixando isso de lado.
Algo segurava seus sentimentos, talvez ela mesma? Não sei dizer.
— Além… que?
Tento dar uma instigada para que ela continue falando o que queria… mas por um tempo não consigo nada.
— Nada, deixa quieto… enfim. Vamos falar de outra coisa… como está sendo aqui na terra pra você?
Talvez seja melhor pular de assunto e falar sobre outra coisa, não quero insistir em alguma coisa que talvez não irá valer a pena… algo que aprendi com a minha família — por mais ruim que seja — era que talvez valesse a pena mudar o assunto conforme a pessoa queria, e não conforme você quisesse. O ser humano é extremamente delicado… e tentar seguir um assunto que machucasse o seu coração, era como pedir para que uma amizade acabasse, mesmo que ela pudesse durar, quem sabe, infinitamente.
— Bem… é extremamente diferente, o ar é mais limpo…
Meu corpo estava feliz em saber que o ar daqui é extremamente mais limpo que o planeta anterior, eu consigo pensar de forma mais tranquila, sem precisar para o tempo todo porque estava ficando tonta, dessa vez estava tudo certo!
— Só isso?
— Não não… o ser humano é um ser extremamente misterioso e interessante…
— Ei, eu não sou misteriosa!
Solveig enchia suas bochechas como se estivesse com raiva.
— D-Desculpa…
Ela esvazia o ar de suas bochechas com uma risada fofa e engraçada.
— Não precisa se desculpar não… está tudo bem! Mas se você acha que o ser humano é tão interessante assim… imagina quando conhecer um demônio.
— Um demônio?
— Sim… eles são incríveis!
— Por que?
— Um dia você vai ver!
— Ei… isso é injusto!
— Hehehe…
Era extremamente divertido ver o quanto Solveig estava feliz, uma mulher como ela merece toda a felicidade do mundo… é certo que existem coisas que ela esconde, mas talvez isso seja de qualquer ser vivo… querer esconder certas coisas e deixar da forma que está… não querer ver o mundo desabar na sua frente só porque contou algo que estava escondendo…
— Solveig…
— Oi?
— O nome da sua filha é… Shiori?
— Sim… por que?
— Esse nome tem… um significado tão lindo…
— Você é o que? Uma enciclopédia de nomes?
— O que é uma… en… enciclo… pédia?
— Eh… deixa pra lá, enfim. Qual é o significado do nome da minha filha?
— Aquela que guia!
— Oh… então você sabe mesmo, eu sou muito boa com nomes, né?
— Ela é realmente isso?
— Sim, claro que sim, ela guia as pessoas a sua volta para o melhor caminho possível!
— Como você pode ter certeza disso?
— Porque ela me guiou pelo melhor caminho possível, pode ter milhares e milhares de pedras e coisas que não queria ver, mas mesmo assim… a minha filha me deu um caminho incrível para seguir!
As árvores se mexiam… e as folhas que estavam caindo tomavam conta do solo, deixando uma cor diferente pelo lugar. A linda estranheza de poder ver tudo isso… era perfeita. No meu antigo mundo, não tinha essas coisas tão lindas de se ver, e aqui… tudo é tão diário que é impossível só não prestar atenção.
— Mas… — diz Solveig.
— Mas…?
— Digamos que segui errado esse lindo caminho que minha filha me deu.
— Seguiu… errado?
— Bem… eu fui para um lado onde tive que deixá-la sozinha.
Aquela expressão… onde sua tristeza se escondia atrás de um sorriso falso…
— Ah… mas quem se importa com isso, certo? Vamos seguir em frente que eu sei como ela está vivendo! — diz Solveig.
Por um tempo era possível ver que ela estava extremamente arrependida do que escolheu.
— Solveig…
— Oi!
— Por que se arrepende tanto dessa sua escolha?
Parece que eu tinha atingido uma ferida tão profundamente… seu rosto ficou sério por um tempo, arregalou seus olhos e me observou… como se tivesse feito algum crime extremamente pesado. Eu sei que é ruim se meter na vida dos outros, mas ao ver Solveig tendo tantos sentimentos pesados dessa forma… eu não pude evitar. Quem sabe o que ela tanto quer procurar está em mim, quem sabe eu possa ajudá-la de alguma forma.
— Eu… só não sei mais o que devo fazer.
De uma forma como sem querer, ela solta certas palavras que dá para entender, era possível perceber que Solveig estava em um looping, sem saber como sair.
— Não seria melhor… ver a sua filha?
— Talvez… mas tenho medo do sentimento que ela vai ter ao rever a mãe depois de anos…
— Anos? A quanto tempo ela está sozinha?
— Ah… nem me lembro. Já faz… tanto tempo que saí de casa.
— Mas por que?
— Estava procurando uma pessoa… para demonstrar a Shiori a verdade. Mas mesmo depois de encontrar o que queria… não consigo simplesmente voltar e dizer para ela tudo o que aconteceu. É impossível.
— Impossível?
— Sim! É impossível olhar na cara da minha filha, muitas vezes eu já tentei, segui a sua vida tentando falar com ela, mas era impossível. Eu sei o quanto ela olha para trás tentando me procurar para contar como foi o dia e como está indo na escola… mas não tem como.
Solveig olha para as estrelas.
— Eu percebi que em meio a tanta luz… o que mais me domina… é a escuridão, e eu tenho medo dela.
Sim, o céu brilhava intensamente, tanto que era quase de dia… mas mesmo assim ela tinha medo de tal coisa. Quem sabe o escuro realmente seja amedrontador, mas quem sou eu para falar sobre isso? Nunca passei tempo o suficiente nele para saber o sentimento que é entregue.
Sei que a solidão… é terrível, e você só sente ela quando está na escuridão.
— Pode ser meio estranho uma adulta sentir medo do escuro… mas confie em mim, Maki. Ele é realmente assustador… principalmente quando está sozinha. Aquele sentimento terrível de ter que olhar para o escuro… e ver que está sozinha… é assustador. Só se percebe a solidão quando está na escuridão.
— Por que?
— É nele que você vê que o ser vivo precisa de mais alguém ao lado para sobreviver, é impossível seguir a vida sozinha, em algum momento vai olhar para os lados e perceber que não tem ninguém ali… ninguém vai ouvir os seus problemas, suas crises, ninguém vai te ajudar… independente do que você faça. E é na escuridão… que ninguém aparece para te ajudar.
Estar sozinha realmente é um sentimento extremamente terrível, os poucos momentos que não tive pessoas ao meu lado eram assustadores, eu queria falar, conversar, sentir coisas… mas nesses momentos eu não conseguia, ninguém estava lá para viver ao meu lado.
E mesmo a única amiga que tive… foi embora, talvez o que eu tivesse que sentir era tristeza, mas na verdade o que passou na minha mente foi… “Ah droga, terei que viver sozinha agora.”, e isso me deixa… pensativa. Será que no final das contas só queremos preencher buracos que foram criados no nosso coração? É por isso que viver ao lado de uma pessoa é algo tão perigoso?
Mesmo que essa pessoa se vá… alguém irá aparecer e assim você vai tentar tapar esse buraco com essa pessoa. No final das contas… o nosso coração só quer ficar completo…? Mas ele só depende da gente pra isso.
— Solveig… é realmente perigoso viver ao lado de alguém?
— Isso do nada… não sou a pessoa certa para te falar isso, no final das contas eu nunca tentei viver ao lado de alguém sem ser a minha filha, então não sei como deveria reagir, mas que o nosso corpo é desgraçado o suficiente para simplesmente tentar substituir alguém como se fosse nada… é verdade.
— E o que fazemos nessa situação?
— Se realmente amamos a pessoa que estava lá atrás… simplesmente vamos tentar seguir em frente, mas se queremos viver normalmente… teremos que aceitar esse fato e seguir o que o nosso coração quer, a amizade é algo perigoso e que realmente faz uma gigante diferença na nossa vida… ter pessoas na nossa volta e ter com quem conversar sobre a vida… é realmente algo bom.
— Mas… quando não se tem ninguém…
— Quando não se tem ninguém… é o que eu disse antes, o coração vai se negar falar algo para outras pessoas… e assim você vai acabar vivendo sozinha, para toda a eternidade… a nossa vida é como um baú, quando mais pessoas passam, mais ele se abre… mas quando ninguém passa… ele vai ficar fechado para sempre.
— Entendi…
— Talvez seja por isso que ainda não conseguimos progredir, porque as pessoas passam e somente deixam o baú aberto… sem deixar nada para você.
— Seus ensinamentos de vida são estranhos.
— Sério? Obrigada! Levo isso como um elogio.
— Isso foi estranho.
— Hehehe, mas sabe de uma coisa… Maki. Siga em frente, eu sei que algo aconteceu na sua vida, algo terrível… mas não é por conta disso que deve parar, como eu disse para você começar do zero, por mais que você ainda esteja presa em alguém que provavelmente está morto.
— Como você… sabe?
— Como? Por que eu já passei por tudo, eu sei o que é a vida, e sei o quanto ela é chata em te dizer coisas que não quer ouvir. Bem, pegue esses ensinamentos e siga em frente da sua forma! Eu só estou aqui para te dar um empurrão quando precisar, e te ensinar coisas que serão divertidas…
Um diálogo extremamente necessário e que me fez abrir os olhos de uma forma diferente do normal.
— Será que sou capaz de simplesmente abandonar um passado e seguir em frente como se nada tivesse acontecido?
— Não é para abandonar o passado, mas sim tentar aprender com ele e seguir em frente, lembre-se… não é para abandonar a sua vida, simplesmente passar a fase que ela está e seguir para a próxima!
— Não é para deixar todas as pessoas para trás… mas sim…
— Aprender com as coisas que elas te ensinaram, óbvio que você vai se lembrar daquelas que fizeram sua vida feliz, e é bom que se lembre, só assim poderá finalmente entender pra que você está aqui.
— Por que… eu estou aqui?
Solveig se aproxima de mim e assim se ajoelha na minha frente e segura meu rosto com suas duas mãos, elas estavam quentes e seguravam com extrema delicadeza.
— A única pessoa que pode escolher o seu motivo de vida é você mesma, me responda… Maki, por que você está aqui? O que você quer seguir?
— Eu quero… Quero poder viver em paz, sem precisar levantar algo para matar pessoas, sem precisar entender o mau.
— Então… é pra isso que você está aqui, porque quer viver em paz e não quer passar pelo terrível, certo?
— É…
Minha cabeça aos poucos se organiza, e assim eu entendo o que finalmente quis dizer… talvez… o meu motivo de vida seja fraco perto de algumas pessoas, mas ainda sim… quero seguir uma vida tranquila sem me arrepender…
— Lembre-se, não existe um motivo de vida melhor ou maior que os outros, você assim como todo mundo só quer viver tranquilamente… sem precisar chegar ao extremo. Mas saiba que esse caminho é extremamente complicado, alcançar sua paz não é algo que pode simplesmente acontecer assim, em um estalar de dedos.
Solveig se levanta.
— Esse é o meu ensinamento de vida pra você, quero que siga em frente da sua forma sem precisar chegar ao extremo.
— Mas… e você…?
— Eu? Mesmo que não consiga chegar onde eu quero, ainda sim quero dar a minha filha… uma vida digna de deusa.
— Digna de deusa…?
— Sim. Quero que ela viva como uma deusa e que seja tranquila da sua forma. Esse… é o meu motivo de vida.
Solveig sorri de forma totalmente atraente.
Então… eu acho que finalmente…. consegui entender qual seria o motivo da minha vida.
Mesmo que… o terrível aconteça.
10 horas depois.
Uma folha estava na mesa… ao ler ela…
— Solveig…? O que… aconteceu…
Você está…