Volume 4 – Arco 3
Capítulo 35: Uma deusa esquecida.
Yukiro
3 anos atrás.
Uma chuva faz com que eu, Maki e Any nos escondemos, tinha algo estranho nesse lugar… a mata toda revive em questão de segundos… e morre em questão de segundos. Era estranho, mas mesmo assim não deixava de ser bonito demais.
— Bem, como vamos fazer daqui pra frente? — pergunto.
Não possuo resposta. Na verdade… não tem mais ninguém à minha volta.
— Maki? Any…? Hideki! Shiori!
Ninguém respondia.
— Tenha calma, minha criança… — diz uma voz misteriosa.
Na verdade… uma mulher estranha aparece na minha frente.
— Tenho certeza que já nos conhecemos, senhorita Yukiro… afinal de contas, você me deu esses olhos.
— Quem é você?
— Eu? Sou Nina, a deusa das memórias, faço parte daquele pequeno livro que você queria ver o futuro da Akumo.
— Nina…
— Sabe, você foi muito útil pra mim, então… para ser justa com você, poderei realizar quase qualquer desejo que você queira. Claro que isso seria em relação às memórias… não posso realizar uma vontade sua.
Em relação às memórias… muitas coisas aconteceram, existe tanta e tanta coisa que quero descobrir…
— Tenha calma e pense bem, você pode saber sobre qualquer coisa.
— Primeiro… onde nós estamos?
— Dentro da sua cabeça, eles estão do lado de fora, mas mesmo assim… tenha calma.
Eu poderia perguntar sobre minha vida inteira, assim muitas coisas seriam explicadas pra mim… mas será que vale a pena tentar fazer isso?
Honestamente… não tenho muito para onde ir, o que resta de mim é apenas segui-los. Não tenho nem mais como segurar uma espada, já lutei contra quem queria lutar… já vivi o que deveria, será que agora não seria um bom momento para simplesmente desistir das coisas?
Será que honestamente… não seria o momento certo para pedir por isso?
Talvez eu tivesse que descobrir sobre minha vida… assim eu seria capaz de pelo menos descansar em paz. Tem tanta e tanta coisa que não sei sobre eu mesma… então eu tenho que saber tudo… e assim posso finalmente descansar em paz.
— Certo, então você quer descobrir sua própria vida…?
— Como você sabe?
— Eu posso ler seus pensamentos, senhorita Yukiro.
— Então… sim. Eu quero saber toda a verdade por trás de mim mesma.
— Por que deseja tanto isso?
— Porque… sem isso não tenho como saber se seguirei em frente, ou se poderei desistir aqui mesmo.
— Percebo que você quer tanto assim desistir, mas tem medo de fazer isso.
— Honestamente, não é como se pudesse esconder algo de você, então sim. Eu quero desistir, mas ainda tem algumas coisas que quero saber.
— Você não é tão interessante quanto a Shiori, ou o até mesmo o Hideki… mas mesmo assim, é alguém que tem uma história que valeu a pena esconder. Certo, como pagamento por você ter me ajudado a criar a personificação perfeita de mim mesma… eu vou te dar as memórias da sua vida.
Ela se aproxima… e assim toca na minha testa.
— Você e a Shiori sempre estão falando cada movimento nas suas cabeças… não entendo o motivo.
— Eu sinto que devo fazer isso.
— Entendo, então… durma.
É como se uma explosão dentro de mim tivesse acontecido… um passado tão estranho entra na minha mente, coisas que eu nem pude explicar estavam ali…
— Deixa eu te ajudar.
A mulher transforma toda a floresta em uma sala de hospital…
Parece que estava acontecendo um parto.
— Há muitos, muitos anos atrás… uma garota nasceu, ela era exatamente como você… talvez seja você. Seu nascimento foi conturbado… porque a mãe dela quase morreu nesse parto, a criança tinha algo que ninguém mais tinha.
Pela janela de onde estamos… dava para ver que a floresta ganha vida… os rios nascem e o planeta inteiro ganha uma forma de vida.
— Essa garota… se chamava… Riko. E era conhecida como a deusa de toda a vida do mundo. Escolhida por Deus, Riko deu vida a todo o mundo, e deu uma forma dos seres vivos sobreviverem. Ela era amada por todos desde seu nascimento… exceto uma pessoa.
O cenário lentamente se transforma em uma casa aconchegante. E nela tinha duas mulheres, uma era a criança que acabara de falar… e outra era uma mulher mais velha, que parecia ser a mãe dessa criança.
— A mulher mais velha odiava a sua filha… não pelo poder dela, mas sim pelo fato dela não usar esse poder para ganhar dinheiro. Mesmo a filha sendo amada por todo o mundo, isso não dava o direito dela fazer o que quiser e quando quiser, ainda sim… teria que pagar pelo que faz. Riko não usava seu poder para ganhar dinheiro, ela somente ajudava os seres vivos a sobreviverem em algum lugar.
Olhar para essa cena fazia meu coração ficar estranho, ele acelerava… mas não que eu ligasse muito, afinal de contas… de quem ela estaria falando agora? Quem é Riko e por que ela seria tão importante para falar algo sobre mim?
— Riko… apanhava milhares de vezes da sua mãe, que por sua vez era extremamente gananciosa e uma pessoa extremamente terrível para se viver em sociedade.
— E o que aconteceu com Riko?
— Em algum momento da sua vida… Riko fugiu. Para as montanhas, não… para além das montanhas! Riko nunca mais queria viver em um lugar assim… então para o bem da sua vida e da vida de todos, ela fugiu para um lugar tão… tão distante.
Flashes se mostravam, e assim a caminhada de Riko… lembrava muito do que nós tínhamos feito.
— Ela correu até encontrar outro lugar para viver… um reino tão distante da terra natal, que atualmente é conhecida como… o reino da deusa da vida.
Um lugar maravilhoso… sua temática era como steampunk, um lugar futurista mas todo acabado… era lindo de se ver, mas triste.
— Lá… ela conheceu um povo que se diziam adoradores da deusa da vida. Nesse momento… ela era conhecida pelo mundo todo, mas esse lugar em específico se tornou sua casa. Anos se passaram e esse lugar acabou sendo dominado pela mata. Qualquer tipo de animal morava lá… o que tornou esse lugar impossível de um ser humano morar. Todos lentamente deixaram Riko para trás… exceto um garoto.
O lugar se transformava em uma sala do trono, onde Riko sentava nele e na frente havia um garoto ajoelhado.
— O que faz aqui… pequeno garoto…? Perguntou Riko. — narrou Nina.
— Nada demais. Apenas admirando aquela que me deu vida. Respondeu o garoto.
Riko… com seus lindos cabelos verdes e curtos… seu corpo que era lindo até demais… com um diferencial que chamava a atenção. A cor dos seus olhos era a mesma de Hideki.
— Riko… aos poucos pegava ódio dos seres humanos, pelo motivo que eles eram os piores possíveis. Todos a deixaram sozinha, se aproveitavam do fato dela dar vida para todos… ninguém queria viver ao lado dela, pois era impossível… para qualquer um. Ninguém era forte o suficiente para lidar com os animais que viviam ao lado dela. Mas é óbvio que tinha o seu diferencial.
— Hahaha… você é até engraçado para um garoto, irá fazer a mesma coisa que todos? Me usar e ir embora? Perguntou Riko.
— Fico feliz que tenha me achado engraçado, mas não… quero viver ao seu lado. Respondeu o garoto.
— Certo… então… qual é o seu nome?
— Riki. Riki Hirai.
Riki… Hirai… já ouvi esse nome antes em algum lugar…
Se me lembro bem… ele é o pai do Hideki…
— Nina… ele é…
— Sim. Ele é o deus da criação, outro que irei contar a história mais tarde.
— Por que está me contando a história dessa mulher e desse cara? O que eles tem haver comigo?
— Você vai descobrir… tenha calma.
— E qual é o seu nome? Perguntou o garoto.
— Meu nome é Riko. Não tenho um sobrenome.
— Assim… uma história começa. Riki era forte o suficiente para proteger Riko dos seus próprios monstros, ele era… realmente… um príncipe corajoso. Alguém que realmente era de confiança de Riko.
O cenário novamente se transforma… desta vez em uma floresta, os dois estavam caminhando por lá.
— Riko, em algum momento, decidiu que era hora de sair daquele lugar e viajar pelo mundo, e assim eles fazem. O seu cavalheiro particular era tão forte ao ponto de simplesmente apagar qualquer ameaça em questão de um piscar de olhos.
— A viagem… foi tranquila?
— Claro minha amada Yukiro, a viagem foi mais tranquila. Os lugares… todos eram sem vida, até porque… a antiga civilização deixou de existir.
— Antiga civilização…?
— Sim… antes de nós, existiam outras “coisas”. Ou melhor… “pessoas”.
— E… o que foi deixado deles?
— Cidades gigantes e ruínas. Tudo o que um aventureiro precisa. Até mesmo… um lugar que vou contar mais pra frente. Continuando… Riko, que deu a vida para milhares de pessoas, não sabia onde elas estavam… mas em sua aventura ela encontrou muitas civilizações que ainda estavam vivas.
— E o que tinha nessas civilizações?
— Muitas coisas, tinham pessoas que adoravam o fato dela estar andando pelo mundo… assim como tinham pessoas que a odiavam por qualquer coisa. Enfim, nessa viagem ela conheceu uma cidade chamada… Chronicle.
— Chronicle…
— Sim, uma cidade que atualmente é desconhecida… pois outra surgiu em seu lugar.
— Qual…?
— O reino Esmeralda.
— ?!
— Enfim, era uma cidade com a temática cyberpunk, ela estava toda destruída também… mas nesse lugar… no topo da torre mais alta, eles tiveram o diálogo mais importante da vida deles. Enquanto um estava do lado do outro, vendo o pôr do sol…
— Riko, o que vamos fazer agora? Andamos por tudo…
— Ainda tem um lugar para ir…
— Onde?
— Na minha terra natal.
— O que Riko não sabia, era que Riki estava extremamente apaixonado por ela. Essa viagem foi um ponto forte para eles se conhecerem, e melhor que isso.. um ponto forte para Riki se apaixonar por alguém, afinal de contas… eles passaram anos e anos juntos.
— Riko…
— O que foi?
— Eu tenho algo para te perguntar.
Riko se vira atentamente para Riki e assim ele se ajoelha, guardando sua espada, estendendo suas mãos.
— Você… aceita passar o resto da eternidade comigo?
Um par de anéis surge nas suas mãos, na ponta de cada um tinha um diamante e encaixava perfeitamente nos dedos dos dois.
— O que você quer dizer com isso… Riki?
— Quero falar… que quero me casar com você…
Riko observa novamente o pôr do sol.
— Riki… sabe por que eu fiz essa viagem?
— Oi…?
— Sabe por que cheguei à conclusão de fazer uma viagem tão longa dessas?
— Não… por que?
— Eu queria entender… qual o motivo do ser humano sentir tantas e tantas coisas… e eu não conseguir sentir nada além de remorso. Os sentimentos humanos são tão complexos que nunca cheguei a uma conclusão do que são e como são… não sei o que é amor, ódio, dor, sofrimento… somente sei o que é remorso. Eu queria, mais do que qualquer pessoa… entender o ser humano, entender essas pessoas que nasceram de mim.
— Nem mesmo eu sei te dar uma resposta…
— Como assim?
— Nem mesmo o ser humano entende os sentimentos, é algo que você sente, não que é possível explicar em palavras, cada pessoa sente de uma forma diferente, e por isso o sentimento humano é tão complexo de explicar.
— Você… parece entender sobre.
— Hahaha, claro que não. Sou totalmente diferente disso, nem mesmo eu posso entender o ser humano… afinal de contas, você é a pessoa que eu mais passei ao lado, não posso dizer ao certo se entendi ou não o que é esse tal de… sentimento.
— Então…
— Então eu posso te ajudar, assim você pode me ajudar.
— Ajudar? Como?
— Vou te ajudar a descobrir o que é o sentimento, da mesma forma que você vai me ajudar a descobrir o que é também!
— Espera… mas como eu…
— Simples, me corresponda da forma que você achar apropriado, você… aceita ser a minha esposa?
— Eu…
— Aceita ser aquela pessoa que viverá ao meu lado independente do que acontecerá? Não como uma rainha ou uma dona, mas sim… como minha companheira, além de tudo… aceita me amar da mesma forma louca que eu te amo?
— Mais do que qualquer pessoa, Riki entendia bem como funcionava Riko, afinal… anos de viagem ao lado dela lhe proporcionaram mais do que momentos para ele pensar se realmente gosta dessa pessoa.
— Eu não sei o que é amar…
— Aos poucos… assim como eu, você irá descobrir, e eu tenho certeza que te ajudarei nisso.
— Certo… Eu aceito.
Ao certo… eu queria entender o motivo de tudo isso estar acontecendo, onde ela quer chegar me contando essa história? Riko… né? Ela então é mãe do Hideki, mas por que… por que eu sinto que ela é extremamente importante mesmo sem conhecê-la? Será que irei descobrir algo nessa história?
Não sei dizer, mas algo me deixa intrigada… alguém morava nesse planeta antes de nós… quem era?