Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 3 – Arco 2

Capítulo 20: Uma cidade abandonada.

Shiori

 

A cidade era extremamente bonita, porém, caminhar pelas ruas em meio a tanto silêncio era como estar sozinha em meio a tanta gente… era estranho.

— Então… você se chama… Maki, certo? — pergunta Hideki.

— Sim.

Era possível ver que o Hideki estava muito desnorteado com o que aconteceu, parece que ele teve muitos pensamentos estranhos. De certa forma eu me pergunto o que aconteceu depois que desmaiei, Hideki não disse nada, nem a Yukiro… é como se eles estivessem escondendo alguma coisa de mim, o rosto do Hideki estava com uma expressão triste e solitária… possivelmente por conta do que ocorreu após eu ter desmaiado. Seria normal eu perguntar o que aconteceu logo em seguida? Mas sinto que tem um momento certo pra isso, mas qual seria? Eu não sou boa com isso, acho que vou esperar.

Essa mulher se chama Maki… ela estava na minha frente e era possível ver que era muito alta… talvez até do mesmo tamanho do Hideki, ou até maior. Ela é muito bonita, enfim, não devo pensar muito nisso. Mamãe disse que essa mulher me protegeria, ela mesma se diz protetora do sol… esse sol seria eu, né? Agora eu me tornei a deusa do sol, se for para levar em consideração o que a mamãe falou.

Nessa carta talvez terá o motivo de tudo isso.

— Então é de você que a mamãe falou quando disse que tem alguém para me proteger…?

— Precisamente, senhorita Shiori.

— Certo, o que você faz?

— Eu luto. Sei usar qualquer tipo de lâmina.

— Algo a mais?

— Sua mãe, digo, minha mestra me disse tudo do que você é capaz de fazer, tecnicamente sou elementalista em fogo, magma, plasma, entre qualquer outra coisa que o sol compõe.

— Entendo…

— E essas duas pessoas…?

— Ele se chama Hideki, e ela se chama Yukiro. O Hideki é meu amigo de infância, a Yukiro… ela é… uma pessoa que eu conheci.

Maki para na nossa frente e saca uma espada que estava na sua cintura, apontando no rosto de Yukiro que simplesmente dá um passo para o lado e continua andando para frente. Maki continua apontando a espada em direção a Yukiro.

— Devo eliminá-la? — pergunta Maki.

— Por que você faria isso? — pergunta Hideki.

— Senhor Hideki, pela fala da deusa do sol, essa garota pode ser uma pessoa que tem algum tipo de briga interna com a Shiori, quero dizer, com a minha nova comandante, se isso realmente existir, devo eliminá-la.

Hideki fica um pouco surpreso com as palavras confusas de Maki, mas antes que ele falasse alguma coisa, Maki aponta a espada para ele.

— Você também pode ser um inimigo…

— Tenho plena certeza de que você está mais que errada em falar que o Hideki seria o inimigo. 

— P-Peço perdão, comandante.

— Você não deve eliminar nenhum dos dois, realmente houve uma briga entre eu e a Yukiro, mas é algo que se resolverá com o tempo, você não pode se meter nisso. 

Maki guarda a espada e se curva em minha direção, isso é considerado um pedido de desculpas de onde vim… então…

— Está desculpada, não saia apontando a sua espada para as pessoas assim, principalmente se eu falar que conheço a pessoa.

— Desculpa.

É estranhamente bom mandar em alguém…

— Maki, o que você sabe sobre eu e a minha mãe?

— Sobre você… não sei muita coisa, mas sobre a Solveig eu sei até que bastante.

— Por que você está protegendo uma pessoa que não conhece muito bem? E se eu for uma inimiga?

— Faço isso por conta de uma promessa com a Solveig, se você for uma inimiga… eu pelo menos fiz a minha parte, não vou me arrepender.

— Entendo…

Yukiro estava seguindo na nossa frente, parecia ser uma pessoa que já sabia o caminho, o Hideki estava evitando o olhar, ele estava envergonhado… eu não sei se fico triste com isso… mas não há o que fazer no momento.

— Chegamos.

Na nossa frente se via uma casa gigante, estranhamente era a única que ainda não havia sido engolida pela natureza, ela estava limpa até demais… parecia ser perfeita.

A porta da entrada tinha escritas feitas a lâmina e dizia meu nome ao lado de "Solveig''.

Maki se aproxima e a porta se abre lentamente, um ar quente sai da casa.

— Eu vou ficar do lado de fora. — diz Maki.

— Por que?

— Solveig me disse que não posso entrar aí.

Não vou fazer ela quebrar as regras que a minha mãe colocou. Enquanto isso, Hideki e Yukiro já estavam dentro da casa. Ao entrar, fecho a porta e suspiro de alívio.

— Agora podemos conversar melhor. — digo.

— Hm? Você queria conversar? — pergunta Hideki.

— Sim. Tem muitas coisas que quero falar com vocês dois.

— Pode falar.

— Hideki, o que aconteceu depois que desmaiei?

— Ah… era sobre isso que queria falar?

Hideki piora sua feição triste, aquele semblante que dizia algo divertido e fofo, agora está totalmente destruído, parece que algo terrível está acontecendo na mente dele.

— Akumo transformou o mundo em plena escuridão, até agora não perdemos o céu escuro… — Hideki respira fundo. — Riki quer me matar…

— Seu pai quer te matar…? Mas por que?

— Não sei, ele disse que em algum momento voltará.

— Hm…

— E você, Yuriko, conseguiu o que queria?

— Não.

— Como assim?

Até mesmo Hideki olha um pouco assustado para a garota.

— Em meio a luta… eu não sei o que aconteceu, mas as duas sumiram e não consegui achá-las em lugar algum, achei estranho isso… mas tantas coisas aconteceram no final que nem pensei direito no que talvez tenha acontecido com elas. Mas tenho certeza que ainda estão vivas.

— Entendo, e por que está aqui?

— Você não me quer aqui?

— Não é isso…

— Enfim, estou aqui porque o Hideki me pediu.

— Entendo.

— O lugar aqui é muito escuro, alguém tem algo para iluminar? — pergunta Hideki.

Levanto meu braço e ele pega fogo, não está queimando, minha roupa não foi rasgada, está tudo… tranquilo, o lugar é inteiramente iluminado.

— Como… você fez isso? — pergunta Hideki.

— Eu… eu não sei.

Isso não é algo estranho, na verdade é até mais normal do que deveria. Antes de entrar na academia, em tempos que eu estudava aos poucos, treinei bastante como criar fogo entre outras coisas assim… mas em todo esse treinamento, nunca foi tão fácil fazer isso, é como se… tudo estivesse na palma da minha mão.

Haviam muitas fotos nas paredes, me aproximo para ver o que é…

Estava minha mãe, eu, um homem estranho, careca e muito forte, juntamente com uma mulher que seu cabelo era estranhamente bonito, se parecia com o mar… eu não tenho a minima ideia de quem são essas duas pessoas, mas o que me chama atenção são todas as fotos diferentes que estão coladas na parede… havia fotos dessas 4 pessoas, havia fotos só minha, da minha mãe… tinha de uma garota de cabelo vermelho longo…

Era possível ver o Riki juntamente com uma mulher… que estranho, havia certas flores e plantas na mão dessa moça. E também tinha muitas fotos de duas pessoas mais velhas, era um casal. Eu não conheço nenhuma dessas pessoas diferentes, em algumas fotos eu estou junta, será que é alguém da minha infância?

— Tem… fotos minhas aqui… — diz Hideki.

— Sim… tem muitas fotos suas, minhas… e de muitas pessoas estranhas.

— Que lugar é esse?

— Não sei…

Mas… uma foto em específico me chama atenção. Era como uma formatura, havia muitos alunos e no meio de todos eles tinha a minha mãe abraçada com aquela mulher que parece ter os cabelos feitos de água. Essa foto estava com um “X” vermelho gigante, e atrás da foto havia um pequeno texto.

Talvez tenha sido o melhor dia da minha vida, se aquela tragédia não tivesse acontecido antes. Adoraria saber onde vocês duas estão, o que está acontecendo com vocês… o que está acontecendo com a mamãe também… acho que ela enlouqueceu de vez.

Pensando nisso… eu decidi tirar uma foto que está ao lado. Era uma foto de um bebê pós-parto.

Essa é a minha adorável filha, quem sabe em algum momento ela vai conhecer seu pai… eu pensei em um nome bem bonito pra ela! Irá se chamar Shiori, e… o motivo é… que significa guia, e eu quero que ela seja a pessoa que irá guiar todos a sua volta, já que assim… ela será bem amada e terá muitos amigos! Tenho certeza disso…

Retiro uma foto minha e dela, eu estava correndo para os braços da mamãe, parecia que eu tinha… 1 ano…

Olha isso… ela começou a andar, quem tirou essa foto foi a Mier, ela disse que essa criança será extremamente forte no futuro, quem sabe… quer dizer, quem sabe não, tenho certeza que ela será forte pelo simples motivo de que é minha filha. Essa foto… é o meu tesouro.

Os outros me olhavam retirando as fotos e ficam confusos com o que está acontecendo.

Não posso explicar isso direito, mas… eu me sinto estranhamente bem. Estou em casa, sinto que estou… essas fotos aos poucos contam a minha história, talvez não só a minha… mas a da mamãe também. Vou passando para o quarto da frente… lá eu via uma cama de casal arrumada… e na frente havia uma carta, assim como o cômodo anterior, aqui também tem muitas fotos.

As fotos estão velhas demais, como se fossem a mais de 20 anos atrás. Algumas estavam um pouco queimadas, outras… só estavam muito velhas. Eu vejo que em meio a tantas fotos, a minha mãe… se importava com todo mundo, mesmo com aqueles que ela dizia saber da traição. O que ela estava pensando ao me entregar tanto poder? 

O que ela quer dizer com a verdade? Eu não sei se me sinto bem para descobrir a verdade, eu nem sei mais o que eu quero saber… não tenho um objetivo. O que eu mais queria fazer, eu já fiz… não completo, mas… sei lá.

Sei que não há uma forma de reviver os mortos, muitas pessoas já tentaram e não conseguiram. Além disso, mesmo que fosse possível, por que eu faria isso? Se a mamãe sabia da traição e mesmo assim correu atrás desse homem, tem um motivo, ela disse que deveria ser punida por me deixar sozinha mesmo que eu a perdoasse.

Qual é… é como se eu não tivesse escolha a não ser seguir o que você diz…

Seguro a carta na minha mão, era perceptível que foi escrita a algum tempo, talvez ainda ontem, ou… nessa semana, ao abrir o envelope muitas folhas caem no chão, junto todas aos poucos… vejo algumas folhas escritas e muito perfeitas.

Me pergunto se devo ler para eles também, querendo ou não… estão juntos comigo, mesmo que seja a Yukiro. O Hideki está aqui comigo e ele provavelmente entenderia o que a mamãe quer falar nessa carta. Sinto que não tenho força para seguir e ler, ao ver sua letra eu percebo que… você está aqui comigo, isso me deixa triste.

— Hideki… vem cá.

Ele se aproxima e dou a carta na sua mão.

— O que é isso?

— É… a carta da mamãe, poderia ler?

— Bem… não tem nada aqui.

— O que?

— O papel está em branco…

— Não… tem coisas aqui.

— Eu… não vejo.

Será que é algo que só eu posso ver? Talvez seja isso…

— Bem, deixa que eu leio então.

— Você vai ler pra todos?

— Sim, você está comigo em tudo isso, e entenderá o que vai acontecer.

— Bem… ok, sinto que estou entrando na vida pessoal da Solveig.

— E está…

— Me perdoe.

— Enfim enfim…

Me preparo e pego a primeira folha da mão de Hideki, a letra estava bonita e a carta estava muito cheirosa, assim respiro fundo…

— Querida Shiori… 

A minha voz para, ela não sai, é como se tivesse alguém me enforcando, mas não dói…

Uma voz familiar passa pela minha mente.

Somente você pode saber disso…

— O que…? — pergunto.

— O que foi, Shiori?

— N-Nada…

— E então, vai começar a ler?

— Eu… não consigo, é como se não saísse nada…

— Bem, leia a carta pra você mesma, talvez eu descubra o que é que está aí, se algo ruim acontecer, pode vir que eu te ajudarei.

Hideki dá um sorriso e assim vira de costas, bem… se eu não consigo ler para todos, eu irei ler sozinha.

Querida Shiori…



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