Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 11 – Arco 4

Capítulo 103: Dragão!...

 

Any

 

— O que você vai querer conversar sobre? 

— Bem… não sou uma pessoa que entende de como fazer um plano…

— Você já conversou com os outros?

Essa era uma pergunta meio idiota de se fazer, quando realmente reparei no homem que estava na minha frente… seus olhos.. completamente cansados, com seu corpo que parecia não dormir direito a dias… ele parece que vem tentando arrumar toda a situação desde que todas essas coisas ruins aconteceram… eu sei que não o conheço tanto para falar sobre a vida dele, mas o Hideki… está lutando tanto por qual motivo? O que faz ele se mexer tanto?...

— Já… e todos já estão como deveriam estar, prontos para tentar novamente.

— Hideki…

— O que?

— Por que?...

— Hm?

— Por que está ajudando a gente?

— Porque… estarão me ajudando a conseguir trazer a Shiori de volta. Só por esse motivo que estou aqui me esforçando para ajudar o povo de vocês com o que querem…

Seu rosto ficou cada vez mais sério… e foi isso o que me deu medo.

— Vamos conversar direto sobre o plano, não temos tempo para tentar entender o lado humano das pessoas.

— Certo…

— O dragão que está localizado no centro da cidade tem um dono… e você conhece ele.

— Acho que sim? Não sei dizer.

— Sim, você conhece ele.

— Não me vem ninguém na mente, Hideki.

— O nome dele é Hiro, no reino é conhecido como o protetor das terras.

— Ah, ele.

— Então, conhece?

— Sim.

— Hiro não permitiu que eu matasse o dragão…

— Matar o dragão… olha Hideki, eu fiquei muito tempo fora da cidade, esse dragão é novo pra mim…

— Eu sei, mas a pessoa por trás dele não é nova pra você.

— O que você quer que eu faça?

— Apenas o convença de seguir… e deixar que o dragão seja morto.

— Hideki… por que você simplesmente não leva ele junto?

— Eu…

— …

— Não gosto de matar os outros, principalmente aqueles que não tem nada haver com os problemas que estão acontecendo.

— Entendi.

— Preciso da sua ajuda com isso, por conta dessas coisas… você vem comigo, quando o dragão morrer, Leon e os outros vão avisar o povo de que essa crença deles é uma falsa, e vão provar…

— Espera… mas como?

— O dia em que todos estiverem em um teatro… você deve saber.

— Você quer dizer… —

— Sim.

— MAS ISSO É…

— Errado? Eu sei, mas tenho que seguir em frente ainda.

— Hideki… pensa direito, não é uma boa hora pra fazer esse tipo de coisa.

— Já pensei o suficiente.

— É uma afronta ao deus da criação…

Foi quando falei isso que seus olhos cerraram, e me olharam como se fosse apenas um inseto… eu percebi que não adiantava eu falar qualquer coisa que fosse contra ele, sempre… sempre… estará tudo errado. Naquele momento ele não queria ouvir mais nada que fosse contra o que ele queria, Hideki estava imerso em um plano que poderia ser considerado suicidio, e não queria saber o que estava acontecendo.

Sobre o que ele falou, em outro momento tento explicar.

— Está decidido, sua parte no plano vai ser falar com o Hiro, e tentar entregar o dragão pra gente, de uma forma… ou de outra.

— E a parte dos outros?

— Maki e Yukiro ficarão em volta do teatro, vendo o movimento, funcionarão como sentinelas. Leon e seu irmão vão entrar no teatro…

— Como?

— Convites falsos.

— Espera…

— Kay… trará pessoas para nos ajudar a acabar com o exército deles.

— Hideki!

— Você vai ficar com o dragão… e eu vou enfrentar diretamente aquele cara.

— HIDEKI!

— O QUE É?

— Você só… está pensando em você mesmo.

— …

Seus olhos se fecharam, e aquilo fez meu coração doer. E expressão que estava em seu rosto era uma como se fosse injusto o que estava acontecendo, ele queria chorar mais do que qualquer um…

— Às vezes é preciso pensar em si mesmo para seguir em frente, então por favor, me ajuda com o que eu to te pedindo… é por ela…

— Mas isso também… é por ela…

Os nossos “ela” são pessoas diferentes, mas mesmo assim, precisamos lutar para manter aquela que queremos do nosso lado… eu sei que a Shiori não está acordada e que isso é emocionalmente ruim para o Hideki, mas a vida que está sendo julgada por ele é só a dela… no meu caso, é o reino todo, então eu teria uma prioridade em questão dele, certo?

Não.

O ser humano pensa em si mesmo em quase toda hora, foi nesse momento que pensei… não faz sentido o que eu falei, talvez o desespero no meu coração fizesse tudo dar extremamente errado. Quando invadi a torre e estraguei todo o plano anterior, só estava pensando em mim mesma, fazendo com que todos na minha volta perdessem o que é de mais importante na vida deles…

O tempo não vai voltar para conversar com a gente, muito menos vai parar e dizer o que devemos fazer, na verdade… eu só provei o que eu mesma odiava, pessoas que pensam em si mesmas… naquele momento nem o reino estava na minha mente, na verdade, quase nunca está. Uso ele como desculpa para poder ficar em primeiro nos problemas dos outros, ficar acima deles… então não tem como eu, uma mera humana hipócrita, começar a julgar os outros.

O Hideki…

Ele, na verdade, nem estava pensando em si mesmo, somente naquela pessoa que ele ama, caso o contrário não estaria tentando jogar ela na frente dos outros, talvez ele ajudaria o reino se ela estivesse de pé, mas na verdade só está assim… por conta dela. Kay está usando Hideki como uma arma, uma ferramenta para salvar o reino, pois sabe que se ajudasse ele… ficaria preso em um problema sem volta, algo que não tem como arrumar, ele sabe disso. Ah… acho que agora sim eu entendi o que está acontecendo. O Hideki… na verdade está perdido, sem saber o que fazer, e ouvir as palavras de uma pessoa que poderia salvar quem ele ama… o garoto faria qualquer coisa, só para vê-la sorrir novamente, eu não sou assim.

Talvez no meu caso tenha medo de perdê-la, mesmo sem nem tentar. Naquela hora… ela tentou me parar, pois sabia que não estava pensando direito nas coisas, ela sabia que estava com problemas e que poderia me ferrar… mas ainda sim… Emilly pensou primeiro em mim do que nela mesma, pois naquele momento poderia simplesmente se revoltar contra o Lucy e seguir a vida comigo… talvez fosse até mil vezes pior do que está agora… e naquela hora eu não invadi a torre por conta dela… foi por minha causa. A vontade de resolver o problema da forma mais simples e seguir a vida como deve ser foi o que me moveu naquela hora, não meu amor, ou até mesmo… a vontade de vê-la novamente.

Esses dois entendem mais do que qualquer um o que é amar… e eu agora entendi o que está acontecendo…

Me levanto da cama e olho diretamente para Hideki, que me encara com um olhar simples e de esperança, seu rosto ainda parecia extremamente infantil, como uma criança realmente é, a sua vontade de falar alguma coisa era nítida, mas não deveria dar tempo para falar…

— Eu vou… falar com o Hiro, e fazer ele entregar o dragão pra gente. 

Hideki sorriu um pouco, talvez de alívio… assim virou as costas e seguiu caminho até a sala principal.

 

Hiro é uma pessoa que conheço desde que voltei da academia, ele era um garoto misterioso que surgiu do nada, mais ou menos da minha idade. Ele trazia coisas para o reino que seriam interessantes, e que não fugiram do que o reino deveria ser, um exemplo disso foi melhorias para os barcos que andavam pelas ruas de água do reino, sem contar nas melhorias nas casas, suas construções… entre qualquer coisa do tipo. O rei gostou do garoto e então o colocou como gerente de comércio externo. 

Por mais misterioso que seja, Hiro nunca demonstrou ser contra o reino, ou ser uma pessoa ruim, sua personalidade é tímida, mas ainda sim ele fala bastante para quem é assim, resumindo, é um garoto.

Ele mora no canto do reino, um lugar afastado do pessoal na zona industrial, por mais diferente que seja, ainda sim… é um lugar completamente ruim. Pelo o que eu sei, Hiro pediu para a casa dele ser na zona industrial pois era afastado do povo, e nada além disso…

Eu andei pelas ruas com um disfarce de comerciante, pessoas assim andavam com capas que tapava tudo do corpo, e com um cavalo de carga do lado, laçado, claro. Por conta disso eu consegui andar pelas ruas do reino sem ter qualquer dificuldade, as pessoas até vinham tentar comprar coisas de mim, mas a desculpa era a mesma:

— Comerciante, o que está vendendo aí?

— Apenas ferramentas e poções, mas todas elas já estão vendidas para uma pessoa.

— Entendi.

O reino aceitava qualquer coisa desse jeito… então foi simples se esconder…

A casa do Hiro era bonita e pequena, um lugar rodeado de árvores e mata alta… dentro da zona industrial, a casa dele era a única coisa que tinha um mato verde, o resto era ruas com pedras, ou terra, ou até mesmo… mato morto, isso por conta da passagem de tempo que teve nessa área, a zona industrial estava passando por uma evolução, e máquinas começaram a entrar no reino, algo que até agora era proibido, era como se o rei estivesse pensando em mudar tudo o que estava colocando na mente dos outros…

Ao chegar na frente da porta do Hiro, bati três vezes… e logo ele veio atender.

— Com quem falo?

— Any…

Mesmo que Hiro soubesse do que estava acontecendo, ele não iria me entregar, e disso eu tinha completa certeza.

— É VOCÊ MESMO????!!!!!

— Shhh…. fala baixo, não pode gritar sobre essas coisas no reino todo… 

— Ah… é verdade, vem, entra em casa.

— Ok.

— Só não repara a bagunça.

 

A casa dele era pequena e extremamente arrumada, que tipo de bagunça ele estava falando? Me sentei em um sofá e fiquei esperando algum tipo de resposta.

Hiro aparece da cozinha com uma xícara de chá, e assim… começamos a conversar.

— Então, Any, sobre o que quer falar?

— É algo muito importante para a Emilly.

— Entendo.

— Você… tem um dragão, certo?

— Sim!!! Ele é o Chark, e é o que dá energia e vida para tudo nesse reino.

— Entendi…

— Por que essas perguntas?

— É só pra… olha… você sabe o que está acontecendo lá fora, né?

— Sim, as pessoas estão perseguindo você… achei isso injusto e completamente errado, afinal de contas, você não fez nada.

— E sabe o que está acontecendo com a Emilly?

— Não… não falo com ela desde a última vez… isso faz um bom tempo.

A visão de uma pessoa que não está nesse problema é completamente diferente do que eu pensava, ele não sabe o que está acontecendo por conta do pessoal estar tentando esconder? Ou ele nem chegou a ver o telão que apareceu?

— Eu vi que o rei fez as pazes com pessoas estranhas e que não merecerem conhecimento, dá para ver só pelo telão que apareceu naquele dia…

— Você viu o telão? — perguntei.

— Sim.

“— … Any voltou para matar todos vocês, e isso será feito da simples forma… Aquela maldição irá ser passada para todos vocês, cuidado gente…”

— Então…

— Ver que eles estão te tratando como maldição me faz pensar se devo continuar ajudando esse reino… ou não…

— E… Espera Hiro, eu tenho algo para falar com você.

— O que?

— Por favor…

Eu me ajoelho.

— Permita que a gente mate o Chark.

— Matar… o Chark?

— Essa pessoa que está se passando pelo novo rei está usando seu dragão para coisas extremamente diferentes, nada que você queira, por conta disso… ele criou uma barreira, e toda a energia que o dragão deveria entregar para o reino está estabelecida só no castelo…

— Mas…

— Não há tempo… eu preciso que você pense rápido em tudo isso, eu preciso saber se posso ou não matá-lo de uma vez por todas… isso não é pelo o meu bem, é pelo reino, não, é pela Emilly…

 

A resposta que ele me deu me deixou completamente perdida… e é algo que deverei falar depois, enquanto isso… eu tinha saído da casa dele, e simplesmente segui meu rumo até o maior prédio da cidade…

Ninguém poderia entrar, mas como eu estava acompanhada do Hiro…

No caminho ele me disse que nem mesmo ele entra aqui desde que entregou o dragão nas mãos do rei, a entrada dele só foi permitida depois, mas nunca conseguiu entrar pelos grandes trabalhos que o rei entregava em suas mãos, o que eu estava tentando fazer poderia mudar completamente o caminho dessa missão que o Hideki criou, poderia mudar até mesmo como o mundo funcionava… ou não.

Passamos por um corredor escuro e com um calor gigante… até chegar na parte de dentro do prédio, o que estava na minha frente poderia até mesmo… deixar qualquer pessoa… assustada.

Havia um dragão enorme na minha frente, seu tamanho era desconhecido na minha mente, ele estava preso com pedaços de aço gigantes, provavelmente feitos com algum tipo de magia. Tinha alguns tubos que entravam na parte de baixo dele, e sugavam o sangue… o dragão não se mexia, mas fazia barulhos que poderiam significar dor. É com essa visão que Hiro se assusta e fica completamente paralisado. 

— Eles…

— É como eu te disse, eles estão usando seu dragão para algo que não deveria.

— …

— Agora… eu posso? 

Deveria ter cuidado com o que estava falando… ou com o que estava acontecendo.

Se bem que o Hiro confiou em mim com todo seu coração como se nada tivesse acontecido, tem algo aí…

Além disso, ele nem me respondeu, na verdade só ficou esperando algo acontecer… foi assim que me aproximei do dragão, e coloquei minha mão sobre as gigantes escamas dele… 



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