Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 11 – Arco 4

Capítulo 102: Tentativa de refazer o plano.

 

Any

 

Procurei pela luz mais uma vez… em meio a tanta escuridão.

“Meus pensamentos não estavam certos.” foi o que eu pensei naquele momento. 

— ANY!!!! ANY!!!!

Meu coração está em pedaços novamente.

Quando abri meus olhos, estava no quarto onde tudo começou, aquele plano onde tinha certeza que poderia dar certo estava na minha cabeça ainda… com ele falhando por minha causa. Pelo fato de não poder entrar na torre… naquele momento eu pensei que, mesmo fazendo uma curva muito grande no plano… alguma coisa poderia acontecer e tudo dar certo. Foi o que eu pensei.

— No que você estava pensando?...

Meus olhos se arregalaram quando essa voz masculina extremamente decepcionada falou.

— Era só não entrar na torre que tudo ficaria bem!

Era Kay que estava completamente irritado pelo plano não dar certo… ele estava me olhando de cima como se fosse superior a mim, e com um rosto completamente terrível…

— Calma, Kay, está tudo bem. A gente vai dar um jeito de retomar a situação.

Quem assim disse foi Hideki, que parecia estar mais irritado ainda.

— Todo aquele lugar desabou, foi uma raridade que você conseguiu tira-lá de lá, Hideki.

— Eu sei, mas eu consegui. Foi mal, estraguei minha parte do plano.

— É… tudo desandou desde que o equipamento dela foi desligado.

— Eu entendo a situação…

— Enfim, vamos descansar, ainda podemos ficar escondidos aqui…

Kay anda até a porta do quarto pequeno e frio… depois que ele virou o rosto para o Hideki, ele nem conseguiu olhar no meu, e assim ficou por um tempo até que ele finalmente pudesse me olhar, mas… até então, ele tinha raiva de mim, e eu sabia que provavelmente não estaria nos planos futuros, afinal de contas ele tinha confiado em mim para que tudo desse certo de alguma forma, eu fui lá… e segui meus instintos.

— Até mais, Kay.

— Até… Hideki, vê se cuida dela.

— Pode deixar.

A porta de correr se fecha, e assim fica somente eu e o Hideki no quarto.

— O que… aconteceu?

— Nem sei por onde começar.

Minha pergunta era clara, desde que desliguei meu equipamento, não era eu que estava no corpo, sei que pode ser uma desculpa esfarrapada, mas… estava sobrevivendo conforme meus sentimentos seguiam, e por conta disso… não sabia o que estava fazendo.

— Não era pra subir na torre, e por algum motivo você foi lá.

— Eu achei que conseguiria… dar uma curva no plano.

— Entendi. Depois que você desligou o aparelho, todos foram mandados para a torre, em busca de te tirar de lá.

— Eu… eu conseguia me virar sozinha!

Hideki me olhou de canto, ele não estava bravo, ou pelo menos não parecia… suas roupas estavam rasgadas por conta de alguma luta que teve, mas seu corpo estava perfeitamente bem… o que tinha acontecido? Nem mesmo eu sei.

— Eu sei que você não conseguiria se salvar… por isso, antes mesmo dele mandar a gente pra torre, eu já corri em direção.

— Anh?

— Eu não esperava que você fosse fazer tudo o que fez. No final das contas… era só questão de tempo pra morrer.

— …

— Descanse, vamos preparar um outro plano assim que acordar, até lá… fique tranquila.

Ele se vira de costas… e antes que ele fosse fechar a porta do quarto, eu pergunto:

— Você… já não espera nada de mim, né?

— … talvez.

— …

— Alguém que deixa se levar pelo sentimento de vingança não tem o direito de querer estar certo…

Hideki falou isso com um tom como se tivesse experiencia no caso.

— No final das contas… não espero nada de você, mas ainda sim… pode ser alguém que vá surpreender.

— Você… está diferente.

— Frustrado pelo o que aconteceu, digo… eu queria que desse tudo certo, e por conta da queda da torre principal do castelo, todo o plano foi por água abaixo.

No final, ele simplesmente fecha a porta e vai embora…

Quando houve tempo no próximo dia, Yukiro e Maki me explicaram tudo o que aconteceu desde que tentei subir a torre principal do castelo. Kay mandou todos para a torre em busca de me tirar de lá, pois todo o plano poderia dar errado. No final das contas, os únicos que foram capazes de entrar na torre… foi o mesmo pessoal que me tirou de lá. Houve uma evacuação depois de me tirarem de lá, e parece que Kay conhece quem está por trás daquele cara que quer roubar a Emilly de mim…

Por fim, não sei o que se passou na minha mente para tudo dar errado, no começo achei que poderia acontecer alguma coisa boa quando entrei naquela torre, mas nunca imaginava que poderia ser… desse jeito. Ela estava na minha frente… e aquelas palavras.

“— Eu vou… ME CASAR COM O LUCY!

Você… não estava falando sério, né?

Ele já não espera nada de mim, talvez pelas coisas que eu fiz até então… mas, a culpa não foi totalmente minha, não é como se eles não entendessem o que está acontecendo, ou talvez… eu esteja realmente errada e não entenda nada do que é pra acontecer… que vida.

Mesmo que não seja incluída na próxima missão, ainda sim tenho ideia do que posso fazer por mim mesma… pois só estou aqui por que quero salvar a Emilly, nada além disso. A minha escolha é seguir em frente do meu próprio jeito… planos ou coisas assim só atrapalham a minha deixa.

Escuto uma batida na porta…

— Any, vamos pra mesa de planos, Hideki quer falar mais alguma coisa.

Era Yukiro que voltou para me falar isso, me levanto e me arrumo, indo em direção a mesa de planos, que era uma sala pequena com uma mesa redonda no centro, e algumas cadeiras em volta, havia um mapa da cidade no centro, onde eles poderiam facilmente localizar os planos. A sala tinha uma iluminação ruim, e pouco dava para se ver do que estava por lá, mas ainda sim… era o único lugar que poderíamos falar sobre os planos que estávamos tendo, por conta disso… eu não gostava tanto de ficar na sala, pois era pequena e extremamente desconfortável. Hideki estava esperando por todos, e quanto todo mundo volta, ele começa a falar:

— Ainda bem que todos estão aqui… Nesta noite andei pensando no que deveria fazer para o plano voltar à ativa, por mais que ainda temos que ficar um pouco por baixo das cobertas. Primeiro, Yukiro, você fez o que eu te pedi nesse tempo?

— Sim, observei o povo, eles estão completamente desesperados, mas há outra coisa também, por mais que eles estejam assim, o rei não falou nada até então. O que me deixou um pouco mais pensativa…

— Como assim?

— Se fosse para alguma coisa acontecer de ruim com o povo, o rei falaria alguma coisa para acalmar todo mundo… mas não foi este o caso… enquanto o povo está desesperado, perguntando o que está acontecendo, o rei está quieto…

Eu sou a pessoa que mais conhece desse reino entre todos aqui, então sei o que pode estar acontecendo, diferentemente deles que chegaram agora…

— O rei… não vai falar nada. — digo.

— O que? — pergunta todos.

— O rei… só vai ficar quieto, ainda mais por conta do que está acontecendo.

— …

— Antigamente ele falaria qualquer coisa para o povo de uma forma completamente escondida, mas nem isso ele está fazendo, é como se fosse… estar sendo controlado por alguém.

— Na teoria… ele está sendo controlado. — diz Kay.

— Sim, mas isso não muda o fato que ele tentaria de alguma forma.

— Tentar? Você se lembra o que este rei fez? Ele não vale a pena.

— Como ousa-

— OK, OK, VAMOS PARAR COM AS BRIGAS. — grita Hideki.

Não fazia sentido ele falar desta forma do rei, pois eu vi que ele seria a única pessoa capaz de responder nossas expectativas… acompanhei ele de perto, e por mais coisas ruins que ele tenha feito, ainda sim… ainda sim ele está tentando ao máximo mudar por conta da sua filha.

— Ah… eu sei que cada um está sofrendo da sua forma, mas temos que entender que isso vai mudar com o tempo.

— O que quer dizer, Hideki? — pergunta Kay.

— Quero falar que, de uma forma ou de outra, teremos que tentar seguir para mudar o sofrimento. Vamos começar descobrindo o que está acontecendo com o rei, se sabemos que ele está sendo controlado…

— Ele está, o rei não age desta forma.

— Ele age completamente desta forma…

— Kay, que porra ta acontecendo pra você ficar desta forma?

— Eu estou tentando tirar a ilusão de vocês, acham que ele será bom assim? Porra… que coisa mais merda de se pensar… ainda mais vindo de você, Any.

— O que quer dizer com isto?

— A garota amaldiçoada… ser exilada do povo simplesmente por ser diferente… e por ter uma doença.

— Você ainda-

Acredita nisso?...

Foi aí que pensei direito no que estava acontecendo, Kay não mudou nada desde a última vez que vi… por conta disso… talvez ele ainda acredite na… doença…

— Doente? — pergunta Maki.

— Eu estou estudando desde aquela época… para descobrir uma cura da sua doença… acha que estou bravo porque?

— …

— Desde aquela época não consegui encontrar nada, é como se fosse algo que só você tem… escutar estas palavras vindas de você me dá desgosto de continuar pesquisando sobre… O REI TE EXILOU DO POVO, TE TRATOU COMO UMA PESSOA TERRÍVEL, JOGANDO VOCÊ PRA TRÁS E ATÉ TE EXPULSANDO DO REINO, ACHANDO QUE NÃO AGUENTARIA O TREINO NAQUELA ACADEMIA… E ainda sim… você o protege?

—  Está doença… ELA É-

— Acho que as coisas aqui estão ficando cada vez mais quentes… vamos parar por aqui e depois vermos o que podemos fazer.

— Não, podem continuar sem mim. — diz Kay.

— Não. Todos são importantes para o plano dar certo, então vamos respeitar a decisão de cada um.

Hideki se levanta e anda até a porta…

— Todos, pra fora, vamos conversar outra hora, por enquanto descansem bastante… ainda não é hora de tentar arrumar toda a situação…

As pessoas aos poucos vão se levantando e andando pra fora da sala, até sobrar somente eu…

— Any, vamos para um lugar mais calmo, quero falar com você uma coisa.

— Você está diferente…

— Estou?... Nem mesmo eu percebi o que pode ter acontecido.

Hideki estava completamente diferente de quando eu o vi pela última vez, antes desta missão, talvez o stress tenha se acumulado… ou ele só está em uma situação onde não está conseguindo pensar, e isso deve estar matando ele por dentro. Ele quer conversar comigo sobre alguma coisa? O que será que é…

Andamos até o quarto onde está o corpo da Shiori, a chuva lá fora estava forte…

— O que foi… tudo isso? — pergunta Hideki.

— Que parte…

— A doença, você não falou nada disso pra gente.

— Não falei nada… pois é falsa.

— O que?

— Antigamente o rei disse que eu tenho uma doença, só por conta do meu olho… mas na verdade ele apenas se enganou.

— … 

— Disse que eu era uma criança amaldiçoada por ter este olho, e assim me exilou do povo… mas… ele tentou mudar…

O que eu estou tentando por na minha mente, é uma pessoa generosa que me aceitou na família antes de tudo isso acontecer, este olho… talvez seja uma maldição mesmo.

— Afinal de contas, o que é o seu olho?

— A estrela… é a formação do universo… a minha família carrega isso a milhares de anos… pois fomos os primeiros humanos a chegar na terra… por conta disso…

— Humanos? Mas não foram os deuses?

— depois deles, a família que participo… foi a primeira.

— Tendi.

— Carrego comigo o poder da formação humana, a estrela significa a esperança… de que ainda vai ficar tudo bem.

— Não é nenhum poder?

Não que eu saiba… afinal de contas, ninguém nunca tentou fazer alguma coisa com este olho, na minha família isso é considerado um crime. Pois é como se estivesse fazendo algo contra a humanidade.

— Entendi…

— Por conta desse olho, e de o rei não saber o significado dele, fui julgada como uma doença para o povo… e então fui exilada para a academia de batalha.

— Entendi, lembro de você lá… então você quer falar que toda essa doença é…

— Sim, como dito antes, é falsa.

— Então do que o Kay está falando?

— Provavelmente ele… ainda acredita nisso.

— Hm…

— O povo continuou acreditando nas mentiras do rei, de que eu seria uma maldição, por conta disso… quando eu era criança, Kay e seu irmão prometeram que iriam me salvar, e retirar essa doença de mim. 

— Irmão?

— Sim, Kay tem um irmão, mas não sei onde ele está agora.

— Que estranho…

— Sim…

— Bem, talvez você deva contar isso pra ele.

— Acho que agora não é a melhor hora para se fazer isso, afinal de contas… ele deve estar tão imerso nessa pesquisa…

— E se isso fizer ele…

— Estagnar? Difícil. Eu conheço ele… melhor que muita gente, posso falar acima de todos que ele não vai ficar parado apenas pesquisando uma coisa…

— Entendi, bem, isso é algo entre você e ele, não quero atrapalhar.

— Obrigada, Hideki…

— Bem, descanse bastante, talvez em outro momento eu vá conversar com vocês sobre o plano.

— Até…

— Até.

Eu saio do quarto, pois sei que ali é o lugar onde ele fica normalmente.

As coisas não estão dando certo de forma alguma… será que é minha culpa? Digo, seria difícil imaginar que tudo isso foi por minha causa, quando na verdade… não tem um culpado…

Estou procurando apenas o meu amor… por que é tão difícil isso só acontecer sem brigas, ou apenas nas palavras? O que está acontecendo… por que temos que lutar?... A vida não é pra ser algo bom e feliz? Como foi dito nas palavras das pessoas da minha família?

“— A vida é amarela, como a cor da felicidade!”

Tudo está tão difícil que nem estou conseguindo pensar direito…

Cheguei no meu quarto e assim me deitei na cama em posição fetal, quase começando a chorar…

Não fazia sentido algum… pelo menos naquele momento não fazia sentido algum… qualquer coisa… estava completamente diferente do que eu imaginava… Tudo está confuso pra mim, não consigo pensar em uma resolução para essas coisas, esses problemas tão complicados, mas ao mesmo tempo tão simples… não fazem sentido pra mim.

Eu queria que pelo menos, por um minuto…

Tudo… fosse pelo caminho certo.

 

Naquela noite eu chorei até dormir, em meu sonho, imaginei um mundo onde essas brigas não teriam acontecido, e eu estaria ao lado da Emilly, vivendo uma vida completamente feliz e sem nenhum problema, a minha vida estaria tão melhor se fosse para seguir esse caminho imaginário.

Imaginei um lugar cheio de flores, extremamente colorido, com o céu completamente azul e limpo, onde o sol brilhava mais do que qualquer coisa… nesse sonho, as pessoas que estavam em volta de nós, estavam felizes, aceitando a vida como deveria ser, qualquer discussão era apenas verbal, e nada iria tão longe assim, as pessoas se entendiam e tudo estava feliz…

“— Venha, Any!”

É a última coisa que escuto… antes de acordar para a realidade…

— Vamos… conversar agora? — disse… Hideki.

— Sobre… o plano?

— Sim.

 



Comentários