Medo da Escuridão Brasileira

Autor(a): Marcos Wolff


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 9: A prisão é anunciada.

Alysci

2 horas depois.

 

— Saionara, o que iremos fazer agora? — digo.

A sala da diretora fica clara novamente. A porta se fecha.

— O que aconteceu, Alysci?

— Eles estão treinando na parte de trás da escola.

— E daí?

— Isso não pode ser um perigo?

— Olha, quantos anos a Yukiro treinou, e quantas vezes ela venceu de mim?

— Você tem razão…

— Deixe que eles treinem, agora, tem algo a mais para falar? Já estou ficando totalmente irritada.

— Irritada?

— Sim, a mã… Akumo ficou enchendo meu saco.

— Por que?

— Ela disse que foi avisada da Nina sumir dessa escola. O que aquela puta queria que eu fizesse nesse momento?

— Bem… era nossa missão, não?

A cara de Saionara se vira até minha direção e um olhar que transbordava raiva se demonstra.

— Era a nossa missão? — ela se levanta e começa a andar em minha direção — O que caralhos você queria que eu fizesse? Protegesse a porra de uma deusa estranha pra caralho só porque o livro do futuro da Akumo está ali? COMO CARALHOS VOCÊ QUER QUE EU FAÇA ISSO? 

— Saionara, você está ficando com raiva de novo.

A porta começa a fazer barulho e Saymon aparece dizendo a mesma coisa que eu havia dito.

— E DAÍ QUE ELES ESTÃO TREINANDO? QUEM LIGA, PORRA.

— Saionara, se acalma. — diz Saymon.

— CALEM A BOCA, OS DOIS, EU JÁ NÃO ESTOU AGUENTANDO, É RECLAMAÇÃO DA AKUMO, É OS ALUNOS ME DESOBEDECENDO, QUE PORRA ESTÁ ACONTECENDO AQUI?

Saionara pega uma faca que estava na mesa e aponta em minha direção.

— Fiquem quietos… eu já não estou aguentando mais o que está acontecendo. A minha vontade está sendo deixar eles fugirem e que se foda o que vai vir daqui pra frente.

— Calma, não podemos fazer isso, se a mãe deixar… — sou interrompida por Saymon que tampa minha boca.

— Eu não quero nem mais saber o que ela está planejando, se for pra ficar longe da gente, que se foda… eu já nem me importo mais.

Saymon sussurrou no meu ouvido, ele pediu carinhosamente que eu parasse de falar, se não a Saionara poderia fazer coisas piores.

— Eu já cansei das coisas, eu só queria entender o que caralhos ela está pensando. Manter esses três vivos? Ela nem ao menos se lembra que é nossa mãe… no que ela está pensando?

Ela assim finca com tudo uma faca na sua mão esquerda. E quem sente a dor... não é ela. Sou eu.

— O que você está fazendo? — pergunta Saymon.

A dor era como uma picada de abelha, pois naquele momento eu já estava me preparando para o que estava acontecendo. Eu me curo e respiro fundo, queria poder te bater, mas infelizmente não dá, caso isso aconteça quem irá sofrer será eu.

— Você foi imprudente novamente.

Ela me olha assustada e se debruça no canto da sala.

— Não, me desculpa… foi sem querer, por favor, me perdoa…

— Saionara… para.

— ME PERDOA, NÃO FOI MINHA CULPA!

— Saymon, saia daqui. — digo.

Saymon saí pestanejando do quarto e fecha a porta… terei que fazer isso de novo. Me sento na cadeira da diretora e assim dou dois pequenos tapas na minha coxa, a atenção de Saionara se vira para mim.

— Mamãe?

Saionara aos poucos começa a engatinhar em minha direção, ela estava assustada, ainda sim parecia um bebê, ela toca a minha mão que estava acima da minha coxa.

— Por que está chorando? — pergunto.

— Mamãe… você voltou?

— Sim… voltei.

— Por que foi embora?

— Tinha algumas coisas para resolver… relaxe.

Saionara fecha seus olhos como se estivesse começando a dormir. Abro uma das gavetas da escrivaninha e retiro uma injeção cheia com um líquido.

— Durma bem.

Assim injeto isso no seu braço, e ela dorme.

— Pode entrar novamente… Saymon.

Saymon entra na sala e se questiona o que estaria acontecendo nesse momento, sua resposta é apenas minha cara séria. Saionara possuía milhares de personalidades que surgiam com o tempo, e nessa… ela estava completamente desesperada com o fato da nossa mãe — Akumo — ir embora da nossa vida, deixando as duas filhas para trás.

Eu não sei o que fazer nesses momentos, então só fiz um sonífero que iria ajudá-la a dormir e voltar ao normal. O que iria acontecer daqui para frente, só Deus sabe. 

Depois de alguns minutos, Saionara acorda novamente e me olha.

— Eu fiz isso de novo, né?

— Sim.

— Desculpe, vamos continuar.

— O que você tem para falar a todos os seus alunos?

— Eu vou dizer a verdade para todos eles. Assim como a mã… assim como Akumo planejou.

— Nos últimos seis meses, faça com que os alunos fiquem desesperados, é isso né?

— Sim.

— O que ela queria com isso?

— Eu não sei, parece que o Riki entrou no plano, e que ele pediu isso… pois alguém aqui em específico precisa passar por isso.

— Quem seria?

— Não sei.

Saionara se levanta e anda até a porta, esquecendo totalmente a existência do Saymon no quarto. Ela sai da sala e fecha a porta completamente. Nesses momentos a única coisa que posso fazer é seguir como se nada tivesse acontecido, Saionara não gosta de falar da nossa mãe, independente de qual assunto seja… mas mesmo assim segue suas ordens como se fosse algo de extrema importância…

Você é mesmo… hipócrita.

— O que você vai fazer agora, Alysci?

— Cala a boca Saymon, eu preciso pensar sozinha.

— Tá bom…

— Você prestou atenção nas coisas que Saionara disse? Junte os alunos na área principal, lá iremos avisar sobre o que está acontecendo.

— Mas espera, nós não deveríamos deixá-los tranquilos?

— CALA A PORRA DA BOCA E SÓ ACEITE O QUE ESTÁ ACONTECENDO! Pelo o que parece, o deus da criação tem alguma coisa haver com isso, só seguir o que está acontecendo e não questione nada, ok?

— D-Desculpa… Estou indo fazer isso.

Saymon sai da sala e eu fico sozinha lá. Me levanto e vou até um espelho que tinha ali por perto, minha expressão era de nada. Eu não sentia nenhum sentimento naquele momento, assim como em quase todo tempo que estou por aqui.

Tantas e tantas coisas aconteceram que simplesmente não há mais escolhas do que fazer, sinto que estou seguindo um caminho ordenado por um superior, e essa pessoa é… Saionara. Infelizmente parece que você controla a minha vida, sua palavra tem tanto poder que não tenho escolhas sem seguir o que diz. 

Sou simplesmente uma irmã mais velha que não consegue dar bronca na mais nova, talvez seja por isso que a nossa mãe nos abandonou, pelo fato de não sermos úteis para ela em nenhum momento… é por isso que você segue em frente? Quer ser útil para a nossa mãe?

Infelizmente não há uma forma de fazer isso, nossas escolhas sobre o que fazer estão nulas… 

Seguro a faca que você havia usado e guardo na minha cintura.

Saio do quarto e vou em direção a um jardim que havia no lado direito do castelo, lá estava um túmulo… até hoje eu não sei de quem é, nem ao menos sei o por que de você vir aqui, Saionara…

Você estava lá, se desculpando pelas coisas que você fez, mesmo que não fizesse nada. Você…

— Alysci… o que está fazendo aqui?

— Nada.

— Vá juntar os alunos.

— Saymon já está fazendo isso.

— Ah. Ok.

— Saionara, de quem é esse túmulo?

— Por que quer saber disso logo agora?

— Me senti curiosa para saber a verdade por trás disso só agora.

— É da Lola.

Lola? A mulher que matamos para ficar com o lugar… você se desculpa por matar uma pessoa que você foi ordenada a matar? Por que segue tanto a risca todas as coisas que a nossa mãe pede? Quer tanto ser vista por ela…? Não sei o que se passa na sua mente, mas…

— Vamos? Você tem um anúncio para fazer.

— Sim…

— Afinal, por onde a mã… Akumo te avisou isso?

— Pela telepatia.

— Entendi.

Assim ela se levanta e andamos em direção ao salão principal que já havia todos os alunos, Saionara é acolhida por todos que passam por aqui, mas agora… ela estava prestes a ver o desespero de todas as pessoas.

Saionara assim se prepara, sua feição de diretora é mantida.

— QUERIDOS ALUNOS. CÁ ESTOU PARA AVISÁ-LOS DE UMAS COISINHAS.

As pessoas se preparam, algumas estavam com sono, outras estavam só escutando o que tinha para ouvir… mas três pessoas em específico não estavam por aqui… 

Seguimos a nossa apresentação com Saionara dizendo novamente boas vindas a todos os alunos… nesse ano recrutamos muitos deles, mas fomos matando todos com o tempo, até chegar no ponto que tivemos de chamar mais deles no meio do ano, chegando no ponto que está agora.

— Sejam todos muito bem-vindos a nossa academia, espero que estejam se divertindo com seus primeiros dias, tenho anúncios para informar a todos vocês.

As luzes demonstram fraquezas, assim sobrando somente o brilho dos desenhos que estavam no teto, sem contar que as portas foram fechadas e o lugar se demonstra misterioso.

— Vocês já imaginaram estar em um momento de vida ou morte? Já se viram em um ponto onde simplesmente não há caminho para correr? A vida de vocês é algo difícil?

As pessoas demonstravam confusão em suas faces, juntamente com outras que estavam com um certo medo do que poderia acontecer. Mas mesmo assim respondem.

Muitas pessoas respondem de forma negativa, outras de forma completamente positiva. Saionara demonstra um sorriso de ponta a ponta, e pula para a parte mais importante.

— Nessa academia NÃO SERÁ DIFERENTE!!! VOCÊS IRÃO PASSAR PELOS PIORES SENTIMENTOS DA VIDA!!!! E estarão prontos… ME DIGAM AGORA, VOCÊS QUEREM MORRER AQUI? OU VÃO SEGUIR UMA VIDA DA FORMA QUE EU MANDAR? Vocês escolhem…

Por algum tempo o silêncio reina no local, como se muitos deles não tivessem entendido o que está acontecendo, e então… em questão de segundos começam os questionamentos.

— Espera, isso é real?

— Como assim?

E muitas coisas desse tipo… 

Saionara continua falando.

— Vocês não podem sair daqui, A BARREIRA IMPEDIRÁ TODOS DE SAÍREM DAQUI! E quem OUSAR me atacar… SERÁ MORTO SEM DÓ NEM PIEDADE. Estarei na minha sala esperando os pequenos alunos que querem me matar, vocês… serão usados nem mais nem menos para o poder da nossa toda poderosa, deusa da escuridão, AKUMO!

Saionara começa a rir friamente e se atenta aos olhos assustados dos alunos, ela segura uma espada e assim aponta a primeira pessoa que está na sua frente, uma garota com cabelo curto e preto.

— Você.

— O-O que…?

— Está com medo?

— N-Não…

— Pois deveria… se não ficar com medo, coisas horríveis podem acontecer… você pode morrer, imagina que ruim deve ser isso? — Saionara se aproxima da garota com a espada apontada em seu pescoço — Garota… Você precisa ter medo, ei… se você não tiver medo, os outros vão ficar calmos, não precisamos disso… Ei… você está me ouvindo? Não precisamos disso, não precisamos disso…

Saionara repetia essas últimas palavras enquanto se aproximava lentamente do rosto da pequena garota que aos poucos fazia uma expressão de medo…

A espada se finca no pescoço da garota muitas e muitas vezes…

— VOCÊ DEVERIA SENTIR MEDO NESSA HORA, AGORA OLHE PARA OS OUTROS ALUNOS, O QUE ELES ESTÃO FAZENDO?

Saionara olha atentamente para todos.

— VOCÊS ESTÃO COM MEDO? VOCÊS VÃO FAZER TUDO O QUE EU MANDAR? 

Todos aos poucos começam a acenar com a cabeça que sim, irá fazer o que Saionara mandar… menos um garoto que assim tenta atacá-la, mas é brutalmente morto na frente de todos.

— Isso… isso… tentem me matar, assim eu poderei fazer o que eu quiser e poderei matar mais pessoas… ESCUTEM SEUS PEDAÇOS DE MERDA! Aqui nesse momento quem manda sou eu, e vocês vão obedecer cada palavra minha, caso contrário… eu vou matar todos. Esse é o fim do anúncio, podem ir para o quarto de vocês.

As portas se abrem e os alunos começam a correr em direção aos quartos, é possível ver que alguns tentam correr da academia, mas a barreira impede todos de seguirem em frente, até o presente momento… não foi visto os três alunos principais, não aviso nada a Saionara por conta de que ela pode fazer coisas que não são a favores da nossa mãe.

Saionara voa em direção a sala da diretora, enquanto isso eu ando aos poucos a mesma sala que ela… no meio desse caminho eu vejo muitos alunos que estão indo em direção ao próprio quarto, com medo do que acabou de acontecer… alguns pensam em me atacar, mas são parados pelas ameaças que é feito com as espadas que voam atrás de mim.

A pior coisa que fiz… foi naquele momento escolher ser sua irmã, e escolher te seguir nesse caminho terrível que você mesma fez. Seguir as coisas que a nossa mãe fez? O que caralhos você pensa que está fazendo? Nesse momento ela nem liga para gente, nunca ligou…

Você se torna oficialmente aquela pessoa terrível que todos nós não queremos conhecer… 

Ao entrar na sala eu vejo Yukiro.

— Vocês anunciaram, né?

— Sim. — responde Saionara.

— Que coisa boa…

Saionara fica com raiva e dá um tapa muito forte na cara de Yukiro.

— CALA A BOCA SUA IDIOTA… VOCÊ É OUTRA QUE A QUALQUER MOMENTO EU…

Saionara trava e para de falar, ela sabia que caso bastasse nessa garota, nada iria mudar, nesse momento você está se sentindo culpada pelo o que fez, e agora.. a única pessoa que tem para confiar em você, sou eu…

— Suma daqui, sua aluna desgraçada… daqui um tempo você vai ver o que pode acontecer com você.

Assim Yukiro sai da sala rindo e a porta se fecha.

Foi tudo feito como você queria, mamãe. E agora? Vai falar com a gente e perceber que existimos…? Caso o contrário… eu irei fazer a pior coisa que posso… irei matar Saionara.



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