Volume 1 – Arco 1
Capítulo 8: Prazer, Nina.
Hideki
6 horas atrás.
Estou em um lugar que estranhamente não sinto dor… minha visão está normal, e por algum motivo estou tão calmo. Há alguns segundos atrás, eu estava sem visão dos meus dois olhos, sentindo uma dor terrível…
O lugar onde me encontrava era como um plano de fundo perfeito.
Uma sala de um apartamento em um andar muito alto, uma janela que dava de frente com uma cidade muito bonita e perfeita… nunca na minha vida me deparei com algo tão perfeito, artisticamente falando.
Tinha uma pessoa sentada no sofá branco, ela estava observando a linda cidade se mexer enquanto chovia.
— Fazia tempos que não aparecia uma visita por aqui…
Eu estava extremamente confuso com o que estava vendo, na minha frente tinha uma sala perfeita, com uma pessoa na qual não demonstra seu rosto, na qual sua voz era comparada com a de um anjo… totalmente calma e maravilhosa.
— Você é uma visita silenciosa… posso saber, o que traz o senhor até aqui?
— Eu…?
— Bem, é a única pessoa que se encontra aqui, sem ser… eu.
— Oh, perdão, eu sou o Hideki…
— Não, eu já sei quem você é. Eu quero saber o que te traz aqui?
— Ah sim, eu… toquei em um livro estranho… pera, quem é você?
Eu me senti tentado a responder todas as perguntas na qual foram feitas para mim, me sinto estranhamente formal também…
— Em um livro estranho, né? Oh, meu nome? Eu sou a Nina, prazer em conhecê-lo… senhor Hideki.
A pessoa se levantou e olhou atentamente em meus olhos, pude ver perfeitamente quem estava na minha frente.
Uma linda mulher dos longos e longos cabelos pretos, seu vestido parecia o de uma noiva e seus olhos eram tentadores… brilhavam imensamente como se fossem uma anã branca.
— Você me conhece?
— Claro, afinal você é quem eu mais queria ver em toda a minha vida.
— Posso saber o motivo de tanto querer me ver?
— Por ordens de alguém maior, infelizmente não posso te dizer nada sobre você mesmo.
— Isso é estranho…
— Já que me invocaste aqui, adoraria entender… quais perguntas irás fazer a mim?
— Perguntas?
— Sim, eu sou a deusa das memórias, tudo que todos pensam está em minhas mãos. E se me invocaste… é pelo motivo de querer tanto saber sobre alguém, não é mesmo?
Realmente não está errada, eu quero muito saber sobre uma pessoa em específico, mas é confiável?
Essa pessoa se diz ser a deusa das memórias, se realmente for, o que ela estaria fazendo em um lugar tão estranho quanto a academia? Quem a colocou ali?
— Eu posso fazer qualquer tipo de pergunta?
— Sim… e todas elas terão um preço, não é mesmo?
— Um preço?
— Claro, eu poderei escolher o que eu quiser.
Sinto que não há tempo para tantas questões.
Não me sinto estranho, como dito anteriormente, eu estou me sentindo calmo demais, é como se houvesse algo me impedindo de ter sentimentos.
— Onde estamos?
— Na minha casa, dentro das memórias de todas as pessoas.
— Você realmente sabe de tudo?
— Claro, pode me perguntar qualquer coisa! Bem, já posso considerar os preços? Pode parar de fazer perguntas idiotas ou perguntas que são sem graça?
— Moça, onde está o meu pai?
— Infelizmente não poderei dizer sobre o Riki, ele me manda não dizer nada a você.
— Como assim? Meu pai mandou não me dizer nada? O que é isso?
— Tantas perguntas meu garoto, tantas perguntas… mas infelizmente não poderei responder nenhuma dessas, afinal. Eu possuo um contrato com ele.
Estou confuso com tudo isso.
— Não é preciso estar confuso, quer que eu explique tudo isso para você? Acho que seria uma boa.
— Você consegue ler meus pensamentos?
— Sim, afinal… sou a deusa das memórias, e seus pensamentos são memórias, tecnicamente… eu escuto tudo.
— Não… está tudo bem. Mas eu tenho uma pergunta para você.
— Qual?
— O que é aquele livro?
— Oh… interessante.
A deusa se aproxima lentamente, assim o local gradualmente se transforma em uma pequena festa de chá, ela se senta em uma das cadeiras e assim continua.
— Antes de eu falar qualquer coisa, por que não se senta? Tome um chá, ou até mesmo um café… qualquer coisa que quiser. Não há problemas.
— Não, estou bem…
— Entendo.
— …
— Vamos começar então. Aquele livro são as memórias do passado de uma deusa, assim como as memórias do futuro.
— Então você pode prever o futuro?
— Ah… Claro, posso vê-lo, porém apenas aquele que está fadado a acontecer.
— Como assim?
— Não posso explicar ao certo, isso vai me trazer problemas.
— Entendo.
— Todos os deuses tem um livro daquele, eu fiz todos…
— E… meu pai, ele tem um livro?
— Está tentando quebrar um contrato sem ser pelas regras? Enfim… trato é trato. Sim, seu pai possui um livro desse.
— E qual seria?
— Infelizmente não posso te falar.
— Essa calmaria está me irritando…
— Infelizmente não há nada o que eu posso fazer, todos os sentimentos levam a um só.
— Como assim?
— Os sentimentos são como as cores, se juntar todas… virá um só.
— Acho que entendi sua analogia…
— Tem mais alguma coisa que queira perguntar?
— O livro… é o motivo da barreira existir?
— Não, claro que não… o livro é um motivo para Akumo juntar vocês.
— Juntar a gente?
— No fim das contas ela só quer pegar seu livro de volta, se alguém ler aquilo… poderá ser punido.
— O que acontece se uma pessoa diferente de você ler o seu livro?
— Haverá uma punição maior do que o desejado. Ao invés de ser pedido como pagamento uma folha qualquer, eu poderei pedir algo do seu corpo, como o que aconteceu com você.
— Como eu te invoquei?
— Oras, tocando no livro.
— Mas…
— Tem algo em você que me trouxe aqui, mas infelizmente não posso te falar o que é.
— Algo em mim?
— Sim… você é alguém muito querido pelos deuses, pode ter certeza disso, Hideki.
— …
— Todos os dias eles me invocam, só para saber o que se passa em sua cabeça… Eu também tenho muito interesse no que você vai fazer, afinal de contas… você está seguindo certinho o caminho que ele escolheu, essa história terá um fim interessante…
— O caminho que ele escolheu?
— Sim… Não posso te dar mais detalhes.
— O contrato que você fez com meu pai te impede de dizer o que?
— Tudo que tenha haver com o que está dentro de você, é muita coisa em…
— O meu pai é alguém do mau?
— Isso é você quem vai descobrir, o mau para mim pode ser o bem para você, assim como o bem para você pode ser o mau para mim.
— Tem razão…
— Bem, nosso curto tempo está acabando, existe alguém que está te curando… você é uma pessoa até que interessante, Hideki. Por mais perguntas terríveis que você tenha feito.
— A minha mãe está realmente morta?
— Uma dúvida gigante… para responder essa pergunta, eu terei que pedir um preço, leia o que está nesse papel, assim eu darei a você a sua resposta.
— Antes… eu tenho mais duas perguntas: quem são os alunos que estão vagando pela academia? E como se quebra essa barreira?
— Espíritos, alunos que já foram mortos uma vez e só estão esperando para sua alma ser perdoada por Deus. A barreira só se quebra esperando.
— Então… existe uma maneira de eu tirar eles de lá? E esperando por o que?
— Só leia o que está no papel.
Um papel começa a sobrevoar a área até chegar em minhas mãos, ele para e eu leio.
— Aqueles que querem ser julgados terão meu perdão, como deus digo a todos, perdoarei as almas que um dia foram seladas dentro desse local.
O local aos poucos começa a ser desfeito, só que antes disso.
— Lembre-se Hideki, um dia iremos nos ver novamente, e quando esse momento chegar, terei certeza de te contar tudo de uma vez. Ah, e mais importante, você só tem seis meses. E sim… ela está entre nós.
Acordo e sinto um sentimento estranho, é como se eu estivesse em pedaços novamente, agora estou sem meu olho esquerdo… a estranheza de sentir falta de um órgão importante para viver é algo que sinto.
Voltamos ao final de nossa conversa.
— Me dê um tempo para pensar… é difícil confiar em uma pessoa que simplesmente tentou me matar. Mas eu ao certo modo quero te dar uma segunda chance, talvez seja por conta do meu coração ser muito fraco quando se trata de pessoas…
Minha cabeça está livre para pensar em todas as coisas necessárias agora. Todos os deuses possuem um livro daquele, mas só os deuses?
Lembro que estranhamente eu não conseguia pensar em nada naquele lugar, é como se fosse forçado a falar tudo que estava vindo de primeira, foi algo estranho… um sentimento que nunca mais quero ter na minha vida.
Seis meses para pensar em tão pouca coisa, chego a ficar maluco dessa forma, sem contar que tenho que treinar, mas não sei uma forma eficaz de fazer isso… será que devo confiar na Yukiro de novo? Eu quero dar uma segunda chance a ela, mas será que irá me trair da mesma forma que antes?
Não quero pensar tanto nessas coisas, fico triste só de ver a cara de preocupação de Shiori. O que será que aconteceu enquanto estava fora? Não quero perguntar isso, pode ser que esteja tentando esquecer o que viu… uff, que confusão. Não posso ficar parado por tanto tempo.
Tenho que pensar em formas certas de fazer tudo isso, preciso treinar, preciso achar uma forma de sair daqui, se for certo o que aquela deusa disse, eu poderei encontrá-la no futuro, ela parece ter bastante conhecimento, isso significa que eu poderei descobrir mais sobre meu pai, e caso eu consiga… irei descobrir se ele é um deus.
Muitas dúvidas batem na minha cabeça, muitas coisas eu poderia te perguntar, mas estranhamente não consegui falar nada do que realmente queria, Nina.
Olho para a sacada… uma pessoa está ajoelhada chorando, era Yukiro, será que ela finalmente entendeu o que fez e está se arrependendo?
Não quero ser uma pessoa terrível, tecnicamente estou passando pela mesma coisa que Yukiro, então meio que… só há uma forma de tudo dar certo, e é te dando uma segunda chance. Não quero que ela passe por mais sofrimentos, e sei que se não sair daqui o quanto antes, sua vida será pior do que nunca.
Eu não sei o que pode acontecer com a Yukiro, mas não quero que nada aconteça. Estranhamente sinto que devo me importar com você, sinto que é alguém tão especial para o meu coração que chega a um ponto de ser inexplicável.
Eu gentilmente abraço Shiori que parecia estar chorando ao meu lado, ela parece ter sentido muita raiva e tristeza pelo o que está acontecendo… essa é a primeira vez que a vejo chorar tanto, nem mesmo quando nos separamos ela ficou assim, eu não sei o que aconteceu… mas não quero te ver assim novamente, me machuca.
Assim me levanto e vou até a sacada, em direção a Yukiro. Suas mãos estavam tentando parar um rio de lágrimas que aos poucos saíam de seus olhos. Bato na porta de vidro e você olha atentamente para trás e se levanta, sem mesmo abrir a porta consigo entender o que você diz.
“O que você quer?”
— Eu irei treinar com você por todo o tempo necessário, assim poderemos fugir juntos.
“Espera, o que?”
Seu rosto demonstra uma pequena surpresa, você não esperava por isso.
— Assim todos nós conseguiremos viver nossas vidas em paz e você não vai mais precisar lutar.
“Nós… somos amigos?”
— Estranhamente sinto que devemos ser amigos, não que somos.
“...”
— Você quer fazer isso?
“Sim, claro.”
Olho para a Shiori e ela parece um pouco decepcionada.
— Desculpe… Sinto que devo fazer isso.
— Por qual motivo?
— Sem ela, não iremos muito longe, né?
— Bem, você tem razão. Mas eu digo algo, se ela fizer algo desse tipo de novo, eu não irei perdoá-la, e nem que eu tenha que matá-la…
— Relaxa… vai dar tudo certo.
Assim abro a porta da sacada, Yukiro aos poucos se recusa a entrar, mas eu a puxo para dentro do quarto… iremos começar a fazer o máximo para fugir daqui.
Eu não sei que espécie de deusa é você, mas eu quero te encontrar novamente, eu quero poder tirar todas as minhas dúvidas, vai dar tudo certo.
— Como você disse, Yukiro. Não temos tempo algum, então vamos começar cedo com nossos treinamentos, se possível… começamos agora.
— Eu… preciso ir a um lugar primeiro…
— Não, iremos começar agora, não há tempo.
— C-Claro…
Yukiro respira fundo e sai do quarto, depois de quase uma hora ela volta e assim decide começar o nosso treinamento.
De pouco em pouco começamos a fazer as coisas darem certo, não sei o que vai vir daqui pra frente, mas sei que virá muitas coisas boas.
Minha cabeça pode estar confusa com tudo isso, mas vai ficar tudo tranquilo. Depois de sumir daqui, terei um tempo para pensar e colocar as coisas na cabeça, de qualquer forma… tendo a Shiori do meu lado, não há o que temer.
Que os jogos… finalmente comecem.